sábado, 7 de setembro de 2024

Livro: Boca do Céu (a autobiografia de Luiz Domingues na música - Volume I) - Matilda Produções/Clube de Autores - Lançado em Julho de 2024

Foi na plataforma da antiga rede social Orkut que eu dei início ao primeiro esboço do que viria a ser a construção da minha autobiografia na música, ação que começou em meados de 2011. 

Em 2012, eu comecei a enfim organizar melhor esse texto aqui mesmo nesta plataforma de meu Blog número dois e nesses termos, ordenado desta feita em torno de mini capítulos numerados e separados por cada banda pela qual eu atuei e atuava naquele momento. A aproveitar o ensejo, naturalmente recheei o texto com ilustrações a conter fotos, vídeos, material de portfólio e muitos documentos existentes no meu acervo pessoal de carreira. 

Em 2015, eu dei um outro passo importante no sentido da organização prévia desse texto, ao criar o meu Blog número três e este concebido para ser inteiramente dedicado à minha carreira musical, portanto, ali eu concentrei todo o meu acervo e também o texto da autobiografia, porém reformatado como capítulos mais robustos, já a pensar no formato de um livro impresso.

Entre 2016 e 2018, dois abnegados amigos militantes do mundo editorial, Cesar Benatti e Sérgio Rocha, iniciaram um processo de diagramação da minha autobiografia, e alertaram-me que eu havia escrito uma quantidade altíssima de texto, a somar mais de um bilhão e trezentas mil palavras e dessa forma, esse livro haveria de contabilizar quase três mil páginas, ao torná-lo impossível de ser publicado em um único tomo.

Não deu certo o esforço de ambos na ocasião e claro que os agradeço muito pelo empenho que tiveram, mas eu tive que repensar não somente sobre como lançar a autobiografia, mas também sobre os meus planos de inserção no mundo literário. 

Posteriormente já em contato com um grande amigo, Cristiano Rocha Affonso da Costa (escritor, músico e dono de uma produtora cultural chamada "Matilda"), fui por ele aconselhado a fazer uso dos serviços do "Clube de Autores" para publicar com maior facilidade e em 2019, mudei a minha estratégia e decidi lançar outros trabalhos antes de lançar a autobiografia, exatamente para me apresentar como um escritor propriamente dito e não apenas como um músico que escreveu as suas memórias. Dessa maneira, em 2020, com pandemia e tudo mais, lancei a trilogia: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", três volumes recheados com 131 resenhas de filmes relacionados ao universo do Rock.

Em 2023, avancei mais um pouco e lancei um livro de contos chamado: "Humanos Pitorescos", como mais um pilar dessa minha autoafirmação como escritor.

E finalmente em 2024, lancei o primeiro volume da minha autobiografia na música, a abordar a história mais remota da minha carreira, a bordo da primeira banda de Rock na qual fui componente: Boca do Céu. A obra completa está prevista para conter 14 volumes, um para cada banda pela qual atuei ou ainda atuo, além de um volume dedicado aos muitos trabalhos avulsos que realizei fora do ambiente de minhas bandas autorais e um volume a narrar a minha experiência como professor de música, atividade que mantive em paralelo por 12 anos, entre 1987 e 1999.
  
A se considerar que a organização dessa obra teve neste blog um de seus pilares (e ainda tem, pois o uso regularmente para atualizar a minha trajetória em capítulos que vão compor mais livros no futuro), é com muito prazer que lhes apresento o primeiro volume impresso da minha autobiografia na música, a se tratar da minha história com o "Boca do Céu", a primeira banda da qual fui componente, que durou entre 1976 e 1979.
Falo sobre a sua fundação, o ambiente cultural que nos envolvia, as dificuldades inerentes à nossa falta de melhores recursos, técnica musical, conhecimento sobre os meandros da música profissional e claro, a ingenuidade com a qual enxergávamos o mundo. Mas também é uma história a narrar a força de vontade, o sonho lúdico que instigou e a tenacidade que nos moveu nesse período. E no meu caso em particular, foi o impulso primordial que me tirou de uma aspiração meramente imaginária para a realidade da música e do Rock.

O Boca do Céu se reuniu em 2020 com o objetivo de gravar o disco que sonhamos produzir em 1976 e não conseguimos. O grupo lançou um single em 2023 (a canção "1969"), e está em trabalho de estúdio, preparando mais músicas, mas essa continuidade de história não consta neste livro, que cobre apenas a minha história com a banda nos anos setenta. Essa sobrevida estará em um livro posterior, que se encontra em estado de elaboração.
Este volume I da minha autobiografia, está à venda através do site do Clube de Autores e também pela Amazon. Em setembro de 2024, promoverei uma tarde/noite de autógrafos com direito a show e em breve, anunciarei oficialmente tal evento, mediante o serviço inerente.

