quarta-feira, 27 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 127 - Por Luiz Domingues

Da esquerda para a direita: Wilton Rentero, a nossa convidada especial, Renata "Tata" Martinelli, Laert Sarrumor, Carlinhos Machado (atrás na bateria e encoberto), eu (Luiz Domingues), e Osvaldo Vicino. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Quando subimos ao palco, a confiança que experimentamos foi muito boa. O fato do Carlinhos Machado ter entrado oficialmente na banda se mostrou decisivo no sentido de que através da sua experiência, ele dividiu comigo e Laert a missão de dar respaldo para Wilton e Osvaldo, ambos com menos rodagem que nós. 

Dessa forma, ao dar segurança nas contagens, propor a pulsação e segurar nas suas mãos o andamento, já foi um reforço e tanto. Fora a segurança na condução, a manter a banda tranquila mediante um pilar na retaguarda para que todos pudessem tocar seguros e mais um dado que eu conhecia muito bem a bordo da nossa atuação com Os Kurandeiros: os backing vocals bem afinados que ele costumava fazer, que sempre enriqueciam demais as apresentações. 

Havíamos convidado a cantora d'Os Kurandeiros, Renata "Tata" Martinelli para atuar conosco na apresentação. Ela que brilhantemente gravou backing vocals para a canção "1969" que lançamos em 2023, mas por um conflito de agendas, não conseguiu fazer parte de nossos ensaios, se preparou conforme foi possível para esse show, apenas a escutar vídeos de nossos ensaios e trocar informações com o Laert pelas redes sociais. 

Na primeira foto: Laert Sarrumor no primeiro plano, com Renata "Tata" Martinelli e Wilton Rentero ao seu lado. Na segunda foto: Laert Sarrumor e eu (Luiz Domingues) ao seu lado. Na foto número três, vemos Wilton Rentero e Renata "Tata" Martinelli. Na foto número quatro, Laert Sarrumor na linha de frente com Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues) na retaguarda. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2027. Click, acervo e cortesia: Marcos Viana "Pinguim"

Começamos com "Rock do Cometa" e a música fluiu muito bem. Com segurança generalizada, balanço Rock'n' Roll e backings bem cumpridos, a música deu o cartão de visitas da banda com segurança, como música de abertura do show. Que maravilha tocarmos essa canção surgida pela criação do Laert lá no longínquo ano de 1977, e que tanto sonhamos executar ao vivo nos shows de Rock que nunca tivemos a oportunidade de realizar na sua plenitude naquela época e que neste instante de 2024, conseguimos enfim, com a devida desenvoltura!

Eis um trecho do "Rock do Cometa". Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e cortesia: Lucas Costa Pinheiro

Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=tmcwwqZK6eE

No entanto, eis que ainda inexperiente no uso de pedais de efeitos e ainda por cima a usar um módulo com muitos "presets" e não uma pedaleira tradicional, o Wilton Rentero não controlou corretamente o pedal de volume e assim, o seu solo saiu com um volume bem baixo, inclusive aquém do volume que ele ajustara para tocar a base das músicas.

Logo que a música se encerrou e recebemos os primeiros aplausos e gritos de euforia da parte da plateia, algo não usual ocorreu, pois ante tal dificuldade, observada, O Laert tomou uma atitude de improviso quando nos conclamou a tocarmos de pronto o trecho final novamente, com o Wil alertado a aumentar o volume. Confesso que na hora que o Laert tomou tal atitude inesperada, eu temi pelo pior, pois além da situação vexatória do erro ter sido exposto publicamente sem necessidade do público tomar ciência da nossa falha, o ato de exaltar a banda, que tinha dois membros inexperientes nas suas fileiras, para começar a tocar de novo sob um determinado trecho como se fosse um ensaio, se mostrou uma temeridade na minha imediata percepção, pois a falta de malícia de palco poderia gerar um desastre. De fato, tentamos de pronto retomar tal trecho alardeado e ficou caótica a tentativa de tocarmos tal detalhe novamente. Foi quando o Carlinhos tomou as rédeas da situação, deu o sinal da contagem e nós entramos certo, e desta feita, o solo ficou bem melhor, é verdade, mediante o ajuste do volume melhor ajustado.

