sábado, 29 de setembro de 2012

Precário - Por Julio Revoredo

Miniaturas de impalpável silêncio

Áreas abandonadas sob radiações solares

Donde, solombras como evacuadas urbes
Como ondas noturnas em ventania,

Decretam, o inesperado precário.

Julio Revoredo é colunista fixo do Blog Luiz Domingues 2. Poeta e letrista de diversas músicas que compusemos juntos, em três bandas pelas quais eu atuei: A Chave do Sol, Sidharta e Patrulha do Espaço. 
Aqui, ele passeia por imagens urbanas que evocam o seu desolador vazio pós-apocalíptico.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Dinâmica Rápida : Atual / Busca Também Atual : Harmonia ! - Por Telma Jábali Barretto



Refrão corriqueiro em qualquer diálogo nos dias atuais é sobre a "falta de tempo".

Será mesmo verdadeira a afirmativa ?

Vale reflexão !


Existe um conceito formulado fisicamente (Ressonância Schumann),que afirma que nossos dias, agora mesmo, tem menor tempo de duração (16 horas) e ao mesmo tempo, nesse mundo quântico que estamos aprendendo a absorver, a premissa é que, depende do olhar do observador tudo o que experimentamos como real.

Não há como negar (isso sim !), que temos atualmente uma atenção e olhar novo sobre a importância
e passagem das horas, dias, meses e da própria vida com maior significado e valorização daquilo que,
consciente e preferivelmente fazemos de nossa existência.



Uma urgência e necessidade de muito conhecer, experimentar e fazer valer a experiência de aqui estar, acrescida da prerrogativa de ainda que tudo isso seja vivido de forma plena, feliz e realizadora.


Um sentimento de que despertamos de um sono profundo e descobrimos que a forma como pensamos e olhamos ao nosso redor, pode ser o caminho e meio para o que finalmente, concretizamos e aí, somos detentores de algum poder, poder esse que nos pesa ou liberta...

Mas, daí a importância que damos ao nosso tempo,
as nossas escolhas e principalmente, no que finalmente resultam.

Queremos todas as técnicas, a tudo experimentar, descobrir gostos, descartar padrões, quebrar paradigmas e... o tempo...

Teremos tempo pra tanto desvendar ?!



Quantas viagens, filosóficas ou geográficas, hoje tão fáceis e possíveis...por viabilizar.

Conhecer a si mesmo, desvendar o próximo, respeitar minha natureza, viver em equilíbrio com meu meio seja ele, a família, própria natureza, trabalho, a casa em que moro ou contexto social/planetário de que sou parte.

Claro !!!


O tempo ficou curto...

Tanta coisa pra degustar, vencer, aprimorar e aprender...

Harmonizar !!!

Estamos "espreguiçando" de um longo e medieval sono...

Que assim seja...amém !!!




Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira Civil, também é uma experiente astróloga, consultora para harmonização de ambientes e instrutora de Suddha Raja Yoga. Nesta matéria, fala sobre a sensação de aceleração do tempo e o quanto a busca interior faz sentido nesse processo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 2 - Por Luiz Domingues

O recital ocorreu no dia 26 de junho de 1979, e foi um sucesso. Desse grupo original, saiu o embrião do Língua de Trapo. Nesse dia, foi lançada também a revista, "Esquina do Grito", uma produção dos alunos, e considerada outra célula mater do que viria a tornar-se o Língua de Trapo, doravante. A formação desse grupo foi a seguinte : Laert "Sarrumor" Júlio (vocal e percussão); Paulão Estevam Andrade, vulgo Paulo "Sustenido" e sim, aquele guitarrista que citei anteriormente (guitarra, violão e vocal); Saulo (violão, vocal e percussão); Guca Domenico (violão e vocal); Pituco Freitas (vocal e percussão); Nilma Martins (vocal e percussão), e eu, Luiz Domingues, no baixo. 




Nesse click de Rivaldo Novaes, uma panorâmica do grupo 




Isso ainda não era o Língua de Trapo como ele ficaria famoso no futuro. Havia uma pequena dose de humor nas músicas do Laert e do Guca, mas isso era aleatório, não sendo a intenção primordial do grupo naquele momento. Em meio a canções e poemas declamados, assim decorreu esse show da raiz remota do Língua.


