sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Ópera-Rock: "O Renascer dos Tempos") - Capítulo 104 - Por Luiz Domingues

Ao final do ano de 2019, eu recebi a comunicação do meu velho amigo, Claudio Cruz (baixista e irmão do Beto Cruz, com quem eu trabalhei em duas bandas, nos anos 1980: A Chave do Sol e A Chave/The Key), a convidar-me para participar de uma gravação. 

Ocorre que ele havia escrito o libreto e as canções para uma Ópera-Rock, nos idos de 1979, que chamar-se-ia em tal ocasião: "O Renascer dos Tempos", mas o projeto não avançou e permaneceu engavetado por anos a fio. 

Muito bem, eu aceitei com prazer fazer parte do projeto e foi designado que eu gravasse uma faixa chamada: "Moby John". Segundo o Claudio, tal canção dentro do libreto, revela a condição pela qual a música exerce uma explosiva energia psíquica para um garoto que perdera os pais, e estava a ser criado dentro de um orfanato. Esse garoto seria o fruto do amor entre Janis Joplin e Jimi Hendrix, daí o fato de deter em seu DNA, o talento misturado de seus pais, e mesmo ainda bem pequeno, a demonstrar um ímpeto incontrolável para exercer o seu talento libertador. 

Bem, uma melhor explicação prévia sobre o mote dessa Ópera-Rock, encontra-se no site específico da mesma, além da descrição de uma enorme quantidade de músicos convidados que já estavam a gravar diversas canções da peça, quando eu finalmente fui ofertar a minha colaboração modesta para o projeto. 

Entre outras particularidades, um elemento chave da história é a questão da frequência, pois consta a ideia de que toda a afinação dos instrumentos, revertida para 432 hertz, ao invés do tradicional padrão de 440 hertz, estabeleceria a sincronia com esferas extra-dimensionais superiores, capazes de provocar mudanças significativas à vida das personagens e por conseguinte, a ditar uma outra perspectiva para a humanidade. Para saber mais sobre a ideia da Ópera-Rock, "O Renascer dos Tempos", há um site específico com diversas informações sobre a obra em si e também sob a sua produção, além das pessoas envolvidas no projeto.              

Site do projeto da Ópera-Rock "O Renascer dos Tempos":
https://opera-rock9.wixsite.com/meusite/noticias

Então, eis que marcamos para a tarde do dia 28 de janeiro de 2020, a minha gravação. Antes mesmo de gravar, eu já sabia que a bateria gravada fora executada pelo meu amigo, José Luiz Dinola e que a guitarra a ser colocada a posteriori, seria do meu outro amigo, Rubens Gióia. Portanto, Claudio Cruz realmente premeditara reunir o Power Trio d'A Chave do Sol, para a gravação dessa música. Sensacional, fiquei muito contente com essa perspectiva.
Anísio Mello Júnior e Claudio Cruz a preparar a sessão de captura do meu baixo. Gravação da faixa: "Moby John", peça que faz parte da Ópera-Rock: "O Renascer dos Tempos". 28 de janeiro de 2020. Click e acervo: Luiz Domingues

O som dessa música, mostrou-se fortemente influenciado pelo Blues-Rock sessentista, a lembrar o trabalho do "Cream" em uma primeira instância. Fui orientado previamente pelo Claudio, a regravar apenas o início da música, e a seguir a sua gravação com o baixo guia e posteriormente, a criar livremente.
Da esquerda para a direita: Claudio Cruz, Luiz Domingues e Anísio Mello Júnior. Gravação da faixa "Moby John", da Ópera-Rock: "O Renascer dos Tempos". 28 de janeiro de 2020. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

Foi um prazer receber em minha residência, dois amigos de longa, data, ambos grandes baixistas e pessoas da melhor qualidade, a tratar-se de Claudio Cruz e Anísio Mello Júnior. Claudio, como eu já falei, é irmão de Beto Cruz e foi durante anos, o baixista do Harppia e o Mello, foi baixista do grupo Excalibur, com o qual, a minha banda, A Chave do Sol, dividiu muitos shows na década de oitenta. 

