terça-feira, 27 de setembro de 2016

Meu Amor Culto e Profundo - Por Marcelino Rodriguez

No tempo que as pessoas ainda tinham algum senso de sagrado, as tragédias sentimentais eram menores. Hoje em dia, na era da descartabilidade, temos que tomar cuidado para não sermos deletados. Nos tornamos todos muito solitários e frágeis, porque o amor parece ter abandonado a humanidade. Na verdade, a capacidade de amar, que já não era muita coisa no passado, hoje, tá quase extinta. 
 
Jesus Cristo foi parar na cruz, Gandhi e outros ganharam balaços e martírios por acreditarem no amor. Com as mentes mecanizadas pela web, nos tornamos em geral apenas uma imagem e as pessoas não querem ter trabalho de cultivar relacionamentos que aparentemente dão algum tipo de trabalho. 
A web nos promete milhões de sorrisos "colgates" com apenas um click. Os amores de hoje são profundos como plástico de bolhas. 
Já aconteceu comigo acordar numa manhã, em dúvidas se devia mandar flores ou não para minha amada virtual e um presente que ia pelo correio logo pela manhã, um belo livro de cabala explicando o que era a luz, afinal sou um cara esperto e sábio, quase um erudito em comparação com o país analfabeto, quando ela já tinha antecipado que eu tinha páginas demais no Facebook e era um indeciso que não sabia o que queria. Além do mais, implicou com minhas ex namoradas e fotos antigas do meu perfil dizendo que eu tinha um Harém.
Quando eu percebi, estava deletado do Facebook dela como seu eu fosse um mosquito da dengue. Virei homem de apenas uma noite. Olhando meu perfil, sem a foto dela, me sentia um idiota e não sabia o que fazer nem com minha flor, nem com meu amor e muito menos com meu livro de cabala. Ela descobriu," virtualmente", que eu era um Don Juan, um inconstante de quinta categoria. 
E me deletou, sumariamente, sem direito de defesa. 
Meu amor culto e profundo chorou feio.

Marcelino Rodriguez é colunista sazonal do Blog Luiz Domingues 2. Escritor de vasta e consagrada obra, aqui nos traz uma crônica falando de dor, perplexidade ante o ser humano com seu caráter volátil e incompreensão, fundamentalmente.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Crônicas da Autobiografia - Hippie Chic e Encapotado - Por Luiz Domingues

                        Aconteceu no tempo do Boca do Céu, em 1976...
Sabe aquela clássica cena da Árvore de Natal estilizada como se vivêssemos tal data sob o frio rigoroso do inverno europeu?
Pois é, a síndrome do brasileiro tropical ao querer imitar signos naturais que não correspondem a nossa realidade geográfica, estigmatizou-se em diversos aspectos da nossa cultura. Se nos estados do sul ainda seja possível se experimentar um gostinho de inverno parecido minimamente com o rigor europeu, a verdade é que na maior parte do território de Pindorama, o calor abrasador é que embala o nosso natal, em pleno verão tropical. 
 
São Paulo era considerado um estado da região sul, mas a geopolítica mudou em um dado momento da história quando o nosso estado foi retirado dessa região e passou a ser considerado da região “sudeste”. Não cabe esmiuçar aqui os aspectos pró e contra de tal mudança forçada pelas autoridades federais, mas psicologicamente, digo que o sentimento paulista foi sempre o de sentir-se sulista, em muitos aspectos e aqui, o que importa neste relato é falar sobre a nossa condição climática e o efeito cultural que isso trouxe-nos, principalmente a se abordarem os paulistanos, pois como é sabido, as cidades interioranas do nosso estado, são tradicionalmente muito quentes.
E ao se pensar que por séculos, antes dos eventos causados pelo fenômeno do “El Niño” e do surgimento da imensa selva de pedra em que a cidade transformou-se, o clima típico da cidade de São Paulo era de frio na maior parte do ano, com garoa forte toda noite e com direito a névoas, sentíamo-nos mais próximos da realidade de Londres do que das paisagens tropicais típicas do litoral brasileiro.

Portanto, aliado às tradições culturais múltiplas que recebíamos dos europeus (e reforçado pelo fato da cidade ser um celeiro de imigrantes, com colônias espalhadas pelos bairros da cidade), quando o cinema passou a influenciar-nos ainda mais fortemente, isso acentuou-se. 
 
Passadas mais algumas décadas e o Rock também passou a impressionar-nos com contundência e assim, ao assistirmos os filmes e fotos, víamos que os Rockers muitas vezes usavam roupas pesadas de inverno, o normal para o padrão dos europeus e norte-americanos, a lhes preservar o calor do corpo e consequentemente da sua saúde, mas para o nosso imaginário, o aspecto da moda inerente que isso causara, saltava-nos aos olhos. 

Rockers a usarem roupas de couro na década de cinquenta, dava-lhes um aspecto de elegância inerente, é verdade. Depois vieram os "Mods" britânicos e a sua elegância em terninhos de tweed etc.
Quando a Era hippie chegou, a explosão total de cores mergulhou-nos em meio a um caleidoscópio de infindáveis possibilidades visuais, as mais atrativas, e quando o inverno apertava para os Rockers do meridiano norte, os casacões estilosos surgiam, para que eles usassem até capotes militares (alguns a exagerarem ao fazerem uso de fardas “vintage” de séculos passados), ou vestimentas de peles, para se aludir à moda da Idade Média, fora a influência brutal de culturas exóticas do oriente, notadamente da Índia. 
 
Portanto, nessa transição entre o fim dos anos sessenta e início dos setenta, acostumamo-nos a vermos filmes e fotos de bandas de Rock, com vestimentas pesadas de inverno, super estilosas, o que convencionou-se no mundo da moda a ser designado como um estilo “Hippie Chic”. 
 
Dessa forma, ali no início e na metade da década de setenta, foi o padrão que gostávamos e queríamos seguir, a driblarmos as adversidades climáticas que não favoreciam-nos, exatamente por estarem fora dos nossos padrões naturais.
Eu e muitos amigos queríamos usar casacões o tempo todo e mesmo em dias que não foram exatamente gelados, embora naquela época, ainda existisse a incidência da garoa diária em São Paulo e o outono e inverno fossem bem rigorosos, ao menos para os nossos padrões.

O primeiro vocalista da minha primeira banda, o “Boca do Céu”, foi um desses que usava diariamente um casaco pesado e bem bonito, mas nem sempre necessário e dessa maneira chamava a atenção por isso. Bernardo, conhecido como “Janjão” entre todos na escola que frequentávamos, fora mais um desses jovens Rockers que queria seguir tal padrão, mas que no Brasil, infelizmente para nós que gostamos do frio intenso, não era possível ser usado por muito tempo.
 
Eu também tinha uma dessas vestimentas pesadas, que aliás não era minha exatamente, mas do meu pai. Tratara-se de um “sobretudo” de lã, preto, muito estiloso, daqueles que víamos aos montes em filmes franceses cinquentistas. O meu pai o comprara-o na década de cinquenta e o usou muito. Quando tornei-me adolescente e coube nele, passei a pegá-lo emprestado para usar nas noites frias e sentir-me elegante na porta de shows de Rock que frequentava

Vendo que eu gostava dele, o meu pai doou-me a peça ainda nos anos setenta e tal casaco acompanhou-me até meados dos anos 2000, quando já não houve mais jeito que o alfaiate pudesse dar para reformá-lo.
 
Eu nunca conformei-me com modismos posteriores, acintosamente propostos para afrontar e destruir ícones sessenta-setentistas. Entre outras coisas, abomino as bermudas, as quais considero anti-Rock, mas fazer o que? Essa mania impregnou-se nas gerações posteriores.
Sou do tempo em que o Rock era luxo e não lixo, simples assim... 

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Entrevista: Carlão Gaertner (A Chave/Bartenders) - Por Luiz Domingues

Carlos Augusto Gaertner é um músico muito importante na história do Rock brasileiro. Baixista da banda "A Chave", nos anos setenta, "A Pedra" nos anos oitenta e no "Bartenders, nos anos noventa, só por esse curriculum, ele já seria notável. Mas o Carlão vai muito além, pois mantém paralelo à sua carreira artística, uma atuação marcante como jornalista, radialista, produtor de shows e também por ser um agitador cultural importantíssimo para a cidade de Curitiba.

Ao visar preparar uma matéria para a revista Bass Player, pela qual eu fui colaborador, eu o abordei na Rede Social Facebook aonde já éramos amigos, ao lhe enviar um questionário para que eu pudesse usar tal relato como pesquisa para escrever a matéria, mas diante da riqueza de detalhes proporcionada pela sua memória prodigiosa e sobretudo pela extrema simpatia com a qual respondeu-me, fiquei de pronto convencido que um documento assim detinha um valor inestimável como história relatada do Rock Brasileiro.

Sendo assim, é com muita honra e satisfação que aqui publico na íntegra, esse relato impressionante, vindo de um personagem vivo na história.

Com vocês, Carlão Gaertner:        
1) Fale-me um pouco do seu interesse inicial pela música na infância/adolescência.

Minha mãe, Mafalda Senegaglia Gaertner, era formada em piano clássico e acordeão. Aos seis anos ela me colocou para aprender acordeão com uma professora de música clássica, uma senhora de idade avançada. Fiquei tendo aulas durante uns seis meses, mas o instrumento de minha mão era de 120 baixos e era muito grande para a minha idade e tamanho. Acabou não dando certo. 

Em 1956, assisti o primeiro filme de Elvis Presley – “Jailhouse Rock” - que foi exibido em Porto Alegre, onde eu morava. Fiquei alucinado e daí pedi um violão para os meus pais, que só fui ganhar uns dois anos depois de presente do meu avô materno. Na época, eu não tinha um ouvido muito bom e não tinha aquela facilidade natural para a música, apesar de ser apaixonado por ela.
             Anyres Rodrigues com os Brasas, nos anos sessenta

Quem me deu as primeiras dicas de acordes e ritmo foi um vizinho meu, Anyres Rodrigues, com quem mais tarde montei a nossa primeira banda, tocando músicas do The Ventures, The Shadows, e dos grupos brasileiros similares como The Clevers – mais tarde Os Incríveis – The Jordans, Aladdin Band, The Jet Blacks etc. O Anyres mais tarde entrou para Os Brasas e mudou-se para São Paulo com a banda.