Nesse click de Rivaldo Novaes, eu com meu valente, RK Giannini, e Paulo "Sustenido" Estevam, em maior destaque, ao violão. A olhar de lado, Saulo e ao seu lado, pelo cabelo, a vocalista Nilma Martins. O braço do violão no primeiro plano, provavelmente é o de Guca Domênico
Outro click dessa apresentação do Grupo de Música e Poesia da Faculdade Cásper Líbero de São Paulo, nas dependências da instituição. Da esquerda para a direita : Fernando Marconi (percussão); Pituco Freitas; Nilma Martins; Luiz Domingues e Guca Domênico. Click de Homero Sergio Moura

O sucesso foi tamanho, que o diretório Acadêmico marcou mais um show desse grupo, desta vez para o dia 6 de agosto de 1979, a visar recepcionar os alunos novos do segundo semestre. Aliás, o centro acadêmico da Cásper Líbero, promovia esse trote cultural aos "bichos", desde essa época. Nada de violência; humilhação e raspar a cabeça, mas sim, recepcionar os novos alunos com shows; exibição de filmes do cine-clube; teatro e poesia. E assim, com a mesma formação, esse grupo fez o segundo show e dissolveu-se, pois não havia a intenção em seguir carreira. 

    Laert Sarrumor em performance, no Recital de Música e Poesia 

Mas o embrião estava formado e daí, variações desse grupo colocaram-se a realizar shows e aparições em festivais estudantis de MPB. Por exemplo, ainda em 1979, Laert e Guca concorreram individualmente no festival da Universidade Mackenzie, e um único grupo foi formado para executar as duas músicas. Eu no baixo; Paulão no violão; Guca no violão e voz; Pituco nos vocais; e Sebastian, na bateria. 
Essa apresentação no Festival do Mackenzie, ocorreu no dia 13 de outubro de 1979, com um público aproximado de quatrocentas pessoas, no teatro do campus dessa universidade tradicional de São Paulo. 
Em 1980, essa dinâmica de shows e festivais dominou o ano todo, como por exemplo, em 29 de março de 1980, quando "Laert Sarrumor e seus Cúmplices" apresentou-se em uma sala de aula da Faculdade Cásper Líbero, novamente, mas diferentemente das apresentações do grupo de música e poesia de 1979, agora ostentou um formato de banda, mesmo, e o mote do humor dominou a performance.
E assim, o ano de 1980 entrou, com essa perspectiva para pequenos shows improvisados no circuito universitário e festivais de MPB. Os shows eram amadorísticos e feitos de forma precária e improvisada. 
Geralmente os microfones de voz eram plugados diretamente em amplificadores vagabundos de guitarra ou baixo. Dessa forma, a voz tinha aquela "qualidade" de locução de supermercado...
Mesmo assim, íamos a angariar público em todos os lugares onde tocávamos. 

Continua... 

domingo, 23 de setembro de 2012

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos - Capítulo 6 (Tato Fischer) - Por Luiz Domingues


E o pessoal de teatro que visitou o show do Tato, no sábado, não era famoso na época. Da turma do seu grupo, Vereda, lembro-me em ver posteriormente só a namorada do Cido Trindade, chamada Silvana, ascender na carreira, por participar de algumas novelas na TV Bandeirantes na década de oitenta, e Rosi Campos, que demorou, mas solidificou carreira no teatro, cinema, e nas emissoras de TV, Cultura e Globo, onde já fez várias novelas e seriados infantis, com papéis de destaque.
Aliás, lembro-me que a Rosi dividia apartamento com o Tato nessa época, e como marcávamos ensaios à 10:00 horas da manhã, sempre a acordávamos, infelizmente. Uma vez, até brigou com o Tato, por que chegara em casa quase ao amanhecer, e acordar com música alta foi bastante incômodo para ela, naturalmente. Lembro-me dela a sair do quarto, com a face toda amassada, despenteada e furiosa.
Quando a vejo nas novelas, sempre lembro-me dessa cena, e fico contente por ver que ela alcançou seu objetivo de vida.
Continua...

sábado, 22 de setembro de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 17 - Por Luiz Domingues

