Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
O nome desse técnico era Thales de Meneses, um freak que seguia a nossa ideologia contracultural, e era tecnicamente, bastante competente. Sendo assim, quando começamos
a levantar a equalização da bateria, logo percebemos o seu apuro na
timbragem dos instrumentos. Passados todos os instrumentos, fomos tocar "Sexy Sua", para
testar o retorno, e estava um primor ! É muito raro na condição
de estar a trabalhar com um técnico estranho, obter um som dessa
qualidade. Essa condição geralmente só é obtida se o técnico acompanha a
banda em todos os shows e acostuma-se com a sonoridade e necessidades da banda. Mas esse Thales surpreendeu, pois o som do
palco estava sensacional.
Essa foto é de um ensaio no estúdio Alquimia, em maio de 1999
O problema técnico que eu mencionei
anteriormente, deu-se pelo fato de que somente havia uma mesa, e ela comandava o P.A e o
retorno simultaneamente. O correto em qualquer espetáculo musical e não apenas shows de Rock, é ter duas mesas, com
direcionamentos diferentes. Uma comanda o P.A., ou seja, o som que
chega ao público, e a outra comanda o monitor, portanto, o som que o
artista ouve no palco para poder guiar-se. Nesse caso, com uma única mesa a operar as
duas funções pelo mesmo técnico, não mostrou-se uma situação ideal e para
agravar-se tal ocorrência, a mesa estava posicionada atrás das caixas do P.A, ao nosso
lado no palco !
Conclusão : o técnico não tinha condições humanas
para checar na hora do show, em que situação estava a trabalhar a mixagem no P.A. Ele equalizou durante
a passagem do som, mas na hora do show, ficou preso na mesa, só a ouvir
o som do palco. Isso não caracterizou-se como sua culpa, diretamente, mas uma decorrência da estrutura da casa. Satisfeitos
pelo soundcheck, fomos arrumar os últimos detalhes da ornamentação e resguardarmo-nos no camarim, à espera da hora do show.
Como primeiro show, foi a primeira vez que preparamos toda aquela ambientação em torno de ícones 1960 / 1970, com a qual eu sonhei desde que formei o Sidharta em 1997, mas na verdade, foi o resgate do sonho primordial e acalentado na minha adolescência, vivida na década de setenta, mas indevidamente atrapalhada pelo fato de eu ter mergulhado na música, em um momento em que essa estética estava a ser finalizada, atacada violentamente por detratores, e apoiada pelos marketeiros de plantão, a trabalhar para fomentar interesses antagônicos.
Portanto, foi bastante emocionante para a minha percepção em particular (e sei que para o Junior, também), preparar o palco com todos aqueles ícones visuais e até olfativos, vide o enorme número de incensos que fez com que o show tivesse o perfume dos grandes Concertos de Rock de outrora.
Tínhamos um
concorrente à altura naquela noite : por irônica coincidência, "O Terço "
estava a concretizar um show de "volta", também . E para piorar, em um salão de
Rock concorrente do Fofinho Rock Club, onde tocaríamos, e localizado na
mesma Avenida Celso Garcia, distante penas três Km dali. Eles iriam tocar no salção
"Led Slay". Isso evidentemente atrapalhou um pouco a nossa vida,
ao dividir o mesmo público em potencial. Sem "O Terço" tão perto, talvez tivéssemos atraído um
público maior.
E
chegou o grande dia da estreia da nossa formação. Se por um lado houve um clima amargo diante do que
passamos naquela semana, aconteceu também a perspectiva de enfim saciar a expectativa em torno do primeiro show. Da parte do Júnior, teve uma velada ansiedade por conta de testar os meninos ao vivo. Se através
dos ensaios, haviam conquistado a sua confiança por tocar e cantar
demais, havia a dúvida no comportamento no palco, através de um show oficial.
