quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Festival Mulherada Criativa) - Capítulo 90 - Por Luiz Domingues

Eis que um novo trabalho avulso surgiu, bem pouco tempo depois de eu ter tocado duas vezes com o Hid Trio, do meu amigo, Rodrigo Hid. 

E foi através de um recado direto, em meu inbox da Rede Social Facebook, que em um dia de junho de 2018, eu fui interpelado pelo guitarrista, Geraldo Guimarães, popular "Gegê", que formulou-me um convite. Ele queria que eu tocasse em um combo a ser montado com muitos músicos, com o objetivo em participar de um festival a ser realizado ao ar livre, pelas ruas do bairro da Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo, em 1º de julho de 2018. Sem compromisso oficial com Os Kurandeiros para esse dia, prontifiquei-me a participar e claro que haveria de ser prazeroso, pela quantidade de amigos envolvidos e que já haviam confirmado presença. Cabe destacar que tratar-se-ia de mais uma ação perpetrada pelo pessoal responsável pelo Centro Cultural Pompeia, que há muitos anos promove a Feira da Pompeia, uma das maiores feiras de artes, cultura & gastronomia dos bairros da cidade de São Paulo, realizada há mais de trinta anos, tradicionalmente na terceira semana de maio. 

Mas o pessoal organizador, adotara uma postura mais abrangente e passara a promover pequenas feiras em outros quadrantes do bairro, e esse festival fora programado para destacar a presença das mulheres, não somente na área cultural, mas também do empreendedorismo em geral, daí ter sido batizado como: Festival "Mulherada Criativa". Convite aceito, a missão seria tocar três músicas do "Made in Brazil", que esse combo apresentaria e também uma internacional, no caso do "Grand Funk Railroad". 

Eu, Luiz Domingues em ação. Festival "Mulherada Criativa"; Vila Pompeia, São Paulo / SP em 1ºde julho de 2018; Click, acervo e cortesia: Lincoln Baraccat
 
E lá fui eu, encontrar-me com muitos amigos, com os quais eu tocaria as canções: "Gasolina", "Uma Banda Made in Brazil", "Amanhã é Um Novo Dia", todas do LP "Pauliceia Desvairada" do Made in Brazil e "We're An American Band", do disco homônimo, do Grand Funk Railroad. Sobre a canção do Made in Brazil, a ideia seria fazer parte da execução na íntegra do LP, sob uma homenagem temática e com vários músicos a revezar-se no palco, para tal exibição.
Uma grande honra e prazer em tocar ao lado do mestre, Tony Babalu! Festival "Mulherada Criativa", Vila Pompeia, São Paulo-SP em 1º de julho de 2018. Click, acervo e cortesia: Karen Holtz (Foto 1) e Neimar Raposo (Foto 2)
 
A proposta de tal feira alternativa, foi ser pequena em sua dimensão e causar o mínimo de transtorno logístico ao bairro. A tradicional feira que ocorre sempre no mês de maio, fecha muitas ruas do bairro, abriga quatro ou cinco palcos em quadrantes diferentes, com shows simultâneos, mas a ideia desses festivais menores moldara-se para ser menos incisivo e desta feita, ocupou apenas um quarteirão da Rua Raul Pompeia e outro, da Rua Padre Chico, com o palco único, a ser montado exatamente no cruzamento dessas duas vias. 

O ótimo guitarrista, Marcelo Frisoni e Luiz Domingues, na primeira foto e o baterista e cantor, Dimas Zanelli, abaixo. Com esse time, mais a cantora, Gilda Elena, tocamos a canção do Grand Funk Railroad. Dimas defendeu o vocal solo e nessa hora, "abaixou" o Don Brewer, nele, para que realizasse uma grande performance. Festival "Mulherada Criativa"; Vila Pompeia, São Paulo-SP, em 1º de julho de 2018. Click, acervo e cortesia: Lincoln Baraccat
 
Kim Kehl também tocaria no evento, como convidado e nós fomos juntos, pois eu lhe ofereci uma carona. E como sempre acontece em feiras dessa natureza, mesmo ao possuir um tamanho muito reduzido em relação à da tradicional Feira da Vila Pompeia, todo ano realizado em maio, foi natural que a opção para vagas de estacionamento gratuito, fossem escassas no entorno. Portanto, deixei o amigo, Kim Kehl, próximo ao palco e fui procurar uma vaga nas imediações. 

Nessa busca, assim que passei pelo quarteirão acima, ao acessar a Rua Ministro Ferreira Alves, vi-me diante da porta da antiga residência de meus avós maternos, e claro que a reminiscência capturou-me de imediato. Eu e meu avô a caminharmos por aquela calçada e ele a reclamar das bandas de Rock "barulhentas", com seus cabeludos a ensaiar em diversas garagens de muitas residências, naqueles quarteirões, durante o ano de 1966... pois é, eis que cinquenta e dois anos depois, lá estava eu novamente, sem a presença de meu querido avô, infelizmente, mas bem cabeludo e prestes a tocar Rock'n' Roll, como nos velhos tempos da Vila Pompeia sessentista que eu conhecera, mas não em uma garagem de uma residência, no entanto ao ar livre, no quarteirão abaixo...


Foto 1: Tony Babalu, Gilda Elena e Simone Bressan. Foto 2: Eu, Luiz Domingues, com Tony Babalu e Simone Bressan à frente. Foto 3: Daniel Gerber, Kim Kehl, Marcelo Frisoni, Dimas Zanelli (ao fundo, na bateria), Rubens Nardo, Tony Babalu (encoberto), eu, Luiz Domingues, Gilda Elena e Simone Bressan. Festival "Mulherada Criativa". Vila Pompeia, São Paulo-SP em 1ºde julho de 2018. Click, acervo e cortesia: Marcos Kishi (fotos 1 e 4), Lincoln Baraccat (foto 3) e Lara Pap (foto 2)

Bem, assim que achei uma vaga, caminhei até o palco e encontrei um grande número de amigos músicos, jornalistas, produtores musicais e fotógrafos, ali no entorno do palco. Foram muitas as rodas formadas e a conversa foi das mais agradáveis, o tempo todo. 

