Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 223 - Por Luiz Domingues
Abordo neste instante alguns fatos sem uma cronologia precisa, por que são lembranças díspares entre si, embora oriundas de uma mesma fonte : o fato do novo álbum ter sido lançado em 45 rotações por minuto (rpm). Esses três casos que contarei, aconteceram no segundo semestre de 1985, após o lançamento do disco, naturalmente, pois as confusões são inerentes à questão gerada pela rotação alternativa do vinil.
Nos primórdios da indústria fonográfica, a rotação dos primeiros discos de vinil, fora a clássica : 78 rpm.
Somente nos anos cinquenta, surgiu uma nova tecnologia que trouxe o LP (Long Player), um disco com maior capacidade de armazenamento de músicas, e a rotação adequada para executá-lo, passou a ser observada na rotação em 33 & 1/3. Mas havia também discos lançados em 45 rpm, geralmente compactos simples e duplos. Eu não saberia determinar exatamente quando surgiram os discos adequados para 45 rpm, mas no meio dos anos 1980, tornou-se uma espécie de moda, principalmente na Inglaterra, que bandas tanto do nicho do Heavy-Metal, quanto da turma do Pós-Punk, lançassem entre um LP e outro, um EP, ou seja, um trabalho em 45 rpm, como uma opção intermediária entre o compacto simples, que geralmente trazia o grande hit do LP, e uma música obscura no lado B (geralmente não inclusa no LP, para forçar o fã a comprar o compacto, também), e o LP normal a seguir.
Essa matéria acima, saiu em junho de 1985, na Revista Bizz, a enfocar a Baratos Afins, não como loja, mas como micro gravadora que apesar de estar lançando tantos artistas, tinha suas dificuldades financeiras, também. Na foto extraída diretamente na famosa Galeria do Rock, onde a Baratos Afins foi a pioneira loja de discos ali a instalar-se. Da esquerda para a direita, Serginho Santana (Patrulha do Espaço); Robson (Performances); Hélcio Aguirra (Golpe de Estado); Luiz Calanca e eu, Luiz Domingues (A Chave do Sol), com a mão no queixo e assinalado por uma marca de caneta esferográfica.
Então, antenado sempre nas novidades europeias, o Calanca quis lançar alguns discos das bandas de seu elenco, nesse formato. Os seus argumentos principais foram :
1) A tendência "moderna", e;
2) O fato do sulco ser mais largo, ao aumentar a qualidade do áudio da bolacha de vinil.
Contudo, claro que houve um terceiro elemento além, que foi o fato do álbum ficar mais barato, pois se continha menos músicas, portanto minimizava o custo do artista em estúdio, ao gravar-se menos músicas.
Postas essas explanações, vamos aos casos propriamente ditos :
1) Certa vez, eu estava na loja Baratos Afins, a visar falar com o
Calanca, quando finalmente ele veio atender-me. Para quem conhece o Luiz Calanca, e a movimentação na sua loja, sabe bem que é mais fácil marcar uma audiência com o Papa, ou o presidente dos Estados Unidos, do que falar com calma com ele, Calanca. Não que ele seja uma pessoa difícil por questão de temperamento, muito pelo contrário, pois é um rapaz simples; solícito; brincalhão e sempre a manter o seu bom humor. O problema, é que não param em abordá-lo, o tempo todo. É assim desde que o conheci, em 1983, até os dias atuais. Então, em um raro momento em que ele chamou-me para conversarmos, um funcionário interrompeu-nos poucos segundos depois, ao dizer-nos ser um interurbano da parte de um cliente de Cachoeiro do Itapemirim / ES, que estava a desejar fazer uma troca. Inevitavelmente, ouvi-o a falar ao telefone. Calanca dizia que o disco estava perfeito e não estava a entender a reclamação do rapaz. Ele respondia os questionamento do cliente ao proferir frases como :
-"Como assim, parece que o vocalista está bêbado" ?
-"Disco estragado" ?
Foi quando o Calanca retrucou-lhe :
-"Amigo, em qual rotação o disco está a ser tocado na sua pick-up" ?
Aquela frase gelou-me a espinha, pois eu temi pela resposta que o cliente forneceria. Quando desligou enfim o telefone, Calanca disse-me que enquanto falava com o cliente, ouvia ao fundo, "Anjo Rebelde", ao ser tocada em rotação 33 &1/3 e dessa forma, é claro que a banda soava como um pastiche em fase de derretimento...
Aconselhado para mudar a rotação no pick-up, o cliente verificou enfim, que em 45 rpm, a música era executada em sua normalidade...
2) Mais ou menos nessa mesma época, eu estava em minha residência em um domingo a tarde, a ler o jornal e descansar, quando resolvi ligar o rádio. Eu sabia que o nosso disco estava com a execução de duas músicas, "Anjo Rebelde" e "Um Minuto Além", na programação da 89 FM, e dessa forma, arrisquei ouvir um pouco da programação para ver se teria a sorte em escutar uma das duas. Devia ser 15:00 horas, mais ou menos, e após uma overdose de bandas Techno-Pop oitentistas, eu ouvi a introdução de "Anjo Rebelde", mas claramente na rotação errada, sob a rotação em 33 & 1/3. A música arrastava-se e o riff primordial soava medonho, como se o baixo e a guitarra estivessem com as cordas frouxas, muito longe da altura correta de sua afinação. Quando a voz do Fran Alves entrou, piorou muito, pois parecia um fantasma ébrio, a cantar uma ária de ópera no tobogã de uma piscina...
