domingo, 6 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 246 - Por Luiz Domingues

Antes de falar sobre o show de lançamento, eu devo retroagir algum tempo na cronologia. Ainda estávamos em 2002, quando surgiu a conversa de que precisávamos pensar em um show de lançamento do novo disco. A primeira ideia que veio à mente, foi agendar uma micro-temporada no Centro Cultural São Paulo, uma espécie de porto seguro para qualquer artista do nosso patamar, que sem maiores recursos, não tinha meios de se aventurar na autoprodução em algum lugar mais sofisticado, e ao mesmo tempo, o CCSP era super digno, ao oferecer infraestrutura de teatro de grande porte, tudo gratuitamente, e a caber à banda, apenas bancar a sua divulgação como melhor lhe aprouvesse.

Consultamos o programador daquele complexo cultural e ele nos avisou que só poderia nos agendar para julho, pois havia uma norma do poder público para ceder data para o mesmo artista que já se apresentara ali, mediante um espaço de um ano e de fato, havíamos nos apresentado em julho de 2002, com três datas seguidas. 

Portanto, as conversas enveredaram para outras opções de teatros ou casas noturnas viáveis em São Paulo para as nossas condições econômicas, em uma lista de sugestões em aberto. Foi quando o nosso colaborador, Luiz "Barata", sugeriu um salão de Rock na zona leste de São Paulo, que ele frequentava e conhecia bem os seus proprietários. 

De imediato, nos lembramos que já havíamos levado material da nossa banda para esse referido salão em ocasião passada, mas um dos donos havia valorizado em demasia o seu estabelecimento em detrimento da desvalorização de nossa banda, e isso houvera ficado nítido para nós, pelas palavras que soubemos que ele falou sobre nós.

Não queríamos nem cogitar abrir negociação com tal espaço, visto que sabíamos que a mentalidade de seus proprietários não era simpática à nossa banda. Mas o Barata contra-argumentou que não poderíamos ficar com tal impressão em mente, e que talvez tudo tenha sido um mal-entendido anteriormente.

Muito bem, ofertar o benefício da dúvida, haveria de ser uma atitude nobre a ser exercida em termos de cavalheirismo, mas eu não engolia direito a afirmação que me contaram, sobre tal rapaz que teria feito, ao dar conta que nós o havíamos procurado para "implorar" por uma show em sua casa em ocasiões passadas, mesmo por que, eu em pessoa fui levar o material e não me rebaixei dessa forma, em hipótese alguma. Se receber o material de uma banda seria um ato de desespero da parte do artista, na sua forma de interpretar os fatos, ele esteve redondamente enganado, pois eu não agi assim, e jamais faria isso.

Enfim, mesmo a narrar-lhe essa particularidade, o Barata insistiu na ideia de que tudo fora um mal-entendido e que ele era amigo dos proprietários e conhecia-os com intimidade, a ter amizade de longa data, além de conhecer todos os funcionários da casa etc.

Bem, já que ele garantira que tudo seria diferente, lhe demos aval para ele tomar a dianteira na negociação e diante de sua animação, acreditamos mesmo que tudo dar-se-ia de forma melhor.

O tal salão era rústico, mas mantinha uma tradição na zona leste de São Paulo, não posso negar. Era também enorme, com um espaço gigante, semelhante aos salões de festas de clubes tradicionais, ou mesmo ginásios poliesportivos e continha uma ainda maior área ao ar livre, onde no passado, foram produzidos shows de Rock e MPB, ao atrair enormes multidões. Mas isso não acontecia mais, e na realidade de 2003, as suas atividades mais se baseavam em noitadas sustentadas pelo som mecânico e eventualmente shows de bandas cover ou fechadas em nichos de derivados do Heavy-Metal.

Mas nem o otimismo do Barata, mediante a sua boa relação com os proprietários foi suficiente para que a negociação fosse fácil.

E assim, o tempo se pôs a passar e já em 2003, a data foi finalmente marcada, mas as condições da negociação foram muito desfavoráveis e nessa altura, já com a perspectiva do disco ficar pronto para a venda, não tivemos escolha a não ser fechar assim mesmo o acordo.
Toda a divulgação ficou ao nosso cargo, assim como a despesa da contratação do PA e naquele espaço enorme, teria que ser baseado em um equipamento de médio para grande porte, inevitavelmente e custava caro. 

A contrapartida da casa foi tímida. Além do espaço em si, e uma parca ajuda para a parte da divulgação, eles queriam ficar com uma porcentagem desigual da bilheteria. Enfim, ficamos todos chateados, e até o Barata se desencantou quando no dia do show, apesar de ter atraído um público bom, pelo tratamento dispensado que tivemos, ficou patente que não fora uma boa ideia tocar ali. 

E para piorar a situação, nos fizeram engolir à revelia, duas bandas cover e díspares com o astral do show, e que segundo os proprietários, elas é que atrairiam público, ou seja, foi absolutamente desnecessário passar por essa humilhação, e ao ir além, acho que teria sido mais válido lançar o disco em julho no CCSP, mesmo que isso significasse uma longa espera. 

Bem, fechado o show, nos esmeramos na sua divulgação e eu já até falei sobre algumas ações de rádio e TV que fizemos. Trabalhamos fortemente na colocação de cartazes naquele circuito gigante que costumávamos cobrir, distribuímos filipetas em muitos shows e com a ajuda do próprio Barata e um de seus filhos, Raul Cichetto, cobrimos alguns bairros mais longínquos da zona leste, para alcançar um público mais a ver com o salão em si. Já no dia do show...

Continua...

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