Então, em um sábado, entramos no estúdio por volta das 18:00 horas. e com o objetivo em mixar o álbum inteiro, ou até onde a condição humana permitisse. Nem perderei tempo em dizer o quanto é um procedimento errado, pois tudo o que eu disser, poderá ser mal interpretado pelo leitor leigo, no sentido de que poderá considerar como uma mera desculpa de minha parte. No entanto, quem é músico, e já gravou, sabe que a mixagem é a etapa mais delicada e para tanto, o ideal é que cada faixa do disco, seja trabalhada em uma sessão em separado, e se possível, com um intervalo de pelo menos um dia entre uma sessão e outra. Hoje em dia, com as gravações sendo feitas em processo digital, é possível cumprir a mixagem por etapas, e levar dias para fazer, sem perder nada, o que facilita demais o processo, mas naquela época, e a gravar em um estúdio comercial, com dezenas de clientes, se você interrompesse uma sessão para recomeçar em outro dia, simplesmente teria que começar tudo da estaca zero, a cada nova sessão.
Além de ser muito extenuante, o técnico / produtor e os próprios artistas envolvidos, tem que estar com o ouvido totalmente descansado para prestar muita atenção em detalhes ínfimos que até técnicos muito experientes tem dificuldade para perceber. Por isso, estou a tomar todo o cuidado para deixar claro, que não estou a falar tudo isso em tom de crítica pelo fato da Baratos Afins não poder proporcionar-nos tal mordomia, porque sei bem o quanto era dispendiosa a hora do estúdio, e ao mesmo tempo, curta, a verba de uma pequena gravadora. Em uma gravadora "major", em grandes produções, costumava-se destinar meses para um artista gravar o seu álbum, com margem até para o desperdício de tempo. Mas a nossa realidade fora bem diferente...
Posto isso, a mixagem foi assim, a toque de caixa, praticamente ao buscar um padrão geral de equalização para todas as canções. Dessa forma, quando levantamos o som de bateria da primeira música, praticamente mantivemos o mesmo padrão para as outras músicas, e a conter o mesmo procedimento adotado para o baixo; guitarra e voz.
Antes que eu esqueça-me, tivemos uma pequena participação especial do guitarrista / tecladista, Daril Parisi, do Platina , que gentilmente gravou uma participação aos teclados (arp-strings), na faixa : "Crisis (Maya)". Todavia, foi com um arranjo bem simples, nada marcante que pudesse fazer falta nas apresentações ao vivo, e de fato, nós tocávamos essa canção instrumental desde o início de 1983, em nossos shows. Enfim, a mixagem transcorreu dentro desse ritmo, porém, mesmo com toda essa pressa, demorou muitas horas. Mesmo que estivéssemos a trabalhar em uma única música, com o avançar das horas, não seria apenas o cansaço auditivo que prejudicaria o trabalho, mas o cansaço mental a estabelecer com que o ambiente tornasse-se um barril de pólvora, prestes a explodir. Não aconteceu nada nesse sentido mais exacerbado, mas claro que houve momentos sob tensão. Como fala-se popularmente : "mixagem é o momento onde as bandas brigam e acabam"...
De fato, trata-se de um momento tenso, onde o ego de cada um faz-se presente, e não necessariamente em prol do bem comum da banda. Tirante isso, existe o produtor a cobrar rapidez porque os ponteiros do relógio voam, literalmente, e refletem incisivamente no seu bolso, e algumas vezes existe embates estéticos com o técnico que está a operar a máquina (e tal tipo de questionamento estético não é da alçada de operadores de som, certamente). Não foi fácil lidar com o Zé Luiz, o técnico, que detinha uma personalidade forte, por exemplo.
A nossa sorte, foi que a banda estava coesa e sabia bem o que queria. E essa coerência interna entre nós, já foi um tremendo agente facilitador, em uma mixagem feita inadequadamente através de uma sessão apenas, para fechar o disco inteiro. Marcamos pequenas pausas para comer e espairecer, é verdade. No entanto, mesmo assim, foi bem cansativo. Lógico, muitas operações finais ainda usavam o recurso de muitas mãos a cumprir as pilotagens e que demandava a existência de pequenos ensaios sincronizados. Para a garotada de hoje em dia que nunca gravou à moda antiga, com gravador de fita e sem nenhuma automação digital, parece bizarro, mas com aquela quantidade absurda de botões para ser operados em tempo real, o único recurso humanamente possível era feito em torno de todos os músicos da banda a cooperar, a fazer a pilotagem, junto com o técnico e bastava um elemento apenas errar uma marcação, e a mixagem ficava arruinada, ao precisar que começasse-se tudo de novo...
Por volta das nove horas da manhã, decidimos estabelecer uma pausa maior, para um café reforçado na padaria da esquina. Estávamos todos extenuados, mas ainda faltavam duas músicas para mixar e fechar o disco. Mais ou menos às 13:00 horas, o trabalho encerrou-se, mas nesse instante, um fato dramático (ao considerar-se o cansaço), ocorreu...
Continua...
pulei algums capitulos de proposito ta bom grande Mestre Luiz domingos...Tive que viajar fim de novembro para visitar minha mamys e a correria , dai entrei sorry somente hoje (portanto sao em torno de 3 semanas ) sem vir aqui e voce ta no cap 212 heheheh...carambam ..ufaaaaa....parabens por sempre estar aqui escrevendo as autobiografia dessa grande banda que fez parte de sua Hisotira e da nossa como fãs.Mas vou ler tudo ....hehehehehe,Um grande Abraço e to do lado de cá te acompnhando no face e aqui heheheheh.
ResponderExcluirQue sensacional saber que está acompanhando com esse entusiasmo todo !
ExcluirEm breve, dou continuidade com mais capítulos !
Grande abraço, Oscar !!