    2) Conte-me sobre quando começou a tocar efetivamente e se o baixo foi a sua escolha natural ou começou com outros instrumentos. 

Nessa primeira banda com o Anyres Rodrigues eu comecei a tocar baixo nas quatro cordas de cima de um violão elétrico Del Vecchio, com o timbre todo grave, pois ainda não tinha um baixo. Era literalmente um baixista de uma nota só, pois só seguia o tom dos acordes marcando a nota, uma de cada vez, e não conhecia nenhuma escala. Foi assim os meus primeiros passos ou tropeções como baixista (rs). 

Essa banda era mais um passatempo de um bando de garotos – todos vizinhos, pois morávamos na mesma rua e imediações. Quando o Anyres mudou-se para São Paulo com Os Brasas, o grupo acabou. Depois, com alguns dos membros remanescentes e um novo guitarrista solo montamos Os Frenéticos, que já era uma banda com vocal. Tocávamos Beatles, Stones, Animals, Gerry & The Pacemakers e algumas versões do Renato e Seus Blue Caps, além das músicas instrumentais. Esse grupo também acabou e fiquei um tempo sem tocar.
 
Num final de tarde, em 1965, cruzei com dois caras na esquina da minha rua, que sem saber estavam me procurando, e fui convidado para tocar baixo numa nova banda do Bairro Petrópolis, vizinho ao Partenon, onde eu morava. O nome da banda era Beat Group Company, ou Beat Group Cº. Participavam do grupo - que era um quinteto - eu e o Maurinho (guitarra base e vocal), que convidei para tocar neste novo grupo, pois também éramos vizinhos no Partenon; e o Jorge (bateria), Ruy (vocalista e percussão com pandeiro e maracas) e o meu querido amigo e brother falecido recentemente, Lairton Rezende, o Alemão, que moravam no Petrópolis.  Essa banda já tinha uma proposta mais profissional e, além de tocarmos covers dos Stones, Beatles, The Who, Animals, The Troggs, The Shakers e até Steppenwolf, entre outros, também tocávamos músicas próprias, com letras em inglês. No início do Beat Group eu tocava com um baixo feito em casa, sem trastes, que a banda já tinha, e que era um inferno para afinar. Mas fomos à luta.
                                         Lairton Rezende e Carlão Gaertner

O Beat Group durou até final de 1968, quando Lairton Rezende juntou-se a outra banda gaúcha, Os Cleans, e foi com eles para São Paulo. Depois o Alemão Lairton tocou também no ES Trio, Eduardo Araújo e Silvinha Trio, também em São Paulo. Nessa época eu estava morando sozinho em Porto Alegre, pois em 1967 meus pais voltaram a morar em Curitiba, onde nasci. Com o fim da banda, resolvi me juntar novamente à família, e voltei no final de novembro de 1968 a morar em Curitiba.

  3) Teve apoio familiar, resistência ou neutralidade sobre a decisão de se tornar músico? 

Meu pai não curtia muito e era meio indiferente. Já minha mãe curtia eu gostar de música e querer tocar, mas não aceitava isso como modo de vida – as três bandas que citei ensaiavam num quarto nos fundos da minha casa, anexo à garagem do carro do meu pai. 

Até que um dia, já na época do Beat Group, meu pai que era mais caretão nos expulsou do espaço e nos mandou procurar outro lugar para ensaiar, pois não aguentava mais aquele ‘barulho’ todo fim de semana em nossa casa (kakakakak). Mais tarde o  Beat Group adquiriu uma aparelhagem completa e instrumentos legais e até uma coluna de voz Phelpa com duas caixas de som e amplificador com mixer de 100 Watts, com três microfones.

Os vocais eram feitos em três vozes e o som da banda era muito legal. Foi um grupo marcante na cena Rock de Porto Alegre dos anos 60, junto com o Som 4 e o Liverpool, que mais tarde virou Bixo da Seda. 

No Beat Group eu já tocava com um baixo Gianinni, modelo Gemini, e um amplificador Gianinni Super Thundersound valvulado, com caixa com 4 falantes de 12”. O baixo já começava a falar alto (rs).

   4) Fale sobre suas principais influências na época que o motivaram a mergulhar na música e no Rock.
Bom, eu virei rockeiro ainda garoto de calça curta, quando assisti o primeiro filme do Elvis, que já citei anteriormente. 

Mas era somente um apreciador de rock e tinha todos os discos do Elvis ao longo dos anos 50. Até que no início dos anos 60 surgiu aquele fenômeno chamado The Beatles, que foi o grupo que me motivou a querer tocar numa banda de rock, junto com Chuck Berry. Logo após veio toda a leva de grupos ingleses e americanos: Stones, The Animals, The Swinging Blue Jeans, Dave Clark Five, The Who, The Jefferson Airplane, The Birds, The Buffalo Springfield e The Troggs, entre outros; um pouco mais tarde aconteceu a grande porrada que foi o lançamento do primeiro álbum do Steppenwolf, com um som bem mais pesado, músicas bem elaboradas, riffs marcantes e todo o resto, até surgir o Cream e o The Jimi Hendrix Experience, dois ‘power trios’ que também foram duas grandes porradas na cabeça e marcos divisores na história do Rock e do Blues, com o som que faziam. Nessa época eu tinha todos esses discos e ouvia rock sem parar. 

No baixo eu sempre curti Bill Wyman, dos Stones (com que me identifico bastante), e o Paul McCartney, é claro; o John Entwistle, do The Who, apesar de eu achar que ele estava 10 anos luz na minha frente como baixista (risos). Basta ouvir o baixo de “My Generation” (1965), um dos primeiros (se não for o primeiro) solos de baixo na discografia Rock, que me deixou de boca aberta e de ponta cabeça na época; e com os dois baixistas da fase inicial do Steppenwolf: Rushton Moreve (1967-1969) e Nick St. Nicholas (1969-1971), que tocavam com o baixo bem pesado e na cara, com volume alto e bem grave, do jeito que eu gosto (rs).

)  5) Relembre o panorama da cena Rock em Curitiba, quando começou a tocar.
Eu cheguei de volta em Curitiba em novembro de 1968, como já comentei anteriormente, e alguns meses depois conheci o Ivo Rodrigues (futuro vocalista d’A Chave), no aniversário de 15 anos de uma prima. Na festa estava tocando um conjunto de baile – Bepe e Seus Solistas – que era um italiano amigo de minha família que tocava trompete e era o dono da banda. Depois que fui apresentado ao Ivo, ele estava na festa junto com o Cesar Tempski, que era um guitarrista que tocava com ele nos Primatas. Acabamos dando uma canja com o baterista da banda do Bepe e viramos amigos no ato. O Ivo também era amigo de um outro guitarrista que conheci logo depois, o Rodney Luiz de França, e nós três viramos amigos inseparáveis. O Ivo também apresentava um programa de calouros nos sábados a tarde na TV Paranaense (1969), antes de virar Rede Globo, e cantava músicas italianas de smoking. Em algumas edições, de tanto eu e o Rodney pegar no pé dele, ele deixava o smoking de lado e nós três tocávamos algum rock no programa, acompanhados pelo baterista da banda fixa da programação. 

Além disso, nos fins de semana nós três corríamos os clubes de bairro onde sabíamos que estava tocando alguma banda conhecida, entrávamos no clube, esperávamos o primeiro intervalo e pedíamos para dar uma canja, sempre com o baterista da banda contratada, que normalmente ficava ‘correndo’ atrás das loucuras que aprontávamos nessas apresentações relâmpagos deste trio maluco, que chamamos de Som Fúnebre.
Rara foto da formação d'Os Primatas, que Carlão Gaertner cita na entrevista, banda que antecedeu sua entrada e de Ivo Rodrigues, n'A Chave. Aqui, da esquerda para a direita: Ivo Rodrigues (Voz), Rodney Luiz de França (Guitarra), Carlão Gaertner (Baixo), Chumbinho (Guitarra) e Ely (Bateria). Carlão contou-me reservadamente, que os instrumentos de cordas foram feitos pelo guitarrista Rodney, que era Luthier e até uma impressionante guitarra de dois braços usadas pelo outro guitarrista, Chumbinho. Nos dias atuais o Brasil possui Luthiers excelentes e com oficinas super montadas, aos montes em qualquer cidade, mas nessa época, era um ato quase de bravura. Foto de 24 de novembro de 1969
  
Mais tarde, ainda bem antes do Ivo entrar para A Chave como vocalista, nós três remontamos Os Primatas com o guitarrista Crespinho e o baterista Mounir. (Obs. Esta formação tem uma foto que vou enviar junto, OK?). 

Na cena rock local em Curitiba no final dos anos 60 tinha A Chave, que já era bem conhecida, assim como Os Metralhas (banda cover dos Beatles), Os Carcarás, Os Vondas, Aquarius Band e dezenas de outros grupos que nem lembro mais os nomes. Era uma cena bem animada e as bandas só tocavam em clubes, pois na época não existiam barzinhos e/ou outros espaços com música ao vivo.

   6) Teve outras bandas antes da fundação d'A Chave? Cite-as, e se houver discografia, descreve-as, por favor.
As minhas únicas experiências musicais em Curitiba antes de tocar n’A Chave foram as que citei na pergunta anterior: o trio Som Fúnebre com o Ivo e o Rodney – que nem era uma banda, mas uma curtição – e a formação d’Os Primatas, que nós três reeditamos com o Crespinho e o Mounir.