A energia era total nessa época, e foi assim com determinação e obstinação por anos a fio. Sempre esforcei-me para manter intacta essa energia nutrida nessa época, pois fora a minha força motriz. 
Meus pais não tinham a dimensão da importância que eu dava à essa meta nessa época, por isso não tinha conflitos. Como não era rebelde e não cometia nenhuma estripulia juvenil, eles achavam que esse negócio de banda e visual de hippie, era uma fase, e que nos estertores da conclusão do curso colegial, e época de vestibular, tudo passaria. O clima esquentou no entanto com meu pai, só entre 1979 / 1980. Em 1977 e 1978, as pressões eram mínimas, e tive paz de espírito para desenvolver-me ao instrumento e sonhar com o sucesso do Boca do Céu, apesar de que, ao examinar hoje em dia, a banda só evoluiria para valer, se os cinco membros fossem cem por cento fechados nesse objetivo. Existem exemplos assim na História do Rock. 
Mas o Boca do Céu não tinha essa característica, a começar pelo baterista, Fran Sérpico, que não alimentava o mesmo objetivo, Infelizmente. Dessa peneira, só eu e o Laert persistimos mais incisivamente e o Osvaldo de uma maneira mais branda. Wilton Rentero, soube pelo Laert (em maio de 2011), tornou-se professor. Osvaldo toca em bandas cover até hoje, mas como hobby, pois trabalha em uma indústria farmacêutica, e Fran Sérpico tornou-se um executivo (nota : retomei contato direto com Fran Sérpico em 2012, através da rede social, Facebook, onde aliás, ele disponibilizou duas fotos raras do Boca do Céu, e fez uma bonita homenagem pública, a citar-me e ao Laert com muito carinho, ao dizer que tornamo-nos músicos profissionais de fato e seguimos carreira). 
Minha certeza era absoluta e irreversível. O mesmo vale para o Laert. A diferença entre nós é que ele nasceu artista, com um talento absurdo, e eu lutei contra a minha inabilidade para tal. Não quero dizer com isso que o Laert não lutasse, muito pelo contrário, sua determinação era ferrenha. Só realço que no meu caso, precisei lutar também contra a minha inaptidão. Só tornei-me músico porque tive muita força de vontade, visto que tinha talento "zero" para a música. Se eu tivesse passado por um teste vocacional à época, certamente seria desestimulado a tentar a carreira artística.
Continua...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Intelectual de Pelotas - Por Marcelino Rodriguez


Romildo, meu amigo de Pelotas, telefona as três da manhã.

-- Alô.

-- Barbaridade, Tchê, barbaridade.

-- Que foi Romualdo, essa hora?

-- O Doutor, Tchê. O Doutor.

-- O que tem se passado?
-- Estou com uma alergia, Tchê, segundo ele inusitada. Uma daquelas que pegam um gaúcho em cada dez milhões.

-- Próstata?

-- Não. O saco está cheio, mas está bom. Imagine, filho, que aqui em Pelotas tem dois homossexuais e meia dúzia de craqueiros. Barbaridade, Tchê, barbaridade.

-- Pô, Romildo, vai dizer que você ainda acredita no mito do gaúcho macho?

-- Claro, Tchê, são nossas tradições. Essas são de Florianópolis. É por isso que eu digo, o Rio Grande tem que ser independente.

-- Romildo, acorda pra vida. Mas que alergia é essa?
-- O Doutor Anestécio disse que tenho que evitar gente medíocre, a plebe. É uma mijeira danada quando sinto que estou perto de uma criatura para quem Dostoiévski é um palavrão.

--- Me conta esse seu processo. Coisa curiosa.

-- Tudo começou na livraria.

-- Como assim?

-- Eu perguntei à vendedora se tinha "Crime e  Castigo" e ela perguntou quem era o autor.  Aí começou a dar a mijeira. Fiquei pensando como pode isso estar acontecendo no Rio Grande, em Pelotas.
--  Barbaridade, Romildo.
Fiquei sem saber o que falar. Como pode não ter gente qualificada num estado de alta qualidade de vida? No Rio Grande eles puxam a sardinha de seus artistas e ficam fechados entre si, como se fossem uma república sueca. Fazem feira de livros.

-- Como pode uma mulher do Rio Grande não saber quem foi o russo?

-- O que o médico disse?

-- Para eu evitar rádio, televisão, jornal, internet desqualificada e ficar isolado na minha biblioteca, de cachecol e chimarrão. Ou mudar-me para a Dinamarca, que tem um leitor para cada cem habitantes.

-- E o que você pretende fazer?
-- Esperar o fim do mundo fazendo xixi. Barbaridade Tche, Barbaridade. Olha, vou desligar que estou aqui com a bexiga cheia. Até mais ver. Tri madrugada pra ti.

Saiu do telefone.

Concluí que em Pelotas também tem gente subdesenvolvida. Também é mais fácil por lá cruzar com uma Serial Killer
do que com uma leitora do russo.


