sábado, 28 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 61 - Por Luiz Domingues

Essa tentativa frustrada para gravar gratuitamente em Nova York causou um desânimo à moral da banda, não vou negar, mas logo a seguir uma nova luz acendeu-se nesse quesito das companhias fonográficas. Isso porque nós recebemos um convite para conhecer o escritório da gravadora "Velas", e lá, recebemos uma proposta de contrato / gravação. Tratava-se de uma gravadora independente, mas muito bem organizada, com estrutura interna de gravadora grande, e que tinha entre os seus sócios, o compositor / cantor / pianista, Ivan Lins, e seu parceiro musical, o letrista Victor Martins.

                                Victor Martins & Ivan Lins

A sede paulistana da gravadora, ficava localizada no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Era um escritório bem estruturado, com diversos funcionários a trabalhar a todo vapor, tudo informatizado etc.

O guitarrista d'O Terço e diretor artístico da gravadora, Sérgio Hinds

Em princípio, tal gravadora estava a abrir um selo de Rock dentro da gravadora, denominado : "Primal", e o diretor artístico desse núcleo, era o guitarrista d' "O Terço", Sérgio Hinds, padrinho do filho de Victor Martins, portanto seu compadre, e amigo de longa data. Em um primeira conversa, gostamos da proposta, que seguia o padrão tradicional das gravadoras à moda antiga, com cobertura de toda a cadeia de produção, do estúdio à divulgação final. Mas o acerto, obviamente não saiu no primeiro encontro. Muitas visitas ao escritório do Tatuapé suceder-se-iam, com direito a várias rodadas de almoço nos restaurantes de seu entorno.

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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 60 - Por Luiz Domingues

Anúncio do estúdio Be Bop, na revista "On & Off", em 1995, a citar artistas que já haviam gravado discos em suas instalações, e com o Pitbulls on Crack, entre eles

Em meio ao "Dominguestock", um fato interno agitou a vida do Pitbulls on Crack, e sobre o qual mantivemos sigilo absoluto à época. Acredito que não há mal algum em revelar esse fato hoje em dia, vinte e um anos depois (1995 / 2016). Foi o seguinte : o Chris Skepis conheceu por volta de 1989 / 1990, o produtor / técnico de som, norteamericano, Roy Cicala. O fato era que Cicala havia vindo ao Brasil por conta de uma namorada brasileira, e a despeito de nosso terceiro-mundismo, gostou do Brasil, e esticou uma boa temporada por aqui.


Roy Cicala, já na fase final de sua vida, a trabalhar em São Paulo

Sendo assim, o Chris tornou-se o seu cicerone, e tradutor em muitas ocasiões, a apresentar-lhe diversos músicos etc. Para quem não sabe, Roy Cicala trabalhou como técnico de som no Record Plant, famoso estúdio de Nova York, como assistente de Eddie Oddford, em discos históricos como o LP "Electric Ladyland", do Jimi Hendrix, por exemplo.

Foto provavelmente da época das gravações do LP "Double Fantasy" de John Lennon, em 1980, com Roy Cicala a operar a mesa e Lennon & Yoko próximos, na escuta.

E esteve por trás de Alice Cooper em "School's Out"; John Lennon e David Bowie em "Fame", e tantas outras gravações seminais na história do Rock, que eu prefiro parar de citar, para não tomar espaço (e acredite, são dúzias e dúzias...). Por volta de 1995, Cicala voltou ao Brasil, e ao encontrar-se com o Chris Skepis, este mostrou-lhe o material do Pitbuls on Crack, e surgiu uma proposta : gravaríamos gratuitamente em seu estúdio localizado em Nova York, e para tal, teríamos apenas que bancarmos as nossas despesas de viagem; estadia, e alimentação. Ficamos animados, é claro. E tratamos por captar recursos, assim que possível. O problema, foi que estávamos a atravessar uma curva descendente, desde o fim de 1994, e com poucos shows agendados, o nosso caixa estava vazio.
Pensamos em levantar recursos com patrocinadores, mas os nossos contatos da época, eram com patrocinadores pequenos, que só aspiravam bancar material de souvenir para a banda.