O Volume II desta autobiografia já está em fase de editoração e posso lhes antecipar a informação de que será a vez de eu contar a minha história com o Língua de Trapo.
Boca do Céu (a autobiografia de Luiz Domingues na música - Volume I)
Autor: Luiz Domingues
Editor: Cristiano Rocha Affonso da Costa
Revisão gramatical, diagramação e carta catalográfica: Alynne Cavalcante
Arte e lay-out final da capa/contracapa e material promocional: Victoria Costa
Foto do autor: Lincoln Baraccat
Almofada com foto do Boca do Céu em 1977: Amanda Fuccia
Fotos e material impresso que ilustram a capa: acervo particular de Luiz Domingues
Foto do Boca do Céu em 1977: Adelaide Giantomaso
Uma obra proporcionada pela Matilda Produções
Apoio gráfico: Clube de Autores
Julho de 2024

Vendas pelos sites do Clube de Autores e Amazon:


segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Os Kurandeiros + Cracker Blues - Casa de Cultura da Vila Guilherme-SP - Sábado, 7/9/2024 - 18 horas - Entrada gratuita

Os Kurandeiros e Cracker Blues juntos em tarde/noite de Rock & Blues!

Entrada gratuita

Sábado - 7 de setembro de 2024 - a partir das 18 horas

Cracker Blues - 18 horas
Os Kurandeiros - 19:30 horas

Casa de Cultura da Vila Guilherme - "Casarão"
Praça Oscár da Silva, 110
Vila Guilherme - Zona Norte
São Paulo - SP
Estação Portuguesa-Tietê do metrô

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Autobiografia na música - Trabalhos avulsos (Golpe de Estado & Convidados) - Capítulo 125 - Tributo à Nelson Brito - Por Luiz Domingues

No canto do palco, lá estou eu (Luiz Domingues), a me preparar para tocar com o Golpe de Estado. Casa de Cultura Chico Science de São Paulo, 24 de agosto de 2024. Click, acervo e cortesia: Ana Cristina Domingues

Cheguei cedo ao ambiente da Casa de Cultura Chico Science e no caso, não se tratava apenas do show do Golpe de Estado, mas sim de um pequeno festival. Havia sido providenciado pela produção desse evento, uma estrutura até surpreendente mediante um bom equipamento de PA, até a se colocar acima das necessidades do ambiente, iluminação, um telão de qualidade máxima para os padrões tecnológicos da época para a exibição de imagens em alta definição, ou seja, esteve de parabéns a produção.

Estava um dia relativamente frio e ameaçava chover, o que de fato ocorreu assim que eu cheguei, mas não foi nada torrencial e sim sob uma rápida ação e de forma amena. Mesmo assim, eu fiquei chateado por verificar que o público presente que assistia a apresentação da banda que se apresentava quando eu entrei no recinto, estava absolutamente diminuto. Boa banda em ação, amparada por um equipamento de bastante qualidade, iluminação legal e telão de alta definição, fiquei feliz por ver uma banda legal a se apresentar com bastante energia e qualidade musical.

Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, Roby Pontes na bateria, João  Luiz e Marcello Schevano. Golpe de Estado e convidados. Casa de Cultura Chico Science  de São Paulo. 24 de agosto de 2024. Click, acervo e cortesia: Ana Cristina Domingues

Bem, o meu estado gripal havia piorado desde o ensaio realizado três dias antes, mas o que me preocupou mesmo foi o clima de comoção com o qual me confrontaria. Começou o espetáculo e da coxia, vi o Daniel Kid iniciar no baixo a tocar músicas mais recentes do Golpe de Estado, fruto da formação mais atual da banda. A seguir, o amigo Fabio Cezzar entrou em cena e tocou três canções dos dois primeiros discos e da coxia, eu fiquei sensibilizado pois tais temas povoavam a minha lembrança de convívio com a banda ainda nos anos 1980.

Para potencializar ainda mais a minha melancolia disparada de forma implacável, eis que a imagem fixa que se usou no telão, foi uma colagem de fotos do Nelson em ação e a cada vez que eu via o meu amigo ali, fui acometido de pensamentos que se intensificaram no sentido de despertar uma tristeza muito grande.