   7) Faça um apanhado geral sobre A Chave, a citar os seus melhores momentos, discografia, suas lembranças...

Eu conheci o pessoal d’A Chave no final de 1969 e fiquei muito amigo do Orlando Azevedo (baterista d’A Chave) e do Celso Geleka, que não tocava na banda, mas que era muito amigo do Orlando. O Celso teve uma música classificada no Festival de Música da Universidade Federal do Paraná, e me convidou, junto com o Ivo e o Rodney para defendermos a musica – que se chamava “Geleka” - no show do festival. 

Nós fomos ensaiar no estúdio d”A Chave e na semana da apresentação o Rodney foi mandado pela empresa onde ele trabalhava fazer um trabalho numa cidade do interior do Paraná. Moral da história: não deu para nós defendermos a música do Celso, e daí A Chave assumiu em nosso lugar. A música ganhou o prêmio de Melhor Letra do festival e todo mundo ficou muito animado.
A fachada da histórica "Casa Branca" d'A Chave em Curitiba, que tornou-se o mais louco reduto contracultural dos Freaks da capital paranaense, nos anos setenta.

Depois de alguns meses eu, o Orlando, o Celso e um outro amigo chamado Fernando Bittencourt resolvemos morar juntos e alugar uma casa para fazer o estúdio d’A Chave. No início de 1971, alugamos uma casa na Rua Padre Anchieta, no Bairro Mercês, e nasceu a Casa Branca d’A Chave, pois pintamos a casa inteira de branco, inclusive o telhado. Um marco na cultura underground e contracultural de Curitiba. 
No porão da casa foi construído o estúdio da banda totalmente isolado com placas de Eucatex (isolante acústico), com um aquário (vidro) para a sala de gravação com dois gravadores Akai de fita de  rolo etc. Na casa tinha ainda um atelier de artes plásticas, um laboratório fotográfico com câmera escura para revelação e ampliação de fotos em preto e branco, uma mini biblioteca na sala do andar superior e uma mini galeria com quadros e desenhos de artistas curitibanos que interagiam com a banda como parceiros.
Em 1972, quando o Gilberto Gil apresentou seu show da turnê “Expresso 2222” em Curitiba numa temporada de três dias no Teatro da Reitoria da UFPr, numa das tardes ele e os membros da banda visitaram a Casa Branca. Ao entrar pela porta do porão que dava acesso ao estúdio o primeiro comentário do Gil foi: - “Caramba, parece que eu estou em Londres”. Durante a visita o guitarrista Lanny Gordin ficou improvisando no estúdio com a guitarra do Paulinho (guitarrista d’A Chave) e na saída nos presenteou com o seu distorcedor Fuzztone, que ele tinha trazido do Japão. Esse fato foi publicado na entrevista do Gilberto Gil à Revista Bondinho, quando durante a entrevista Lanny declara: - “Eu dei meu distorcedor para a banda A Chave, de Curitiba”.
O Grande Ivo Rodrigues, vocalista e guitarrista d'A Chave, aqui no início dos anos setenta, no estúdio da banda, citado pelo Carlos Gaertner
Esse encontro foi simplesmente demais e é um acontecimento antológico na história d’A Chave.

Bom, retornando às minhas lembranças pessoais, de 1971 a 1973, eu trabalhei com A Chave como técnico de som e iluminador em suas apresentações e participava ativamente da vida e dos rumos da banda, junto com o Orlando. Em 1973, quando o baixista Zito Bacilla resolveu sair do grupo, eu assumi o seu lugar no baixo e mantivemos a formação de quinteto até meados de 1974, quando o Eli Alves, tecladista, também saiu da banda, depois de ser formar em Engenharia Química na faculdade.
Ao longo desses três anos e meio na Casa Branca – deixamos o local na metade de 1974 – A Chave começou a abrir todas as portas na cena rock de Curitiba. Promovemos o “I Recital Pop” no Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha) da Fundação Teatro Guaíra, que foi o primeiro show de rock de uma banda local em teatro. Inauguramos o Palco Flutuante do Passeio Público, parque central da cidade, com um show de rock ao ar livre.
Fizemos também o primeiro show na Concha Acústica da Praça Afonso Botelho, inaugurando aquele espaço, que fica em frente ao estádio do Clube Atlético Paranaense. A Chave realizou também um projeto performático, intitulado “O Sangue das Máquinas”, nas instalações da Fundição irmãos Mueller, onde os membros da banda improvisavam temas em cima do som e da batida de funcionamento de algumas máquinas ligadas ao acaso, junto com os operários da fundição que ficavam operando as máquinas durante as improvisações. Uma loucura total. 
 
E, no final de dezembro de 1973, abrimos o show do Secos & Molhados no auge de seu sucesso no primeiro show de rock que aconteceu no Palácio de Cristal (ginásio de esportes) do Círculo Militar do Paraná, para um público de mais de 5.000 pessoas. A produção local e a divulgação do evento foram realizadas pela A Chave, com apoio e parceria da Fundação Teatro Guaíra. 
 
O fato curioso em relação a este show foi que A Chave, uma banda de fora do eixo Rio/São Paulo, onde aconteciam as coisas no Brasil, e que só era conhecida fora de Curitiba em círculos bem restritos na época, foi praticamente a primeira banda de rock nacional a abrir um show do Secos & Molhados, quando o grupo era a sensação nacional.
    O Extraordinário, Orlando Azevedo, baterista d'A Chave

Mas isso tudo foi só o aquecimento da primeira fase d”A Chave na Casa Branca, onde também desenvolvemos o projeto “Em Prol de um Português Elétrico”, em parceria com o poeta e escritor Paulo Leminski, e as primeiras composições d’A Chave com letras dele. Vou voltar a falar do Paulo e de nossa parceria mais adiante.
O grande Paulo Leminski, poeta da pesada e que se tornou parceiro d'A Chave, nos anos setenta

Quando saímos da Casa Branca na metade de 1974, elaboramos durante o segundo semestre daquele ano um projeto de marketing – Investimento Em Proposta - provando a viabilidade econômica e financeira de uma banda de rock se tivesse condições profissionais de trabalho, em parceria com a agência de Propaganda PAZ Comunicação, onde o Paulo Leminski trabalhava como editor de texto. 
 
Esse projeto foi endossado e aprovado pela empresa C.R. Almeida, maior empreiteira do Paraná, que financiou e avalizou uma operação bancária para A Chave de CR$ 200 mil cruzeiros (acho que era essa a moeda vigente no país) no final de 1974, para a compra de uma aparelhagem toda importada para a banda.
 
Com a Kombi do Toninho, cunhado do guitarrista Paulo Teixeira d’A Chave, os quatro membros da banda foram para São Paulo realizar o maior sonho da vida inteira da banda e de seus integrantes: Paulo Teixeira (guitarra solo, harmônica e vocal), Ivo Rodrigues (guitarra base e vocal principal), Carlos Augusto Gaertner (Carlão – baixo) e Orlando Azevedo (bateria). Depois de pesquisar durante uma semana nas lojas de música, A Chave comprou na loja Leimar os instrumentos e acessórios: uma guitarra Gibson Les Paul Deluxe Gold Top, uma guitarra Fender Stratocaster, um baixo Fender Precision Bass 1974, três pedais para guitarra: um wha-wha Cry Baby, um wha-wha/fuzztone (distorcedor) Vox e um Phase Shift Maestro; e uma bateria Ludwig Octaplus com dois bumbos e oito tambores, sendo seis ton-tons e dois surdos (maior modelo da marca) com caixa alta de metal e pratos Zildjian para condução e ataque, e um par de pratos Paiste para o chimbau. 
 
E do Eduardo, dono da Transasom, A Chave adquiriu dois amplificadores Fender Twin Reverb para as guitarras; um Marshall Major de 200 Watts com duas caixas com 4 falantes de 12 polegadas cada uma + mais uma caixa Super Bass de P.A. com falante JBL de 18 polegadas e 300 Watts para o baixo; uma mesa Peavy de 9 canais + amplificador de potência valvulado de 200 Watts para o P.A e 4 caixas de P.A: duas de graves, mais duas Altec com falante e cornetas (drivers), 12 microfones Shure e um carrinho de serviço com transformador de 100/220 Volts, com capacidade de 1.500 Watts de carga; e um multicabo de 30 metros para a conexão do palco até a mesa de mixagem nas apresentações (caixa de conexão dos cabos dos 12 microfones de palco ao multicabo e distribuição para os canais da mesa de mixagem).
 
De volta a Curitiba, em janeiro de 1975, com um caminhão furgão lotado de equipamento, os membros d’A Chave alugaram uma chácara em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, onde ficaram morando e ensaiando 10 horas por dia durante três meses e meio e compondo as músicas de seu show de estreia do novo equipamento, intitulado “De Ponta Cabeça”, que foi realizado no final de abril numa temporada de três dias totalmente lotada no Auditório da Reitoria da Universidade Federal do Paraná. (segue material do show: programa e cartaz).
No segundo semestre de 1975 realizou no grande Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto, da Fundação Teatro Guaíra, o “1º Concerto de Rock do Guairão”, como o auditório também é chamado, para um público de aproximadamente 2.000 pessoas, sendo que a lotação do teatro é de 2.173 lugares sentados. Sucesso total. Esse show foi destaque numa matéria do encarte Hit Pop da Revista Pop, além de várias outras publicações sobre A Chave naquele espaço editorial da revista.
Em 1976 firmou uma parceria com a banda Made In Brazil e as duas bandas se apresentaram juntas em Curitiba, no Palácio de Cristal do Círculo Militar do Paraná (5.000 pessoas); no Ginásio Moringão, em Londrina (3.000 pessoas); numa temporada de cinco dias no Auditório do TUCA, em São Paulo, com duas sessões malditas à meia noite na sexta e no sábado, além das apresentações normais às 21:00 horas de cada dia (de quarta a domingo) (aproximadamente de 5 a 6 mil pessoas durante a temporada), mais um show em Florianópolis (SC), e outro no Ginásio Gigantinho, do Clube Internacional, em Porto Alegre (RS), para um publico de 2.500 pessoas. A turnê encerrou com um show no Ginásio de Esportes do Colégio Mackenzie, em Belo Horizonte (MG), para mais 2.000 pessoas. 
Filipeta do show de Bill Haley em Curitiba na ilustração e na foto, Carlão à esquerda, o próprio mestre cinquentista, Bill Haley no centro, e o baterista Orlando, à direita

No mesmo ano, A Chave ainda voltou a tocar no Guairão abrindo o show internacional de rock de Bill Haley & His Comets, quando de sua passagem por Curitiba na sua turnê pelo Brasil. E, no final de outubro, abriu os dois shows da turnê “Entradas e Bandeiras” de Rita Lee & Tutti Frutti no Palácio de Cristal do Círculo Militar do Paraná, em Curitiba, com o ginásio totalmente lotado nas duas apresentações.