Aquilo deu-me desespero, pois foi vergonhoso para a banda, ter uma execução radiofônica nessas circunstâncias adversas ! Então, subitamente, a música foi tirada do ar, mas de uma maneira brusca, a denotar que algum técnico entrou a correr na sala técnica do estúdio e tirou a agulha do disco às pressas, e com truculência eu diria, pois deu para ouvir um tremendo arranhão ! O funcionário da emissora colocou o disco no pick up, e deve ter ido ao banheiro; cafezinho, ou qualquer outro motivo, e deixou tocar a música daquela maneira, até a sua metade praticamente ! A rádio ficou alguns segundos em silêncio profundo, mas a música não tocou novamente, na rotação correta, como eu torci para que acontecesse. O sujeito deve ter ficado com raiva, e quebrado o disco...
A terceira história é a mais hilária, ainda que mostre-se vergonhosa para a banda, embora não tenhamos tido nenhuma culpa por isso. Conto a seguir...
Continua...
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terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 222 - Por Luiz Domingues
Não quero parecer chato, mas veja o texto desse serviço publicado na revista, "Isto é", uma das maiores do Brasil. Como assim, damos uma chance ao Jazz Rock, e ao Blues ? A ideia do release distribuído à imprensa fora clara : todas as vertentes citadas tinham a ver com o trabalho.
Os shows de lançamento do EP foram feitos com o foco máximo que podíamos manter ante os nossos recursos. Digo isso, porque o clima estava estranho no âmbito interno, apesar de estarmos mergulhados em um ritmo frenético, com tantos compromissos de mídia e shows, porque sabíamos que o nosso vocalista, Fran Alves, estava chateado por conta dos sinais de rejeição que eram claros, lamentavelmente, por parte dos fãs, principalmente, mas também por pessoas ligadas mais diretamente a nós, em tom de seu desagrado em relação à presença dele na banda. Mesmo chateados com essa movimentação, e sobretudo por vermos o Fran entristecido, não queríamos que ele saísse, em uma primeira instância.
Para nós, havia dúvidas em relação ao posicionamento que adotáramos sobre o peso extra adquirido no trabalho da banda, praticamente a aposentar o repertório antigo e tradicional, mas mesmo que mudássemos tudo (que loucura, com um disco novo recém lançado...), não cogitávamos ficar sem o Fran Alves entre nós. Gostávamos dele como cantor; frontman; artista; e Ser Humano, sem dúvida alguma. Enfim, essa foi a nossa posição, mas ele detinha os seus sentimentos, e era natural que buscasse os seus interesses pessoais. Digo isso ao basear-me no fato consumado, pois na prática, no calor da ocasião, é claro que eu não dimensionei isso. Aliás, nem ninguém poderia deduzir tal desfecho...
Bem, a despeito dessa energia mais baixa que notamos em sua postura, o empenho nos ensaios foi total e também em relação à pré-produção do show. Fizemos tudo o que foi possível na época, para divulgar os shows corretamente. Tínhamos um belo cenário pronto, criado e produzido pela Elisabeth Dinola, e claro, com a providencial mão de obra de seu irmão, José Luiz Dinola. As intervenções performáticas tornaram-se mais simples desta feita, mas estavam ensaiadas a contento, também. O técnico do Lira Paulistana era nosso amigo (Canrobert), e daí em diante, tornou-se até o nosso técnico em muitos shows realizados fora do Teatro Lira Paulistana.
Enfim, tudo mostrou-se favorável para que efetuássemos ótimos shows... e assim concretizou-se ! Não tenho lembranças específicas sobre cada um deles, que justificasse alguma menção, especial, portanto, falarei genericamente sobre os três dias em que atuamos.
Bem, o show começava com uma locução em off, com o poeta, Julio Revoredo, a declamar um poema de sua autoria. Ele fazia essa locução, pela coxia do teatro e causava um impacto inquietante, visto que obviamente declamava um de seus poemas mais herméticos, com difícil compreensão para o público em geral. Claro que isso causou um efeito, e lembro-me de que o jornalista, Antonio Carlos Monteiro, a representar as revistas Roll e Metal, ter comentado que achara aquilo muito incomum para um show de Rock "moderno", pois seria o tipo de intervenção performática que não era mais comum, desde os anos setenta. Bem, nesse aspecto, particularmente eu tomava uma declaração dessas como um verdadeiro elogio, é óbvio.
Tocamos todas as músicas do EP, evidentemente, além de "Luz" e "18 Horas" , do compacto. Mas também tínhamos "Átila", no repertório, que continha bastante peso, e intervenções dos três instrumentistas em momentos solo, foram observadas no palco. E geralmente tais intervenções eram longas, ao justificar a saída dos demais do palco, para voltar-se em momentos combinados previamente, como "deixas". Para conceder uma diferenciação acentuada, em uma dessas ausências do Fran Alves, para a apresentação dos números instrumentais, criamos uma intervenção com "atores".