De
certa forma, eu deveria ter essa apreensão também, pois afinal de
contas, seria o primeiro show com os dois, após mais de um ano e meio de
ensaios apenas, se considerar-se o período gasto durante o projeto Sidharta. Contudo, ao
contrário do Júnior, eu estava tranquilo nesse aspecto, pois a despeito
de ser a primeira apresentação para valer, confiava totalmente nos dois. O que não esteve nada bem, foi o clima ruim por conta dos percalços pessoais que enfrentamos naqueles dias.
A Revista Dynamite foi a primeira a dar nota sobre a volta da banda com nova formação, mas ainda a citar-me pelo velho apelido que eu usava anteriormente como nome artístico, para designar-me. Não foi culpa deles, pois só firmei a ideia de cortar isso a partir da gravação do CD Chronophagia, em 2000. Mas errou feio o sobrenome do Marcello, como se observa na nota acima.
Sim,
o Marcello ainda sentia dores decorrentes do acidente automobilístico que sofrera. A sua família estava apreensiva, e com
razão. O prudente teria sido cancelar o show e repousar por alguns dias,
mas ele bancou essa resolução de concluir o espetáculo e foi valente. O Júnior apareceu
para tocar bem abatido e tenso. O que ele estava a passar fora pesado,
mas também enfrentou a determinação de seguir em frente. Chegamos
no salão por volta das 17:00 hs.
Montamos o palco com um exército de
ajudantes amadores... vários dos meus alunos, o meu pequeno exército Neo-Hippie,
ou de Brancaleone, como queira, estava ali a colaborar. Nesse início, sem verba, não tivemos como contratar roadies profissionais, portanto, contávamos com o apoio abnegado de amigos. A
montagem foi tensa, pois o Júnior estava muito nervoso, e irritou-se
várias vezes com aquele monte de gente a desejar ajudar, na maior boa
vontade, mas sem metodologia, portanto mais a atrapalhar o trabalho. A
nossa sorte foi ter contado com o técnico de som da casa, que era muito
bom. Ocorreu uma dificuldade técnica da casa em si, que o atrapalharia, mas se não fosse
isso, o show teria sido perfeito.
O Júnior
estava por enfrentar um problema gravíssimo de ordem familiar, e mesmo que tivesse
telefone celular à época, não teria ânimo para ligar-nos.
E o Marcello sentia ainda fortes dores nas costas. Apesar de tranquilizado
pelos médicos quanto à não gravidade do seu quadro, a dor foi muito forte, e só
deu-lhe trégua, mediante fortes analgésicos. Portanto, o seu esforço para comparecer ao ensaio da sexta-feira, que precedeu o
show, foi notável.
Ainda houve agravantes. Tínhamos pendências em termos de produção para tratar.
Detalhes a respeito de ornamentos e equipamentos para reforçar o palco. O transporte foi feito de uma forma precária, também. Sem dinheiro para contratar
nem ao menos uma Kombi, tivemos que transportar tudo em nossos carros particulares.
Como o
Marcello havia acabado de perder seu carro, estava a usar o do seu irmão. Mas o
Ricardo apareceu a utilizar o carro do pai de ambos, bem maior, e colaborou.
Inicio essa história recente, em minha autobiografia.
O guitarrista, Kim
Kehl comunicou-nos logo no primeiro show dos Kurandeiros, em 2014, que o proprietário
do Magnólia Villa Bar estava a formular uma proposta nova para nós. Ele sugeriu
que a base dos Kurandeiros, estabilizada como Power Trio àquela altura
dos acontecimentos, com Kim Kehl; Carlinhos Machado, e eu, Luiz Domingues, atuássemos toda quarta-feira, e juntos, com ele mesmo a atuar como
tecladista, que apresentássemo-nos como um quarteto, a assumir a alcunha como : "Magnólia Blues Band",
e assim apresentar em cada quarta-feira, uma convidado da cena do Blues brasileiro. O
Kim ponderou que não haveria nenhum prejuízo à agenda dos Kurandeiros
em outros shows, a não ser ali mesmo no Magnólia Villa Bar, onde a
nossa rotina era tocar uma quarta por mês, aliás, rotina essa que perdurava
bem antes da minha entrada na banda em 2011.