Depois no camarim, o Laert me disse que tomara essa atitude inesperada para que o Wil não se prejudicasse e por conseguinte a banda, pois ele de fato, controlou melhor melhor o seu pedal doravante e assim, o show como um todo não foi cumprido com tal falha estrutural.  Na hora eu aceitei a argumentação e raciocínio dele, embora no meu caso eu não teria feito o mesmo. Penso que no intervalo da primeira para a segunda música, um recado passado discretamente para o Wil, teria tido o mesmo efeito.

Mas sem problema, pois o público levou na brincadeira tal princípio de tumulto ali estabelecido e o show prosseguiu com muita desenvoltura, a engrenar de vez, e ir até o seu final de uma forma muito boa. Portanto, mesmo a discordar do procedimento, admito que tal gesto tenha surtido um efeito positivo para a continuidade da nossa performance.

Momentos mágicos do show! Foto 1: Osvaldo Vicino. Foto 2: Eu (Luiz Domingues). Foto 3: Carlinhos Machado. Foto 4: Wilton Rentero. Foto 5: a nossa convidada especial, a fadinha d'Os Kurandeiros: Renata "Tata" Martinelli. Foto 6: Laert Sarrumor. Foto 7: Uma panorâmica da banda em ação, com o telão a exibir o emblemático anúncio do "tatu"da revista Rolling Stone brasileira dos anos setenta, uma das referências das quais o Laert cita na letra da canção "1969". Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Clicks, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Adveio então "Astrais Altíssimos". Na minha mente, passou a ideia de que tocáramos essa música no primeiro show da banda em fevereiro de 1977 e agora estávamos ali a tocar de novo, que constatação incrível a ser anexada ao quadro de recordes que a nossa banda passou a bater, por conta do resgate que assumimos realizar!

Pois foi com um imenso prazer que eu verifiquei que a executamos com vigor e muita graciosidade. E mesmo que soasse à maioria das pessoas ali presentes como uma grande novidade pelo seu caráter desconhecido até então, a música provocou risadas pelo fato do seu refrão usar do humor em meio a um jogo de palavras que induz a um efeito de compreensão em torno da escatologia, ainda que na prática o Laert tenha feito uma brincadeira com a tabela periódica da química.

Eu já podia mensurar o quanto essa música haveria de explicar para muitos ouvintes novos do Boca do Céu sobre como se deu o desenvolvimento do trabalho do Língua de Trapo a posteriori. Ou seja, a veio satírica do Laert como compositor, nós já conhecíamos desde 1976, cerca de três anos antes da movimentação preliminar que desencadeou o surgimento do Língua de Trapo e a posteriori quando explodiu ao grande público.

"Astrais Altíssimos" - Boca do Céu no ICBR de São Paulo - 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Eis o link para ver no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Of6LTknb9Jg

Perfeitamente desenvoltos no palco e a recebermos a ótima receptividade da parte do público, seguimos em frente e chegara a vez de colocarmos a nossa pérola Folk-Rock em destaque, momento esse eu haveria de desfrutar a me sentir a tocar nos anos sessenta com o Arlo Guthrie, The Band e Lovin' Spooful para citar três bons exemplos e por que não (?), com Bob Dylan... 

Continua...

sábado, 23 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 126 - Por Luiz Domingues

O palco a ser preparado para um grande momento do Boca do Céu na sua versão do III milênio! Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Chegamos ao ambiente do Instituto Cultural Bolívia Rock com a confiança bem grande de que estávamos bem preparados e certamente que o fato do show ter a presença de bandas amigas e mais do que isso, com certos componentes a fazer parte de mais de uma banda, nos deu a tranquilidade definitiva sobre estarmos amplamente respaldados.

O fato de haver amizade estabelecida por múltiplas conexões entre os componentes das três bandas, foi a garantia de que o amparo seria automático e assim ocorreu.