O próprio Cicala interveio, e propôs que hospedássemo-nos no seu estúdio, a minimizar despesas com hotel. Claro que aceitamos, mas o dinheiro das passagens estava muito difícil para captar. Estava agendada uma data em seu estúdio, em agosto de 1995. Ele encaixou-nos entre as gravações do "Steely Dan", e da Patti Smith.
Frustrados, desistimos da empreitada, e o sonho em gravar em Nova York, com um produtor com status de mito na história do Rock, esvaneceu-se.

Alguns anos depois, o Roy Cicala mudou-se em definitivo para a cidade de São Paulo. Ele abriu um estúdio no bairro da Vila Mariana, zona sul de São Paulo, e tornou-se figura recorrente em uma padaria próxima, e que eu conheço bem...

Como adendo de 2015, acrescento que Cicala manteve esse estúdio por muitos anos, a gravar muitas bandas ali em uma casa próxima à Cinemateca Brasileira, no já citado bairro, incluso um álbum do Ciro Pessoa, com o qual passei a trabalhar em 2011. Infelizmente, Roy Cicala faleceu em 2014, aqui em São Paulo.



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Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 59 - por Luiz Domingues

Infelizmente, o "Equinox" extrapolou, e a contrariar o combinado, tocou por mais de uma hora e meia, a entediar o público com o seu Heavy-Metal oitentista; defasado, e enfadonho. O guitarrista solo estava nervoso, e por estar contrariado, motivado pelo atraso no soundcheck, quis propositalmente afrontar-me, e prejudicar o show do Pitbulls on Crack. Atitude lamentável em que nada contribuía para divulgar o som de sua banda, pois pelo contrário, só criou um anticlímax. O meu aluno, Luiz, era extremamente gentil e ficou constrangido com as atitudes de seu guitarrista, mas o estrago já estava feito. Enfim, o público cansou daquele som maçante e absurdamente alto. Dispersou, ao abrir um clarão na frente da banda, e mesmo assim, eles insistiram em tocar mais e mais.

Pior que isso, hostilizou-se o nosso roadie, o Jason Machado, que pedia insistentemente para que encerrassem, devido ao tempo estourado. Claro, arrependi-me por tê-los incluído no evento. Teria sido muito melhor incluir uma outra banda de alunos, e havia várias que desejavam ter tido essa oportunidade. Já noite avançada, a insinuar a chegada da madrugada, o Pitbulls on Crack entrou em cena, e o público nesse instante, estava pela metade em termos de contingente.

Se a intenção do guitarrista rancoroso houvera sido essa, creio que o maior prejudicado foi ele mesmo, por ter entediado as pessoas, a espantá-las. Claro, era por esperar-se que as pessoas cansassem-se de ficarem confinadas em um bar minúsculo, a aguentar a massa sonora de um áudio deficiente, e bandas de Rock a tocar em volumes inacreditáveis. E também era esperado que muitos dispersariam após ver os respectivos parentes e amigos apresentar-se, tal como um festival escolar juvenil. Isso não abalou-nos em nada, e assim fizemos o nosso show normal, sem preocupações, e contentes por ter sido um sucesso muito contundente o evento do qual não esperávamos nada.

Isso ocorreu então, no dia 30 de abril de 1995, e o público foi excelente, com quinhentas e vinte presentes (informação oficial revelada-me pelo Jason Machado, no ano de 2015), para a alegria do dono do bar, que vendeu muita bebida nessa noite. Existe uma versão editada desse evento, gravado em formato Mini-VHS e digitalizada nos anos 2000. Pretendo lançar no You Tube em breve. Só não sei ainda se lanço separadamente cada banda, ou se mando tudo junto, como um documentário de Festival. E mais uma coisa : vou mudar o nome do Festival, e definitivamente passar por cima da história... vai ser doravante : "Dominguestock"... !
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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 58 - Por Luiz Domingues