Logo de início, um grupo orientado pela MPB com uma certa pegada "retrô", apresentava-se. Tratava-se de uma cantora, acompanhada  por um grupo regional tradicional, na base da percussão, violão e violão de sete cordas, bem ao estilo regional, mas também versado na Bossa Nova. Banda boa, músicos jovens e com visual "moderninho", se não os tivesse visto a atuar, teria achado tratar-se de alguma banda orientada pelo sofrível, "Indie Rock", mas pelo contrário, o seu trabalho surpreendeu-me positivamente. Chamou-me a atenção a sua cantora, versátil e com uma graça para atuar, muito grande. 

Em outras épocas, uma garota com essa qualidade artística e carisma natural, estaria a trilhar um circuito de festivais universitários de MPB e logo chegaria a uma gravadora, mas nesses tempos sombrios em que vivíamos em 2018, ela dificilmente teria espaço midiático. Portanto, a constatação foi óbvia sobre não ter sido somente o Rock a sofrer com a despótica usurpação da difusão cultural no Brasil. 

Passada a apresentação desse pequeno e bom combo regional e sobretudo da sua ótima cantora, eis que o combo Rocker e múltiplo, iniciaria a sua atuação e de fato, pelo nome do Festival, a homenagear as mulheres, as cantoras, Gilda Elena e Simone Bressan, haveriam de ser o mote e os demais, meninos, a estabelecer um revezamento de apoio instrumental no palco. E assim aconteceu, com muitos baixistas, guitarristas e bateristas a subir e descer da ribalta.

Foto 1: Daniel Gerber, Kim Kehl e Marcelo Frisoni. Foto 2: Gegê Guimarães e Marcelo Frisoni. Festival "Mulherada Criativa". Vila Pompeia, São Paulo-SP em 1º de julho de 2018. Click, acervo e cortesia: Marcos Kishi
 
Fui chamado para tocar: "We're an American Band", uma música icônica do Grand Funk e foi divertido tocar ao lado do ótimo, Marcelo Frisoni, um guitarrista muito bom, e do igualmente bem técnico, baterista, Dimas Zanelli, que nesta canção, também exerceu o seu talento vocal, com um vozeirão muito parecido com o original de Don Brewer, o sensacional baterista e cantor do Grand Funk. 

Nos bastidores, pediram-me para tocar "Rock'n' Roll" do Led Zeppelin sob improviso e desta feita, Gilda Elena cantou, com Gegê Guimarães à guitarra e Sandro Big (do "Cavalo a Vapor"), na bateria. 

Voltei aos bastidores e constatei que outros músicos subiram para tocar outras canções do cancioneiro Classic Rock sessenta/setentista, quando chegou a vez de executar as canções do Made in Brazil e um combo robusto esteve no palco. Dimas Zanelli na bateria e eu, Luiz no baixo, com quatro guitarristas: Tony Babalu, Kim Kehl, Daniel Gerber e Marcelo Frisoni. E para cantar, Simone Bressan, Gilda Elena e Rubers Nardo. 

Bem, com uma massa sonora dessas, houve um esforço coletivo para não desrespeitar-se a dinâmica básica e não deixar o trem descarrilar, no andamento. E deu tudo certo. Tanto na canção do Grand Funk, quanto nas do Made in Brazil, surpreendi-me com a reação do público, que realmente aglomerou-se em frente ao palco e vibrou muito. Maravilha, foi bastante prazeroso, também por esse aspecto.

Foto 1: Tony Babalu, Luiz Domingues e Gilda Elena. Foto 2: Rubens Nardo, Tony Babalu, Luiz Domingues, Gilda Elena e Simone Bressan. Festival "Mulherada Criativa". Vila Pompeia, São Paulo-SP em 1º de julho de 2018. Click, acervo e cortesia: Marcos Kishi (fotos 1 e 2) e Lincoln Baraccat (foto 3)

Sucesso total, gostei muito de estar nessa tarde de um domingo, dia 1º de julho de 2018, com um monte de cabeludos a tocar Rock'n' Roll e estabelecer assim a ligação de um ciclo com esse bairro, conforme descrevi acima, cinquenta e dois anos depois de passear e ouvir bandas com cabeludos a tocar pelas garagens, principalmente nas tardes dos sábados de 1966, apesar da contrariedade do meu avô.

Confraternização do Pós-Show. Foto 1: Kim Kehl, Lincoln "The Uncle" Baraccat, Simone Bressan, Rick Vecchione, Marcelo Frisoni, Osvaldo Vecchione, Daniel Gerber, Solange Blessa e Luiz Domingues. Foto 2: Agachados: Geovana Frisoni, Carlos Dutra, Carlinhos Machado (atrás de Gilda), Gilda Elena, Dimas Zanelli e Rick Vecchione. Em pé: Lara Pap, Kim Kehl, Lincoln "The Uncle" Baraccat, Simone Bressan, Marcelo Frisoni, Osvaldo Vecchione, Daniel Gerber, Solange Blessa e Luiz Domingues. Festival "Mulherada Criativa". Vila Pompeia, São Paulo-SP em 1ºde julho de 2018. Click, acervo e cortesia: Lincoln Baraccat (Foto 1, em click de Marcos Kishi) e Marcos Kishi (Foto 2)


Já noite avançada, saí feliz do cruzamento das Ruas Raul Pompeia e Padre Chico. Festival "Mulherada Criativa", na Vila Pompeia, São Paulo-SP, em 1º de julho de 2018. Cerca de trezentas pessoas assistiram a exibição. 