O Carlinhos Machado
aceitou de pronto, visto que para ele que tocava em seis bandas naquela
ocasião, acumular uma eventual sétima banda não mudaria muito a sua
vida agitada como músico, com shows pela noite, quase diariamente. Quem relutou um pouco fui eu mesmo, e explico. Argumentei
ao Kim e Carlinhos, que uma situação era a paciência e companheirismo que
tiveram comigo desde o início, ao relevar a minha demora em adaptar-me à
banda, por algumas razões.
Entre elas, o fato de eu não ter escola dentro do estilo do
Blues, e por conta disso, ter demorado a entender esse universo que
parece fácil aos ouvidos menos atentos, mas tem muitos maneirismos, e em
cima dessa prerrogativa, talvez os tais convidados, artistas da cena do
Blues, não tivessem a mesma paciência, e pudessem acontecer climas
desagradáveis em cima do palco. Claro que ambos desqualificaram
os meus temores, e incentivaram-me a não pensar dessa forma derrotista, digamos, e
pelo contrário, a afirmar que eu era capacitado para fazer parte do projeto etc. Enfim,
como já salientei muitas vezes no capítulo dos Kurandeiros, a tal da
"atitude jazzística", de empreender shows calcados em puro improviso, sem
ensaios prévios, não era o meu modus operandi.
Não preparei-me para agir
assim na carreira, e pelo contrário, a minha história foi calcada quase
que em 100%, na atuação em bandas autorais, portanto, a minha orientação pessoal
como músico, sempre foi a de tocar apenas o que eu mesmo criava. Com
o respaldo dos companheiros, mas um tanto quanto ressabiado, aceitei
participar do projeto, mesmo que em tese, estivesse por acumular mais uma
banda na minha vida, de forma simultânea, o que foi algo também pouco
provável em acabar bem, pois um conflito de agenda poderia ocorrer em
qualquer instante. Naquela altura, janeiro de 2014, eu estava
quase a completar trinta e oito anos de carreira, e nessas quase quatro décadas de
atuação, só em poucos momentos eu tive problemas dessa monta. Todavia, mesmo
assim, foram no início de carreira, e o acúmulo nessa ocasião, foi composto por
situações tão incipientes, que mesmo quando chocaram-se, não apresentaram a
gravidade que pudesse justificar um constrangimento muito grande. A
pior situação que eu vivera na carreira, foi ao final de 1983, quando
aceitei voltar ao Língua de Trapo, mesmo a estar muito firme com A Chave
do Sol, que inclusive, ensaiava dar passos importantes na carreira,
ao começar a deixar o seu anonimato inicial. Fora disso, algumas situações anteriores foram realmente bem menos graves. Agora,
2014, eu estava nos Kurandeiros; teoricamente fazia parte do "Nu
Descendo a Escada", de Ciro Pessoa; e fazia parte do Pedra, que voltara em
2012, ainda que em princípio, apenas para finalizar o seu terceiro álbum inacabado. Acumular o Magnólia Blues Band nesse congestionado contexto, poderia insinuar uma loucura
total, mas ao analisar bem, não seria assim tão insano, senão vejamos :
1)
O MBB seria um desdobramento direto dos Kurandeiros, e não exatamente uma
outra banda, portanto, nunca haveria um choque de agenda entre as duas
bandas, somente por minha causa, mas curiosamente, os Kurandeiros jamais
tocariam na mesma data, por razões óbvias...
2) O mesmo
equivaleria ao "Nu Descendo a Escada", pois eu e Kim éramos componentes das duas / três
bandas, e em breve ficaríamos ainda mais confortáveis, pois o Carlinhos
Machado também ingressaria no "Nudes", portanto, as três bandas teriam o
mesmo núcleo base a conter baixo; bateria, e guitarra.