Foto promocional do grupo: "Excalibur", datada de 1984. Mello é o segundo da esquerda para a direita a usar camiseta preta. Acervo e cortesia: Anísio Mello Júnior. Click: divulgação                  

Portanto, sem tirar o foco da gravação, a conversa foi ótima, com muitas lembranças que vieram à tona, comum aos três e diversos outros assuntos que vieram à baila, incluso uma boa explicação sobre a Ópera-Rock em si, e eu pude perceber o quanto ambos estavam entusiasmados pelo projeto. 

Com o espírito marcado pelo empreendedorismo cultural, Mello contou-me também, que estava a abrir um mini centro cultural no bairro do Jardim Bonfiglioli, na zona sudoeste de São Paulo e o seu plano para tal incrementar iniciativa, impressionou-me muito positivamente.

Gravei enfim, com o apoio decisivo de ambos e foi um grande prazer ouvir a prova inicial da captura e verificar que o som do meu baixo Fender Precision ficou com o timbre muito próximo do som de Noel Redding, baixista do grupo: Jimi Hendrix Experience, que também usava costumeiramente nas gravações dos álbuns de sua banda, o baixo Fender Precision. Ou seja, que satisfação ter ainda na captura inicial o ronco de baixo semelhante ao de um músico que eu admiro.
Parece a mesma foto postada acima, mas é outra, na verdade, quase igual e clicada em sequência. Gravação da faixa "Moby John", da Ópera-Rock: "O Renascer dos Tempos". 24 de janeiro de 2020. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

Bem, este capítulo ganhará uma continuidade, certamente, na medida em que fica no ar a expectiva pelo lançamento do álbum a apresentar a Ópera-Rock: "O Renascer dos Tempos".

Portanto, continua...

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 59 - Por Luiz Domingues

O Boca do Céu em foto promocional realizada em março ou abril de 1977. À esquerda, com óculos escuros, Laert Sarrumor, atrás, agachado, Fran Sérpico, atrás, ajoelhado, Wilton Rentero, ao lado direito, com a guitarra no colo, Osvaldo Vicino e à frente, com o baixo sobre as pernas, eu (Luiz Domingues). Click: desconhecido, mas há a desconfiança generalizada da parte dessas personas retratadas, sobre ter sido da parte de Adelaide Giantomaso  

Ah, o Boca do Céu... a minha primeira banda, da qual eu guardo um carinho imenso não apenas por ter representado o impulso inicial para a minha construção de carreira, mas sobretudo, pela lembrança sempre inspiradora a respeito da energia incrível que proporcionou-me para que eu pudesse canalizar a loucura que o Rock acometera-me, paulatinamente, desde o final dos anos sessenta, ainda criança, e em vertiginosa escalada a partir dos anos setenta, em pleno avançar da minha adolescência. 

Pois é, o Rock não fora apenas um mero gênero musical para catalogar discos em prateleiras de lojas de vinis, mas algo muito maior, a amalgamar-se com questões culturais, certamente muito mais amplas e sobretudo por unir-se aos valores da contracultura & afins. 

Embevecido por tal grandiosa magnitude, a minha completa inaptidão para a arte, e a música em específico, fora um empecilho monstruoso para que eu pudesse canalizar tamanha volúpia que consumia-me as entranhas, no entanto, eis que um dia, um colega da minha classe da 8ª série, chamado, Osvaldo Vicino, formulou-me o convite para que formássemos uma banda de Rock e este foi o impulso mágico que deu-me a chance para vencer as minhas barreiras, então intransponíveis e finalmente vislumbrar a materialização do sonho.

O troféu que o Boca do Céu recebeu, por ter ganho o 2º lugar no Festival Femoc, em agosto de 1977

Bem, caminhamos até onde foi possível, a compreender-se as nossas dificuldades à época, e posso afirmar, fizemos conquistas. A dispersão da banda foi escalonada e ao final, dos membros originais, somente eu, Luiz, cheguei ao final das atividades da banda, juntamente ao Laert, embora ele não tenha sido da primeiríssima formação, por uma questão de poucos meses, apenas. 