A sketch foi mais uma intervenção inspirada no "Teatro do Absurdo", com três atores a entrar em cena, ao final da música que antecedia uma dessas saídas do Fran, e providenciar o seu "sequestro", mediante o uso de força bruta, e sob a mira de uma arma de fogo. Tratava-se de uma velha espingarda que o Rubens tinha em casa, que era mais uma peça decorativa do gabinete de seu pai. Claro que não funcionava, mas era real e antiga. Em tal número, os atores entravam mascarados e tiravam o Fran com uma certa truculência encenada. Havíamos combinado que mesmo não sendo uma ação feita por atores profissionais, que fosse contundente e rápida, para suscitar a dúvida no âmago do público.
O efeito de tal ação realçar-se-ia com o fato de que mesmo diante de uma situação inusitada, a banda continuaria a tocar, e assim a ignorar o ato. Nessa fração de segundos, queríamos deixar o público atônito. Claro que esse sentimento duraria poucos segundos, pois não haveria por demorar muito além do bom senso de cada um. Porém, nos três dias, o efeito foi alcançado, e particularmente, eu adorava observar a reação das pessoas nesse momento do show. Na parte final, outra intervenção semelhante ocorria, com o poeta, Julio Revoredo, totalmente disfarçado, a usar um manto negro, entrava no palco e caminhava de forma lenta e um pouco sombria.
Uma receita de bolo absurda, lida em off, e que desnorteava o público. Acervo e cortesia de Julio Revoredo.
Outra locução, desta feita gravada em fita K7 (com a minha voz), foi disparada, para deixar o público novamente atônito. Bem mais simples em relação aos shows de lançamento do compacto em 1984, como já havia salientado, no entanto tais sketches foram muito funcionais. Devo registrar que o cenário ficou lindo, mas recebeu críticas, e até motivou pilhérias, infelizmente. O fato, deu-se por conta de que quando vimos a concepção da obra, dos primeiros esboços (rafs) da Beth Dinola, até o seu lay-out final, não levamos em consideração a malícia, uma manifestação inerente e típica do povo brasileiro. Pois a ilustração ao mostrar o homem a olhar o horizonte, sob o sol, foi retratado de costas, é bem verdade, todavia... inteiramente nu. A nossa visão fora em torno de uma metáfora a retratar a humanidade, entretanto, piadas circulavam sobre o show d'A Chave do Sol conter um homem "pelado" como cenário e portanto, ter uma conotação "gay" como bandeira institucional. Rimos, é claro, dessa baboseira, mas consideramos que aquilo jamais seria compreendido como algo filosófico, a evocar o humanismo, a não ser que passássemos a cumprir shows na sede da Palas Athena, ou da Sociedade Teosófica...
Embalagem de um saco de balões (aqui em São Paulo, chamamos isso como : "Bexiga"), que usamos no show. Acervo e cortesia do poeta, Julio Revoredo
Lamentamos bastante a incompreensão do público, e somente usamos o cenário completo, nesses três dias, para aposentar a ilustração da representação da humanidade, ou simplesmente do homem nu como alguns enxergaram, doravante. A partir daí, só passamos a usar a parte externa da instalação, com a fechadura, e mesmo assim em poucas ocasiões, pois tal cenário demandava uma estrutura de cenografia que nem todo lugar onde tocamos doravante, possuía.
Esses três shows de lançamento do EP, ocorreram nos dias 27; 28 & 29 de setembro de 1985, no Teatro Lira Paulistana.
O público presente nos três shows foi composto por :
Dia 27 : oitenta pessoas
Dia 28 : cento e vinte pessoas
Dia 29 : noventa pessoas
Volto a falar sobre os aborrecimentos que o novo disco que lançamos, causou-nos, pelo fato da sua rotação alternativa, ter sido feita em 45 rpm...
Continua...
Os shows de lançamento do EP foram feitos com o foco máximo que podíamos manter ante os nossos recursos. Digo isso, porque o clima estava estranho no âmbito interno, apesar de estarmos mergulhados em um ritmo frenético, com tantos compromissos de mídia e shows, porque sabíamos que o nosso vocalista, Fran Alves, estava chateado por conta dos sinais de rejeição que eram claros, lamentavelmente, por parte dos fãs, principalmente, mas também por pessoas ligadas mais diretamente a nós, em tom de seu desagrado em relação à presença dele na banda. Mesmo chateados com essa movimentação, e sobretudo por vermos o Fran entristecido, não queríamos que ele saísse, em uma primeira instância.
Para nós, havia dúvidas em relação ao posicionamento que adotáramos sobre o peso extra adquirido no trabalho da banda, praticamente a aposentar o repertório antigo e tradicional, mas mesmo que mudássemos tudo (que loucura, com um disco novo recém lançado...), não cogitávamos ficar sem o Fran Alves entre nós. Gostávamos dele como cantor; frontman; artista; e Ser Humano, sem dúvida alguma. Enfim, essa foi a nossa posição, mas ele detinha os seus sentimentos, e era natural que buscasse os seus interesses pessoais. Digo isso ao basear-me no fato consumado, pois na prática, no calor da ocasião, é claro que eu não dimensionei isso. Aliás, nem ninguém poderia deduzir tal desfecho...
Bem, a despeito dessa energia mais baixa que notamos em sua postura, o empenho nos ensaios foi total e também em relação à pré-produção do show. Fizemos tudo o que foi possível na época, para divulgar os shows corretamente. Tínhamos um belo cenário pronto, criado e produzido pela Elisabeth Dinola, e claro, com a providencial mão de obra de seu irmão, José Luiz Dinola. As intervenções performáticas tornaram-se mais simples desta feita, mas estavam ensaiadas a contento, também. O técnico do Lira Paulistana era nosso amigo (Canrobert), e daí em diante, tornou-se até o nosso técnico em muitos shows realizados fora do Teatro Lira Paulistana.