Fui chamado ao palco e gentil como sempre, Fabio Cezzar me emprestou o seu belo baixo Fender Precision, ou seja, a repetir o empréstimo que já fizera no ensaio. Facilitou demais a troca rápida e o som do instrumento estava espetacular, não mudei um centímetro da regulagem de timbre que ele arrumara para si.

Começamos com "Cobra Criada", uma canção oriunda do LP "Forçando a Barra", de 1988. Música mais acelerada, foi com esse impulso que tocamos e foi um prazer tocar aquela linha de baixo tão  bonita e complexa, criada pelo Nelson Brito.

Quando a música se encerrou, a enxurrada de aplausos e gritos foi emocionante e eu tive a reação natural de apontar para a imagem do Nelson no telão. Marejei os olhos e tudo se intensificou quando avistei o rosto de Heloísa Gongora na multidão, viúva do Nelson que ao fitar-me, sinalizou com sentido de agradecimento e ali eu embarguei de vez. Sabedor do sofrimento que ela teve no processo todo da doença, internação e falecimento do Nelson, é claro que só de vê-la ali presente eu já me desequilibrei ainda mais.

A imagem de Nelson Brito em proeminência no telão que ornou o palco. Uma bela, emocionante e justa homenagem ao amigo que partiu.Golpe de Estado e convidados. Casa de Cultura Chico Science de São Paulo. 24 de agosto de 2024. Click, acervo e cortesia: Ana Cristina Domingues  

"Não é Hora" foi a segunda canção na qual eu participei a suprir o som do baixo. Canção oriunda do LP "Nem Polícia, nem Bandido", lançado em 1989. Clássico, mais um no caso, do repertório da banda, foi cantada em uníssono pelo público que naturalmente a adorava. Toquei e foi a aumentar a minha sensação de angústia ao não parar de me lembrar do Nelson e do Hélcio também.

Ricardo Schevano, eu Luiz Domingues a sair do palco, Roby Pontes, João Luiz e Fabio Cezzar a agradecer o público. Confraternização final da banda e seus convidados com o público. Golpe de Estado e convidados. Casa de Cultura Chico Science de São Paulo. 24 de agosto de 2024. Click, acervo e cortesia: Ana Cristina Domingues

"Caso Sério", uma bonita balada contida no LP "Quarto Golpe" de 1996, encerrou a minha participação e a emocionar todos no recinto. Quando acabou, cumprimentei todos os colegas da banda, o público, naturalmente, fiz uma reverência à viúva do Nelson Brito presente na plateia e assim que voltei ao camarim, o Ricardo Schevano viu que eu estava bem abalado. De fato, a emoção me consumiu e cheguei aos prantos, bastante emocionado.

Lembrei muito do meu querido avô, que já em idade avançada me falou certa vez que muito mais que o medo da morte, o que estava a consumi-lo emocionalmente, era constatar a morte de entes queridos e amigos aos montes, o que é um fato natural quando se atinge uma idade longeva e a sensação de amparo vai a ser minada na medida em que tombam todos ao seu redor e com eles, vai embora também o sentimento de pertencimento ao mundo. 

Tal sensação é obviamente deveras desalentadora e finalmente eu comecei a experimentar o mesmo ao ver tantos amigos e familiares a desaparecer, além de pessoas de uma geração de artistas que tanto me influenciou também a perecer de uma forma avassaladora, no sentido que tal geração de fato chegou a uma idade limite sob o ponto de vista biológico.

Em suma, o meu avô teve razão ao observar tal sensação tão ruim e finalmente eu entrei em uma fase que começara a ter esse dissabor de uma forma bem comum, a provar que isso é de fato um sentimento devastador.

Bem, me controlei enfim, me despedi de todos, a agradecer pela oportunidade e na saída do camarim, ao tomar contato com parte do público que ali aguardou para cumprimentar a todos, encontrei velhos amigos e até fãs de trabalhos anteriores que eu tive, principalmente d'A Chave do Sol e da Patrulha do Espaço, o que me deu alegria para amenizar um dia permeado pela tristeza.

O Marcello comunicou-me que esse show possivelmente repetir-se-ia em outubro, em uma unidade do Sesc e que todos os baixistas convidados tocariam novamente acaso pudessem confirmar presença, De antemão, eu confirmei e pensei comigo que muito possivelmente desta feita eu estaria mais conformado e consequentemente melhor estruturado psicologicamente para atuar.

De qualquer forma, tristeza a parte, dei o meu melhor e acredito que onde quer que esteja, o Nelson recebeu a nossa boa vibração. Assim espero, pelo menos.