E conforme o prometido, o "Parental Advisory" tocou o seu set composto por uma duração em torno de meia hora, e despediu-se. A voz esganiçada do vocalista adolescente, tornou-se um sucesso cômico imediato, e apesar da agressividade da banda, foi uma apresentação divertida que agradou o público (com a devida exceção de alguns pais, digamos assim, e fato já mencionado anteriormente...). Nesta altura dos acontecimentos, a casa estava super lotada, e o acúmulo era tanto, que o pequeno espaço interno inteiramente lotado, fazia com quem estava do lado de fora não conseguisse entrar, literalmente. O dono do bar estava eufórico, pois decadente, o Black Jack, há muitos anos não lotava daquela maneira. A próxima banda a entrar no palco seria o "Eternal Diamonds", banda de meu aluno, Alexandre "Leco" Peres Rodrigues, e que praticava um som pesado, quase no patamar do Heavy-Metal, mas detinha enormes influências boas de anos 1960 / 1970, principalmente a psicodelia sessentista, e o Prog-Rock setentista. Os seus outros componentes eram : Rodrigo Hid (guitarra e voz), e Fernando Minchillo (bateria). Conhecia-os todos desde 1993. Mesmo com aquelas feições faciais de adolescentes que ainda ostentavam, foram muitas conversas sobre o Rock dos anos 1960 e 1970 etc. Eu sabia do potencial dos três, e apesar de serem inexperientes e muito novos ainda, o poder de fogo deles era enorme, em termos de potencial. O show começou, e a sonoridade mostrou-se radicalmente mais leve que o "Parental Advisory", e as boas influências dos meninos eram nítidas no seu trabalho.


Eu, Luiz Domingues, e Rodrigo Hid em uma foto de 1996, capturada em minha sala de aulas

Eles tocaram as suas canções compostas em inglês, e cuja mais famosa, pelo menos no círculo de amigos, era : "Meet the Power", praticamente um Heavy-Metal. No entanto, os meninos surpreenderam positivamente ao tocar um cover do Pink Floyd, "Insterstellar Overdrive", e assim a trazer uma excelente interpretação ao clássico da psicodelia Barretteana. Lembro-me bem que durante o show do "Eternal Diamonds", o Deca, guitarrista do Pitbulls on Crack, reparou bem na performance do Rodrigo, e ao mirar-me a seguir, esboçou uma expressão facial de espanto (positivamente, é claro), ao demonstrar que também percebia o talento nato do menino. A tocar com desenvoltura e cantar muito bem, o Rodrigo tinha rosto de adolescente, mas postura de veterano no palco, ao brilhar intensamente. Dois anos depois disso, ele estaria a iniciar o projeto "Sidharta" comigo, e com o próprio, Deca, e mais dois anos a seguir, estaria na Patrulha do Espaço comigo. Dez anos depois, estaria no Pedra, comigo, novamente...
E os demais também apresentavam um diferencial. O Alexandre, mesmo muito novo, apresentava percepções de psicodelia que muito lembravam o estilo de Roger Waters, fora o seu talento nato para criar linhas de baixo nada usuais, e que representa a sua marca registrada no Klatu, a sua banda atual (com dois discos lançados até este momento de 2015). E o Fernando também tocava de maneira segura, apesar da idade. Foi uma pena que tivessem apenas meia hora para tocar, pois o show do "Eternal Diamonds" foi muito agradável. Ao sair do palco, chegou a vez do Heavy-Metal, do Equinox
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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 57 - Por Luiz Domingues

Por ser um bar com pequenas dimensões, não comportava um P.A. grande, e por tal motivo, o Black Jack Bar não tinha uma estrutura de som e luz adequada para shows de Rock com muita potência. O soundcheck foi lento, com a inexperiência da garotada que formava as bandas de abertura, a atrapalhar o andamento do processo também, e lembro-me que o guitarrista do Equinox foi bastante grosseiro comigo, pois atribuiu à minha pessoa, a culpa pelo atraso, quando na verdade, isso fugira à minha alçada. E o combinado foi meia hora para cada banda apresentar-se, quando o Equinox tocou por quase uma hora e meia, talvez como uma forma de retaliação à minha pessoa, mas na prática tal atitude dessa banda foi deselegante com todo mundo que bocejou diante de seu show maçante, pleno de clichês oitentistas do Heavy-Metal.

Todavia, a primeira banda a apresentar-se foi o "Parental Advisory". A despeito do som desses meninos ser o tal do "Thrash Metal", algo ultra agressivo, os garotos tiveram uma postura muito engraçada, que arrancou gargalhadas do público.