3) Sendo assim, o choque em potencial, poderia ocorrer apenas com o Pedra. Mas
no calor dos acontecimentos daquela momento, o Pedra estava empenhado
em gravar o novo disco, e o "Nudes" estava parado em estado de hibernação,
que só quebrar-se-ia em abril.
Então, o que pareceu ser uma loucura
total, acabou por revelar-se plausível, e dessa forma, com todos ao aceitar o
desafio, o primeiro convidado da Magnólia Blues Band, foi o guitarrista / cantor e compositor, Chico Suman. Fiquei
ainda mais aliviado, pois conhecia-o, e sabia que não teria nenhum
problema em tocar com ele, muito pelo contrário. Além de ser um sujeito
excepcional, grande guitarrista e vocalista, tratava-se de um conhecido, e sua
banda, "Suman Brothers Band", onde também atuava o seu irmão, Vitor Suman, como
baixista, tinha um segundo guitarrista que era o Diogo Oliveira, nosso
amigo de anos, e apoiador do Pedra, tendo inclusive feito a capa do CD
Pedra II, além de diversos cartazes de shows; cenários de shows ao vivo, e
até intervenções ao vivo como artista plástico, fora ter gravado uma
cítara na canção : "Projeções", do mesmo disco em que criou a capa.
Enfim,
ter Chico Suman como primeiro convidado fora uma certeza de que seria
uma noite muito boa para todos, e uma possibilidade para o projeto
deslanchar. E particularmente, senti-me muito mais seguro por
saber que não teria nenhuma preocupação em subir ao palco e tocar, pois
tratou-se de um amigo que eu tinha certa liberdade, portanto, não haveria
nenhuma possibilidade em haver alguma dificuldade com o primeiro convidado. E lá fomos nós : 15 de janeiro de 2014...
Não lembro-me mais o nome dessa rádio. Mas fora algo absolutamente insignificante, mesmo. Uma pena, pois a boa vontade em ajudar foi total, da parte de seus mandatários. Em
relação às filipetas no show do Angra, tratou-se do show mais próximo em termos de público, que houve nos dias em que antecedeu o nosso espetáculo. Também
acho que não valia a pena, mas entre "filipetar" para o público do Angra, ou da
Ana Carolina, ou pior ainda, artistas brega, foi preferível o Angra.
Ineficaz,
é claro. Eu sempre procurei comandar equipes de divulgação com uma
logística, e um foco definido. Nesse caso, foi uma tentativa para
aproveitar o cenário menos ruim. Foi o melhor que tivemos na ocasião, ainda mais se pensarmos sobre a nossa infraestrutura, mediante os nossos parcos recursos financeiros.
Quanto aos meninos, eles não mostravam-se deslumbrados, de forma alguma. Estavam felizes, mas não havia nenhum exagero em sua postura cotidiana. O
período entre a divulgação e o primeiro show, foi bom, com exceção da
semana do show, pois uma onda de intempéries assolou-nos nesses dias terríveis que
antecederam a data de nosso primeiro show. Por conta disso, faltou pouco, para que o show fosse cancelado. Começamos a semana
felizes por ver Lambe-lambes com nosso show anunciado, mas dois fatos
terríveis aconteceram. O show ocorreria no sábado, dia 14 de agosto de 1999.
Na quarta-feira anterior, fomos surpreendidos com a notícia de que o Marcello
sofrera um acidente automobilístico, ao vir da faculdade onde estudava, para a sua casa. Ficamos apavorados, mas apesar do carro ter tido perda total, ele
sobreviveu, e não teve nenhuma contusão séria, apenas a apresentar um quadro
clínico a revelar dores nas costas, pois o caminhão que o abalroou, o atingiu pela
traseira. Ele estava parado no semáforo, quando ouviu o barulho
de um caminhão a frear e a seguir, colidir. O seu carro apresentou perda total.