Enfim, tudo mostrou-se favorável para que efetuássemos ótimos shows... e assim concretizou-se ! Não tenho lembranças específicas sobre cada um deles, que justificasse alguma menção, especial, portanto, falarei genericamente sobre os três dias em que atuamos.
Bem, o show começava com uma locução em off, com o poeta, Julio Revoredo, a declamar um poema de sua autoria. Ele fazia essa locução, pela coxia do teatro e causava um impacto inquietante, visto que obviamente declamava um de seus poemas mais herméticos, com difícil compreensão para o público em geral. Claro que isso causou um efeito, e lembro-me de que o jornalista, Antonio Carlos Monteiro, a representar as revistas Roll e Metal, ter comentado que achara aquilo muito incomum para um show de Rock "moderno", pois seria o tipo de intervenção performática que não era mais comum, desde os anos setenta. Bem, nesse aspecto, particularmente eu tomava uma declaração dessas como um verdadeiro elogio, é óbvio.
Tocamos todas as músicas do EP, evidentemente, além de "Luz" e "18 Horas" , do compacto. Mas também tínhamos "Átila", no repertório, que continha bastante peso, e intervenções dos três instrumentistas em momentos solo, foram observadas no palco. E geralmente tais intervenções eram longas, ao justificar a saída dos demais do palco, para voltar-se em momentos combinados previamente, como "deixas". Para conceder uma diferenciação acentuada, em uma dessas ausências do Fran Alves, para a apresentação dos números instrumentais, criamos uma intervenção com "atores".
A sketch foi mais uma intervenção inspirada no "Teatro do Absurdo", com três atores a entrar em cena, ao final da música que antecedia uma dessas saídas do Fran, e providenciar o seu "sequestro", mediante o uso de força bruta, e sob a mira de uma arma de fogo. Tratava-se de uma velha espingarda que o Rubens tinha em casa, que era mais uma peça decorativa do gabinete de seu pai. Claro que não funcionava, mas era real e antiga. Em tal número, os atores entravam mascarados e tiravam o Fran com uma certa truculência encenada. Havíamos combinado que mesmo não sendo uma ação feita por atores profissionais, que fosse contundente e rápida, para suscitar a dúvida no âmago do público.
O efeito de tal ação realçar-se-ia com o fato de que mesmo diante de uma situação inusitada, a banda continuaria a tocar, e assim a ignorar o ato. Nessa fração de segundos, queríamos deixar o público atônito. Claro que esse sentimento duraria poucos segundos, pois não haveria por demorar muito além do bom senso de cada um. Porém, nos três dias, o efeito foi alcançado, e particularmente, eu adorava observar a reação das pessoas nesse momento do show. Na parte final, outra intervenção semelhante ocorria, com o poeta, Julio Revoredo, totalmente disfarçado, a usar um manto negro, entrava no palco e caminhava de forma lenta e um pouco sombria.
Uma receita de bolo absurda, lida em off, e que desnorteava o público. Acervo e cortesia de Julio Revoredo.
Outra locução, desta feita gravada em fita K7 (com a minha voz), foi disparada, para deixar o público novamente atônito. Bem mais simples em relação aos shows de lançamento do compacto em 1984, como já havia salientado, no entanto tais sketches foram muito funcionais. Devo registrar que o cenário ficou lindo, mas recebeu críticas, e até motivou pilhérias, infelizmente. O fato, deu-se por conta de que quando vimos a concepção da obra, dos primeiros esboços (rafs) da Beth Dinola, até o seu lay-out final, não levamos em consideração a malícia, uma manifestação inerente e típica do povo brasileiro. Pois a ilustração ao mostrar o homem a olhar o horizonte, sob o sol, foi retratado de costas, é bem verdade, todavia... inteiramente nu. A nossa visão fora em torno de uma metáfora a retratar a humanidade, entretanto, piadas circulavam sobre o show d'A Chave do Sol conter um homem "pelado" como cenário e portanto, ter uma conotação "gay" como bandeira institucional. Rimos, é claro, dessa baboseira, mas consideramos que aquilo jamais seria compreendido como algo filosófico, a evocar o humanismo, a não ser que passássemos a cumprir shows na sede da Palas Athena, ou da Sociedade Teosófica...
Embalagem de um saco de balões (aqui em São Paulo, chamamos isso como : "Bexiga"), que usamos no show. Acervo e cortesia do poeta, Julio Revoredo
Lamentamos bastante a incompreensão do público, e somente usamos o cenário completo, nesses três dias, para aposentar a ilustração da representação da humanidade, ou simplesmente do homem nu como alguns enxergaram, doravante. A partir daí, só passamos a usar a parte externa da instalação, com a fechadura, e mesmo assim em poucas ocasiões, pois tal cenário demandava uma estrutura de cenografia que nem todo lugar onde tocamos doravante, possuía.
Esses três shows de lançamento do EP, ocorreram nos dias 27; 28 & 29 de setembro de 1985, no Teatro Lira Paulistana.