Entre uma música e outra, o vocalista, que era um garoto enorme e com o cabelo pela cintura, falava com uma voz de adolescente, em processo de maturação, ou seja, "desafinava" a falar, mas quando cantava (ou melhor a dizer, "urrava"), nas músicas, parecia um troglodita das cavernas, a matar dinossauros a gritos... hilário !
E uma música arrancou mais gargalhadas extras. Quando foi anunciada, os meninos fizeram a contagem para iniciá-la, e ela resumiu-se à um acorde mediante um acento único ! Mais um fato engraçado aconteceu, protagonizado por essa banda. Assim como para todas as bandas de abertura presentes, havia muitos familiares dos músicos envolvidos. Parecia uma festa escolar de fim de ano, de certa forma.
E foi quando contaram-me que durante a performance do "Parental Advisory", o pai de um aluno meu que tocava, suava, literalmente, espremido na multidão, e só resmungava, dizer : -"que merda... que merda" !


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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 56 - Por Luiz Domingues

Uma entrevista do Chris Skepis ao Jornal da Tarde, em março de 1995, a narrar a sua aventura pessoal pela Inglaterra, como membro do Cock Sparrer, uma banda famosa da cena do Punk-Rock' 1977

A virada para 1995, foi um pouco desalentadora, portanto. 
Descartados pela gravadora Roadrunner, e com a Eldorado desinteressada em investir nos artistas lançados pela coletânea de 1993, após ver as cinco bandas dispersar, cada uma por si, apenas ensaiamos e trabalhamos em músicas novas nos primeiros meses de 1995. Então, o primeiro compromisso do ano em termos de show, foi uma autoprodução completamente improvável, que teve tudo para ser uma mera e prosaica reunião em clima de festa particular, mas que ganhou uma dimensão inesperada, e foi um sucesso de público. Foi assim : o presidente do fã-clube do Pitbulls on Crack, Jason Machado, tinha uma data reservada no Black Jack Bar, e perguntou se nós gostaríamos de tocar lá, visto estarmos há muito tempo sem shows. A data teria um significado especial para o Jason, e para o Pitbulls on Crack, pois marcava um ano de existência do Fã-Clube. Seria realizada no dia 30 de abril de 1995, ou seja, na véspera de um feriado (1° de maio), com a possibilidade das pessoas saírem despreocupadamente para a noite, como se fosse o sábado. A despeito de muita gente normalmente sair da cidade, achamos que sob custo zero, não seria ruim, nem que a casa ficasse com um público tímido em suas dependências. Mas a ideia evoluiu, e pensamos em colocar alguma banda de abertura. Mais um pouco e passamos a pensar em duas, depois três e assim configurou-se, um micro-festival. A grande sacada, seria que as bandas de abertura também atrairiam público, a estabelecer uma ação conjunta em termos de divulgação. E dessa forma, ao aproveitar o fato de eu ter nessa época, cerca de trinta e cinco alunos regulares de baixo, ficou óbvio que de minha parte seria fácil arregimentar bandas novas. Por ter tantos alunos, e quase todos ter uma banda em atividade, seria uma oportunidade de ouro para eles também apresentarem-se. Para incrementar, o Jason Machado atuaria com força total no evento, e ele tinha mais um trunfo em mãos. 
Graças a um patrocinador que ele tinha para ajudar a manutenção do seu fanzine, havia um acordo para a publicação de um "tijolo" de jornal, com o apoio da gravadora Eldorado, e dessa forma, no dia do show, tivemos de fato um tijolo no Jornal da Tarde, como apoio de divulgação, fora cartazes e filipetas. Muitas bandas poderiam ser escolhidas, mas na decisão final, as que puderam aceitar o convite, a confirmar presença, foram : "Parental Advisory" (do meu aluno, Ricardo Garcia); "Eternal Diamonds" (do meu aluno, Alexandre Peres "Leco" Rodrigues), e "Equinox" (do meu aluno Luiz Nannini). Os garotos ficaram super empolgados, é claro, e imediatamente engajaram-se na divulgação. Foi a oportunidade deles para tocar em um bar que mantinha tradição no Rock Paulistano, e pelo fato de serem adolescentes imberbes em sua maioria, contava muito como façanha pessoal para eles, em início de carreira. Como nessa fase, eu ainda era conhecido por um apelido, que após 1999, cortei com veemência, o nome do show e que foi usado em profusão, foi criado em função da junção dele, com a palavra "Woodstock". Aproveito para  reescrever a história, e doravante irei chamá-lo de outra forma nesta autobiografia. 