E naquele instante pós show, o fotógrafo, Lincoln "The Uncle" Baraccat, que também é guitarrista e compositor, abordou-me e formulou o convite para eu tocar com uma banda que ele estava a formar, para tocar as suas composições, dali a cerca de cinquenta dias, em uma outra feira, ao ar livre, nos mesmo moldes desta e que chamar-se-ia: "A Gosto Musical", a ser montada em outro quadrante do mesmo bairro. Aceitei a esse tornou-se o meu próximo trabalho avulso, a seguir, mas na verdade, algo novo surgiu e foi marcado para ocorrer antes mesmo desse evento citado...

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Hid Trio) - Capítulo 89 - Por Luiz Domingues

O Hid Trio com a minha presença, Luiz Domingues, José Luiz Dinola e Rodrigo Hid, em ação. Sidharta, Pedra, A Chave do Sol e Patrulha do Espaço neste palco a interligar os três amigos ali a tocar. Hid Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Priscilla Scardoa Hid
  
Eis que uma nova oportunidade para tocar sob total improviso com o Hid Trio, surgiu-me. E exatamente como ocorrera na apresentação em que participei, no início de janeiro de 2018, foi muito prazeroso tocar com meu velho amigo, Rodrigo Hid, parceiro de tantos trabalhos em conjunto e com um adendo sensacional, eu diria. 

Conforme relatado no capítulo anterior, naquela ocasião, ocorrida na casa noturna, "Kildare Irish Pub", fora um prazer tocar com Hid & Scartezini, meus velhos companheiros do Pedra. E desta feita, Scartezini não poderia participar, mas o convidado seria um outro grande amigo de longa data, pelo qual eu tenho grande apreço pela amizade construída, desde 1980, com intensificação total a partir de 1982, quando tornamo-nos de fato, fraternos e sócios no empreendimento artístico e negócio, chamado: "A Chave do Sol". Portanto, exatamente como fora um prazer tocar com Hid & Scaterzini, onde relembramos os bons tempos do "Pedra', nessa nova noite proporcionada pelo Hid Trio, eu reencontraria o grande: José Luiz Dinola!

José Luiz Dinola e Rodrigo Hid a conversar, em um intervalo da apresentação. Hid Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click: Luiz Domingues

Mais do que minha ligação fraternal e artística com Dinola e ante a nossa história construída em parceria com Rubens Gióia, Verônica Luhr, Chico Dias, Fran Alves e Beto Cruz, em torno d'A Chave do Sol, houve uma tríplice relação histórica ali, pois eu, Luiz, Hid & Dinola trabalhamos juntos no projeto, que na verdade fora revestido pelas nuvens psicodélicas  e reluzentes a espalhar cores, e que denominou-se: "Sidharta", ali entre o final de 1997 e o início de 1999. 

O Sidharta não foi para a estrada e nem deixou algum registro fonográfico oficial, mas o seu legado, foi levado adiante como a base Chronophágica da Patrulha do Espaço, renascida em 1999, portanto, fora devidamente honrado. 

Em suma, se em janeiro de 2018 nós misturamos: 3/4 de Pedra, 1/2 Patrulha do Espaço e 1/2 Sidharta, na receita do Hid Trio, e desta feita, o nosso confeito foi produzido por ingredientes diferentes, mas dentro da mesma árvore genealógica, com 2/3 (ou 2/4) d'A Chave do Sol, 3/4 de Sidharta, 1/2 Patrulha do Espaço e 1/2 Pedra. Portanto, a certeza de que com tais ingredientes, mesmo a improvisar completamente um repertório escolhido na hora e sem a presença de set list manuscrito para servir como orientação, daria tudo certo mesmo assim e o público receberia um produto saboroso. 

Dessa forma, com tal ótima perspectiva, desloquei-me até as dependências do "Finnegans Pub", localizado no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, na noite de 28 de abril de 2018.

Na mesma configuração da foto anterior. Hid Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click: Luiz Domingues

De fato, tocamos três entradas muito boas a destilar Rocks, Blues, R'n'B, e Soul Music, para agradar o público jovem ali presente e divertirmo-nos muito. Fora isso, o prazer de tocar com os meus amigos e poder conversar animadamente com ambos nos intervalos, foi imenso. Relembramos várias passagens que tivemos em comum através das bandas pelas quais atuamos no passado, inclusive os três, no Sidharta, e assim rimos muito e a noite valeu muito a pena.

As esposas de Hid e Dinola, respectivamente: Priscila Scardoa Hid (esquerda) e Carla Lemos (direita). Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click: Luiz Domingues

Cabe registrar a simpática presença das esposas de Hid & Dinola, das quais também também sou amigo. Priscila Scardoa Hid e Carla Lemos interagiram bastante na prazerosa conversação travada aos intervalos. 

E para não dizer que não houve mais nenhum registro extra, devo relatar que algo engraçado ocorreu-nos nessa noite. Um grupo formado por jovens com feições orientais, pareceu estar a divertir-se muito com o nosso som. Riam, aplaudiam e dançavam, a demonstrar alegria e até uma certa euforia pela vibração que gerávamos ali no pequeno espaço do Finnegans Pub. 

Então, assim que encerramos a primeira entrada, um dos rapazes, aproximou-se e a expressar-se com um português bem razoável, embora com forte sotaque, disse-me ser chinês, como os demais, rapazes e moças ali presentes em sua turma e que estavam a gostar. Até aí, tudo bem, foi uma abordagem simpática, respeitosa etc. e tal. Mas aí, no decorrer da segunda entrada, o rapaz passou a gritar entre uma música e outra para tocarmos a música: "Despacito", um hit Pop cafona e com origem latino-americana/hispânica, que tornara-se uma "febre" nas redes sociais da internet, entre 2017 e 2018. Sem noção alguma sobre o despropósito de seu pedido, é claro, porém foi inacreditável o rapaz pedir isso para nós que estávamos ali a tocar The Beatles, The Rolling Stones, Ray Charles e outros artistas dessa esfera cultural tão dispare ante os seus anseios expressos, verbalmente. 