O público presente nos três shows foi composto por :
Dia 27 : oitenta pessoas
Dia 28 : cento e vinte pessoas
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Volto a falar sobre os aborrecimentos que o novo disco que lançamos, causou-nos, pelo fato da sua rotação alternativa, ter sido feita em 45 rpm...
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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 221 - Por Luiz Domingues
Nessa fase, também fizemos bastante programas de rádio para divulgar o novo disco, e os shows de lançamento, que aproximavam-se. No dia 1° de setembro de 1985, eu, Luiz Domingues e Rubens Gióia, fomos à emissora, 97 FM, de Santo André / SP, e falamos bastante sobre o novo disco, e os shows que aproximavam-se. Claro, falamos também do show intermediário que faríamos no mesmo Teatro Lira Paulistana, dentro do projeto "Pátria Amada, Pátria Irada", uma realização do produtor musical, Antonio Celso Barbieri. Nesse programa, apresentado pelo locutor, Beto Peninha, o enfoque de seu público era o Heavy-Metal, e daí, sugerimos a execução das músicas : "Ufos"; "Segredos", e "Um Minuto Além" revezou-se com "Anjo Rebelde", como "BG", ou seja, foram músicas de fundo, enquanto éramos entrevistados. No dia 6, fomos novamente à Rádio Cultura AM, onde o simpático, e então desconhecido, Serginho Groismann, novamente recebeu-nos com muita simpatia para um bom papo.
Essa entrevista em específico, eu ainda tenho preservada em uma fita K7. Penso em digitalizá-la e a disponibilizá-la no You Tube, assim que possível. No dia 7, tivemos agendadas duas entrevistas em dois programas em uma mesma estação, a USP FM, que foram muito positivos para a banda, entretanto, uma delas teve um significado simbólico para a minha pessoa, em especial.
Participamos inicialmente da "Rádio Matraca", programa conduzido pelo Laert Sarrumor, e portanto, foi importante em termos pessoais, como se fosse uma oportunidade para amenizar qualquer resquício de ressentimento que pudesse ainda haver entre eu e o Laert, por conta de eu ter deixado o Língua de Trapo, um ano e dois meses antes, para dedicar-me à Chave do Sol. Mais simbólico do que isso, seria impossível, pois estávamos ali, eu e Rubens, a falar sobre o novo disco d'A Chave do Sol, shows etc. Nesse dia, fiquei mais uma vez muito impressionado com o conhecimento mastodôntico que o jornalista / músico e radialista, Ayrton Mugnaini Junior, demonstrou possuir. Não que eu não soubesse disso, desde 1980, quando o conheci, mas naquela tarde nos estúdios da USP FM, ele estava a produzir um bloco sobre jingles de uma famosa indústria fabricante de geladeiras e máquinas de lavar roupas.
Em suas mãos, ele detinha cerca de cinquenta compactos simples, a conter jingles dessa empresa e de seus produtos, e tal material era proveniente de sua coleção particular... isso era infernal ! Ayrton sabia tudo sobre Rock; MPB; Jazz; Blues; Folk; erudita; Black Music... e até sobre jingles publicitários o seu conhecimento enciclopédico alcançava com absoluta precisão ?
Terminada a nossa participação na Rádio Matraca, fomos à outro estúdio, nas mesmas instalações dentro do campus da USP, e gravamos participação no programa : "Sinergia", uma produção do jornalista, Valdir Montanari.
Esse foi um raro programa na rádio paulista e brasileira, que em plena metade da década de oitenta, propusera-se a tocar e falar sobre Rock Progressivo setentista, um verdadeiro disparate, digno de ser um alvo fácil para os xiitas que pululavam naquela década. Porém, o Valdir era um abnegado, e além de manter nas bancas, as revistas Rock Star e Rock Show, tinha esse programa de rádio, e acabara de lançar um livro sobre Rock Progressivo. E na sua visão, ele enxergava elementos progressivos no som d'A Chave do Sol, embora particularmente eu achasse isso um pouco vago. Se houve algo Prog em nossa música, isso teria sido muito sutil, pois embora eu amasse (amo) o Prog Rock setentista, n'A Chave do Sol, o que predominara foi o Jazz-Rock, outra vertente setentista que aprecio, mas bem mais moderadamente. O Rubens também apreciava o Prog Rock setentista, mas a nossa história em comum em nossa banda galgou-se muito mais a ver com o Jazz-Rock, mesmo nesse momento de 1985, onde o peso oriundo das estéticas do Hard / Heavy oitentista incorporou-se à nossa música. Bem, a entrevista foi proveitosa, e eu também a mantenho preservada através de uma fita K7, a espera de um provável lançamento no You Tube.
Voltamos, dias depois, ao "Matéria Prima" da Rádio Cultura AM, por conta de uma gentileza da parte do então radialista, Serginho Groismann, que convidou-nos para reforçarmos a divulgação dos shows de lançamento do EP. Isso aconteceu no dia 27 de setembro de 1985, com mais músicas executadas, e uma conversa. Já no dia 30 de setembro de 1985, estivemos novamente presentes no programa, "Balancê", da Rádio Excelsior / Globo, de São Paulo. Verdadeiros habitues daquele programa, eu e Rubens representamos a banda mais uma vez, dentro daquele prerrogativa para dublarmos uma música para entreter uma pequena plateia ali presente.