Não falava-se em outra novidade nas minhas aulas, a não ser a realização do "Dominguestock". Confesso que essa produção deu o ânimo que o Pitbulls on Crack precisava para sair da fase letárgica em que encontrava-se, desde o fim do segundo semestre de 1994, quando todo o impulso alcançado anteriormente, parecia ter diluído-se pelo ralo.
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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 55 - Por Luiz Domingues

E o último compromisso de 1994, aconteceu novamente na casa de espetáculos, Aeroanta. Desta vez foi um show compartilhado com as bandas : "Party up" e "Stigmata A Go Go".

O "Party up" foi uma banda indie com elementos do Punk-Rock, e também a apresentar doses de metal em seu som. O grande atrativo era a sua vocalista, uma garota muito bonita (Natacha), e que mantinha uma pronúncia perfeita de inglês. Graças ao bom relacionamento que o seu líder detinha no meio (o baterista que era um ex-membro do Viper, e muito amigo dos irmãos Cavalera, do Sepultura), estavam na iminência para ser contratados pela Roadrunner internacional, e entrar por conseguinte, em um circuito forte de shows pelo mundo. Na prática, era apenas mais uma banda indie com sonoridades "modernosas", baseada na extrema simplicidade do Punk-Rock, e o maior atributo recaía sobre a garota, que chamava a atenção pela beleza física.

E esse tal, "Stigmata A Go Go", era uma banda norteamericana. Também outro exemplo de indie Rock, sem nada que atraísse-me, muito pelo contrário, com um som eletrônico misturado à ruindade Punk, realmente ficou difícil achar algum mérito naquela maçaroca esquisitinha. O show foi  morno, sem grandes novidades, e ocorreu no dia 16 de dezembro de 1994, para um público com apenas cem pessoas. O embalo sensacional que havíamos obtido desde 1992, estava diluído, infelizmente. O melhor teria sido lançar logo um CD, mas a quebra de palavra por parte da Roadrunner impossibilitou-nos nesse sentido. Ao fazermos shows esporádicos, e sem perspectiva para lançar um disco, foi uma fase de desânimo geral, que consumiu-nos algum tempo para realizarmos algum esboço de reação.

Ao olhar hoje em dia, com distanciamento histórico, fica claro que foi o fim da primeira fase da banda. Após o hiato de alguns meses, entraríamos na segunda, e última fase da banda (pelo menos sob a minha perspectiva, pois após a minha saída, o grupo teria uma terceira fase, sem a minha presença). A insistência em cantar em inglês foi um ponto sempre trazido à tona por parte de jornalistas na época.

Realmente, essa cena de bandas emergentes do início dos anos noventa, a cantar em inglês, estava a ser atropelada por bandas a cantar em português. Foi um caso a pensar-se, mas o Chris não queria nem saber disso. E assim encerrou-se 1994, com o embalo perdido, e esvaído pelo ralo, infelizmente. 
 


Entrevista concedida ao crítico de Rock e escritor, Glauco Matoso, para a revista Top Rock nº 21, e mais focada na persona de Chris Skepis, por conta de sua passagem pela banda britânica, Cock Sparrer, daí o título "Chris Skepis : Do Cock ao Crack", que ali[as, é dúbia por conta do trocadilho a sugerir questões infames em inglês 


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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 54 - Por Luiz Domingues

Sem empresário e sem gravadora, ainda tínhamos ecos do bom embalo adquirido anteriormente, e mesmo sendo uma banda onde a estratégia era a absoluta falta de estratégia (isso é para rir ou para chorar ?), tínhamos a preocupação em estabelecer um novo rumo para tentar aproveitar o embalo. E por conseguinte, a próxima atividade da banda deu-se na festa promovida pela Revista Rock Brigade, que comemorava a sua centésima edição lançada.

O show ocorreu no Aeroanta, no dia 28 de novembro de 1994, com a presença também de duas outras bandas : "Neanderthal", formada por nossos amigos e companheiros de coletânea da gravadora Eldorado, e o "Avalon", uma banda orientada pela estética do Heavy-Metal, oriunda do estado do Piauí, recém radicada em São Paulo. Foi em um dia útil (segunda-feira), portanto uma data difícil para angariar público, mesmo a configurar-se como um show gratuito ao público. Contudo, cerca de cem pessoas compareceram, e algum tempo depois, estávamos publicados em uma matéria da própria revista, a cobrir a sua festa.