No verão de 1977, A Chave participou ao lado das principais bandas de rock do Brasil do Festival Camburock, no Balneário Camboriu, em Santa Catarina. Eduardo Araújo, após assistir a apresentação d’A Chave no festival veio falar conosco e perguntou se a banda já tinha gravado. Dissemos que não e então ele ofereceu graciosamente o seu estúdio Templo, em São Paulo, para A Chave gravar duas músicas num compacto simples, que ele mesmo iria produzir e viabilizar a edição. 
 
Aceitamos no ato e, em abril de 1977, fomos para São Paulo gravar as duas músicas, que teve a participação especial de Manito no sax e piano, e que tinha aceitado nosso convite e do Eduardo Araújo no próprio Festival Camburock, onde estava tocando com o Som Nosso. Em novembro daquele ano, no show de lançamento do compacto pelo selo GTA _ Gravações Tupi Associadas, com as músicas “Buraco no Coração” e “Me Provoque Pra Ver”, com letras de Paulo Leminski, no Palácio de Cristal do Círculo Militar do Paraná, Manito veio a Curitiba para se apresentar junto com A Chave no referido show. Momento inesquecível. (foto e selo do disco)

No período de abril de 1975 (estreia do novo equipamento e o primeiro show totalmente autoral) até final de 1978, A Chave tocou em várias cidades do interior do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul em shows contratados ou produzidos pela própria banda. Paralelamente, ainda abriu o show dos Mutantes da turnê do álbum “Tudo Foi Feito Pelo Sol”, no ginásio de esportes da Sociedade Thalia, em Curitiba; abriu também o show d’O Terço da turnê do álbum “Criaturas da Noite”, no Estádio Couto Pereira do Coritiba Futebol Clube, no auge do sucesso da música “Hey Amigo”.
Em Curitiba, ainda produziu no Palácio de Cristal do Círculo Militar do Paraná o evento “Maior Show de Rock do Ano”, ao lado das bandas Casa das Máquinas e Joelho de Porco, com abertura da banda local Blindagem. 
E, no final de 1978, estreou o seu novo show “Socorro! Socorro!”, numa temporada de cinco dias no TUC – Teatro Universitário de Curitiba, da Fundação Cultural de Curitiba. A ideia da banda ao escolher este espaço foi de criar um clima tipo “Cavern Club’ (The Beatles) ou “Marquee” (The Rolling Stones), já que o TUC é um mini auditório com apenas 150 lugares. Foi o show do ‘adeus’, mesmo sem seus membros saberem disso, pois em maio de 1979, apenas alguns meses depois, A Chave se dissolveu e o sonho acabou, deixando como legado todas as portas que abriu para o Rock em Curitiba e no estado do Paraná e, por extensão, em alguns nichos pelo Brasil, alicerçada na sua postura autêntica e inovadora, visceral e à frente do seu tempo. 
 
A confirmação disso é que, quase quarenta anos após o término da banda, A Chave continua até hoje sendo cultuada por uma legião de fãs de sua época e das novas gerações que descobriram o seu trabalho ao longo dos anos, além de ter também influenciado dezenas de novas bandas que surgiram motivadas pelo seu legado, principalmente, com o surgimento da Internet e dos sites especializados em música. 2004 – O Revival D’A Chave 25 Anos Depois De Sua Dissolução. 


Acima, o Link para assistir o vídeo "Carlão & Os Amigos do Blues", na Rede Social Facebook 

No dia 16 de julho de 2004, eu produzi um show intitulado “Carlão & Os Amigos do Blues” em comemoração ao aniversário de sete anos do programa “96 Radio Blues”, que eu produzia e apresentava semanalmente na FM 96 Rock & News. O evento foi realizado na casa de shows Via Rebouças com a participação de mais de mais de 30 músicos da cena rock & blues de Curitiba, mais a banda Bartenders, da qual sou o baixista e membro fundador, e um revival da banda A Chave, 25 anos depois de sua dissolução e com sua formação original. 

A participação d’A Chave no evento aconteceu em função de um fato curioso e inédito que descobrimos na época inicial em que eu estava começando a formatar e produzir o evento. O Ivo ganhou de presente do pessoal da loja de discos Vinyl Club um CD pirata d’A Chave com as gravações de um ensaio da banda no meu gravador Akai de rolo na mesa de mixagem Peavy que tínhamos, mais as duas músicas do compacto da GTA como bônus tracks. Ficamos alucinados com a descoberta desse CD, que não sabíamos que existia, e resolvemos piratear o disco pirata, com o mesmo encarte e embalagem externa, um envelope de papelão com uma chave grafitada. 

Em função disso, reeditamos o CD e seu lançamento foi o agente catalisador para o show revival d’A Chave na festa de aniversário do Rádio Blues que eu produzi. Acho que foi a primeira vez no Brasil que uma banda pirateou o seu próprio disco pirata, fato inédito em nosso mercado fonográfico. 

Esse show foi filmado e produzi e editei um DVD homônimo – “Carlão & Os Amigos do Blues”, com números musicais de todos os músicos e bandas participantes, que ainda não foi lançado, apesar de já ter publicado alguns vídeos extraídos do DVD na minha pagina do Facebook. O restante do material continua inédito.
Considerado o maior registro da banda, "De Ponto Cabeça", de 1977, só foi lançado muitos anos depois da sua dissolução. Ouça, acima.
A Chave ao Vivo - 1975, um Bootleg Live sensacional e que só veio à tona para os fãs da banda, também muitos anos depois do encerramento de suas atividades
 
Poucas semanas depois, A Chave voltou a se apresentar no bar "Era Só O que Faltava" junto com a banda Black Maria – na qual toca Gabriel Teixeira, filho do guitarrista Paulo Teixeira, d’A Chave. Essa foi a última apresentação em público da banda e também gerou o terceiro CD pirata d’A Chave, que só descobri que existia em novembro de 2015, onze anos depois do show, ao ganhar um de presente quando estava assistindo o show de 48 Anos da banda Made In Brazil, em São Paulo. O segundo CD pirata da banda – “A Chave Ao Vivo – 1975” (Bootleg) - eu descobri no You Tube, e contém a gravação de um show ao vivo que a banda realizou em Londrina, em 1975. 
 
Esse eu só tenho digitalizado, pois até hoje ainda não consegui adquirir o CD. Piratarias do rock’n’roll que abriram o baú das músicas d’A Chave para a comunidade rock da Internet. Como durante a sua atuação de 10 anos A Chave não conseguiu gravar um LP oficial, considero essas piratarias muito bem-vindas. Elas serviram para ampliar ainda mais a divulgação do nome e do trabalho d’A Chave, levando suas músicas a novas plateias e fronteiras. Como declarou Jimi Hendrix numa entrevista: - “A música é uma fita de aço que se projeta para o infinito”. Não fomos tão longe com A Chave, mas pelo menos agora, circulamos no ‘cosmo virtual’ (kakakaka).
O documentário: "Todo Roqueiro é Gente Fina", cuja audiência eu recomendo, porque narra a trajetória d'A Chave nos anos setenta
 
Dando uma última volta na fechadura, A Chave foi também protagonista no documentário “Todo Roqueiro é Gente Fina:
História da banda A Chave”, lançado no dia 6 de janeiro de 2015, com direção, produção e edição de Yuri Vasselai, também disponibilizado no You Tube.

Abaixo, Link da matéria do jornal "Gazeta do Povo", falando do documentário "Todo Roqueiro é Gente Fina", que conta a história da banda. 

http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/documentario-conta-a-historia-da-banda-a-chave-precursora-do-rock-curitibano-eiks8jqq5shwco4vf03lxrgwe

  13) Pode me contar um pouco sobre a parceria com o poeta Paulo Leminski?
A parceria d’A Chave com o poeta Paulo Leminski começou de forma ‘sue generis’. Uma noite, lá pelas três horas da madrugada, bateram na janela do quarto do Orlando Azevedo na Casa Branca. Ele levantou e foi ver quem tinha batido, e era um fotógrafo amigo nosso chamado Araton Maravalhas, acompanhado do Paulo Leminski, que queria conhecer a banda e a nossa casa. Eles entraram, descemos para o estúdio no porão e ficamos conversando até de manhã, ouvindo discos de rock num ambiente que ficou completamente enfumaçado (rs). 

Desse encontro nasceu uma amizade e o Paulo, sempre acompanhado da Alice Ruiz, sua mulher, e dos dois filhos pequenos – Miguel e Áurea – passou a frequentar à noite regularmente os ensaios d’A Chave, dando início ao processo de criação das músicas produzidas pela parceria.
Algumas noites ficavam só na curtição de som e muitas conversas, e nas de trabalho pelo menos nascia uma música nova por sessão e, às vezes, até mais de uma. 
 