No próximo intervalo, ei-lo novamente a abordar-me e desta vez, ele perguntou-me se nós não iríamos cantar em "espanhol". Nesse instante, pensei que talvez por ser oriundo de uma cultura asiática, completamente diferente da nossa, tendia a confundir o português com o espanhol, ao não notar a diferença. Bem, claro que expliquei-lhe que falávamos português e não espanhol, e que ali, a apresentação estava versada em quase 100 % por canções cantadas em inglês. O rapaz entendia e falava o português com uma certa desenvoltura, mas a seguir ficou novamente a pedir, "Despacito", insistentemente, mas ria, ao parecer apenas querer brincar com tal manifestação despropositada. 

Quando chegou o próximo intervalo, eis que o sorridente chinês aproximou-se novamente e não contente em tentar conversar mais uma vez, sentou-se à nossa mesa e colocou-se acintosamente a prestar atenção à fala da namorada do Dinola, Carla Lemos, que contava-nos algo sobre as suas filhas naquele instante, ou seja, um assunto pelo qual o rapaz não deveria nutrir nenhum interesse, mas de uma maneira deselegante, eis que ele ficou ali até a Carla cair na risada e afirmar: -"ai, gente, não consigo falar assim desse jeito", ao fazer menção ao estranho e insólito rapaz ali sentado indevidamente, em profunda atenção ao que ela dizia. Ou seja, se era um louco, sem noção alguma de sociabilidade, um debochado contumaz ou apenas queria ouvir o nosso idioma e aprender o significado das palavras, ficamos sem saber do que se tratou realmente. 

Nesse instante, ao perceber que a atitude dele não fora ofensiva, eu apenas sinalizei em sua direção a gesticular o clássico sinal de "positivo" e disse-lhe em tom de brincadeira: -"Beijing, Beijing", a estabelecer um clima amistoso. Então ele sinalizou positivamente e sempre a sorrir de uma forma desmesurada, talvez a denotar um traço típico desses povos asiáticos, e imediatamente voltou ao seio de sua turma. Os demais chineses, também riam o tempo todo, mas não foram impetuosos, pois acredito que não sabiam comunicar-se em nossa língua, e nem mesmo em inglês ou espanhol. Em síntese, a concordar com os sorrisos do chinês, sem noção, foi mesmo engraçado lidar com esse jovem estrangeiro e tresloucado.

Bem, foi a segunda participação minha com o Hid Trio, um combo para tocar covers clássicos pela noite, sob total improviso e marcado pelo reencontro de grandes amigos. Teoricamente, a formação dessa banda concentra-se entre Rodrigo Hid, Ivan Scartezini & Marcião Gonçalves, outro fraternal colega de longa data. Mas a priori, eu sabia que em qualquer momento eu poderia voltar a ser convidado para atuar e haveria de ser sempre um grande prazer estar por algumas horas a atuar com Hid, Scartezini, Dinola e qualquer outro amigo que estivesse junto em uma noitada dessas e tive também a certeza, sempre seriam divertidas tais noitadas.

Dinola & Hid a conversar, com Priscila Scardoa Hid, atrás. Hid Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click: Luiz Domingues

Portanto, eis que o meu pressentimento veio a concretizar-se em um breve espaço de tempo, ainda em 2018, e assim, esta participação com o Hid Trio ganharia um novo capítulo dentro das histórias construídas ao longo dos meus "Trabalhos Avulsos". Mas antes dessa terceira oportunidade para tocar novamente com o Hid Trio, eis que um convite para participar de um combo formado com muitos outros amigos queridos dentro da música, surgiu. E foi ao ar livre, nas ruas do bairro da Vila Pompeia.

Então, continua...

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 316 - Por Luiz Domingues

Uma panorâmica da banda no palco. Vê-se a figura do amigo, Cristiano Rocha Affonso Costa, ao lado esquerdo, sentado. Ele apoiou-nos também como roadie, além de ter fotografado a banda em ação. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa. Click: Lorena Costa
 
Chegamos ao local e a banda de abertura já havia encerrado o seu espetáculo. Fui informado que os rapazes tocaram covers orientados pelo Pop-Rock. Tudo bem, cada um com as suas escolhas, mas teria sido muito mais adequado uma banda autoral a mostrar o seu trabalho. 

Bem, 2018 em curso, e os conceitos de outrora estavam cada vez mais distantes da realidade com a qual convivemos, décadas atrás e nesse aspecto, amargávamos uma mudança de mentalidade, obviamente para muito pior no âmbito cultural. 

Momentos individuais do show. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Marina Semensati
 
O show começou com grande energia, através de músicas tais como: "Robot" e "Deus Devorador",  temas pesados, no limiar do Heavy-Metal e oriundas do LP "Patrulha '85", que em nosso tempo à frente da banda, evitávamos por destoar da nossa proposta mais Vintage Rocker que tínhamos. 

Entretanto, novos tempos ou melhor, os últimos tempos dessa banda, nem tínhamos como esboçar contestar. Primeiro por sermos, eu e Rodrigo Hid, ex-membros convidados para tal esforço final, portanto, sob uma situação sui generis para emitir opiniões mais contundentes no sentido da montagem do repertório. Nesse caso, acatar o desejo do Rolando, o membro fundador e decano da banda, em sua derradeira turnê, sem dúvida que foi a postura mais respeitosa. 

E em segundo lugar, pelo fato de ter sido a derradeira turnê, e assim, o repertório haveria ser o mais abrangente possível, dentro da discografia completa da banda e nesse aspecto, eu e Rodrigo sabíamos que seria necessário respeitar tal representatividade com músicas de todos os discos. 