1) Golpe de Estado convida Luiz Domingues - "Cobra Criada" - Casa de Cultura Chico Science - 24 de agosto de 2024. Filmagem e cortesia: Ana Cristina Domingues

Eis o link para assistir no YouTube:
https://youtu.be/bkCRTpxSdFk

2) Golpe de Estado convida Luiz Domingues - "Não é hora" - Casa de Cultura Chico Science - 24 de agosto de 2024. Filmagem e cortesia: Ana Cristina Domingues

Eis o link para assistir no YouTube:
https://youtu.be/MdoZLV57Zuo 

3) Golpe de Estado convida Luiz Domingues - "Caso Sério" - Casa de Cultura Chico Science - 24 de agosto de 2024. Filmagem e cortesia: Ana Cristina Domingues

Eis o link para assistir no YouTube:
https://youtu.be/glHrzPxHEYA

A banda, com os baixistas convidados (menos Daniel Kid) e o guitarrista do grupo "Nevulla", que tocou na última música, além do público presente. Golpe de Estado na Casa de Cultura Chico Science de São Paulo. 24 de agosto de 2024. Acervo e cortesia: João Luiz. Click: Desconhecido

Por conta dessa muito provável incidência de mais uma espetáculo com o mesmo teor, possivelmente então, continua...

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Autobiografia na música - Trabalhos avulsos (Golpe de Estado & Convidados) - Capítulo 124 - Tributo à Nelson Brito - Por Luiz Domingues

Na área social do estúdio Orra Meu, os cinco baixistas amigos de Nelson Brito, convocados para homenageá-lo ao vivo: Ricardo Schevano, Daniel "Kid", eu (Luiz Domingues), Pepe Bueno e Fabio Cezzar. Dia do ensaio com o Golpe de Estado. 21 de agosto de 2024. Acervo e cortesia: Daniel Kid. Click: Fabiano Sá

No dia 21 de agosto, conforme havia sido marcado pelo Marcello Schevano previamente, eu me reuni nas dependências do estúdio Orra Meu de São Paulo para um ensaio com os membros remanescentes do Golpe de Estado. Eu sabia que seria um dia triste, pois fatalmente todos os envolvidos haveriam de falar e bastante do nosso amigo em comum que partira tão recentemente. Seria inevitável que as rodas de conversa fossem marcadas por tal pauta.

Eu mesmo passara os dias anteriores a rememorar passagens com o Nelson e também com o Hélcio, ou seja, as reminiscências foram múltiplas e a tangenciar fatalmente para um sentimento de saudade que seria difícil de controlar.

Foi o que aconteceu de fato, embora muitos momentos a evocar lembranças de ocorrências engraçadas tivessem produzido boas risadas e isso amenizou a melancolia generalizada, no sentido de que ficara a impressão que mesmo diante do pior cenário possível, ou seja, o desaparecimento de um amigo querido, as risadas produzidas mediante lembranças boas, certamente amenizaram o quadro e mais do que isso, não há melhor maneira de relembrar de alguém que partiu que não seja pela recordação de fatos bons por ele realizados e devidamente guardados na memória de todos.

Da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), Roby Pontes, Daniel Kid, Pepe Bueno e Fabio Cezzar. Ao fundo, a cantora, Lucíola Felipe, com um homem desconhecido mais ao fundo. Dia do ensaio com o Golpe de Estado. 21 de agosto de 2024. Acervo e cortesia: Daniel Kid. Click: Fabiano Sá

Bem, fomos ensaiar. Daniel Kid passou as três primeiras músicas com a banda, eu toquei a seguir. Fabio Cezzar foi o terceiro e Pepe Bueno foi o quarto. Não assisti a participação de Ricardo Schevano, pois sob estado gripal, eu não estava 100% bem disposto e a aproveitar a carona de Daniel Kid que estava de saída para ir ensaiar com um outro pessoal ainda naquela noite, parti com ele que me deixou na estação Praça da Árvore do metrô e assim facilitou a minha volta para a casa.

Ainda no ensaio, eu conhecia e de muito tempo a categoria de todos ali presentes. Da então atual formação do Golpe de Estado, não havia o que dizer sobre Marcello Schevano, meu velho companheiro de duas bandas (Sidharta e Patrulha do Espaço), pois o conhecia desde 1994 e sabia muito bem da sua genialidade. No entanto, havia sim o que dizer, pois a despeito de havermos tocado muitas vezes com a Patrulha do Espaço em shows "reunião" nos últimos anos e inclusive com uma ocasião dessas a se fazer muito recente (em junho de 2024), eis que a sua performance como substituto do grande Hélcio Aguirra, se mostrava espetacular, pois o Marcello Schevano de 2024, além da genialidade nata com a qual eu o conheci trinta anos antes, estava acrescida de uma gigantesca carga de especialização musical e também no quesito da engenharia de áudio, além de muito experiência adquirida, portanto, a se revelar como uma forma exemplar de músico de alto padrão.