Algumas músicas que foram compostas, principalmente as da primeira safra, acabaram sendo descartadas como balões de ensaio, quando novas músicas mais consistentes e elaboradas começaram a surgir no processo de composição: criação de música e letra ao mesmo tempo.
Parte desse material, produzido com o Leminski ainda na época da Casa Branca, foi incluído pela A Chave no repertório apresentado no seu show de estreia “De Ponta Cabeça”, em 1975. Das 14 músicas apresentadas no show, sete eram em parceria com o Paulo Leminski, cinco eram composições só d’A Chave (música e letra) e mais dois covers; “Jumpin’ Jack Flash’ dos Stones, e Johnny B. Good do Chuck Berry. Depois da estreia desse show passamos a ensaiar num depósito na firma do meu avô, que o Paulo Leminski também frequentava, mas mais esporadicamente. 

Nessa segunda fase, foram compostas as músicas “Antigamente”, “Vai à Luta” e “Sou Legal”, entre outras. Já no último show d’A Chave, “Socorro! Socorro!” (1978), das onze músicas do programa somente uma era em parceria com o Leminski: “Sou Legal”. As outras dez canções do show foram compostas só pelos membros da banda: música e letra. “Sou Legal” foi gravada três anos depois pela banda Blindagem em seu primeiro LP (1981), que já contava com Paulo Teixeira e Ivo Rodrigues, ex-integrantes d’A Chave em sua formação.

14) Tem lembranças dos shows que fizeram em 1976 no TUCA de SP?

A temporada d’A Chave & Made no Tuca, em São Paulo, no final de agosto de 1976, foi depois dos shows em Curitiba e Londrina. Eu o Orlando (baterista) fomos antes para Sampa e junto com o Oswaldo, fizemos a divulgação e produção dos shows, que teve uma boa receptividade junto à imprensa em São Paulo, com matérias nos principais jornais e em colunas de Música. Nós três fomos ainda até a produtora da TV Bandeirantes e firmamos uma parceria com a emissora. A TV veicularia 15 inserções de 30” por dia durante 10 dias divulgando a temporada dos shows e, em contrapartida, as duas bandas cederiam os direitos de imagem de um show, que a Band filmaria durante a temporada. 

A filmagem aconteceu no último dia (domingo) e a equipe de produção da TV criou um cenário com manequins espalhados e suspensos sobre o palco (sugestão minha e do Orlando) e reforçou a iluminação do show para a captação das imagens. A Band levou sua unidade móvel de TV (um caminhão com suíte, mesa de corte de imagem e efeitos, mesa de captação de som etc) e uma tremenda equipe técnica para o TUCA. 

Os shows d’A Chave e do Made foram filmados com quatro câmeras – uma no fundo do teatro (plano geral), duas nas laterais próximas ao palco e uma câmera móvel em cima do palco. Foi uma tremenda loucura, pois na época, acho que muitas poucas bandas – ou quase nenhuma – conseguiu mobilizar tremendo aparato para um show de rock, que não fosse realização da própria emissora. Durante os cinco dias dos shows (de quarta-feira a domingo, às 21:00 horas) + duas sessões malditas à meia noite de sexta e sábado (sete apresentações ao todo), com o teatro praticamente lotado quase todos os dias, o público foi à loucura e o rock rolou solto e forte durante toda a temporada. O Ezequiel Neves (Zeca Jagger) – que era o produtor do disco “Jack Estripador” e que se apresentava junto com o Made, fazendo ‘figuração de ‘backing vocals’ e dançando sem parar no palco com as garotas que também faziam vocais no Made - e na plateia durante os shows d’A Chave - convidou um monte de amigos e críticos de música para assistirem os shows. 

Passaram pelo teatro nomes como Ana Maria Bahiana, Tárik de Souza (Veja), Dinho Leme (baterista dos Mutantes e que tinha uma coluna acho que no Jornal da Tarde), Okky de Souza (Abril/POP), entre outros. E vários amigos músicos de outras bandas de rock de Sampa como Tutti-Frutti, Mistura Fina, Joelho de Porco, Sindicato, Som Nosso e o bluesman André Christovam, que fugiu de sua festa de aniversário para ir assistir os shows De A Chave & Made In Brazil. Bons tempos!

15) E no Teatro Bandeirantes em 77, no Festival "Balanço"?

Como já comentei numa resposta anterior, fomos convidados por Eduardo Araújo para gravarmos duas músicas no seu estúdio, em São Paulo. Saímos os quatro membros d’A Chave com seus instrumentos (guitarras, baixo, caixa da bateria, pedal e pratos) num sábado à noite num ônibus leito para Sampa, pois a gravação começaria entre 9 e 10 horas do domingo. Chegamos cedo na Estação da Luz, tomamos um café numa padaria no caminho e fomos caminhando para o estúdio, que não ficava longe, na Rua Aurora, bem no centro. 

De repente, passa por nós dois garotões e daí um deles pergunta: - “Vocês não são da banda A Chave?”. Nós quatro olhamos surpresos e respondemos: - “Somos sim. Mas como que vocês nos conhecem?”. E o que tinha feito a pergunta respondeu: - “Vocês estão aparecendo na TV, no comercial de divulgação do show do Balanço do Ano (1977), que vai acontecer no fim de semana que vem”. 

Daí rolou mais um papo e seguimos nosso caminho para o estúdio. Comentamos o assunto com o Eduardo e o Manito e acabamos caindo na risada. Acabamos a gravação e mixagem no domingo à noite, nos despedimos dos amigos e voltamos na mesma noite para Curitiba. 

Na segunda-feira, eu liguei para a produtora da TV Bandeirantes e também do show, em São Paulo, e questionei como eles estavam usando a imagem de nossa banda, se nem tínhamos sido convidados para tocar nos show. Então a pessoa que eu falei me informou que as imagens d’A Chave eram as do show que eles gravaram no TUCA no ano anterior (1976), em nossa temporada com o Made, e que tinham tentado entrar em contato conosco, mas que não conseguiram. 

Então eu fiz uma pressão em nossa conversa no telefone e, depois de alguns minutos de espera para consultas internas da pessoa que eu estava falando, acabamos sendo convidados para tocar no show. Eu acabei ganhando uma passagem aérea e fui para Sampa de manhã, um dia antes do show para acertar os detalhes, e os outros três membros seguiram na noite do mesmo dia de ônibus leito e chegaram na manhã do show.


Moral da história : novamente, num lance de sorte na teia do destino, A Chave estava no lugar certo e na hora certa (o encontro matinal e insólito com os dois rapazes num domingo de manhã cedo numa cidade estranha) e acabou participando do referido show, com um detalhe importante: em função do nome da banda, acertei com a produtora do show para A Chave abrir o show do Balanço do Ano de 1977 – ao lado de grandes nomes de bandas de rock e artistas do cenário nacional – tocando a música “De Ponta Cabeça”, cujo primeiro verso é: “Abre essa porta / Não me mande embora / Deixe A Chave entrar...”. E o público do show Balanço do Ano ‘balançou’ ao som do Rock d’A Chave. 

No dia seguinte, uma tremenda foto do Ivo Rodrigues (vocalista d’A Chave), com seu imenso cabelo, foi capa da Ilustrada, da Folha de São Paulo, cuja matéria sobre o show tinha o seguinte título: Cabeludos e rockeiros abrem o show Balanço do Ano no Teatro Bandeirantes.

É mole? (kakakakaka)

Nota do editor: Eu, Luiz Domingues estive nesse show do Festival Balanço, no Teatro Bandeirantes de São Paulo em 1977, e foi a primeira e única (infelizmente), vez que assisti A Chave ao vivo, quando fiquei muito impressionado com o seu trabalho e performance.

   16) Depois do final das atividades da A Chave no final da década de 1970, quais trabalhos desenvolveu antes de lançar o Bartenders?
Depois que A Chave foi dissolvida, em maio de 1979, fiquei uns três anos sem tocar. Em meados de 1982, eu e o guitarrista Gilan Campos montamos a banda A Pedra, com Negrinho na bateria e Alves nos vocais. 

Essa formação durou até a metade de 1983 e se dissolveu. Eu e o Gilan continuamos curtindo nossa amizade e algumas sessões musicais caseiras até montarmos a segunda formação d'A Pedra, com Edson Valle na bateria e Luiz Marcelo Bertoli de Mattos no vocal. 

Com esse novo quarteto, A Pedra compôs várias músicas – a maioria parceria minha com o Gilan – outras nós dois fizemos juntos com letras do nosso amigo jornalista, escritor e poeta Otávio Duarte e também incluímos algumas músicas do Luiz Marcelo no repertório da banda. 

A Pedra tocou em praticamente em todos os bares e casas de shows com música ao vivo de Curitiba, e produziu dois shows próprios no Teatro do Paiol e no Teatro Guairinha, Auditório Salvador de Ferrante, da Fundação Teatro Guaíra. E também apresentou-se no show “Dez Horas de Rock”, realizado no Centro de Convenções do Parque Barigui, junto com Lobão e Os Ronaldos, Rádio Taxi, Titãs, Léo Jaime, Eduardo Dussek e João Penca e Os Miquinhos Amestrados. Essa formação d’A Pedra durou até o final de 1986, quando foi dissolvida. Não existem registros gravados da banda. A fita da gravação ao vivo do show no Teatro Guairinha acabou se perdendo ou confiscada por alguém, e ninguém sabe que fim levou. Literalmente, uma pedrada na cara. (kakakaka)

    17) Fale sobre o trabalho do Bartenders.
A banda Bartenders surgiu por acaso em 1991, fruto da mais pura curtição por rock, num golpe certeiro do destino. Eu alugava fitas de vídeo numa locadora vizinha ao apartamento da minha mãe e um dia um rapaz veio falar comigo. Era o Ricardo Moura, que mais tarde virou o vocalista da banda, e que também fazia base num violão elétrico em nossa primeira formação. Ele me contou que fazia um som com um baterista no sótão da firma de seu irmão mais velho e perguntou se eu não queria aparecer para tocar baixo com eles. 