Carlinhos Machado, nosso baterista e também d'Os Kurandeiros, era igualmente baterista da banda "Los Interessantes Hombres sin Nombre", portanto, teria uma participação muito além da órbita artística, mas a se revelar verdadeiramente atlética nessa noitada. Eu mesmo, também teria uma jornada não tão intensa quanto à do Carlinhos Machado, todavia, de característica dupla, pois tocaria com o Boca do Céu e com Os Kurandeiros.

Wilton Rentero a se preparar no soundcheck, com a presença da técnica de som da casa, Talita, de costas ao fundo. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Os guitarristas d'Os Kurandeiros, meus amigos e colegas, Kim Kehl e Phil Rendeiro ajudaram muito os nossos guitarristas, Osvaldo Vicino e Wilton Rentero e assim, o soundcheck foi cumprido com extrema cooperação e camaradagem. 

Wilton Rentero e Kim Kehl em clima de camaradagem Rocker total! Boca do Céu no ICBr de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Encerrada essa fase de preparação, a banda de nossos amigos, "Los Interessantes Hombres sin Nombre" fez o seu trabalho de soundcheck e ficou pronta para entrar em cena. A casa já estava pronta para abrir as suas portas ao público e o clima de animação era enorme da parte da nossa "velha nova banda".  

Fomos muito bem recebidos também pela proprietária da casa e por todos os funcionários. Catia Cristina, sempre se mostrou como uma fã incondicional d'Os Kurandeiros e do Língua de Trapo, portanto estava esfuziante por receber Os Kurandeiros e o Boca do Céu, sabedora que eu e Laert Sarrumor tivemos o Boca do Céu como banda primordial da carreira de ambos e a registrar ali no palco de seu estabelecimento uma marca histórica, ou seja, a sua grande volta aos palcos, após um longo hiato a conter longos quarenta e seis anos (1978-2024).

O público começou a entrar nas dependências do Instituto Cultural  Bolívia Rock e logo o grupo "Los Interessantes Hombres sin Nombre" subiu ao palco.

Na primeira foto, o excelente guitarrista, Marcos Mamuth. Na segunda, o baterista mais requisitado de São Paulo, Carlinhos Machado. Na terceira, o excepcional baixista, Ayrton Mugnaini Junior e na quarta foto, uma panorâmica do grupo "Los Interessantes Hombres sin Nombre" em ação no palco. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Encerrado o ótimo show do "Los Interessantes Hombres sin Nombre", com as suas canções cheias de identidade Rocker/Bluesy/Soul, nos preparamos para subir ao palco. 

Fato inacreditável, desde 1978 não fazíamos isso como unidade de banda de Rock e com essa formação do quarteto original, desde 1977, quando eu (Luiz Domingues), Osvaldo Vicino, Wilton Rentero e Laert Sarrumor estivemos no palco do ginásio de festas do Palmeiras, para participarmos de duas fases de eliminatórias do festival Fico nesse citado ano.

Portanto, quanta emoção por reunirmos a velha tropa de novo em um palco e desta feita com o objetivo de fazer um show de Rock de verdade. Que momento para essa banda, para esses velhinhos Rockers do século XXI e no meu caso em específico, que alegria chegar no final da carreira e da vida com esse resgate cumprido!

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terça-feira, 19 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 125 - Por Luiz Domingues

Fora toda essa comoção interna de nossa parte em face ao retorno do Boca do Céu aos palcos, após um inacreditável hiato de quarenta seis anos (1978-2024), ainda haveria a exótica participação dessa minha banda inicial de carreira e revivida naquele instante, por estar a abrir o show de minha banda regular desde 2011, Os Kurandeiros, ou seja, um elemento a mais para fazer dessa noite uma ocasião bem especial.

Não foi a primeira vez que eu haveria de tocar com duas bandas durante o mesmo evento, no entanto, desta feita tal elemento agregaria ainda mais a sensação de um sabor muito especial para a noitada Rocker que se pronunciara.

Dentro da logística interna que construímos, eu combinei de fornecer carona para o Laert e sua esposa (e nossa empresária), Marcia Oliveira e para tal, marquei com ambos o nosso encontro para ocorrer em uma estação de metrô bem próxima da minha residência na ocasião. Cheguei ao local com alguns minutos de antecedência em relação ao horário que marcamos e fiquei em um ponto estratégico para visualizar a chegada do casal amigo, quando ambos haveriam de se apresentar nas catracas de saída da estação.

