Animados com a perspectiva em participar de
um festival com um nível muito alto para os nossos padrões daquele momento,
resolvemos encorpar o som da banda, ao acrescentarmos um novo membro, e tornarmo-nos
então, um quinteto com a entrada do guitarrista, Wilton Rentero. Ele surgiu
oriundo de uma indicação que o Laert recebeu, a dar conta de um garoto que era
estudante de violão clássico, e apesar de ter pouca familiaridade com guitarra,
ser rocker.
Apesar do Osvaldo não ter apreciado muito a ideia, pois era o
membro fundador e estava acostumado a ser o “lead guitar”, foi convencido pelo Laert e
por eu mesmo, que seria benéfico para a banda ter outro guitarrista e assim, o
som da banda ser mais qualificado. E assim, marcamos uma audição com o Wilton
Rentero, e sua técnica era tão superior à dos demais, que nem precisamos consultar-nos,
verbalmente. Aprovadíssimo estava, sem reservas. Foi por volta de março de
1977, que isso ocorreu e assim conhecemos o Wilton Carlos Rentero. Apareceu com sua
guitarra "Ookpik", modelo SG, branca e disposto a mostrar-nos seus
dotes musicais em um teste. Sua presença tornar-se-ia a grande oportunidade para
catapultar a banda rumo a outros degraus, mais altos.
Como quinteto e tendo um guitarrista que
fazia solos desse nível, consideramos que a boa base feita pelo Osvaldo,
cresceria, também.
Além disso, tínhamos o Laert Sarrumor, que
apesar da sua inexperiência nessa época, era um diamante bruto, em processo de lapidação, e a
passos largos. E fora o fato de que eu crescia muito no
baixo. Em março de 1977, eu já tinha quase um ano de esforços para vencer a
barreira inicial do aprendizado, e posso dizer que melhorara
muito. O que menos crescia no entanto, foi o Fran Sérpico, mas
mesmo mais lentamente, também apresentava seus progressos.
O Wilton Rentero morava em Engenheiro
Goulart, um bairro da zona leste de São Paulo, próximo à Penha. Parecia uma
cidade do interior, com pracinhas e estação de trem etc. Era (é), bem
longe, mas sua força de vontade nunca tirou-lhe o ímpeto para ensaiar e
participar das atividades da banda. Logo que entrou, já deu-nos a perspectiva
em inscrevermo-nos em festivais. Espertamente o Laert sabia que faltava esse
detalhe para a banda pleitear participar de festivais estudantis, e de fato,
ficamos muito enriquecidos com sua guitarra. Ele era estudante de violão clássico, mas
tinha também uma forte formação Rocker, a apreciar tudo o que gostávamos,
praticamente. Mas sua predileção era mais pelo Blues e Rock'n Roll, do que
Hard-Rock e Progressivo. O negócio dele era “Janis Joplin”; “Rolling Stones”, e
outros artistas próximos dessa sonoridade. Não que não gostasse de Prog Rock,
aliás gostava bastante do “Yes”, mas na hora de tocar, seu estilo era mais
Stones, via Mick Taylor. Porém, o som mais pesado também fazia-se presente, e
nesse caso, o “Led Zeppelin” era sua banda de cabeceira. Apesar de ter menos
familiaridade com a guitarra do que em relação ao violão, logo adaptou-se e seus solos cheios de veia bluesy,
transformaram a banda, ao dar-nos um salto quântico de qualidade. E obviamente,
todos motivaram-se a estudar mais, ao subir o nível do Boca do Céu.
O festival “Fimp” não deu certo,
mas tínhamos duas perspectivas interessantíssimas: o Festival do meu colégio,
"Femoc" (Festival Estudantil de Música Oswaldo Catalano"), e o
Fico (Festival Interno do Colégio Objetivo), este sim, de grande porte, com
eliminatórias no ginásio do Palmeiras e transmissão pela TV Bandeirantes. Começamos então a ensaiar e prepararmo-nos
para gravarmos as músicas com melhor qualidade, a fim de podermos ter condições
de classificação.
A amizade com o Wilton Rentero foi
instantânea, e logo, eu; Laert, e ele, passamos a frequentar juntos o mesmo
circuito freak da cidade. Shows; cinema; teatro, e exposições, e lá estávamos
nós na porta, com visual de hippies, e aquela euforia por estarmos envolvidos
naquela atmosfera setentista maravilhosa. E nem desconfiávamos que estávamos no
"final da feira", com aquela “vibe” indo para o ralo... mas aí é outra
história. Um exemplo vívido disso que acabei de dizer
no trecho anterior, ocorreu por exemplo, no dia seguinte ao nosso primeiro show,
quando fomos ao Teatro Municipal de São Paulo, para assistir o show "Mutantes /
O Terço tocam Beatles". Essa história já foi contada em capítulo anterior, inclusive.
Atmosfera mágica de anos setenta; aquele perfume
de patchouli; todo mundo vestido como hippie chic; cabeludos; e com aquela
esperança utópica por estarmos a transformar o mundo cinzento, com a força do
amor...
Toda essa atmosfera “Woodstockeana” que
chegara atrasada ao Brasil, alimentava os sonhos do Boca do Céu, e certamente
foi fator de incentivo para a nossa trajetória. Sem esse clima, não teríamos tido
tanta força de vontade, não tenho dúvida disso.
E no ano de 1977, o Brasil deu
seus primeiros passos tímidos em direção aos shows internacionais. Após
shows sazonais de Santana; Herman Hermit's; Jackson Five; Steve Wonder; Ray
Charles; Ravi Shankar e Alice Cooper... mas creio que após o Rick Wakeman em 1975,
foi que a perspectiva começou a tornar-se mais concreta e nesse ano de 1977, tivemos
duas surpresas agradabilíssimas desse porte internacional, e que tiveram suma
importância no fator motivacional do Boca do Céu. Comentarei no decorrer da
cronologia dos fatos.
Continua...