Nesse dia, o apresentador, Fausto Silva, reforçou o convite para agilizarmos uma aparição no programa de TV , "Perdidos na Noite" que a mesma equipe do Balancê, produzia. Nessa altura, o programa já não estava mais alojado na grade da TV Gazeta, e desse ponto em diante estava a ser exibido pela TV Record, sob uma estrutura melhor de produção, mas ao manter a anarquia generalizada que o caracterizava esteticamente e o popularizara. Segundo ele, Fausto, nós deveríamos entregar o nosso material para a sua produtora, Lucimara Parisi, e como éramos velhos frequentadores do Balancê, ela escalar-nos-ia rapidamente. Claro que aceitamos a sua orientação e rapidamente mobilizamo-nos para tal tarefa, que foi realizada por eu mesmo, Luiz, em pessoa. Esta é uma história inacreditável, e há alguns capítulos atrás, eu cheguei a adiantar que o fato do novo álbum ter sido lançado em 45 rpm, trouxe-nos aborrecimentos, não é mesmo ? Pois é... essa é uma das histórias que vou contar, ou seja, mais uma que entrou para o rol de histórias tragicômicas da banda...
Mas antes disso, para não perder a cronologia, chegou o momento de falar sobre os shows de lançamento do EP...
Continua...
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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 220 - Por Luiz Domingues
Ainda a comentar sobre TV, no dia 30 de agosto, tivemos uma jornada dupla, em programas tipicamente femininos. Logo de manhã, bem cedo, estivemos novamente a lutar contra o sono, nos estúdios da TV Record de São Paulo. O compromisso ocorreu no programa : "A Mulher Dá o Recado".
Apresentado pela simpática atriz, Márcia Maria, era o tradicional programa feminino, a apresentar muitas matérias sobre moda; maquiagem; cuidados com o corpo / estética e cabelos; psicologia no enfoque feminino; culinária & decoração etc. Já havíamos participado desse programa anteriormente, e a entrevista havia sido conturbada, motivada pela falta de conhecimentos musicais da apresentadora, mas sobretudo pelo fato de sua produção não haver proporcionado-lhe subsídios suficientes para conversar conosco, em sua ficha que detinha em mãos. Enfim, entendo perfeitamente que não fora sua culpa, inteiramente.
Desta feita, tivemos o lançamento do EP para falar, além de shows, e um novo vocalista, Fran Alves, já que na aparição anterior, contamos com Chico Dias na formação oficial da banda. Claro, através de um programa direcionado a um público nada aficionado do Rock, escolhemos a única opção mais palatável, que foi : "Um Minuto Além". A apresentadora, Márcia Maria, fora simpática e solícita, sempre, mas desta vez, cometeu uma gafe, na hora em que entrevistou-me, diretamente. Ao iniciar a sua fala, ela referiu-se à banda, como : "Chave de Ouro"... veja abaixo :
https://www.youtube.com/watch?v=hF84iZ2BVUU
Eis o Link para assistir no You Tube
Bem que eu afirmei no começo da narrativa, que esse nome era inadequado para uma banda de Rock...
Quando iniciamos a dublagem, contudo, notamos um certo frisson da parte dos cinegrafistas, e de outros funcionários da produção. Eles todos pareciam incomodados com a duração da canção. Pois apesar de ser uma balada lenta, tal canção continha uma extensão acima do padrão Pop de músicas radiofônicas. No alto de seus cinco minutos, foi mais um problema que teríamos de uma forma decorrente, doravante, tanto na TV, quanto em emissoras de rádios. No período da tarde, enfrentaríamos outra maratona de TV.
Desta feita na TV Gazeta, participaríamos do "Mulheres em Desfile", outro programa feminino, e posso afirmar, ainda mais tradicional que o que fizéramos na parte da manhã, na TV Record. Apresentado pela dupla, Yone Borges e Claudete Troiano, tinha a típica pauta dos programas femininos, com uma boa audiência, ainda que ante os nossos interesses, seria óbvio que a porção que arrebataríamos seria bem pequena. Fomos muito bem tratados pela produção, sem dúvida, mas apesar disso, a espera para entrarmos em cena, foi longa, e pelo fato do programa ser realizado ao vivo, havia sido sugerido que estivéssemos no estúdio, com uma hora de antecedência, mas estávamos na verdade, escalados para entrar no ar, bem mais tarde.
Bem, como já disse muitas vezes, neste e em outros capítulos, eu sempre adorei estar em bastidores de TV. O contato com outros artistas, inclusive de outras modalidades, foi sempre estimulante, isso sem contar com os fatos engraçados, os improvisos, ocorrências malucas que acontecem atrás das câmeras etc. E nesse dia, não foi diferente, com a possibilidade em assistirmos uma explicação minuciosa de um ginecologista q discorrer sobre a menstruação, e um confeiteiro que passou uma receita de bolo de coco, antes de nós sermos chamados a entrar em cena...
Fomos introduzidos pelas apresentadoras, e fizemos a nossa dublagem. De novo, quando a música ainda estava na sua metade, os cinegrafistas estavam ouriçados. Alguns deles faziam sinais para nós, a cobrar-nos o término da música. Que incautos ! Não sabiam que estávamos a dublar ? Enfim, ficou claro que teríamos mesmo um problema doravante, a ser enfrentado em termos aparições na TV e no Rádio. Por nossa falta de noção do mercado, com maior clareza, não foi somente a questão das músicas do novo disco ser caracterizadas em termos pesados para o padrão popular do mainstream, mas a metragem delas, mostrava-se proibitiva para os padrões desse métier. Veja abaixo :
https://www.youtube.com/watch?v=skTmNw3mK5g
Eis o Link para assistir no You Tube
Enfim, foi bem desagradável para nós, verificarmos essa gente mal educada a sinalizar-nos insistentemente, como algo fora de propósito, no entanto, uma luz vermelha acendeu-se em nossa percepção. Foi mais uma contrariedade que
teríamos dali em diante, por conta de nossas escolhas feitas no fim de 1984...