A brincar com essa foto no seu perfil da rede social Facebook, o músico e técnico de áudio, Célio Boim colocou a legenda: "será que é ele?" a se referir à minha pessoa, Luiz Domingues, no fundo, perto de uma placa publicitária, estrategicamente colocado a observar as catracas de saída da estação Ana Rosa do metrô de São Paulo, a aguardar a aproximação de Laert Sarrumor e Marcia Oliveira.17 de fevereiro de 2024. Click (selfie), acervo e cortesia: Célio Boim

Foi nesse ínterim, que percebi um rapaz a mirar-me com aquela expressão facial típica de que me conhecia, no entanto eu não me lembrei exatamente dele naquele instante. Foi quando ele sinalizou-me, eu me aproximei e ali travamos uma boa conversa. Fã d'A Chave do Sol, ele se apresentou e foi então que eu recordei dele pela nossa amizade virtual estabelecida via Facebook, a se tratar de Célio Boim.

Foi quando Laert e Marcia chegaram, e surpreso por também conhecer o Laert por conta do Língua de Trapo, lhe revelamos que estávamos a nos encontrar a visarmos cumprir o soundcheck no Instituto Cultural Bolívia Rock, para nos apresentarmos a noite, com o "Boca do Céu", a nossa gloriosa primeira banda de carreira de ambos.

No comando da "selfie", o músico e técnico de som/operador de PA, Célio Boim, confraternizou comigo (Luiz Domingues), Laert Sarrumor e Marcia Oliveira a empresária do Língua de Trapo e também do Boca do Céu. Estação Ana Rosa do metrô de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click (selfie), acervo e cortesia: Célio Boim

Experiente como músico e técnico de som (ele operava PA de espetáculos musicais os mais variados), nos disse que não iria assistir apenas porque trabalharia com a sonorização de um show naquela noite na cidade de Suzano-SP, mas que não perderia um show nosso em um futuro não muito distante.

Pois é, Rockers são sempre atentos aos "sinais" e esse nos pareceu de fato um bom presságio de que não só teríamos um bom show naquela noite, como todo o nosso esforço para colocar a banda em condições de tocar ao vivo, lograra êxito, só por essa manifestação  incrível, ocorrida a esmo em uma estação do metrô.

E assim fomos felizes para o local do nosso show. Aquele haveria de ser um dia de Rock e os sinais positivos estiveram no ar! 

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sábado, 16 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 124 - Por Luiz Domingues

Com as bênçãos do Uriah Heep sob a sua formação mais famosa retratada na parede, eis o Boca do Céu no camarim do Instituto Cultural Bolívia Rock, em 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Eis que chegara o grande dia. Sentimento vivo entre os quatro membros originais do Boca do Céu presentes na formação pós-2020 e devidamente reforçado pelo Carlinhos Machado, que entrara na banda nesta fase moderna do século XXI, porém, sendo contemporâneo nosso dos anos setenta, entendia perfeitamente essa mesma sensação, ocorreu que nesse dia, 17 de fevereiro de 2024, nós finalmente voltamos a colocar essa banda sob um palco, algo que não fazíamos desde o longínquo ano de 1978.

Quando nos reencontramos para uma mera reunião de confraternização em fevereiro de 2020, não passara na imaginação de nenhum de nós envolvidos nesse projeto de resgate, que uma sobrevida poder-se-ia precipitar doravante e foi exatamente o que ocorreu, com pandemia mundial no meio do caminho, problemas pessoais de cada um mediante doenças pontuais e questões familiares a se resolver, muitos ensaios em meio aos protocolos sanitários exigidos e sobretudo, a exercermos um esforço de memória hercúleo para relembrar músicas cuja lembrança só tínhamos na maioria dos casos, de forma precariamente fragmentada.

Conseguimos enfim colocar a banda em um estúdio profissional, para gravar uma das nossas canções com o brilhantismo musical que era inatingível para nós nos anos setenta, gerar repercussão midiática muito além do esperado e agora, neste momento de 2024, colocar a banda no palco para tocar em uma casa noturna com ambientação de Rock e a cumprir tal tarefa com propriedade. 