A nossa apresentação foi desprovida de energia, devo registrar.
Apesar da banda ser norteada pela absoluta falta de preocupação com nada, e entre os seus membros, o bom humor sempre predominar pela veia humorística nata que detinham, nesse show, todos pareciam estar taciturnos, e sem energia. Não havia um motivo explícito para tal, mas foi evidente que os ecos da perda de embalo que duramente havíamos construído através de dois anos e meio de atividades, estavam implicitamente no ar. Enfim, apesar de tudo, tocamos...


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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 53 - Por Luiz Domingues

Nessa época, recebemos um telefonema que veio da gravadora Roadrunner. Esse selo europeu (proveniente da Holanda), e que detinha o "Sepultura" em seu elenco, havia recentemente aberto uma representação no Brasil, e por uma feliz coincidência, a diretora artística da seção brasileira havia indicado-nos ao diretor geral, e este, ao ver-me na foto da banda, reconheceu-me de pronto...

       Jerome Vonk, diretor geral da Roadrunner Brasil, em 1994

Tratava-se de Jerome Vonk, o empresário com quem trabalhei na minha segunda passagem pelo Língua de Trapo, entre 1983 e 1984. Em princípio, foram marcadas reuniões prévias com a Alê, diretora artística e baixista / vocalista do "Pin Ups", uma banda Indie famosa na cena paulista, desde o final dos anos oitenta. 

Alê, baixista / vocalista da banda indie, "Pin Ups", e diretora artística da Roadrunner Brasil, naquele momento de 1994

A ideia inicial seria lançar um CD, com gravações produzidas no bom estúdio "Be Bop", onde havíamos gravado a coletânea da gravadora Eldorado, em 1993. As primeiras conversas giravam em torno dessa ideia. Segundo disse-nos, a gravadora estava disposta a contratar cinco bandas da cena indie daquela atualidade, e com uma verba fixa para cada grupo, a ideia seria cada artista cuidar de sua produção, com a obrigação de gravar no Be Bop (naturalmente haveria um desconto por ser um pacote "1x5"), e entregar o tape mixado no prazo estabelecido. Mostrara-se um esquema bastante confortável, no sentido de que a gravadora cuidaria de toda a produção, nos moldes das gravadoras grandes, com o advento de não haver ingerências desagradáveis em nosso conteúdo artístico, embora com a responsabilidade de sermos muito rápidos no estúdio, e com a advertência de precisarmos de cobrir do próprio bolso, qualquer despesa contraída além da verba destinada pela gravadora. Nos contatos iniciais, tivemos a informação que já haviam contratado outras bandas. Lembro-me do Viper, nessa altura uma banda sedimentada e veterana no cenário do Heavy-Metal, entre elas. O "Garage Fuzz", de Santos / SP era outra e as outras seriam : "Zero Vision"; "Lethal Charge"e "Killing Chainsaw". O tempo pôs-se a passar, e começamos a notar que o combinado inicial mudara. Agora pediam-nos sempre mais tempo, e o contrato nunca era assinado, efetivamente. Cansados, pedimos uma definição, e só aí a Alê disse-nos que o grupo orientado pelo Heavy-Metal, Viper estourara a verba no estúdio, e dessa forma, inviabilizou-se a nossa contratação. Mas... e aquela conversa de verba fixa, e equânime entre os artistas ? 

Bem, o Viper era mais famoso, e tornou-se uma prioridade para a gravadora, segundo ela. Em conversa reservada com o Jerome, com quem eu tinha liberdade, infelizmente a justificativa também foi evasiva, pois este alegou cuidar de questões gerais da gravadora, e na parte artística, não envolvia-se, ao ter dado carta branca à Alê. Então, tá...

Foi assim o efêmero contato com a gravadora Roadrunner, a resumir-se a uma série de reuniões que revelaram-se infrutíferas, na medida em que nunca chegamos a uma definição satisfatória. Como fato curioso, apenas relato que o Jerome disse-me uma coisa inusitada em uma dessas ocasiões em que encontramo-nos no pequeno escritório situado na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo : -"vocês representam a única banda que entrou neste escritório, cujos membros não tem sequer uma tatuagem ou piercing..." 