Sobre Roby Pontes, a mesma coisa. Eu sabia há muito tempo que ele era super técnico, tocava desde criança, tinha uma técnica incrível e um gestual muito personalizado e claro, impressionei-me ainda mais ao vê-lo ainda mais técnico e experiente, com um grau de sofisticação na sua performance ao instrumento, a chamar demais a atenção. 

E quanto ao vocalista João Luiz, o mesmo raciocínio, ou seja, eu sempre soube que ele era dono de uma das melhores gargantas do Rock Brasileiro e mantinha consigo um padrão de presença de palco muito exuberante, e nesse ensaio, pude constatar que mais velho ele usara a prerrogativa vinícola, ou seja, tal como o bom vinho, ficara ainda melhor como vocalista e front-man de enorme desenvoltura.

Enfim, fiquei feliz por tocar com meus amigos da banda e também dividir espaço com os colegas baixistas, todos amigos meus e entre si a configurar ali uma confraria Rocker muito natural e claro, todos amigos do grande Nelson Brito. Isso amenizou a nossa dor pela perda dele, mas pelo menos na minha mente um questionamento se materializou: e no dia do show? Será que eu conseguiria tocar, homenagear o amigo Nelson e não me emocionar? Será que os demais baixistas co-irmãos também se controlariam no palco ao se deparar com os fãs do Golpe de Estado sob intensa emoção? E os membros da banda, também conseguiriam superar a emoção?

Eu, Luiz Domingues, Roby Pontes, o cantor Fabiano Sá, Daniel Kid, Pepe Bueno e Fabio Cezzar. Ao fundo, Lucíola Felipe e um homem desconhecido mais ao fundo. Dia do ensaio com o Golpe de Estado. 21 de agosto de 2024. Acervo e cortesia: Daniel Kid. Click: Ricardo Schevano

Ao vermos a foto que o Daniel Kid preparou para registrar a  participação dos cinco baixistas convidados, eu logo falei em tom de brincadeira que éramos os "filhos de Nelson" e assim batizou-se a nossa reunião para celebrar a amizade que cultivamos todos nós com ele.

"Os filhos do Nelson Brito": Ricardo Schevano, Daniel "Kid", eu (Luiz Domingues), Pepe Bueno e Fabio Cezzar. Dia do ensaio com o Golpe de Estado. 21 de agosto de 2024. Acervo e cortesia: Daniel Kid. Click: Fabiano Sá

Continua...

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Autobiografia na música - Trabalhos avulsos (Golpe de Estado & Convidados) - Capítulo 123 - Tributo à Nelson Brito - Por Luiz Domingues

De uma forma penosa para todos os fãs do Golpe de Estado, colegas e amigos em geral dos membros e ex-membros, eis que recebemos atônitos a nota de falecimento do grande baixista, Nelson Brito, membro fundador desse histórico grupo de Rock, em 12 de julho de 2024. 

Ocorreu exatamente dez anos após o súbito falecimento do guitarrista Hélcio Aguirra e desta feita, o efeito surpresa que nos acometeu na perda do amigo Hélcio, teve outra perspectiva em relação ao Nelson, pois foi um perecimento anunciado, dada a constatação de que ele fora acometido de grave doença gastro-intestinal e que teve a agravante da somatização infeliz de uma doença contagiosa que teve. Nesse ínterim, a potencializar a sua completa perda de imunidade, foi minada a sua possibilidade de recuperação, pois o seu quadro geral piorou muito, portanto, os médicos fizeram de tudo, mas não deu para salvar o meu amigo e grande artista.

Eu fiz uma visita no hospital em que ele esteve internado em julho, assim que soube que saíra da UTI e fora para o quarto para se recuperar, mas assim que cheguei ao recinto, ele teve uma nova crise e foi reconduzido à UTI e assim, receio que ele não percebeu a minha presença, e a minha fala, mesmo com a sua esposa, Heloísa a enfatizar isso para ele notar que eu estava ali ao seu lado a lhe falar palavras de incentivo. Infelizmente eu presenciei a sua remoção de volta à UTI e de lá, nunca mais o vi com vida.