No dia 4 de setembro, estávamos novamente nos estúdios da TV Gazeta, desta feita para participarmos novamente do "Realce", um programa onde já éramos habitues, e foi sempre engraçado participar, principalmente pelas maluquices perpetradas pelo apresentador, Mister Sam. Desta vez, dublamos : "Segredos e "Ufos", duas músicas muito pesadas do disco, mas sem preocupação com a estética ou tamanho delas, pois ali no "Realce", era um ambiente muito mais propício para uma banda de Rock, e a liberdade que o Mister Sam ofertava-nos, era total. Desta vez, digno de nota, foi que esquecemo-nos em divulgar a nossa caixa postal, e o Sam não fez-se de rogado, quando abriu o terceiro bloco do programa a conceder-nos mais alguns minutos, e na brincadeira, o Rubens o chamou como : "pilantra", dentro do contexto da linha adotada pelo próprio Sam, é evidente, em termos de pilhéria improvisada... assista abaixo :
Eis o link para assistir no You Tube :
https://www.youtube.com/watch?v=w7XMxNrb4_4
Finalmente, voltamos ao "Realce", no dia 29 de setembro de 1985, com a clara intenção em reforçar a divulgação dos shows de lançamento do EP. Veja abaixo :
Eis o link para assistir no You Tube :
https://www.youtube.com/watch?v=n3TBotg0Xwc
Nessa aparição, além de dublarmos uma música pouco divulgada desse disco, no caso, "Ímpeto", há por mencionar-se o fato de que na edição da TV Gazeta, foi acrescentado um efeito psicodélico muito bom durante a execução da música. Ao parecer-se com a ambientação do programa "Beat Club", que causou furor nas décadas de sessenta e setenta, foi obviamente algo anacrônico para os anos oitenta,todavia nem preciso dizer o quanto eu apreciei essa inserção totalmente surpreendente, para dizer o mínimo, na condição de um inveterado fã da estética dessas duas décadas remotas (1960 / 1970). No vídeo acima, é preciso avisar ao leitor, que infelizmente a cópia original em VHS com a qual o preservamos, apresentava um corte brusco, portanto, quase a metade da música foi suprimida. Paciência...
Falo a seguir sobre programas de rádio, nessa fase de lançamento do EP.
Continua...
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domingo, 28 de dezembro de 2014
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 219 - Por Luiz Domingues
O que criamos como a configurar as intervenções nos shows, foi apenas três performances. Na entrada do show, uma locução em "off" ; no meio do show, uma atuação com atores a interagir com a banda; e na parte final, uma performance do poeta, Julio Revoredo, mais uma vez disfarçado, com uma caracterização enigmática. A intervenção do meio, mostra-se parecida com a que usáramos em 1984. A diferença, foi que ao invés de uma simulação de perseguição de um estranho refugiado na bateria do Zé Luiz, a ideia seria desta feita, simular um sequestro relâmpago.
Atores entrariam com certa contundência, munidos com armas de brinquedo, e "sequestrariam" o vocalista Fran Alves, para que pudéssemos tocar o número instrumental, "18 Horas", sem a sua presença no palco. A participação do Julio Revoredo também seria simples.
Seria em torno de apenas uma entrada em cena, durante a execução de uma música, onde ele andaria pelo palco, sem maiores explicações ao público, e sairia, de forma inusitada ao manter-se incólume. Apenas uma intervenção para confundir o público, e assim usar um pouco do conceito do Teatro do Absurdo, nada demais, mas sempre passível em criar-se um frisson extra na plateia.
Desde o final de agosto, estávamos a trabalhar forte no quesito divulgação do disco, simultaneamente aos preparativos do show de lançamento do novo disco. Em 28 de agosto de 1985, participamos ao vivo do programa :"Panorama", uma revista cultural muito boa, produzida pela TV Cultura de São Paulo.
Participar do "Panorama", era naquela época uma meta cobiçada por qualquer artista, pois representava um sinal de "status" aparecer nesse programa, e certamente rendia bons frutos ao participante. A nossa participação foi realizada a tocar ao vivo, com direito a uma micro entrevista. Chegamos cedo aos estúdios da TV Cultura, e passamos o som dignamente. Apesar de termos escolhido para uma das músicas, um tema bem pesado ("Segredos"), conseguimos tocar com razoável conforto, ao considerar-se a contenção de volume que foi solicitada dentro de um estúdio de TV. A outra canção, seria "Um Minuto Além", definitivamente a eleita como mais conveniente para apresentações na TV, doravante, ao pensarmos no novo álbum que lançávamos naquele momento. Então, quando o programa entrou no ar, esperamos o sinal dos técnicos, e tocamos "Segredos", com muita energia.