Respondi também na base do humor, mas com uma verdade implícita : -"é por que somos Rockers, e não somos marinheiros, tampouco presidiários"... Na piada, foi embutido um conceito perdido no Rock, e que representa bem o que foram os anos noventa, enquanto cenário antagônico aos verdadeiros ideais Rockers...


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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 52 - Por Luiz Domingues

 
E finalmente o empresário sinalizou com algo mais animador...
Mas, se por um lado o novo show que agendou-nos, foi sucesso de público, por outro lado, ocorreu de novo em uma casa onde não fazia sentido uma banda como a nossa, apresentar-se. Foi no dia 15 de outubro de 1994, que apresentamo-nos no : "Babillon", perante um público com cerca de oitocentas pessoas, porém, certamente alheias ao nosso som ultra barulhento para os padrões popularescos dessas pessoas ali presentes. 

Não fomos hostilizados, mas tratados com indiferença, o que foi um alento ao considerar-se o tamanho da adversidade em que estávamos a expor-nos. E finalmente, na última ação dele como empresário, cumprimos tabela em um festival promovido por um colégio estadual, ao fazermos o show da eliminatória. Festival muito mal organizado e com pouco público, algo aliás injustificável para um evento escolar com adolescentes. 

Ocorreu no colégio Ibraim Nobre, no dia 5 de novembro de 1994, e mediante um público fraco com apenas oitenta pessoas presentes. E com a sequência de apresentações equivocadas que ele arrumou-nos, só restou-nos solicitarmos o rompimento da associação de nossa banda com o seu gerenciamento. Foi educado e tranquilo o rompimento e assim seguimos o nosso rumo, a tentar recuperar o embalo bom que tivéramos antes dele levar-nos a cumprir shows em lugares insólitos, e dignos do filme satírico, "This is Spinal Tap"...


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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 51 - Por Luiz Domingues

O próximo passo após o show do Olympia, foi bem menos glamoroso. Ainda a aproveitar a exposição na mídia de uma forma contundente, mediante shows grandes; rádio & TV a executar-nos diariamente, o próximo compromisso foi uma apresentação modesta no Bar "Pill 100 Bar". Lá, dividimos a noite com os donos do estabelecimento, a banda, "The Pills", gerida pelo empresário, Jefferson, e uma outra, chamada : "Rose Avalanche". O Rose Avalanche era bem influenciado pelo Guns'n Roses, é claro (por conta do seu nome, certamente), e o The Pills fazia um Pop Rock, a apresentar elementos do indie Rock britânico então moderno, noventista. Por ser localizado próximo à represa de Guarapiranga, um endereço longínquo, no extremo da zona sul de São Paulo, tivemos público fraco com apenas cinquenta pessoas, e contingente esse formado pelos amigos dos membros do The Pills, e habitues da casa. Isso ocorreu no dia 19 de agosto de 1994.

No dia 30 de setembro, o empresário, Jefferson havia marcado uma apresentação nossa em um salão da cidade de Osasco, localizada na Grande São Paulo. Quando perguntei a um aluno meu que residia naquela cidade, se ele conhecia aquela casa em específico, ele fez uma expressão facial de espanto, e disse-me achar impossível acontecer shows de Rock naquele lugar ! Segundo ele, tratava-se de um obscuro salão em um bairro de periferia, onde só apresentavam-se artistas do underground da música brega. Ele achou inacreditável acontecer um show de Rock naquela espelunca. Mas foi verdade... e no dia marcado, ao chegarmos no local, ficamos desolados ao verificarmos as suas instalações precárias. No entanto, como o Pitbulls on Crack era uma banda onde todos brincavam o tempo todo, tornou-se a piada pronta para o resto da noite, certamente. Iríamos dividir a noite com a banda : "Pandhora", do meu aluno, Marcos Martines, que também atuava como roadie do Pitbulls on Crack, vez por outra. O equipamento era tão pavoroso, tão precário, que na impossibilidade em podermos realizar um som minimamente decente, resolvemos cancelar a nossa participação. 

O empresário negociou e os proprietários da pocilga alegaram que todos os artistas que ali apresentavam-se, não costumavam reclamar daquelas condições apresentadas etc e tal. Claro, eu posso imaginar o naipe dos artistas que ali apareciam, normalmente...