Eu (Luiz Domingues), em meio a um ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen de São Paulo em 4 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

A pensar exclusivamente no meu caso particular, eu já houvera atingido um pico de carreira muito além do que sonhara, no sentido de que atuara como membro de muitas bandas, a gravar mais de duas dezenas de discos ao longo de quase quarenta e oito anos de carreira. Nesta altura, estava a exibir um portfólio gigantesco, portanto, chegara nessa idade cronológica de sessenta e três anos de idade (a enxergar a marca de sessenta e quatro para ser cumprida em breve), plenamente satisfeito. 

Durante a minha trajetória, pude ajudar a criar uma banda que cresceu e ficou lendária, entrei para a formação de duas bandas que já eram lendárias e pude construir a minha participação com presença marcante na história delas. Tive também banda que teve apelo midiático, outras duas que alcançaram um enorme respeito artístico. Exerci a psicodelia sessentista mais louca a bordo da banda de um artista que a enxergava como eu, e pude construir uma banda inteiramente da estaca zero a pensar em todos os detalhes para exercer o que eu sempre sonhei fazer. Além disso, tive duas bandas "cover" que foram além da mera execução mecânica a conter muitos atributos irrefutáveis, fora que participara de dezenas de trabalhos avulsos com outros artistas.

Portanto, essa boa surpresa de poder prover sobrevida à minha primeira banda, que tivera uma trajetória tão singela e importante como fator impulsionador da minha carreira, mas que poucos resultados palpáveis amealhara durante a sua jornada no decorrer da década de setenta, eu pude encarar como um presente que os Deuses do Rock me ofertaram para que eu pudesse encerrar a carreira e a vida, com direito a retornar ao ponto inicial de tudo nesse aspecto da minha trajetória artística e desta feita, para deixar um legado com este trabalho em específico.

Diferente do meu primeiro show de Rock da vida, cumprido em fevereiro de 1977, com esse mesmo "Boca do Céu", eu acordei no dia 17 de fevereiro de 2024, sem aquela apreensão, o chamado "frio na barriga", que artistas principiantes sentem e que alguns nem conseguem superar, mesmo com a experiência adquirida. 

No entanto, toda essa reflexão que eu expus nos parágrafos acima, passou pela minha mente nesse instante e eu me senti muito feliz por esse dia ter chegado. 

Faríamos um show de abertura da minha própria banda, Os Kurandeiros e seria curto, no padrão de um show de choque, mas embora breve na duração e na condição de "open act" ou show de abertura (na terminologia em português), de uma outra banda, que significado especial teria para todos nós!

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terça-feira, 12 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 123 - Por Luiz Domingues

Que momento bonito foi para essa banda formada por adolescentes nos anos setenta, mas que não conseguira amealhar grandes conquistas naquela década, poder se reagrupar tanto tempo depois e aos poucos, avançar para quebrar os seus próprios recordes. 

Pois se em 2023, lançamos enfim a nossa primeira música oficialmente gravada em estúdio e tivemos inúmeras execuções radiofônicas, agora estávamos com show marcado para acontecer em breve e nesse dia 31 de janeiro de 2024, fomos realizar a nossa primeira entrevista para um veículo de rádio tradicional do dito "dial", com a banda completa e com direito a uma mini apresentação de nossa parte.

Tudo bem que esse convite foi formulado por um próprio companheiro nosso, isto é, a se configurar como uma ação entre amigos, mas na prática, tirante essa camaradagem implícita, o fato foi que essa oportunidade se revelou histórica para a nossa banda, que sonhara com participações dessa monta no âmbito da cobertura radiofônica e somente agora, na terceira década do século XXI, concretizou tal feito.

Bem, tradicionalmente o programa era realizado nos estúdios da USP, dentro do campus da cidade universitária, porém, a passar por reformulação, já de algum tempo a gravação estava a ser realizada no estúdio conhecido como "Mister Jungle", de propriedade do tecladista do Língua de Trapo, José Miletto, em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista.