Quando encerramos, a apresentadora / entrevistadora, Paula Dip, foi muito simpática para conosco, mas infelizmente estava mal preparada pela sua produção, pois não tinha perguntas pertinentes em sua ficha, para formular-nos. Ao desejar ser descontraída, insistiu em perguntar-nos sobre sermos ou não, "metaleiros", e ao exagerar em gesticular-nos o famigerado gesto do "malocchio", aquele ridículo sinal manual a insinuar chifres, mediante a sua origem medieval, achou que agradar-nos-ia com aquela sinalização. Eu mesmo respondi, com simpatia, é claro, mas neguei que tivéssemos relação com aquela cultura metálica.
Disse-lhe que éramos uma banda de Rock, e as nossas letras evocavam ideais humanistas, com teor social em tese, mas ela insistiu naquela caricatura, ao tecer comentários sobre o comprimento de nossas respectivas cabeleiras, nossas roupas etc. Enfim, falamos sobre o novo álbum, e um pouco sobre a Baratos Afins, onde o Rubens enalteceu o Luiz Calanca pelos seus esforços em prol do Rock etc. Quando a conversa encerrou-se, fomos convidados a tocar o segundo número, mas o tempo da TV urgia, e pelo monitor, vimos que mal a música havia saído da sua introdução, e os caracteres do programa já estavam a subir, ao denotar que o programa estava a encerrar-se. Questão de segundos, vimos que saiu do ar, e assim paramos de tocar, naturalmente.
No cômputo geral, apesar das queixas que teci acima, foi uma ótima apresentação. Ao analisar o vídeo, na atualidade (2014), acho que a banda estava muito afiada.
O Link acima direciona para o vídeo citado, no You Tube
Certamente que a canção : "Segredos" não foi nem de longe uma música minimamente adequada a conter um apelo Pop, e que justificasse portanto, a sua execução na TV, mas naquele momento, em torno da perspectiva em querermos mostrar as músicas novas do novo disco, descartávamos normalmente, "Crisis (Maya)", por ser instrumental, portanto, qualquer uma das outras cinco opções, estaria disponível, em tese.
Logo notamos que no ambiente avesso ao Rock que era a TV, a escolha natural sempre recairia sobre, "Um Minuto Além", mas na possibilidade em exibir-se mais de uma, todas as outras quatro opções, eram pesadas em demasia. Dessa forma, tocar uma música como, "Segredos" no programa "Panorama", foi natural para nós, mas ao enxergar tal estratégia hoje em dia, foi muito paradoxal que na entrevista, a banda colocasse-se como uma banda palatável para o público em geral, quando na verdade, é claro que não o era, e aquela pauleira toda, mais assustava e estigmatizava-nos, do que oferecia-nos dividendos. Outro paradoxo foi em termos buscado o caminho do peso, mas ao mesmo tempo, negar a conexão com o Heavy-Metal em voga. Essa confusão de identidade também ajudou a confundir o público, certamente Falo isso com toda a isenção, e a usar de sinceridade, no alto da experiência adquirida, nos dias atuais. Mais uma razão para repensar o rumo da banda na época, e de fato, estávamos com um disco recém lançado, mas tínhamos dúvidas sobre o (mau) passo dado...
Mais compromissos de TV estavam agendados para os próximos dias...
Continua...
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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 218 - Por Luiz Domingues
Por incrível que pareça, tínhamos um compromisso a ser cumprido no mesmo espaço onde faríamos os shows de lançamento do EP. Aparentemente, isso seria um tremendo de um anticlímax, porém aceitamos cumprir um show avulso no Lira Paulistana, exatamente porque não dispensávamos oportunidades nessa época, e também porque não achávamos que essa coincidência atrapalharia os nossos planos. De fato, foi uma outra época e shows de música autoral aconteciam aos borbotões, e quase todos os dias pela cidade. Realmente não lembro-me em termos ventilado sequer, que a proximidade de datas, e sobretudo o fato em estar marcado no mesmo espaço, automaticamente pudesse inviabilizar as próximas datas.
O super competente produtor musical, Antonio Celso Barbieri, em foto bem mais atual
Outro fator que levamos em conta, foi por configurar-se em mais uma ação perpetrada pelo produtor, Antonio Celso Barbieri, e animou-nos verificar que entre tantos produtores que entraram e saíram de nossa vida, o Barbieri fora de longe, o mais sério e empenhado em contribuir para que a cena fosse para a frente. Dessa maneira, subimos no palco do Teatro Lira Paulistana, no dia 15 de setembro de 1985, para dividir a noite com a banda, "Excalibur", no evento que recebeu o nome : Pátria Amada / Pátria Irada", em uma alusão à data cívica de 7 de setembro.
Ocorreu em um dia de semana, e não atraiu um grande público, apesar dos esforços do Barbieri, mas apreciamos tocar com os amigos do Excalibur, mediante a sua performance a evocar a influência sutil do The Doors, apesar do peso Heavy-Metal. Apenas cinquenta pessoas desceram a famosa escadaria do teatro Lira Paulistana, nessa noite para prestigiar tal evento. Nesse instante, teríamos os três dias do lançamento do EP a cumprir, e muitos compromissos de mídia, para divulgar o novo álbum, e também os shows.
O cartaz ficou (mau) dividido, pelo tamanho mínimo da minha impressora... e a sua matriz, por outro lado, foi xerocada de um exemplar do acervo do poeta, Julio Revoredo, que gentilmente emprestou-me a sua relíquia
Continua...
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