Então tocamos, para um reduzido e atônito público com cerca de trinta pessoas, todas habitues, com exceção de meu aluno, Edil Postól e a sua esposa, Marilu, que gentilmente foram prestigiar-nos, naquele lugar insalubre. Voltaríamos contudo àquele estabelecimento medonho, pois o Jefferson fechou uma outra data, e desta vez a garantir-nos que o dono da casa melhoraria o equipamento. Ora, nem se colocasse um super P.A. e com a iluminação do Pink Floyd, adiantaria alguma coisa. Mas como estávamos a dar votos de confiança a ele, julgamos que o sacrifício valeria a pena, para assim visarmos dias melhores em termos de shows. Ao pensar com o distanciamento histórico, hoje eu penso que não havia nenhum cabimento em continuarmos com um empresário que detinha tais contatos completamente fora da nossa realidade. Estávamos com uma música a explodir na principal rádio Rock da cidade; dois clips na MTV; shows realizados no Ginásio do Ibirapuera & Olympia, portanto, que sentido fazia ir tocar no "Evidências Dancing" ?
Depois dessa experiência bizarra, o próximo show não teve nada a ver com o empresário, Jefferson. Foi um convite do locutor da 89 FM, Tatola, para que participássemos do show de lançamento do novo CD do "Não Religião", a sua banda.

Ocorreu no Aeroanta, dia 7 de outubro de 1994, com a presença do Pitbulls on Crack e do Neanderthal, entre as bandas convidadas, com o encerramento logicamente feito pelo Não Religião. Época ainda marcada por bom movimento para casas que só abrigavam bandas autorais, pois trezentas e cinquenta pessoas entraram no recinto, catraca adentro. Contudo, a seguir tivemos que cumprir então o show extra que o empresário fechou no horrendo, "Evidências Dancing". Para tentar melhorar a situação, o empresário convidou o "Não Religião", que lançava novo CD na ocasião e claro, por deter mais "status" que nós, tal banda ganhou destaque na filipeta.

Com o perdão do trocadilho infame, era "evidente" que seria uma outra grande noite perdida, naquela espelunca desoladora...
E foi mesmo, "evidentemente", mas aconteceu um fato insólito que salvou a noite de tanto que divertiu-nos. Quando chegamos ao local (além de dividirmos a noite com o "Não Religião", teríamos novamente a presença do "Phandora"), havia na plateia, um homem negro a usar um terno todo branco, e com um exemplar da Bíblia debaixo do braço.

Pensamos ser um fundamentalista com o intuito em fazer uma pregação para as pessoas que tencionavam assistir o show, ou coisa do gênero. O rapaz entrou e procurou-nos no camarim. Ao dizer-se adepto da religião Mórmon, não parava de falar que vivera em Salt Lake City / Utah, e que lá, apesar de ser Mórmon, apaixonara-se pelo Punk-Rock. Estava portanto ali no "Evidências", para ver o Pitbulls on Crack, e o "Não Religião", e em nosso caso, motivado pelo fato do Chris Skepis ser ex-membro do grupo Punk britânico, Cock Sparrer. E pasmem, quando o som mecânico da casa começou a tocar, esse rapaz correu para a pista, e passou a dançar violentamente, para chamar a atenção das pessoas que estavam a aguardar pelos shows. Foi bizarro vê-lo a dançar como punk, com aquele visual que ele tinha a denotar a sua religiosidade, munido pela Bíblia na mão etc. E como se não bastasse tudo isso, ainda houve o mais insólito : pois ao afirmar ser homossexual, disse estar interessado em nosso baterista ! Trancamo-nos no camarim, depois de saber disso, pois o rapaz insistia em voltar para lá, e aí seria uma confusão vermos o religioso / punk  /gay, por ali a importunar-nos mais, e pior ainda seria para o nosso baterista, eu posso imaginar...
Isso ocorreu no dia 14 de outubro de 1994, e como os membros do Pitbulls eram humoristas por natureza, tornou-se assunto para uma semana aquela figura insólita a perturbar-nos. E quanto ao show, foi obviamente medonho com aquele equipamento disponibilizado. É claro que o dono do infame salão não colocou no palco um equipamento melhor, conforme prometera anteriormente. Dessa forma, fizemos um show de choque, e partimos dali, o mais rápido possível...



Continua...