Para tocarmos de uma maneira elétrica, tivemos o apoio do percussionista do Língua de Trapo, Marcos Martins, que é também técnico de som e proprietário de equipamento de PA, portanto, ele prontamente nos emprestou toda a estrutura, montando um mini PA de pronto para que pudéssemos tocar.

Os apresentadores do programa "Rádio Matraca" e amigos de longa data: Alcione Sanna, Laert Sarrumor e Ayrton Mugnaini Junior.  Boca do Céu no programa "Rádio Matraca" da USP FM. 31 de janeiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

A minha ex-aluna e amiga, Alcione Sanna e eu, Luiz Domingues, a nos reencontrarmos após tantos anos. Boca do Céu no programa "Rádio Matraca" da USP FM. 31 de janeiro de 2024. Click (selfie), acervo e cortesia: Alcione Sanna

Foi um prazer reencontrar a minha ex-aluna, Alcione Sanna após tantos anos, e com a qual tive bons momentos de recordação ali nos bastidores dessa gravação, ao falarmos sobre as nossas reminiscências ocorridas nos anos noventa, quando das minhas aulas. 

Seguindo o roteiro do programa, nós primeiro gravamos as músicas do Boca do Céu. Tocamos as canções: "Rock do Cometa",  "Astrais Altíssimos" e "Desprogramação". 

E ali na hora, na base do improviso, a se considerar que Ayrton Mugnaini Junior e Carlinhos Machado também eram membros do grupo "Los Interessantes Hombres Sin Nombre", se resolveu convocar os dois guitarristas do Boca do Céu, Wilton Rentero e Osvaldo Vicino, e assim eles tocaram a música: "Rebel Dog Blues", composição do Ayrton, inclusive com a participação do Laert, canção que representou os "Los Interessantes", que também fariam o show conosco no Instituto Cultural Bolívia Rock, alguns dias depois.

 
Flagrantes da nossa apresentação durante entrevista concedida ao programa "Rádio Matraca". Primeira foto: Laert Sarrumor e Wilton Rentero. Segunda foto: Osvaldo Vicino e Laert Sarrumor. Terceira a foto: Eu (Luiz Domingues), com Ayrton Mugnaini Junior, atrás, em pé e Carlinhos Machado ao lado. Boca do Céu na gravação do programa "Rádio Matraca". 31 de janeiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

A seguir, fizemos a entrevista que foi muito boa, com todos a contar a história da nossa banda nos anos setenta e no momento pós-2020,  e logicamente com o Laert também a participar desse contexto, mesmo sendo ele também um dos apresentadores do programa. 

Um último bloco foi dedicado à minha pessoa e certamente que eu  vi como algo muito honrosa essa deferência à minha pessoa e trajetória pessoal. Nesse bloco, eu falei de praticamente todas as bandas pregressas que tive e também d'Os Kurandeiros, mediante trechos de músicas executados de cada trabalho destacado e a contar com o farto uso de "BG" a destacar músicas dessas bandas todas. 

Em suma, foi uma entrevista & apresentação em clima de completa descontração, entre amigos queridos e com a camaradagem explícita no ambiente, o que nos deu respaldo, certamente, para nos apresentarmos bem e falarmos com desenvoltura.  

A banda perfilada a atuar, com Ayrton Mugnaini Junior e Alcione Sanna a assistir da porta ao fundo e no canto direito a comandar a filmagem, Moacir Barbosa de Lima ("Moah"). Click, acervo e cortesia: José Miletto

O nosso excelente apoiador, Moacir Barbosa de Lima, o grande "Moah", fotografou e filmou toda a apresentação e o simpaticíssimo José Miletto nos forneceu o áudio das três músicas que gravamos e assim, eu pude compor três clips mediante mosaico de fotos para reforçar o acervo da nossa banda. 

Tal entrevista foi ao ar no dia 10 de fevereiro de 2024, pelas ondas da USP FM, a concretizar a primeira entrevista coletiva da banda em uma emissora de rádio do "dial" tradicional. Um marco para os meninos sonhadores de 1976, somente concretizado por senhores no alto da terceira idade em 2024, porém, a emoção foi a mesma, é preciso salientar.