Pelo fato de que eu, Luiz, e Laert termos seguido juntos quando da formação do Grupo de Poesia e Música da Faculdade Cásper Líbero, em junho de 1979 (apenas dois meses após o final oficial do Boca do Céu e nesse instante, com o grupo já bastante desfigurado), e embrião do que veio a tornar-se o Língua de Trapo, significou que a priori, nos anos posteriores ao Boca do Céu, foi com o Laert que eu mais tive convivência e atuação, por conta de eu ter sido membro do Língua de Trapo em duas oportunidades (da fundação do grupo, em 1979 até 1981 e posteriormente, entre 1983 e 1984). 

Por conta dessa realidade, eu passei anos sem saber notícias sobre os outros ex-companheiros do Boca do Céu.

Osvaldo Vicino e Laert Sarrumor, durante a festa de aniversário do Laert, em São Paulo, no ano de 2015. Acervo e cortesia: Laert Sarrumor. Click: Marcia Oliveira

Por volta de 2012, o Laert reencontrou o Osvaldo Vicino, virtualmente, através da extinta Rede Social Orkut e daí fez a ponte para que eu também restabelecesse o contato. Em 2015, eu fui convidado a participar de mais uma festa de aniversário do Laert e o Osvaldo, também foi convidado. 

Infelizmente, eu estava a convalescer, após ter submetido-me à duas cirurgias de emergência e não pude estar presente. Todavia, a despeito da minha falta, Osvaldo e Laert reencontraram-se, após trinta e sete anos, o que foi algo extraordinário. 

Ainda em 2015, o Osvaldo visitou-me em uma apresentação da Magnólia Blues Band, grupo em que toquei entre 2014 e 2016, e foi um reencontro muito feliz entre amigos que não viam-se pessoalmente, desde 1978. 

A histórica filmagem em Super-8, feita com o Boca do Céu a tocar, por obra de Nelson Gravalos, em 12 de junho de 1977. Acervo; digitalização e postagem inicial: Fran Sérpico. Pós-produção e segunda postagem: Jani Santana Morales

Eis o Link para assistir o vídeo no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=LHiL27bRGOs&feature=emb_logo

Ao final de 2016, reencontramos o baterista, Fran Sérpico, na Rede Social Facebook e algum tempo depois, na semana do Natal e Reveillon, ele deu-nos um presente maravilhoso: a digitalização e postagem no Portal YouTube, de uma filmagem que a nossa banda houvera feito em junho de 1977. Histórico, emocionante e sem dúvida a mostrar-se como um tesouro de valor incalculável, trata-se do único registro da banda em ação, mesmo que neste vídeo, não haja o áudio original, a contar com o som real que produzíamos na ocasião.

Osvaldo visitou-me posteriormente em outras ocasiões, em shows de Kim Kehl & Os Kurandeiros, em pelo menos três ocasiões e casas diferentes. E sempre que reencontramo-nos, o assunto sobre um possível encontro com todos os membros do Boca do Céu, veio à baila. Já pensou? Seria algo verdadeiramente sensacional reunir a banda inteira, após tantos anos.

Luiz Domingues e Osvaldo Vicino, em reencontros de 2015 (fotos 1 e 2, no Magnólia Villa Bar) e 2017 (foto 3, no Santa Sede Rock Bar), em São Paulo. Click, acervo e cortesia de Lara Pap (fotos 1 e 2). Foto 3: acervo e cortesia de Osvaldo Vicino. Click: acompanhante de Osvaldo  

Pois foi ao final de 2019 que a perspectiva de um reencontro a envolver todos os ex-membros da banda ganhou força, e tanto foi assim que motivou a criação de um grupo a promover a conversa reservada através do inbox da Rede Social Facebook, aliás criado por eu mesmo, Luiz, o qual foi batizado como: "Boca do Céu/Reencontro do Século XXI".  

Pois é, quando ouvíamos a canção: "21st One Century Schizoid Man", do King Crimson, ali no calor dos anos setenta, tínhamos a noção sobre o século XXI, como algo que aproximava-se, mas ainda a estar muito distante, portanto a configurar-se como uma visão do futuro, baseada naquela perspectiva fantasiosa que a nossa imaginação havia sido induzida pelo paradigma em torno dos filmes e seriados ao estilo "Sci-Fi", ou seja, a elucubrarmos os anos 2000, sob parâmetros espaciais, cibernéticos etc. 

Mas o século XXI chegou, avançou para a sua segunda década e o Boca do Céu, quem diria, abriu uma bela perspectiva para acrescentar mais histórias em minha autobiografia. Portanto, essa banda estava prestes a ofertar-me um segundo sonho, na verdade...