Impactado fortemente, fiquei com o questionamento sobre perdas de entes queridos, familiares ou amigos: o que é pior? Perder um amigo subitamente como foi o caso de Hélcio Aguirra, Rubens Gióia e Ciro Pessoa ou a saber que o amigo está debilitado, e de forma lenta, alimentar a nossa esperança de que melhore, mas na verdade, a situação é irreversível e dessa forma, o sofrimento de quem parte é vagaroso e o de quem fica, angustiante? 

Na qualidade colega de arte e amigo pessoal do Nelson, eu fui um dos tantos que sentiu o impacto da sua perda, sem poder fazer nada para mudar a situação, tampouco amenizar a tristeza pela qual fomos todos acometidos com a notícia. 

Particularmente, eu fui amigo do Nelson por quarenta e um anos. Nos conhecemos em fevereiro de 1983 nos bastidores da casa de espetáculos, "Victoria Pub" de São Paulo, quando a minha banda na ocasião, A Chave do Sol, se revezava com a dele, "Fickle Pickle", na missão de toda noite abrirmos os shows do "Tutti-Frutti", lendária banda comandada pelo guitarrista Luiz Carlini, por uma temporada longa que se estendeu até abril daquele mesmo ano. Nelson mal havia me conhecido nos bastidores do primeiro dia que lá fomos tocar e me ofereceu o seu amplificador pessoal para que eu me apresentasse e assim foi durante toda a temporada ali decorrida. Tal passagem está narrada com detalhes no livro "A Chave do Sol" da minha autobiografia, a corresponder ao volume V da obra. 

Simpático e solícito, tornou-se meu amigo de imediato. Desse ponto em diante, foram muitas jornadas a nos ajudarmos mutuamente. Ele já a bordo do Golpe de Estado e eu a passar por muitas bandas depois que A Chave do Sol encerrou atividades, mas curiosamente, sempre, em praticamente todas pelas quais atuei, a interagir com o Golpe de Estado através de shows compartilhados das mais variadas procedências e assim, sempre foi um prazer estarmos juntos nos camarins, coxias, no processo de soundcheck, mas ações de divulgação e claro, pelos palcos, ambiente de ensaios e estúdios de gravação, além de ambiente de rádio e TV. 

Nesses anos todos, também fui convocado a interagir como convidado em eventuais shows que o Golpe de Estado realizou e sempre fui acolhido pelo Nelson e demais colegas, da melhor maneira possível. Se eu já havia sentido muito a perda do guitarrista Hélcio Aguirra que nos deixou também de uma forma sofrida em 2014, o sentimento se repetiu em 2024, quando soube da partida do Nelson Brito. 

E assim como participei de um show em homenagem ao Hélcio Aguirra, alguns dias depois de seu falecimento, recebi um telefonema do meu amigo Marcello Schevano (desde 2014, substituto do Hélcio Aguirra para a condução da guitarra na continuidade de carreira do Golpe de Estado), para que eu participasse de algo semelhante, para prestarmos um tributo ao Nelson.

Seria diferente, no entanto, na medida que aquele "tributo" no qual participei em 2014, foi feito por um conglomerado de amigos e vários "combos" se apresentaram a tocar músicas de bandas pelas quais o Hélcio atuara e curiosamente, o Golpe de Estado a se tratar do seu trabalho mais significativo, ficara praticamente de fora. 

Desta vez, seria um show regular do Golpe do Estado, data essa que estava marcada previamente e que inclusive fora um pedido expresso da parte do próprio Nelson, ainda consciente no leito hospitalar de que nenhuma data agendada fosse cancelada.

Nesse termos, outras datas foram cumpridas mediante o apoio do baixista Daniel Kid, meu ex-roadie da Patrulha do Espaço em nossa  formação chronophágica, mas desta vez, a banda quis fixar uma homenagem a convidar cinco baixistas que foram amigos do Nelson e assim, eu aceitei o convite para tocar nesse compromisso que foi marcado para o dia 24 de agosto de 2024, com pouco mais de quarenta dias da sua morte, quando eu teria a honra de dividir o palco com o Golpe de Estado em regime de revezamento com quatro queridos amigos meus, baixistas e todos, amigos igualmente do Nelson, de forma fraternal. 

Dessa forma, além do Daniel "Kid" Ribeiro já citado, eu estive junto também a Marcelo "Pepe" Bueno, Ricardo "Soneca" Schevano (meus queridos amigos desde os anos 1990, tendo sido, ambos, meus alunos e cuja história está inteiramente narrada no livro VI da minha autobiografia, denominado como: "Sala de Aulas"). Além do ótimo, Fabio Cezzar, baixista de bandas seminais como o King Bird e Casa das Máquinas versão anos 2000 e meu amigo desde pelo menos 2007.