Dias depois, o podcast para audição permanente foi disponibilizado pela emissora, através do seguinte link:

https://jornal.usp.br/radio-usp/sinopses/radio-matraca/

"Rock do Cometa" ao vivo no programa "Rádio Matraca" - USP FM de São Paulo. No ar no dia 10 de fevereiro de 2024

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=fVf-CXpWFOw

"Astrais Altíssimos" ao vivo no programa "Rádio Matraca" - USP FM de São Paulo. No ar no dia 10 de fevereiro de 2024

Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=xbdUT6i-bos

"Desprogramação" ao vivo no programa "Rádio Matraca" - USP FM de São Paulo. No ar no dia 10 de fevereiro de 2024

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=HwRTj2_cImw

Com a propaganda do show já "na rua" e a todo vapor, o programa foi com certeza um elemento de apoio nesse esforço. E então, para arrematar, fizemos mais um ensaio de segurança. Dessa forma, nos reunimos novamente nas dependências do estúdio Lumen de São Paulo, no dia 11 de fevereiro de 2024, para um último apronto. 

Da esquerda para a direita: Carlinhos Machado, eu (Luiz Domingues), Wilton Rentero e Osvaldo Vicino. Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen de São Paulo. 11 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Sem o Laert, no entanto, apenas repassamos alguns pontos cruciais das canções para nos fornecer a segurança final e assim nos colocamos aptos para cumprir o nosso apontamento mais importante nesta etapa do grande resgate, para finalmente nos colocarmos novamente sob um palco, após um longo hiato de 46 anos.

Continua...

sábado, 9 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 122 - Por Luiz Domingues

Da esquerda para a direita: o grande fotógrafo e film-maker, Moacir Barbosa de Lima, popular Moah e depois, eu (Luiz Domingues), Wilton Rentero, Laert Sarrumor, Carlinhos Machado e Osvaldo Vicino. Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen de São Paulo. 28 de janeiro de 2024. Acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah"). Click: Mara

Fizemos um bom ensaio no dia 28 de janeiro, com a presença do nosso time completo, e marcamos mais um para o domingo subsequente, no dia 4 de fevereiro, já a se aproximar a data da apresentação, a sentir que estávamos com o material quase 100% pronto para a apresentação.

E tivemos a confirmação de uma perspectiva ótima da qual o Laert já havia nos alertado anteriormente, no sentido de que a atração radiofônica, "Rádio Matraca" (histórico programa veiculado pela USP FM e cuja a apresentação era do próprio Laert, desde os anos oitenta ao lado de Ayrton Mugnaini Junior e Alcione Sanna), nos relacionara para sermos entrevistados. Tal convite abriu espaço para o Boca do Céu, e por conseguinte, Los Interessantes Hombres Sin Nombre e a minha banda, Os Kurandeiros, que também seriam fartamente divulgadas, ao falarmos fartamente sobre o show que faríamos juntos em muito breve.

Flagrantes do ensaio realizado pelo Boca do Céu no dia 28 de janeiro de 2024, no estúdio Lumen de São Paulo. Clicks, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Ali no ambiente do ensaio, escolhemos três músicas para tocar ao vivo no programa "Rádio Matraca" e o Laert nos alertou que mesmo sendo um show do Boca do Céu, seria de bom alvitre termos a música "Concheta" do Língua de Trapo como uma opção importante de reserva para um eventual "bis", por dois motivos: primeiro que a Cátia, proprietária do Instituto Cultural Bolívia Rock, era fã confessa e muito entusiasmada do Língua de Trapo e do Laert em específico e assim, tocar tal música haveria de ser um presente para a nossa anfitriã. 

E segundo, por que além dela, seria bacana incluir tal tema pois fatalmente outros fãs do Língua estariam presentes e pelo fato do repertório do Boca do Céu não ser conhecido o suficiente, tal peça haveria de movimentar a empatia para com a nossa banda, além da releitura da música "Boeing 723897" do Joelho de Porco. 

Pois muito bem, argumentos plausíveis, todos concordamos e de imediato já passamos a preparar tal tema como uma opção a mais para o repertório do show.