E um terceiro aspecto, mas igualmente importante, a proposta de nossa fase estava bastante diluída. Assim que a nossa formação dissolvera-se em 2004, a Patrulha do Espaço seguira em frente a resgatar o seu elo com o Hard-Rock mais pesado, a beirar o Heavy-Metal e portanto, tirante alguns mais fãs antigos, a garotada que esteve a acompanhar mais de perto dali em diante, foi a turma da camiseta preta e a gesticular o indefectível sinal do "malocchio", portanto, a resignação haveria de ser o remédio para lidar-se com tal panorama adverso aos nossos anseios chronophágicos.

Mais momentos do show pela lente de Marina Semensati. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Marina Semensati
 
Mas tivemos momentos muito mais Rockers, não só quando tocamos temas de nossa formação, mas o material mais antigo da Patrulha do Espaço, que detinha o seu élan setentista, é claro. Por exemplo, a nossa interpretação da balada, "Berro", foi emocionante. 

Aquela desdobrada rítmica ultra setentista, o teor da letra, o solo de guitarra e baixo simultâneos ao final, enfim, confesso que tive muito prazer em executar tal canção bela do Ivo Rodrigues e a lembrar-me da boa fase da Patrulha do Espaço, quando a conheci pessoalmente, ao aproximar-me de seus componentes, no início dos anos 1980 e fase pela qual eu mantenho a admiração explícita desde então. 

Além do fator emocional, por saber que Serginho Santana e Dudu Chermont já não estão mais entre nós, e o mesmo em relação ao próprio autor da canção, o Ivo Rodrigues, portanto, com os três a viverem no condomínio celestial, digamos assim.

Momentos do show. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Marina Semensati
 
Haviam certamente, muitos fãs da Patrulha do Espaço. Fomos abordados por muitos deles com discos em mãos, à caça de autógrafos e logicamente que isso foi muito gratificante. Mas não vou mentir e dizer que a massa foi formada inteiramente por Rockers e fãs incondicionais de nossa banda. 

Essa associação automática só era possível nos anos setenta e pôs-se a diluir com o tempo, lastimavelmente, nenhuma novidade portanto. Mas, longe disso, ao menos tivemos ali uma massa interessada e respeitosa, não posso deixar de reconhecer isso. 

Muitos não tiveram vergonha em abordar-nos ao final para expressar, até ingenuamente, eu diria, que haviam-nos conhecido ali no show, portanto, ficou a impressão de que muita garotada ali presente, esteve presente apenas pelo embalo da ocasião e surpreendeu-se com uma banda inteiramente desconhecida aos seus parâmetros, mas que haviam apreciado. 

Sinal dos tempos, certamente, uma banda a fazer a sua turnê de despedida da carreira, com quarenta e um anos de labuta e uma discografia enorme... enfim, se fôssemos norte-americanos ou europeus seria um outro nível de interesse, mas o Brasil era/é isso aí...

Mais momentos do espetáculo. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Marina Semensati
 
Bem, o show prosseguiu e ao final, gerou-se uma comoção, a confirmar as minhas impressões anteriores, isto é: houveram fãs verdadeiros da Patrulha do Espaço e uma garotada despreparada, mas interessada e nessa soma improvável, a ovação concretizou-se e motivou um pedido para um duplo "bis" e para a nossa satisfação, a sensação final de que foi prazerosa e muito bem sucedida a nossa performance.
Instantes finais do espetáculo. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa. 

Não é uma filmagem primorosa e o áudio é muito precário em alguns momentos, mas eis um apanhado do show em Ponta Grossa que a TV Educativa de Ponta Grossa-PR, produziu e que foi ao ar, cerca de um mês depois do show. Louvo a boa vontade da equipe dessa emissora em ter feito tal filmagem, certamente por tratar-se de um registro que há de entrar para a história da banda, em seus momentos finais

Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=FQA5HYC5PHg 
 
Após o término do espetáculo e abordagem dos fãs nos bastidores, foi bem tumultuada a prejudicar a nossa evasão do local, pela obviedade de uma estrutura de show ao ar livre, em parque público. Faltou apoio policial ou com seguranças particulares, que fosse. 

Aliás, eu falei em parágrafos anteriores, super bem da capital, Curitiba, que visitara no dia anterior e mesmo sob a pressa total e o cansaço instaurado, eu devo acrescentar que pelo pouco que observei, Ponta Grossa é uma cidade pujante, com muitos recursos, conforto, ótima infraestrutura e tudo mais, mas um aspecto eu percebi nas duas cidades e talvez seja uma falha do governo estadual do Paraná, pois a atribuição da segurança pública é do estado, mas o fato é que em ambas as cidades que eu visitei, achei o policiamento muito ausente. 

E ali, na hora dessa saída, senti ainda mais a falta desse apoio fundamental para nós ali, sob forte assédio. Por sorte, foram fãs imbuídos das melhores intenções para conosco, mas o fato é que estivemos à mercê e se não fosse uma turma amistosa...

Com o grande, Cristiano Rocha Affonso Costa, músico (baterista da banda de Rock paranaense: "Matilda"); ativista cultural, militar com alta patente, escritor, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, pesquisador e um especialista em mediar conflitos com alta periculosidade, sendo mestre palestrante sobre o tema e autor de livros técnicos sobre tais técnicas especiais para resolver conflitos extremos. E também, dono de uma personalidade incrível, pela bondade fora do comum, simpatia e amizade. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click (selfie), acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa. 
 
Após o encerramento e saída do Parque Manoel Ribas, fomos a uma boa cantina italiana da cidade e o jantar foi agradabilíssimo, entre amigos. E o repouso, no confortável hotel, foi o bálsamo para coroar a sensação do dever cumprido. Mais que isso, foi um recado bem dado aos fãs e para os novos fãs que ali angariamos, o fato de desconhecerem a nossa trajetória com "apenas" quarenta e um anos de carreira, naturalmente que não foi sua culpa, tampouco nossa, mas deste país que cuida muito mal dos setores da educação & cultura, portanto, artistas como nós, ficam à margem da difusão mainstream, e dessa forma, o nosso trabalho não tem como chegar à percepção deles.