Trecho do livro Café Brasil
(Direitos reservados)


Marcelino Rodriguez é colunista sazonal do Blog Luiz Domingues 2. Escritor de sucesso, tem vários livros publicados no mercado editorial brasileiro. Aqui, nos brinda com um trecho de seu livro "Café Brasil", lançado em 2001.

domingo, 16 de setembro de 2012

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 1 - Por Luiz Domingues


O Língua de Trapo começou assim : no início de 1979, eu e o Laert "Sarrumor", éramos os últimos remanescentes do "Boca do Céu, nossa primeira banda de Rock, que tinha mudado de nome em 1978, para "Bourréebach", pretensiosamente progressivo e não condizente com nossos parcos recursos musicais na ocasião. A última tentativa para manter essa chama viva, ocorreu em março de 1979, com uma formação que chegou a ensaiar, comigo no baixo; Laert a tocar teclados e cantar; Zé Claudio na bateria (nos anos 1980, foi baterista do "Violeta de Outono"), e um guitarrista chamado, Paulo Estevam Andrade, que o Laert conhecera na Faculdade Cásper Líbero, onde acabara de ingressar, e cursava o 1°semestre do curso de jornalismo. 



Com essa formação, havia a perspectiva para realizar um show em um festival estudantil (Colégio Claretiano, no bairro de Santa Cecília, próximo ao centro de São Paulo). Mas esse show não aconteceu e como não houve mais intenção em prosseguir-se com esse trabalho, findou-se aí, a história do Boca do Céu / Bouréebach, iniciada em 1976 e curiosamente, comigo sendo o único remanescente original da época de sua fundação, já que o Laert entrara meses depois do início das atividades dessa banda.



Como o Laert já estava na faculdade e a enturmar-se com vários estudantes que eram músicos, também, logo formou um grupo de música e poesia, para um recital a ser realizado no meio do ano. Ao não encontrar nenhum baixista entre os alunos, ele sugeriu a minha inclusão, mesmo eu não ainda não sendo estudante da Cásper Líbero (eu era ainda secundarista, estava no 3° colegial, em 1979). Dessa maneira, fui aceito, mas no início, houve um choque estético entre eles e eu. Pela primeira vez, tive contato com pessoas que não tinham formação Rocker, minha base primordial desde sempre e o estranhamento foi inevitável. Apesar desse início com mútuo desconforto estético, musicalmente, adaptei-me rápido ao repertório “MPBístico” e sob acento bem calcado na Bossa Nova. O ruim eram as ideias e o preconceito inicial da parte deles, movidos por ideais esquerdistas que tendiam a enxergar o Rock como um subproduto do capitalismo norteamericano.



Com forte caráter politizado, as conversas giravam em torno de Marx; Engels; Trotsky; Che Guevara, e eu pensava em Beatles; Led Zeppelin, Allen Ginsberg; Herbert Marcuse; Hermann Hesse; Ken Kesey; Timothy Leary...




Chegaram a pressionar-me para tocar contrabaixo acústico, pois o elétrico era "americanizado" na visão deles, ainda no embalo da polarização política de direita / esquerda na MPB, etc e tal ... 
Senti-me no meio da ridícula "Marcha" contra a guitarra elétrica na MPB, nos anos sessenta...




Mas essa estranheza, foi logo superada, porque eu enturmei-me rápido, e mesmo com eles a saber de minha formação Rocker, fui bem aceito em um segundo instante de adaptação. Mesmo porque eram jovens empolgados pela questão política, e como Brasil vivia aquele clima de ditadura e era óbvio que essa euforia pelos ideais esquerdistas de igualdade social, fossem o pano de fundo de toda a movimentação dentro de uma faculdade de jornalismo, ainda mais a Cásper Líbero, uma das mais tradicionais de São Paulo e do Brasil. 



Lembro-me que esse clima de "caminhando e andando e seguindo a canção", era ainda muito forte nos corredores da Cásper Líbero, como se estivéssemos em 1968, e não 1979, como era o que ocorria de fato. Mas ao mesmo tempo, foram tempos de “anistia, ampla geral e irrestrita”, portanto, fazia sentido um certo clima sessentista nesse aspecto, ali dentro. E claro, no grupo, esses jovens podiam estar nessa vibe esquerdista meio radical, mas só tinha gente inteligente e culta, portanto, rapidamente perceberam que eu era rocker; hippie, mas não alienado como pensaram inicialmente.


Continua...