Quanto ao seu estado de saúde, após exames, o médico constatou tratar-se de apenas
hematomas e o liberou. Todavia, pensávamos em cancelar, pois o
susto havia sido enorme. Porém, no dia seguinte algo pior
aconteceu. Recebi um telefonema do Júnior, desesperado, pois um problema
sério de saúde ocorrera com um familiar seu. Prefiro não entrar em
detalhes para não expor ninguém desnecessariamente. Digo apenas, que
foi algo ainda mais dramático do que o acidente do Marcello.
O ensaio
de sexta, convocado para dar o último apronto, foi realizado só por eu, Luiz e
os garotos, pois o Júnior realmente não apresentara condições para comparecer, entretido que estava em assistir o seu ente querido no hospital. Tememos que ele não pudesse ir fazer o show no sábado, e até a hora para reunirmo-nos para ir ao salão, pairou essa dúvida. E
assim, o clima ficou pesadíssimo para a estreia, ou seja, algo
diametralmente oposto ao que eu sonhara desde a criação do projeto Sidharta, quando
formatamos essa banda, e esse repertório. No próximo capítulo, falo do show...
Foi evidente que contamos com o apoio de amigos nessa empreitada. O
Júnior arrumou um patrocínio para bancar o serviço do "lambe-lambe", com um futuro candidato a
vereador. 1999 não foi um ano com eleições municipais, mas esse candidato a
candidato, queria popularizar o seu nome previamente, e assim forjar a sua imagem como um incentivador
de artes em geral. Então, tornara-se comum ver o seu nome vinculado a shows musicais; teatro, e outras atividades artísticas.
Os
cartazetes e filipetas foram impressos por nós mesmos. A internet já
tinha um certo peso nessa época, mas nós praticamente não a usamos. Não havia
redes sociais de massa, como hoje em dia. Rádio e TV eram impossíveis. Desde meados dos anos noventa, já não havia programas da TV aberta dispostos a agendar bandas de fora dos esquemas escusos do jabá. Dessa
forma, com poucos cartazetes e filipetas, cobrimos o circuito óbvio do
Rock em São Paulo, como a Galeria do Rock e as lojas de instrumentos da
Rua Teodoro Sampaio. E filipetamos saídas de shows de Rock.
Lembro-me
de levar alguns amigos e alunos para filipetar um show da banda Heavy-Metal, "Angra", no Palace, uma
casa de shows em Moema, zona de sul de São Paulo. Um ex-aluno meu
estava a filipetar um dos flancos da rua, de onde o público saia, quando um garoto
pegou a filipeta, e disse-lhe com escárnio : -"Patrulha do Espaço ? Isso é do tempo do
meu avô"... lidar com esse tipo de preconceito tolo era normal, e
ainda por cima ao analisarmos esse público do Heavy-Metal, que parece ser obcecado pelo
conceito do "datado". Como se música fosse um remédio, e tivesse data de validade...
Outra
ação engraçada, foi realizar entrevistas em programas de Rádio
comunitárias. Foi o que esteve ao nosso alcance. Lembro-me de uma rádio
no Tatuapé, zona leste de São Paulo, cujo contato era um boliviano, dono
de uma banca de jornais. O rapaz mantinha o apelido sugestivo de : "Bolívia". Era um índio Hippie, com cabelo na cintura, uma grande figura.
Até aí, nada
demais. Entretanto, a entrevista transcorreu sob um clima de filme policial, com o
endereço sendo mantido em sigilo até quando os seus responsáveis confiaram em nós, e no
dia em específico, o clima foi sob apreensão, pois essa rádio já havia sido lacrada
pela Embratel, diversas vezes. Foi engraçado, mas o resultado para nós foi nulo, pois o alcance limitadíssimo de uma estação pirata, não despertou interesse algum que soma-se aos nossos esforços e anseios.