Ao final do show, a banda no palco, perfilada em foto de Marina Semensati. E na segunda foto, a banda e a sua comitiva no restaurante, "La Gondola" em Ponta Grossa-PR. Do alto, no sentido horário: Rodrigo Hid, Jardel (roadie), Lorena Costa, Cristiano Rocha Affonso Costa, Rolando Castello Junior, Marta Benévolo, Suka Rodrigues, "Bolívia" (o motorista da van) e Luiz Domingues. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa. Click: Garçom

No dia seguinte, não tivemos compromissos com a banda. Apenas voltaríamos para Curitiba, a fim de dispersar a comitiva. Eu e Rodrigo tínhamos voo marcado para São Paulo, para o início da noite, Marta e Rolando ainda ficariam por lá por mais alguns dias, por conta de compromissos particulares do casal. 

Despedimo-nos na rodoviária de Curitiba e de lá, eu e Rodrigo fomos para o aeroporto Afonso Pena, onde ainda tivemos uma longa espera pelo nosso voo. Embarcamos e antes das 21 horas, eu já estava em minha residência, em São Paulo, para relaxar. 

Dali em diante, a programação dessa turnê só previra um novo encontro em maio de 2018. Um show em São Paulo, no Sesc Pompeia e sob condições emocionais além da nossa própria despedida, pois a nossa apresentação estaria inserida no contexto de uma celebração da gravadora Baratos Afins, portanto, muitos signos em comum deveriam ser compartilhados nessa festa.

Continua...

domingo, 28 de outubro de 2018

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 315 - Por Luiz Domingues

Descansados, banhados e com o estômago abastecido, aguardamos no saguão do hotel a chegada da van contratada. Apuramos que na sua condução, trava-se de um motorista que já trabalhara com a Patrulha do Espaço várias vezes nas fases posteriores à nossa (eu e Rodrigo), de 2005 em diante, portanto, tratava-se de uma pessoa da confiança do Rolando Castello Junior. 

Um roadie local viajaria conosco, também um profissional bem competente e com serviços prestados ao Rolando, há tempos. E mais uma surpresa agradável: Suka Rodrigues, a viúva do grande artista, Ivo Rodrigues, proeminente guitarrista/compositor e cantor das seminais bandas paranaenses, "A Chave" e "Blindagem", o que em termos de história do Rock paranaense, equivaleria a dizer que ele tocara nos Beatles e também nos Rolling Stones.

Ao ir além, o Ivo tinha uma relação muito próxima com a Patrulha do Espaço, pois a nossa banda gravara algumas canções suas nos anos oitenta e nessa noite em Ponta Grossa-PR, estava programado que tocaríamos a canção: "Berro", uma composição de sua autoria e lançada no LP de 1981. 

Portanto, termos a Suka Rodrigues entre nós nessa viagem como nossa convidada especial, foi um prazer, pois ela representava o Ivo nesta homenagem. E além do mais, a Suka também era minha amiga virtual há anos e nós havíamos tido um encontro pessoal no ano anterior, em agosto de 2017, quando ela esteve em São Paulo e presenciou uma apresentação d'Os Kurandeiros, fato relatado com detalhes no capítulo correspondente da cronologia dessa banda em minha autobiografia. 

O simpático roadie também já havia chegado ao hotel. Chamava-se Jardel, e ali travamos uma conversação agradável enquanto esperávamos a chegada da van, quando ele contou-me que atuava com bandas de Rock, há muitos anos, e por ser músico também, fazia parte de uma banda orientada pelo Folk-Rock norte-americano, dos anos sessenta e setenta. Esplêndido, a conversa girou animadamente sobre o lendário "CSNY", os discos solo de Neil Young, Bob Dylan e que tais, ou seja, só coisas boas. 

Finalmente chegou a van e infelizmente, o atraso perpetrado pelo seu motorista, tratou por colocar uma pimenta no bom astral, que estava para lá de doce, até então. Apesar do rapaz ser muito tranquilo, simpático e solícito, tal atraso atrapalhou-nos não só pela questão do clima ter pesado, mas por desencadear um problema que enfrentaríamos já em Ponta Grossa. 

Apelidado como "Bolívia", não recordo-me de seu nome. A viagem foi tranquila, apesar de tais apreensões relatadas acima, porém, inevitavelmente, chegamos nessa cidade interiorana com substancial atraso e como resultado prático, ao invés de podermos descansar um pouco no hotel, tivemos que tomar posse dos quartos, guardar a bagagem pessoal e sair imediatamente para o local do evento, pois o horário do soundcheck, estava para acontecer. 

Para amenizar essa pressa desmedida, eis que ao chegarmos ao hotel, fomos recepcionados por um fã inveterado da Patrulha do Espaço, que não só viajara de Curitiba para assistir-nos, como colocou-se à disposição para ajudar como assistente de produção. Isso não foi algo improvisado ali no calor dos acontecimentos, pois o Junior já havia combinado isso previamente há muito tempo com ele, mas foi providencial contar com a ajuda do simpaticíssimo, Cristiano Rocha Affonso Costa. 

Fã da Patrulha do Espaço há muitos anos, baterista de uma banda de Rock de Pinhais-PR, chamada: "Matilda Rock Band", sendo também um militar com alta patente e com diversas especializações: escritor com livros técnicos publicados e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. 

Acompanhado de sua esposa e não menos simpática, Lorena Costa, o casal recebeu-nos no saguão do hotel com extrema cordialidade. Ali, rapidamente, pois o tempo urgia, enquanto voltávamos a correr para a van com destino ao local do show para realizarmos o soundcheck, ele relatou-me que fora a um show da Patrulha do Espaço, de nossa formação, em Campinas-SP, no ano de 2000, ocasião em que estava naquela cidade interiorana paulista, a cumprir os seus estudos na escola de cadetes do exército, mas que por força das circunstâncias, não assistira o show, mas apenas abordara-nos durante o período vespertino, quando estávamos a preparar o soundcheck. 