Continua...

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Crônicas da Autobiografia - A Pernoitar entre os Cartuns de Caruso - Por Luiz Domingues

Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, em setembro de 1984. Foto promocional da banda, feita na mesma época, de autoria de Carlos Muniz Ventura

No segundo semestre de 1984, a nossa banda vivia um momento muito bom, sob o impacto de uma forte expansão gerencial e midiática. A crescer no imaginário popular e despertar por conseguinte a possibilidade de abraçar as muitas oportunidades que surgiam, eis que por volta de setembro de 1984, a banda abriu duas frentes importantes para fomentar ainda mais a divulgação do trabalho e também para fechar shows. 

Nesses termos, os companheiros, Rubens Gióia e o então novo vocalista, Chico Dias (este rapaz na verdade, permaneceu muito pouco na formação da banda), foram à Porto Alegre, onde alguns contatos dentro da mídia gaúcha, foram movimentados e em paralelo, eu mesmo, Luiz Domingues, fui ao Rio de Janeiro, por conta de alguns contatos que eu mantinha na capital fluminense e assim tratei por incrementar o mesmo esforço. 

A grande produtora musical, Cida Ayres, em foto mais atual, dos anos 2000. Foto: divulgação na Internet

É bem verdade que além dos contatos que eu já possuía, houve a providencial ajuda que eu (nós), recebi (emos) da produtora do Língua de Trapo, chamada: Cida Ayres, que afeiçoara-se também ao trabalho da nossa banda, "A Chave do Sol" e assim, de uma forma muito generosa, ela movimentou os seus contatos pessoais e posso dizer, foi um esforço decisivo para que em uma das abordagens que eu fui fazer no Rio, para vender um show da nossa banda no badalado espaço do "Circo Voador", viesse a lograr êxito, logo a seguir, graças a esse esforço despendido em setembro de 1984 e com o apoio dela, Cida Ayres.

Bem, ainda a falar sobre a minha ida ao Rio para estabelecer os contatos devidos, houve um fato a mais e que fora também uma intervenção direta da minha amiga, Cida Ayres. Eis que assim que eu elaborei a minha agenda para cumprir na cidade, percebi que seria difícil cumprir todos os compromissos em um dia apenas, mesmo se eu viajasse pela madrugada e chegasse bem cedo ao solo carioca. 

Por conta dessa logística apertada, a Cida interveio e sugeriu uma solução gratuita para que eu pudesse pernoitar na cidade e assim contar com mais um dia para trabalhar no Rio. Ela conversara com o grande cartunista, Chico Caruso, muito famoso já naquela época, por ser o chargista oficial do jornal, "O Globo" e naturalmente a colaborar com os outros veículos da mesma empresa, incluso a Rede Globo de Televisão.

O grande cartunista, Chico Caruso, muito amigo dos membros do Língua de Trapo e que ajudou a minha outra banda, A Chave do Sol, em 1984. Foto: divulgação na Internet

Ocorre que ele, Chico Caruso, assim como o seu irmão gêmeo e a se tratar igualmente de um cartunista genial, Paulo Caruso, eram entusiastas do trabalho do Língua de Trapo e em minha recente segunda passagem por tal banda, entre 1983 e 1984, eu pude conviver com ambos. 

Aliás, bem recentemente naquela ocasião, ainda mais com o Chico, por conta de duas temporadas que essa banda cumprira pelos palcos cariocas. Portanto, ele conhecia-me por conta de minha atuação com esse grupo e quando a Cida Ayres o procurou para que ele abrisse-nos algum contato midiático, a proposta de ajuda foi providencial e inesperada ao mesmo tempo, pois ele ofereceu-me o seu atelier para que eu lá pernoitasse. 

Ora, que honra, eu aceitei de pronto e mais que a gentileza por si só, a mostrar-se muito grande, eu animei-me com a ideia de que ficaria algumas horas em seu gabinete de trabalho, solitariamente a verificar in loco, o seu material de criação. 