Todos nos unimos à formação então atual da banda e tocarmos as belas e complexas linhas de baixo criadas pelo nosso querido amigo que nos deixou. Foram designadas para mim, três canções para eu tocar no show: "Caso Sério", "Cobra Criada" e "Não é Hora", três dos muitos clássicos da banda.

Um ensaio foi marcado para ocorrer no estúdio Orra Meu, na quarta-feira, dia 21 de agosto de 2024.

Continua...

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Autobiografia na música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 203 - Por Luiz Domingues

Foi em 26 de julho de 2024, que o disco novo d'Os Kurandeiros, "Pronto pra Festa!" foi lançado com estardalhaço nas plataformas "streaming". Munido de um padrão de áudio exemplar, fato que eu já mencionei amplamente anteriormente no decorrer desta autobiografia, vale a pena ressaltar que se o padrão de excelência que alcançamos quando da apresentação ao vivo que resultou neste áudio bruto, foi mesmo espetacular, se tornou fato cabal que o padrão de mixagem e masterização que o nosso guitarrista, Phill Rendeiro imprimiu como produtor técnico do disco, foi notável.

Com performance incrível da banda no palco, alcançada no dia em que participamos do festival "Dellaz Fest" no teatro Red Star de São Paulo (em 23 de outubro de 2021), e mediante a captura assegurada com o requinte de ter todos os canais usados pelo PA na gravação do material bruto, o toque de classe veio através de Phill Rendeiro, quando assumiu a tarefa de mixar e masterizar a gravação e assim, chegamos a um resultado de disco ao vivo, espetacular. 

Sobre a capa, a ideia foi usar as diversas abordagens fotográficas feitas dessa apresentação ao vivo e no caso, uma capa provisória, montada especificamente para ser usada nas plataformas streaming, por ocasião do lançamento oficial marcado então para 26 de julho de 2024, porém, concomitantemente, a ideia de se preparar uma versão tradicional para o CD físico, avançou e já no decorrer dos primeiros dias de agosto desse mesmo ano, o ilustrador José Eduardo Rendeiro, primo de Kim Kehl e pai de Phill Rendeiro, preparou três versões iniciais de arte de capa e contracapa para a versão do CD físico.

Eis acima a primeira proposta de capa para a versão CD do álbum "Pronto pra Festa!" d'Os Kurandeiros. Arte de José Eduardo Rendeiro. Agosto de 2024

Neste ponto de agosto de 2024, ainda não havia sido feita a escolha oficial da capa do CD, mas particularmente eu havia gostado bastante das três versões apresentadas pelo José Eduardo Rendeiro.

Essa segunda ideia trouxe uma evocação ao CD anterior, "Cidade Fantasma", cuja arte também levou a assinatura de José Eduardo Rendeiro
Eis a terceira versão de capa proposta por José Eduardo Rendeiro para o novo disco d'Os Kurandeiros: "Pronto pra Festa!" Agosto de 2024

Enquanto a produção da versão física do CD "Pronto pra Festa!", d'Os Kurandeiros estava em vias de seus ajustes técnicos, o disco começava a repercutir, mesmo que só existisse virtualmente nessa época. Um bom exemplo disso ocorreu quando fomos objeto de uma boa matéria a repercuti-lo no site "Flertaí", publicada no dia 19 de agosto de 2024.

Eis o link para ler a matéria:

https://flertai.com.br/2024/07/os-kurandeiros-lancam-o-album-pronto-pra-festa/

E nessa altura, tínhamos enfim perspectiva para show ao vivo, aliás, dois para o mês subsequente, o que nos forneceu ainda mais alegria.

Continua...

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 142 - Por Luiz Domingues

Danilo Gomes Santos prepara o posicionamento dos microfones para a captura da bateria, enquanto Carlinhos Machado ajusta as suas respectivas peças. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 1ª sessão de "Serena". 15 de julho de 2024. Click e acervo: Luiz Domingues

Dia da guia primordial e gravação da bateria para a música "Serena", a data de 15 de julho de 2024, entrou para a história da banda como mais uma importante marca em tempos de resgate, no sentido de que a música "Serena" foi uma das primeiras canções surgidas em meio ao esforço inicial de criação de repertório, para dar substância à então iniciante carreira do Boca do Céu em seus primórdios de 1976.

Chegamos, portanto, muito entusiasmados às dependências do estúdio Prismathias de São Paulo, com a certeza de que gravar "Serena" haveria de ser mais do que um bom passo para concretizar o resgate, mas certamente, algo emocionante por esse fator que eu citei no parágrafo anterior. 