Não lembrei-me dessa ocorrência, apesar de ter uma memória de longo alcance muito boa, mas ele compreendeu o meu esquecimento e de fato, além de tratar-se de uma lembrança muito remota, de fato, conversamos com muitas pessoas em situações assim, e lembrarmos dos pormenores sobre todas, é realmente muito difícil.

No momento do soundcheck, no palco montado no Parque Manoel Ribas, em Ponta Grossa-PR, na tarde de 13 de abril de 2018. Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, Marta Benévolo, Rolando Castello Junior e no comando da selfie, Rodrigo Hid. Click (selfie), acervo e cortesia de Rodrigo Hid      

Fomos rapidamente para o soundcheck e o local foi um Parque Público, no centro da cidade de Ponta Grossa. Cerca de quinze minutos perdidos a mais, por conta do impasse em achar-se um local adequado para a van ficar próxima do palco, eis que conseguimos, enfim. 

Apesar da correria toda, deu para fazer um soundcheck satisfatório. O equipamento providenciado pela produção não foi de primeira linha, mas o seu proprietário e técnico de áudio, fez um bom trabalho, devo reconhecer isso e assim, o som arrumado no soundcheck, deu-nos a devida confiança de que o nosso show seria bom.

A banda a realizar o soundcheck. Ponta Grossa / PR, 13 de abril de 2018. Click; acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa
 
Apesar desse conforto de perceber que apesar dos pesares essa produção seria mínima o suficiente para darmos um bom recado aos fãs de Ponta Grossa-PR, a tensão gerada ainda pelos atrasos acumulados, pairava no ar. Tínhamos, ao término do soundcheck, cerca de meia hora para voltarmos ao hotel e retornar o local do show. 

A banda de abertura ainda nem tinha aparecido para fazer o seu soundcheck, mas o horário previsto para a sua apresentação já estava para iniciar-se. Em suma, foi quando o imponderável ocorreu, em uma decorrência óbvia do fato da nossa saída de Curitiba ter precipitado um encadeamento de eventos mal-sucedidos. 

Com pressa e nervosismo instaurados naquela van, eis que já dirigíamo-nos de volta ao hotel, quando em um determinado cruzamento, o nosso simpático motorista, distraiu-se e simplesmente não parou, mesmo ao estar claro que a preferencial seria de quem transitava pela perpendicular. Vimos um motociclista a subir com razoável velocidade e pela sua postura, munido da certeza de que a preferencial era sua (e o era, de fato), o rapaz não esboçara nenhuma intenção em frear, portanto, quando sentimos que o nosso motorista também não fez menção de pisar no freio, só deu tempo para gritarmos, uma interjeição coletiva, simultânea e instintiva ao pronunciarmos em uníssono a palavra: "cuidado" ... porém, o impacto foi inevitável, com o motociclista ao ser atingido em cheio, mediante um estrondo violento. 

Pela impressão inicial, eu pensei que o rapaz havia ferido-se gravemente e a sua moto estivesse arruinada. Mas qual não foi a nossa surpresa quando o vimos levantar-se e ao fazer um autoexame, o próprio acidentado verificou que não sofrera nem um arranhão, sequer. A seguir, ele examinou a sua moto, que aliás era uma bela, Harley Davidson, portentosa e esta também pareceu-lhe intacta. 

Já a polaina frontal do para-choque da Van, ficou inteiramente arrebentada. Enfim, o susto foi enorme, mas o rapaz estava bem e a sua moto sem grandes avarias, portanto, mediante uma troca de contatos, o rapaz nem cogitou chamar alguma autoridade para lavrar um boletim de ocorrência e liberou-nos. 

Para quem estava sob extremo atraso, parar por conta de um acidente desse porte... enfim, com o tempo exíguo, realmente não deu para relaxar no pré-show, mediante o conforto do bom hotel onde hospedáramo-nos e assim, só deu tempo para trocar de figurino e lá fomos nós de volta ao local do show...

Continua...   

sábado, 27 de outubro de 2018

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 314 - Por Luiz Domingues

Fomos então para Curitiba ao final da manhã da quinta-feira, dia 12 de abril de 2018. Assim que chegamos ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, eu e Rodrigo fizemos os trâmites do check-in e ao verificarmos que ainda teríamos um bom tempo de espera pela frente, sentamo-nos no saguão principal e tivemos uma agradável surpresa musical. 

Uma banda tocava no local para entreter os transeuntes. Repertório muito bom, regado por clássicos do Rock, Blues & R'n'B/Soul Music, mais MPB, chamou-nos a atenção pela sua qualidade sonora. Pelo que ouvíamos, devia ter duas guitarras, baixo, teclados, bateria, um pequeno naipe de metais e dois vocalistas solo, mais um pequeno coral formado por backing vocalistas. 

No entanto, a surpresa veio mesmo quando a apresentação encerrou-se e as pessoas iniciaram a dispersar, ao abrir a visão para a banda que não havíamos enxergado até então: tratava-se de uma banda da Polícia Militar de São Paulo, com todos os músicos a tocarem fardados. 

E quando começaram a desmontar o equipamento, vimos o apoio que tiveram de um séquito de roadies, igualmente policiais, que rapidamente levaram tudo para uma van da corporação e aí, percebemos que havia também uma equipe de segurança, com outros policiais que estavam em pontos estratégicos daquela saguão, a dar apoio. Ora, além de ser uma banda muito boa (um dos vocalistas tinha uma voz espetacular, a lembrar cantores clássicos da Soul Music norte-americana), não havia como negar-se que eles tinham um aparato de segurança, perfeito...