Eu falei para ele que não tinha mais equipamento – fazia cinco anos que eu não tocava com ninguém – e que só tinha o meu baixo da época d’A Chave, meu Fender Precision Bass 1974. Daí ele me disse que tinha uma aparelhagem no local, inclusive um amplificador Palmer valvulado para baixo. 

Eu disse a ele que iria pensar e umas três semanas depois marcamos nossa primeira sessão num sábado à tarde. O Ricardo tinha uma guitarra com micro afinação e o dispositivo de uma das cordas estava quebrado e ficou fora do padrão de um afinador eletrônico, e um violão Yamaha. 

Eu tinha um captador Dean Markley para guitarra acústica removível e, como ele não solava, disse para ele fazer base no violão com o captador, que o som ficaria mais legal. A partir daí nós três nos reuníamos todos os sábados e domingos à tarde e ficávamos tocando e tirando músicas que eu sugeria (covers de blues e rock) e algumas músicas minhas da época d”A Chave e da Pedra, somente pelo prazer de tocar e por pura curtição, sem nenhuma outra intenção.

Depois de uns três ou quatro meses neste processo, uma noite eu e o Ricardo fomos assistir um show internacional de blues no Aeroanta de Curitiba, e encontramos o guitarrista Julio Afara (que virou a guitarra solo dos Bartenders alguns dias depois), que tocava numa banda chamada Heresia. Eu conhecia o Julio de vista, pois gostava de assistir a banda dele nos bares, principalmente, porque tocava um monte de músicas dos Stones no repertório e rocks clássicos.

Começamos a conversar e eu perguntei ao Julio se ele estava tocando em alguma banda. Ele disse que não, pois o Heresia também tinha acabado e que ele só tocava sozinho em casa com sua Fender Stratocaster e um amplificador combo Marshall. Daí eu contei a ele que estava tocando nos fins de semana com o Ricardo e um baterista e perguntei se ele não estava a fim aparecer sem compromisso e tocar só por diversão num fim de semana com nós três. 

Ele me olhou e disse: -“Eu vou só se a música “Slow Down Linda’, gravada pelo Eric Clapton no álbum “Money And Cigarettes” estiver no repertório”. Eu e o Ricardo caímos na gargalhada e ele ficou nos olhando sem entender nada. 

Quando recuperamos o fôlego, eu disse que a música já estava no repertório e ensaiada, assim como mais duas músicas do mesmo disco. No fim de semana seguinte o Julio apareceu com seu equipamento e começamos a mostrar a ele as músicas que nós já tínhamos tirado, enquanto ele já ia ensaiando conosco. 

Moral da história: no final do primeiro ensaio, com a sintonia musical e roqueira que eu e o Julio criamos, alicerçada nas nossas experiências pessoais anteriores, parecia que o quarteto já tocava junto há muito tempo. 

Parecia a história dos três mosqueteiros quando encontraram o D’Artagnan: um por todos e todos por um e os ensaios dos fins de semana eram agora com um quarteto e o repertório aumentou rapidamente com algumas músicas de autoria do Julio e outros covers que ele já tocava. O embrião inicial ganhou corpo, peso e força e estava querendo sair da casca e dar seu grito primal: Rock’n’Roll!!!

Por ironia do destino, uns dois meses depois nós quatro – Ricardo, Carlão, Julio e o Ewerson (baterista) – fomos juntos num sábado assistir a banda Relespublica no Bar El Potato, que era um dos bares de rock mais agitados da cidade.  No intervalo do set, o nosso amigo e guitarrista do Reles, Fabio Elias, nos convidou para dar uma canja com o equipamento  deles. Subimos os quatro no palco e tocamos duas músicas nossas e covers do Stevie Ray Vaughan, Clapton, Dire Straits e Stones. 

A moçada presente no bar foi à loucura e, quando acabamos de tocar e descemos do palco, o Júnior, dono do El Potato, veio conversar conosco e perguntou se gostaríamos de tocar no bar no próximo sábado. Eu disse a ele que a gente estava tocando junto por curtição e que a nossa banda nem tinha nome, além de que nosso repertório com apenas umas 20 músicas não daria para tocar a noite inteira pois, normalmente, as bandas que tocavam lá faziam no mínimo três sets. O agito começava pela meia noite e ia até às cinco ou seis da manhã. 

Daí o Júnior disse – escolham um nome para a banda e me liguem no início da semana dizendo qual é para eu colocar nos folhetos e cartazes de divulgação do fim de semana que vem. E quanto ao repertório, não se preocupem. Quando ele acabar, comecem tudo de novo, pois a moçada adorou o som de vocês. No domingo à tarde, quando fomos ensaiar, me lembrei do título de uma das músicas do bluesman Floyd Dixon, chamada “Hey Bartender” e, como iríamos estrear a banda num bar, propus o nome Bartenders para os demais membros e ele foi aceito e aprovado no ato. 

Esse nosso primeiro show público e com a banda já com nome foi no dia 19 de novembro de 1991. Um mês depois, fomos convidados para tocar na festa Vila Rock de Natal, no Aeroanta Curitiba, que era a festa mais badalada e ‘cult’ da cidade naquela data festiva. Começava à uma hora da madrugada e terminava às 6:00 horas da manhã. Parecia que tínhamos batido a cara na porta do Paraíso. 

Com apenas um mês de vida, depois de sua estreia oficial no El Potato em novembro, os Bartenders passaram a ser conhecidos e respeitados na cena rock curitibana da noite para o dia e começaram a tocar sem parar por todos os bares da cidade. E ainda voltaram a tocar na mesma festa de natal do Aeroanta nos três anos seguintes.
Em fevereiro de 1994, os Bartenders foram convidados pelo bluesman André Christovam, meu amigo pessoal, para participar de seu projeto de blues no Centro Cultural São Paulo, num show num sábado à tarde, e ainda acertou para a banda um  show à noite no Bar Blue Note, badalada casa de blues em São Paulo na época. 

No show do Blue Note, o próprio André Christovam e o guitarrista Luiz Carlini, do Tutti Frutti, outro amigo pessoal de longa data, tocaram algumas músicas com a banda, animando ainda mais nossa apresentação para o público presente. Foi o nosso primeiro ataque na cena rock & blues da Pauliceia. 

Em maio do mesmo ano, o Luiz Carlini veio a Curitiba para dar um workshop na Feira de Música, realizada no Pavilhão da Fábrica, anexo ao Instituto Goethe. Ele me ligou uns dias antes da abertura da feira e convidou os Bartenders para tocar com ele no evento, já que não estava a fim de ficar falando para o público sentado num banquinho e com a guitarra no colo. 

Fizemos o show que foi muito legal e, na última música, João Barone, baterista dos Paralamas tocou conosco. Grand finale. Na mesma noite, após o show o Carlini me perguntou se estava na fim de levar a banda a sério. Eu disse que sim e então ele convidou-se para se juntar aos Bartenders e disse que iria trazer um baterista com ele, que era o Franklin Paolillo. 

Só que com essa novidade, teríamos que dispensar nosso primeiro baterista que estava na banda desde o começo. 

Conversei com o Julio e o Ricardo e eles também toparam. 

Daí tivemos uma conversa franca e aberta com o Ewerson, e ele entendeu a situação e aceitou sair da banda sem rancor e nem nenhuma mágoa, tanto que continuamos amigos até hoje. 

Com isso nasceu a segunda formação dos Bartenders: Ricardo Moura (vocal principal), Julio Afara (guitarra solo e base e backing vocals), Luiz Carlini (guitarra solo e base, ‘lap steel guitar’ e backing vocals), Carlão Gaertner (baixo) e Franklin Paolillo (bateria).

Com essa formação de quinteto, os Bartenders realizaram dezenas de shows, e inclusive mais um show na festa de natal do Aeroanta.  

O próximo passo foi gravar o primeiro CD da banda, cujas gravações e produção aconteceram de 1995 a 1997, em várias sessões no estúdio, sempre que o Carlini tinha disponibilidade para vir e ficar alguns dias de cada vez em Curitiba.
Roberto Frejat, do Barão Vermelho, a gravar participação no álbum de estreia do Bartenders

O disco teve a participação de alguns convidados especiais, depois da banda ter gravado as bases de todas as músicas. Roberto Frejat, do Barão Vermelho, tocou guitarra e fez o solo da música que abre o CD: “Perdido na Noite”; André Christovam fez guitarra acústica e vocal principal no refrão de blues do rock “Johnny Atmosfera II” e solo de ‘slide guitar’ na música “Champagne”; Carlos Alberto Calazans, tecladista do Camisa de Vênus na época, tocou órgão em “Johnny Atmosfera II“ e “Perdido na Noite” e piano em “Aquela Gata”; Ivo Rodrigues, ex-vocalista d’A Chave, fez o vocal em “Meu Ofício É O Rock’n’Roll”, música d”A Chave, gravada pelos Bartenders com um arranjo da banda, diferente do original, Benê Júnior, da banda curitibana de blues Mister Jack tocou harmônica em “So Long Baby Bye Bye” e o saxofonista Paulo Branco, de Curitiba, tocou sax na faixa-título do CD, intitulada “Black Whiskey & Full Moon”; fechando a lista dos convidados, Helena  Theodorellos fez ‘backing vocals’ em duas músicas.
O show de lançamento do CD “Black Whiskey & Full Moon” foi realizado no final de dezembro de 1997 na área central da Praça de Alimentação do recém inaugurado Shopping Estação, com a presença da maioria dos convidados que participaram do disco: André Christovam, Ivo Rodrigues, Benê Júnior, Paulo Branco e Helena Thedorellos. 
 