Já acostumados com o estúdio e com o estilo de trabalho de seu bom técnico, Danilo Gomes Santos, tais fatores por si só foram alvissareiros em princípio, mas eu percebi um elemento a mais, a despertar a minha atenção de uma forma muito positiva, quando senti nitidamente que Osvaldo Vicino e Wilton Rentero, os nossos guitarristas e que eram bem inexperientes em termos de estúdio quando fomos gravar a música "1969" em 2023, haviam avançado muito e no alto da quinta música em trabalho de gravação, no caso de "Serena", já ficara nítido o quanto haviam crescido em meio ao tempo decorrido e dentro desses trabalhos acumulados. Portanto, com a muito superior adequação de ambos aos esforços empreendidos, isso se somou em termos de qualidade para se agilizar ainda mais o trabalho. 

Osvaldo Vicino e Wilton Rentero na recepção do estúdio. Boca do Céu no Estúdio Prismathias de São Paulo. 1ª sessão de "Serena". 15 de julho de 2024. Acervo e cortesia: Luiz Domingues

Um outro aspecto, dada a constatação de que no arranjo final a música se sofisticara em demasia, eu sugeri que a guia fosse montada previamente, para facilitar ao máximo a gravação da bateria a posteriori, com a completa independência do Carlinhos Machado para escolher a melhor monitoração possível para o seu fone de ouvido e até a dispensar eventualmente, se assim o desejasse, o uso do metrônomo, pois a nossa base de guitarras, baixo e voz estaria rigorosamente dentro do padrão do "bpm" sugerido, mediante a certeza de que nós gravaríamos a usar o click de uma forma perfeita.

A preparar a guia da música "Serena", da esquerda para a direita na sala de gravação: eu (Luiz Domingues), Osvaldo Vicino, Laert Sarrumor e Wilton Rentero. 1ª sessão de "Serena". 15 de julho de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Ficou uma dúvida generalizada sobre a eficácia dessa metodologia, no sentido que perderíamos tempo para gravar a guia previamente, e esse tempo gasto, supostamente teria sido otimizado com o Carlinhos Machado a gravar conjuntamente. No entanto, ao insistirmos na metodologia proposta, acredito que foi o melhor acerto que tivemos, pois gravamos a guia sob o perfeito padrão de andamento e quando o Carlinhos foi gravar a sua parte oficialmente, o conforto que teve foi tão grande que a sua participação foi registrada com uma tomada apenas e a nos deixar muito satisfeitos com a performance dele.

Carlinhos Machado a gravar a sua participação. 1ª sessão de "Serena". 15 de julho de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")Carlinho

Mediante um som de captura absolutamente estimulante, ficamos muito contentes com o resultado inicial que obtivemos nessa primeira sessão. Com um som robusto de tambores, incluso o bumbo nesse porte que ali ouvimos, tal sonoridade já nos deu a certeza que a somatória dos demais instrumentos em meio a uma bateria tão encorpada, estabeleceu uma perspectiva maravilhosa da qual nós muito nos animamos nesse instante.

Na primeira foto, a turma da guia preparada parta gravar. Foto 2: Carlinhos Machado a gravar. Foto 3: Eu (Luiz Domingues) e Osvaldo Vicino a preparar a guia. Foto 4: Carlinhos Machado a gravar. Foto 5: Laert Sarrumor, Osvaldo Vicino, Wilton Rentero e Carlinhos Machado a conversar na sala da técnica. Foto 6:  Wilton Rentero a preparar a sua guitarra. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 1ª sessão de "Serena". 15 de julho de 2024. Fotos 1, 3, 4, 5 e 6: click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah"). Foto 2: click e acervo: Luiz Domingues

1) "Serena" - 1ª sessão - Bateria - 15 de julho de 2024 - Filmagem e acervo: Luiz Domingues

Eis o vídeo para assistir no YouTube:
https://youtu.be/42LXEMQazYM 

2) "Serena" - 1ª sessão - Bateria (vídeo 2) - 15 de julho de 2024 - Filmagem e acervo: Luiz Domingues

Eis o vídeo para assistir no YouTube:
https://youtu.be/fLnrgobTHTE 

3) "Serena" - 1ª sessão - Bateria (vídeo 3) - 15 de julho de 2024 - Filmagem e acervo: Luiz Domingues

Eis o vídeo para assistir no YouTube:
https://youtu.be/qGvLhYgkkgU 

No dia seguinte, abrimos a sessão com a gravação do baixo.

Continua...