No momento pós-ensaio, da esquerda para a direita: Carlinhos Machado, Osvaldo Vicino, eu (Luiz Domingues), Wilton Rentero e Laert Sarrumor. Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen de São Paulo. 28 de janeiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah") 

Três dias depois, fomos participar da gravação do programa Rádio Matraca, ocasião essa na qual tivemos muitas felicidades para acumular e comemorar.

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quarta-feira, 6 de março de 2024

Autobiografia na música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 198 - Por Luiz Domingues

Nos reunimos nas dependências do estúdio Mad, de São Paulo, em 26 de janeiro de 2024. Fazia tempo que não nos víamos e principalmente, tocávamos, é bem verdade. Porém, por sermos, uma banda para lá de calejada, para tirar a ferrugem, não foi nada demais, pois saímos a tocar como se estivéssemos sob uma sequência forte de shows, exatamente como nos encontráramos nos anos de 2016, 2017 e 2018, nos quais tivemos agenda bem cheia, ou seja, mesmo com os últimos tempos não sendo tão prósperos nesse sentido, a experiência acumulada nos proporcionara essa boa condição.

Um site de venda antecipada de ingressos entrou em ação e assim, a promoção do show foi feita mediante tal facilidade adicional. Colocamos a propaganda nas redes sociais e decidimos não promover mais um ensaio, haja vista que a performance no primeiro apontamento houvera sido bem satisfatória.

Apesar do desfalque do Nelson Ferraresso, um tecladista exemplar, o quarteto instrumental estava acostumado a dar o recado com uma eficácia enorme e não é que o Nelson não tenha nos feito falta, mas tocar em quarteto ou até mesmo como "Power Trio", também foram formatos que Os Kurandeiros se acostumaram a cumprir sem nenhum problema. 

E claro, com a potente voz da nossa querida, Renata "Tata" Martinelli, o quinteto se colocou "pronto para a festa" de uma forma muito tranquila. 

Particularmente, eu fiquei muito feliz por receber o convite do próprio Kim Kehl para que o Boca do Céu, a minha primeira banda de carreira e reativada recentemente para promover o resgate das músicas perdidas de seu repertório nos anos setenta, abrisse o show. Essa iniciativa abriu um portal para a minha "velha nova banda" e ao mesmo tempo, me proporcionou uma segurança enorme, pois os Os Kurandeiros estariam ali para dar todo o respaldo.

Nesse mesmo princípio de solidariedade, o Kim também convidou outra banda e igualmente formada por grandes amigos, a se tratar do grupo: "Los Interessantes Hombres Sin Nombre", do guitarrista Marcos Mamuth e do jornalista, Ayrton Mugnaini Junior. E além da amizade de todos os amigos envolvidos sob muitas conexões (Ayrton foi amigo de adolescência do Kim Kehl e é ligado ao Língua de Trapo de Laert Sarrumor, desde os primórdios dessa banda, há de se destacar a incrível coincidência do baterista das três bandas que apresentar-se-iam, ser o mesmo músico, o nosso querido amigo, Carlinhos Machado!

Haveria de ser uma maratona para ele, naturalmente, mas a facilidade que tal advento exótico ofertaria à dinâmica da troca de "set ups" entre as três bandas, também seria algo raro e absurdamente facilitador, apesar do cansaço que ele haveria de sentir, após cumprir uma autêntica maratona.

Em 10 de fevereiro de 2024, eu participei com o Boca do Céu do programa "Rádio Matraca" da USP FM, comandado por Laert Sarrumor, Ayrton Mugnaini Junior e de Alcione Sanna, outra amiga de longa data, por ter sido minha aluna nos anos 1990. E nesse dia, além de uma mini apresentação do Boca do Céu ao vivo e também da parte do "Los Interessantes Hombres Sin Nombre", eu pude conversar bastante sobre a minha carreira inteira e claro, eu e Carlinhos Machado falamos bastante sobre Os Kurandeiros, e para ilustrar, as músicas: "A Noite Inteira" e "Cidade Fantasma" foram executadas.

O podcast permanente para se ouvir tal entrevista é acessível pelo link: 

https://jornal.usp.br/radio-usp/sinopses/radio-matraca/

Continua...