Alguns meses depois do show de lançamento, a segunda formação dos Bartenders acabou e Luiz Carlini e o Franklin Paolillo deixaram de tocar com o grupo.
Da metade de 1998 até dezembro de 1999, os Bartenders continuaram tocando em Curitiba com vários bateristas convidados. Até que finalmente, em dezembro de 1999, no final do primeiro ensaio com o grupo, o baterista Carlos Almeida assumiu como titular a bateria da banda e começava assim a terceira e definitiva formação dos Bartenders, agora como um quarteto.
Com essa formação a banda participou do CD da coletânea “Geração Pedreira Rock”, com a participação de cinco bandas paranaenses (de Curitiba e interior do Paraná), com três músicas de cada banda. Na coletânea os Bartenders gravaram novamente “Meu Ofício É O Rock’n’Roll, com um novo arranjo mais acelerado e pesado; e duas músicas inéditas: “Quero Ser Um Bartender”, que virou o hino oficial da banda; e “Outro Cara”, com música e letra de Ricardo Moura. Para 2016, depois de uma pausa de três anos, os Bartenders pretendem fazer um revival da banda em Curitiba, e gravar a nata de seu repertório num show ao vivo (vídeo e áudio) em teatro, para ser lançado posteriormente em DVD. 
 
A partir dos projetos que pretendemos realizar em 2016, tocando muito ou pouco, a filosofia e postura dos quatro membros da banda é comum a todos: - “Sempre tem hora e lugar para mais uma dose. Afinal... Nós somos os Bartenders!!!”

)18) Conte-me sobre outros trabalhos realizados, gravações, bandas paralelas, projetos e produção musical de outros artistas com os quais se envolveu até os dias atuais.
Eu tenho uma postura meio parecida com a do Keith Richards, ou seja, sou sempre fiel à banda em que estou tocando no momento ao longo dos anos. Por isso, não realizei muitos trabalhos de gravação com outros grupos, aliás, foram bem poucos. Participei como convidado tocando baixo na música “Maila”, do CD solo de Ricardo Moura, vocalista dos Bartenders, intitulado “Ar” e lançado recentemente. 

Esporadicamente, toquei baixo como convidado em alguns shows de bandas de amigos. Dentre elas, fiz um show – Tributo Aos Rolling Stones - com a banda Blindagem no Aeroanta de Curitiba; em dois shows da banda de blues Mister Jack e, no final do ano passado, com a banda Carne de Onça, no Bar Harvest Folk.
 
Durante a existência dos Bartenders, só tive uma experiência com uma banda paralela, um power trio chamado Tequila Y Los Nachos, que tinha em sua formação eu no baixo e backing vocals, Carlos Almeida na bateria e backing vocals e Julio Afara, na guitarra e vocal principal. Ou seja, três integrantes dos Bartenders que realizaram um único show relâmpago no Pub John Bull, sem a participação do vocalista Ricardo Moura. 
 
Assim como o super grupo The Dirty Mac, formado por John Lennon para tocar no Rock And Roll Circus dos Rolling Stones, em 1968, com Eric Clapton na guitarra solo, Mitch Mitchell na bateria e Keith Richards no baixo, Tequila Y Los Nachos também fez somente uma única apresentação em toda a sua existência, que durou apenas uma noite. Partículas cósmicas do rock que surgem inesperadamente com muita energia e com vida curtíssima. Brilham intensamente durante um curto período de tempo e se consomem, desaparecendo para sempre num raio de luz. 

E também participei de uma parceria virtual num projeto do músico Zé Brasil, da banda Apokalypsis, com a participação do guitarrista Daniel Cardona Romani, da banda Módulo Mil, e Fernando Bustamente, nos teclados e orquestração, ex-membro da banda Zero. Gravei baixo em duas músicas, Nave Errante e Passarinho Rock’n’Roll aqui em Curitiba, em cima das bases que o Zé Brasil me enviou. O Daniel fez a mesma coisa no Rio de Janeiro gravando a guitarra e os violões. Enviamos os takes para o Zé em São Paulo, que editou e mixou nossas participações e a do Fernando, junto com Renato Coppoli, no estúdio Audio Freaks. 

Duas músicas gravadas com recursos virtuais do mundo digital, sem que os músicos participantes se encontrassem pessoalmente em nenhum momento durante as fases do projeto. Foi uma experiência nova e também inovadora e singular, com um resultado muito legal e positivo.
"Blues no País do Samba", show de André Christovam e amigos, onde o Carlão Gaertner participou como convidado de honra
 
Fora das bandas em que toquei e as outras que já foram citadas por mim nesta entrevista, talvez o nicho musical do qual eu mais participei, e sempre como convidado, foi tocando em ‘jam sessions’ em shows de bandas de músicos amigos e/ou conhecidos. Toquei “Satisfaction”, dos Stones, no encerramento de um show do Barão Vermelho, em Curitiba, que durou mais de 10 minutos de apresentação; toquei várias vezes com o André Christovam Trio; em dois show do Marcelo Nova & Camisa de Vênus, e num show duo do Marcelo Nova com o Johnny Boy, que estava tocando baixo e que, quando eu entrei no baixo, ligou uma segunda guitarra e nós três fizemos um puta som, mesmo sem baterista; também já subi no palco várias vezes com meus amigos e parceiros da banda Made in Brazil, com a banda de blues carioca Big Allanbik; em várias ‘jams’ com meu grande amigo, o guitarrista Celso Blues Boy; participei também do projeto do André Christovam intitulado “Blues no País do Samba”, apresentado no SESC Pinheiros, em São Paulo, com a participação de vários músicos de blues de diversas regiões do Brasil, e que foi filmado e mais tarde exibido pela TV Cultura, e que após a edição virou um DVD duplo; também toquei uma música no encerramento do show de Flávio Guimarães (do Blues Etílicos) & Mister Jack, no Festival Jazz & Blues – Improviso; e em agosto do ano passado, como convidado do meu parceiro Luiz Carlini, toquei baixo no “Rock das Aranhas”, no show do Baú do Raul, realizado aqui em Curitiba com vários músicos e bandas do cenário do rock nacional.
O lado produtor de shows do Carlão, é muito prolífico também. Nas fotos acima, com várias feras da música internacional e claro que todos são importantes, mas salta aos olhos a elegante figura de Mr. Charlie Watts... 

Como produtor artístico de shows trabalhei com a FM Estação Primeira Rádio Rock, nos anos 80, e com a FM 96 Rock & News nos anos 90 na produção de shows das bandas Jethro Tull, Deep Purple, em dois shows da Ian Gilan Band (vocalista do Deep Purple), do grupo Asia, com Carl Palmer, do Emerson, Lake And Palmer, na bateria, do show da banda de jazz Charlie Watts Orchestra, liderada pelo baterista dos Stones; e do 1º Festival Internacional de Reggae de Curitiba, realizado na Pedreira Paulo Leminski, com cinco bandas de reggae: The Wailers, Black Uruh e Ziggy Marley, entre outras. Do cenário nacional, trabalhei na produção de shows em Curitiba de artistas como Gilberto Gil, Elis Regina, Fafá de Belém, Roberto Carlos e numa das edições do extinto Projeto Pixinguinha, entre outros.

  18) Conte-me sobre a sua atuação como radialista, jornalista, agitador cultural etc.

Depois que me formei em Jornalismo em 1985, pela Universidade Federal do Paraná, comecei a escrever sobre Rock e Blues, como colaborador numa coluna no Jornal Correio de Notícias. Em pouco tempo meu espaço editorial foi aumentando gradativamente até praticamente virar o editor de Música do caderno cultural Espaço 2, que era publicado às sextas-feiras, quase sempre com matérias de capa de caderno e de página inteira. Essa parceria durou sete anos, até que o jornal fechou.
Como radialista, fui produtor e apresentador do programa 96 Radio Blues, na FM 96 Rock & News, durante 12 anos, de 1997 a 2009, com uma edição semanal com uma hora de duração, e sem falhar nenhuma edição nos doze anos em que o programa foi veiculado. Depois do Radio Blues, também participei como comentarista de Música do programa Light News, veiculado na Transamérica Light, e que era apresentado pela minha amiga Maria Rafart. O programa continua no ar, mas não tenho mais participado nos últimos dois anos.

E como agitador cultural, fui coordenador geral durante três anos (2005 a 2007) da Oficina de Blues de Curitiba, um dos módulos da famosa Oficina Internacional de Música de Curitiba, realização da Fundação Cultural de Curitiba que já dura mais de 30 anos.

  19) Quais são as suas novidades no presente e os planos para o futuro?
Estou torcendo muito pelo retorno à ativa de nossa banda Bartenders e que possamos realizar os projetos que citei numa das perguntas anteriores: inicialmente, voltar a tocar em Curitiba, compor algumas músicas novas no processo de criação coletiva, produzir um novo show em teatro, que será o conteúdo do DVD que também pretendemos lançar com os Bartenders tocando ao vivo e interagindo com seu público, que é o forte e uma das principais características da banda em ação. 

Muita energia vibrando no ar e no palco e o rock e o blues pulsando com toda a intensidade do palco para a plateia. 

Espero que dê tudo certo e que o feeling coletivo da banda, contido e envelhecido nos últimos três anos e pouco que ficamos praticamente sem tocar ao vivo, brote de novo com toda a força, energia e personalidade que sempre tivemos em todas as nossas apresentações nos últimos 25 anos de existência, descontando é claro os últimos anos em que estivemos parados no estaleiro.

) 20) A pensar exclusivamente sobre o baixo, fale-me de suas principais influências, ao citar alguns baixistas que admira.
Já citei alguns no início dessa entrevista como Bill Wyman, Paul McCartney. John Entwistle, e os dois baixistas da fase inicial do Steppenwolf; admiro muito o Jack Bruce, e também Noel Redding, John Paul Jones e Jack Casady, do Jefferson Airplane, entre outros. E tem ainda Tommy Shannon, do Double Trouble (SRV), e Dusty Hill, do ZZ Top. Na cena bluesy clássica, o mestre Willie Dixon é imbatível; e, no cenário do blues/rock mais contemporâneo, o baixista James B. Gayden, que tocou com Albert Collins e John Lee Hooker, entre outras estrelas do blues.
  