Embarcamos enfim e a não ser pela aeromoça que irritou o Rodrigo, ao pedir-lhe com certa veemência para ele deixar o bag duplo das guitarras, na parte da frente do seu pé e não atrás, ao insistir em um maneirismo sem sentido que era uma regra de sua companhia, a viagem transcorreu tranquila. 

Chegamos muito bem e mediante um ônibus urbano especial, rapidamente fomos à rodoviária da capital paranaense, onde encontrar-nos-íamos com o Rolando, que já estava há dias hospedado em um hotel próximo, por conta de compromissos familiares que estava ali a cumprir. 

No período da tarde, após o almoço, estava marcado um ensaio em um estúdio local. Seria na verdade um ensaio inicial, pois por força da logística, a vocalista, Marta Benévolo, ainda não estava na cidade e a sua chegada estava prevista apenas para as vinte duas horas, portanto, um segundo ensaio foi marcado para o período noturno/madrugada.

Ensaio da Patrulha do Espaço no período vespertino em Curitiba-PR. Estúdio Old Black, no bairro do Batel. Da esquerda para a direita: Luiz Domingues (sentado), Renato Ximú (o nosso anfitrião/técnico); Rolando Castello Junior e no primeiro plano, a comandar a selfie, Rodrigo Hid. 12 de abril de 2018. Click (selfie), acervo e cortesia de Rodrigo Hid
 
Por volta de dezessete horas, fomos para o bairro do Batel, onde instalamo-nos no estúdio Old Black, comandado pelo guitarrista, Renato Ximú. Ambientação, super anos sessenta, com fotos dos Rolling Stones (fase Brian Jones), pelas paredes, além de ícones do Folk Rock norte-americano dessa década remota, porém muito querida, é claro que senti-me muito bem. 

Ali fizemos um ensaio bem sucinto, só para checar algumas dúvidas prementes, que foram poucas, na verdade, ainda bem. Bairro agradabilíssimo pelo fator do sossego residencial, do Batel saímos já com a noite presente. 

Tanto na ida, quanto na volta, pelo percurso, o Junior fez as vezes de um cicerone. Ele morara por muitos anos na cidade, do final dos anos oitenta a até quase o término da década posterior, portanto, a conhecia como a palma da mão. 

Se não fosse um grande artista, poderia ser um guia turístico excelente, pois ele forneceu-nos tantas informações sobre a cidade como um todo, principalmente em suas características culturais, que realmente foi um prazer ter essa conversação em todos os táxis que ocupamos na capital paranaense, nesses dois dias em que lá transitamos. 

E a minha impressão sobre a cidade só valorizou-se ainda mais, não só por tal fornecimento de informações, mas por minha própria percepção de uma cidade que é uma metrópole, mas mantém uma organização notável em sua logística básica em termos de limpeza, ordem pública, ordenação do trânsito, a ostentar um comércio pujante e uma rede de serviços, excelente.

Na foto acima, o outro estúdio que visitamos, ao final da noite de 12 de abril, com o avançar pelo dia 13, em plena madrugada. No enquadramento, o set de ensaio do Rodrigo Hid. Estúdio do Nilo, no bairro Mercês, de Curitiba-PR. Click, acervo e cortesia de Rodrigo Hid.
 
Chegamos ao hotel com tempo para descansar e jantar. Marta chegara de Brasília, no horário previsto e mesmo por ser cansativo para todos, lá fomos nós ao bairro Mercês, uma parte mais alta da cidade e portanto mais fria. Ainda era o início de abril e mesmo assim, ao tratar-se de Curitiba que é tradicionalmente a capital mais fria do país, claro que ficou mais gelado para todos, com direito a uma névoa. 

Ensaiamos das 23 horas até cerca de 1:30 da madrugada, no estúdio do Nilo, bem confortável e bem equipado. Com um arsenal de guitarras, violões e baixos vintage pelas paredes, claro que ali também  se mostrara como uma ambientação bem 1960's & 1970's, ou seja, meio caminho andado para a vibração ser boa na hora de ensaiar.

A banda, apesar do cansaço e do avançar do trabalho pela madrugada adentro, esteve feliz nesse bom ensaio realizado. Da esquerda para a direita: Rodrigo Hid a comandar a "selfie", Luiz Domingues, Marta Benévolo e Rolando Castello Junior. Estúdio do Nilo, no bairro Mercês, de Curitiba-PR. 12 para 13 de abril de 2018. Click (selfie); acervo e cortesia de Rodrigo Hid
  
E foi mesmo agradável e produtivo ensaiar ali, apesar do avançado da hora, cansaço generalizado e com direito a deslocamentos aéreos e seus inevitáveis percalços burocráticos a serem cumpridos pelos aeroportos...

O set de ensaio de Rodigo Hid, no ensaio. Patrulha do Espaço a ensaiar em Curitiba-PR, no estúdio do Nilo, no bairro Mercês. 12 para 13 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Rodrigo Hid
 
Encerrado o ensaio, que foi muito produtivo e deu-nos a segurança definitiva para fazermos o show sem dúvidas prementes no dia seguinte, ainda ficamos a conversar com o simpático proprietário do estabelecimento, um guitarrista Rocker a professar dos ideais, como nós. 

Contudo, a madrugada avançara e a despeito de ali ter estado bem agradável a estada, chamamos um táxi e fomos para o hotel, descansarmos, enfim. Não tivemos atividades matutinas, portanto, o sono atrasado pôde ser sanado e a logística do dia seguinte previu a saída do hotel, rumo à Ponta Grossa-PR, por volta de 13:30 horas.

Viagem curta, com cerca de cento e vinte Km de distância apenas de Curitiba, não haveria por gerar contratempos, assim desejamos, mas a lembrar dos tempos de nossos infortúnios com o nosso ônibus, nos anos 2000, eis que pequenos revés estavam a aguardar-nos.

Continua...