         Chico Caruso em foto montagem extraída da Internet

E foi assim, Chico recebeu-me com muita galhardia, além de disponibilizar a sua biblioteca para que eu pudesse examinar o que eu desejasse durante as horas em que ali permaneceria e sobretudo, com a liberdade para eu ver os seus novos trabalhos em construção sobre a prancheta, a vontade. 

Privilegiado, eu pude ver diversos cartuns em que ele estava a trabalhar, inclusive alguns já em fase de acabamento final em seu lay-out, para serem encaminhados à redação do jornal, "O Globo". 

Sensacional, eu fiquei muito feliz por ter tido a liberdade para examinar o trabalho de um artista consagrado, em fase de elaboração, dentro do seu atelier de trabalho, localizado em uma travessa da Avenida Ataulfo de Paiva, no elegante bairro do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro.

A Chave do Sol ao vivo no Circo Voador do Rio de Janeiro, em outubro de 1984. Foto: Claudio T. de Carvalho

E sim, os esforços lograram êxito, e entre outras conquistas, a nossa banda participou de um festival muito concorrido, entre as grandes bandas midiáticas do dito movimento "BR Rock 80's", no Circo Voador, logo a seguir, com um show completo que ali cumprimos ao final de outubro do mesmo ano. Portanto, A Chave do Sol agradece mais uma vez o apoio da solícita produtora, Cida Ayres e do grande cartunista, Chico Caruso.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Impessoalidade - Por Telma Jábali Barretto


As antigas folhinhas, calendários, traziam o dia Primeiro do ano como Confraternização Universal, algo como se nesse dia recém-vivido, nos víssemos como irmãos, fraternos...quem sabe trégua em meio às nossas contendas. Bem verdade que, sem elas, impossível chegar a essa laureada paz entre os povos... Que diferenças existem é evidente e claro, mas o saber fraternizar em meio a elas é quando, verdadeiramente, exercemos a capacidade de respeito e, mais que respeito, amor! Que tipo de empenho seria se fôssemos todos iguais?!... Já somos, naturalmente, propensos a admirar aquilo que nos parece confortável, conhecido, parecido e seguro, por inércia e puro comodismo e são os diferentes que cobram de nós pensar, buscar entender ou... numa mais delicada hipótese, achar caminhos em nossa reserva de memória como contrapor, rebater... pronta e rapidamente! 
Bem mais além desse nosso funcionar, praticamente automático, subexiste um grandioso empenho que é primeiro necessário conhecer, vindo depois o valorizar?!...e aí e sim!!! buscar vivenciar o que é a impessoalidade, equanimidade, onde, de início, contato com a barreira de vencer, de fato, quanto somos separativistas, seletivos e pelos mais diversos trajetos, com as mais incríveis formas de criar empecilhos a tudo e a todos rotulando e saindo daí, simples e puramente, catalogando de quem somos, seremos, ‘amiguinhos’, próximos, solidários, compreensivos, capazes de encobrir deslizes e enaltecendo diante de quem afiaremos nossas garras, ainda de prontidão, deixando aflorar a pouco bondosa natureza instintiva, da condição animal não tão vencida em nós, naqueles mecanismos reativos de agressão/defesa como se a mais eminente batalha de vida ou morte a nos espreitar, trazendo a chama que trai qualquer aprendizado, ainda racional, pouco apoiado num sentimento de real irmandade. 
Que nossa humanização continue sendo almejada, buscada e estimulada, trazendo cada vez mais, consciência àquilo devemos iluminar, para transpor fantasiosas e pouco verdadeiras noções de confraternizar numa perseverante conquista de nós mesmos, desenvolvendo olhar compassivo diante de pequenas ambivalências que nos habitam para, com veracidade, honestidade madura, fazermos a conquista de uma nova percepção de convivência pacífica que passa bastante longe da passividade ou conivência com o engano, mas que, a todo instante, incansável e perene, vigoroso investimento na clareza, transparência, daquele tipo de justiça impessoal, imparcial, nem promotor e nem defensor, que só mesmo o Amor, em seu estágio mais pleno, oferece! E que a Unidade aconteça em nós, com qualquer e outro próximo... por nós e pelo outro!!!

 
Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira civil, é também uma experiente astróloga; consultora para a harmonização de ambientes e instrutora de Suddha Raja Yoga. Nesta reflexão, a colunista aborda a questão da impessoalidade nas relações humanas.