21) Sobre o seu jeito de tocar/estilo, como você define a sua escolha de instrumentos/equipamentos e timbre?
Eu me considero um baixista básico de rock, quase que inteiramente autodidata, e que tem também uma queda e grande paixão pelo Blues. Não tenho uma técnica muito apurada e, ao longo do tempo, desenvolvi um estilo bem pessoal de tocar, procurando linhas de baixo simplificadas e com poucas notas, mas com muito efeito sonoro e rítmico.

Procuro sempre tocar buscando o que funciona melhor para o resultado final de cada uma das músicas da banda, e não unicamente para o meu prazer pessoal como músico. 

O prazer é inerente e vem do próprio ato de tocar com seu instrumento preferido e de estar fazendo com ele uma coisa que você ama e que tem um significado importante na sua vida. Acho que a principal característica do meu estilo pessoal de tocar está na pegada e punch da minha mão direita e de ter sempre tocado só com paleta, e nunca com os dedos. 
 
É a batida da mão direita nos cordas com a intensidade certa que gera o swing e o groove do som do baixo, mais do que o dedilhado nas cordas com os dedos da mão esquerda. 
 
E quando eu consigo casar perfeitamente a interação das duas mãos na mesma direção, o som e o ritmo gerados pela batida do baixo mostra com precisão qual o verdadeiro papel e função que este instrumento tem no resultado da execução musical da banda e de sua relação íntima com os outros instrumentos utilizados pelos demais músicos de sua formação.
Em relação ao timbre que eu gosto e que tiro do baixo ligado ao amplificador – meu amplificador é um Marshall Mark II Bass de 100 Watts, fabricado em 1976 e totalmente valvulado  - é sempre o mais grave possível em termos de equalização, mas sempre procurando que as notas e linhas de baixo não soem emboladas e sem definição. 
 
Já tenho há muito tempo na cabeça a equalização básica que sempre uso nos comandos de volume, graves, médios e agudos e, dependendo das características físicas e acústicas de cada um dos lugares onde a banda toca, somente faço alguns ajustes de sintonia fina nesses comandos durante a passagem de som, quando acho que são necessários, sempre guiado pelo meu feeling e instinto pessoal que fui desenvolvendo e aprimorando ao longo dos anos como baixista. 
 
A regra número um é sempre acreditar naquilo que você gosta e sente e procurar levar sempre essa sensação íntima, pessoal e prazerosa para o palco e para a sua música. Daí, não tem erro e é um tiro certeiro na mosca, pois a verdade sempre prevalece e cria empatia na relação e no processo de comunicação entre a banda e o público durante suas apresentações. É nisso que eu acredito como músico, como baixista e como pessoa: ser sempre verdadeiro..

22) Fale-me sobre os baixos que mais gosta de usar, ao citar marcas e modelos, e explique-me por que os prefere.
Depois que eu comprei o meu primeiro baixo na metade dos anos 60, um Gianinni modelo Gemini, um novo ‘upgrade’ no meu instrumento só aconteceu no início de 1975, quando finalmente adquiri o meu Fender Precision Bass 1974, naquele pacotão comprado pela A Chave que já comentei, que sempre foi o baixo dos meus sonhos, mesmo sem nunca ter tocado com um deles antes da compra. Puro feeling. Depois que comecei a tocar com o Precision, constatei que o feeling que eu tinha em relação a esse modelo de baixo foi tão ‘preciso e precioso’ quanto ele. Amor e paixão desenfreada à primeira nota. 

No decorrer da minha carreira como baixista, já na fase dos Bartenders, cheguei a ter três baixos Precision. O primeiro que eu tocava na época d’A Chave; o segundo foi um modelo mais moderno do Fender Precision Bass, com captadores Lace Sensor e ponte com micro afinação, que comprei em 1994 naquela Feira de Música, onde os Bartenders tocaram com o Luiz Carlini; e o meu baixo atual, o Fender Precision Bass 1966, que este ano completou 50 anos de sua fabricação e que adquiri em 1995. 
 
Depois que comecei a tocar com o 66, os outros dois baixos ficaram encostados e sem uso no meu apartamento, pois o som deste baixo ‘vintage’ é imbatível e o instrumento como um todo é super confortável de se tocar, mesmo tendo um certo peso. E, apesar da sua idade já meio avançada, tudo continua perfeito como de fábrica e nunca deu nenhum problema, nem mecânico e nem elétrico.
Fazendo uma analogia, é como se ele fosse um Cadillac Continental : forte, robusto, potente e sempre funcionado perfeitamente, sem nenhum tipo de pane, por menor que seja. Adoro meu baixo. Um parceiro de primeira linha, com muitas qualidades singulares e diferenciadas e que nunca me cobra nada nem me deixa na mão. Só me dá prazer e alegria, na medida justa de sua precisão como instrumento musical. Aliás, seu nome já diz tudo, assim como a sua marca registrada e consagrada: Fender + Precision + Bass. Grave e ponto final.
 
Ocasionalmente, já toquei com baixos Rickenbacker, Music Man, Gibson Victory, Hofner e Fender Jazz Bass, entre outros. Mas, para o meu modo de tocar e do timbre grave e pesado que eu gosto, nenhum deles se compara ao Precision, pela sua simplicidade. Ele tem apenas dois botões de comando – volume e o de grave (totalmente girado para  trás) e agudo (totalmente para frente); uma ponte de suporte de cordas simples e de fácil regulagem; seu braço tem escala longa e a largura do espelho frontal é ideal (onde estão instalados os trastes), com um bom espaçamento entre as cordas, adequado ao meu estilo, já que só toco com paleta; e tarraxas resistentes, que mantém por longo tempo a afinação das cordas, mesmo quando você toca descendo o cacete e por muito tempo seguido; e o timbre sonoro dos captadores é matador, principalmente, em relação aos graves e o peso do som gerado por eles. 
 
Sem contar que, esteticamente, é um baixo super bonito, com um tremendo visual e presença em palco. Parodiando aquele monstrinho do filme “O Senhor dos Anéis”, eu também digo: “My Precious” (rs). 

23) Fora do espectro do Rock/Blues, gosta de outras vertentes musicais? E no caso afirmativo, quais?
Além do Rock e do Blues, que são os dois fiéis da minha balança, dos outros gêneros e vertentes musicais eu gosto de algumas coisas pontuais e específicas. 
 
No Jazz não tem como não admirar Miles Davis, Charlie ‘Bird’ Parker, John Coltrane, Jaco Pastorius, Bill Evans e Charlie MIngus, entre outros. Gosto de algumas bandas de country rock e adoro algumas bandas e artistas de rockabilly, uma vertente bem específica do rock como Stray Cats, Carl Perkins, Roy Orbinson etc. 
 
E, naturalmente, em momentos especiais, curto música clássica e seus principais compositores. E também, esporadicamente, algum tipo de música excêntrica produzida nos cantos mais remotos de vários países e continentes deste nosso Planeta Azul. 
 
E para finalizar, qualquer alien que veja o nosso planeta suspenso no espaço sideral, com certeza vai pensar ou dizer: -“Ali tem Blues. E, naturalmente, também seu filho chamado Rock And Roll”, como colocou muito bem o mestre Muddy Waters no título de uma de suas famosas canções: -“The Blues Had A Baby And They Named It Rock And Roll”.
Trabalhei também três dias na produção local do primeiro show do Paul McCartney na Pedreira Paulo Leminski, substituindo meu amigo Gabi que ficou doente nos dias que antecediam a estreia do show. Acertei com a Ana Amelia, Editora do Caderno G (Cultura) da Gazeta do Povo, principal jornal de Curitiba, a edição de um caderno especial com oito páginas sobre os Beatles e a carreira solo do Paul, e eu escrevi a matéria principal com página dupla no meio do caderno. 

Mostrei o artigo para o o Paulo Rosa, que era o produtor geral no Brasil, e ele me falou: "vamos entregar para o Paul quando ele chegar.". Fiz uma dedicatória em inglês, de um baixista para outro e não deu outra. Quando ele desceu pelo elevador no fundo do palco do estacionamento superior até a área interna da pedreira, eu e o Paulo ficamos aguardando ele na entrada da escada que levava aos camarins no subsolo, debaixo do palco. Ele já conhecia o Paul dos outros shows já realizados e o Paul chegou todo sorridente cumprimentando o Paulo, e então ele me apresentou para o Maka. 

Disse que eu também era músico, baixista e jornalista, e que tinha sido o autor da edição daquele caderno especial e da matéria principal da publicação. O Paul leu a dedicatória, abriu o jornal na página central e deu um puta sorriso. Voltou a me olhar, me estendeu a mão novamente e agradeceu, dizendo que o visual estava muito legal, apesar de não entender o que estava escrito assim de cara, mas que iria olhar com mais atenção. Daí começou a descer a escada, olhou para trás, fez o sinal de positivo e disse, obrigado, obrigado. 

Moral da história: andei de carro um um Rolling Stone, conheci pessoalmente um Beatle e apertei duas vezes a sua mão, num espaço de dois a três minutos, que também ficaram eternizados na memória e na minha vida musical. Pena que não foi documentado, pois na época (1993) não tinha celular e durante a montagem não permitiam ninguém estranho de fora, muito menos fotógrafos. Foi realmente "A Fabulous Day In The Life" (kakaka)...

Abraços!!

Perdidos na Noite - Bartenders
https://www.youtube.com/watch?v=bvozgtwk5L8
 
Abaixo, mais material da carreira do grande Carlão Gaertner:

Meu Ofício é o Rock’n Roll:

Carlão e os Amigos do Blues:

Meu Ofício é o Rock’n Roll:
https://www.facebook.com/carlosaugusto.gaertner/videos/vb.1675231584/4072802593159/?type=3&theater  

Nota do editor: todas as fotos usadas nesta entrevista foram fornecidas pelo próprio Carlos Gaertner, a quem eu agradeço também por sua gentileza imensa em ceder-me tal vasto material.