Pedra Dia 29 de agosto de 2014 Sexta-Feira - 21:00 horas Gambalaia Espaço de Artes & Convivência Rua das Monções, 1018 Bairro Jardim Santo André - SP Músicas dos dois CD's + músicas novas em processo de gravação do terceiro álbum Pedra : Xando Zupo : Guitarra e Voz Rodrigo Hid : Guitarra, Teclados e Voz Ivan Scartezini : Bateria e Voz Luiz Domingues : Baixo e Voz
Engraçado... eu tenho uma sombra e ela é desatinada e bêbada de Vida.
Na verdade, todo mundo tem uma sombra.
É só ir pro sol que, dependendo da hora (e da vontade da sombra) ela aparece.
Ninguém se preocupa com a própria sombra, acho eu.
Às
vezes ela está atrás de mim, às vezes à minha frente e quando não pode
ser projetada (esqueci de dizer... minha sombra tem um pacto bendito com
o sol), fica escondidinha dentro de mim, só esperando a hora de saltar e
dar piruetas e, mesmo eu estando triste naquele momento, ela fica à
minha volta, se estica, encolhe e dança em volta de mim... acho que essa
danada dessa sombra tem é vida própria e mesmo em dias nublados está em
algum canto de mim, pronta pra pular e brincar.
Eu não tenho certeza, mas acho que é isso mesmo o que ela faz.
E quando meu peito se aperta, me dou colo sem a mínima decência.
Nessas
horas de plena covardia e dor, me abraço forte (sim, porque eu posso
ser abraçada por uma multidão, mas se eu não me sentir abraçada por mim
mesma e pela minha sombra, de nada adianta esse monte de gente).
Sou rocha, espuma, raio e trovão (aliás, pra quem não sabe, relâmpagos e trovões me habitam o rosto).
A
minha sombra é assim, quando os trovões, relâmpagos e tempestades
tentam chegar, ela canta Beatles pra mim, dança Zé Ramalhos, e de cada
tristeza ela tece Piafs, quase arrancando minha alma fora.
Quando
os tufões me cortam com seus poderosos chicotes e eu fico em
frangalhos, rota e acabada, minha sombra querida me leva pela mão à
procura da Luz e do Ar puro.
E ela sempre me diz, com cara de monge tibetano, que ser infeliz é chato demais.
Fácil demais.
Monótono demais.
Quando
eu caminho de cabeça baixa, minha sombra, mais teimosa que mula
empacada, me diz, com todas as letras, na minha cara e escrachadamente,
que ela é deliciosamente doida e feliz e quando eu vejo o seu dançar
(que se recusa totalmente a acompanhar minha triste cara de besta),
termino por abraçar essa criaturinha que corre à minha frente, ao me
lado, e me mostra o quanto sou boba por baixar a cabeça e permitir que
meu peito se aperte e que meu coração, quase desmaiado de dor, chore.
E quando eu choro, ela sempre me lembra das aldeias que eu tenho dentro do peito.
Pra aqueles que nunca nem sonharam em olhar a própria sombra, não riam de mim.
Mas
se descobrirem a sua própria sombra, riam alto dessa descoberta
absolutamente maravilhosa e lembrem de que nunca estamos sozinhos, pois
temos cada um a nossa própria sombra e, mesmo que a gente não a veja,
está sempre conosco, nos dando força e esperando apenas e tão
simplesmente, pela nossa descoberta de que há, sempre houve e sempre
haverá a nossa sombra, que mora dentro de cada um de nós e é feita de
Valentia, Coragem e Força!
E é tão bom descobrir coisas simples... simples como uma sombra...
É só procurar.
Tereza
Abranches é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Escritora e
artesã, desenvolve também estudos sobre literatura e espiritualidade.
Nesta crônica, trata de uma forma poética, da questão do "outro Eu", a sombra que tem vida própria e de certa forma, é bem mais livre de obrigações comportamentais do que nós.
Conheça seus trabalhos de artesanato, através desses links :
Kim Kehl & Os Kurandeiros Dia 24 de agosto de 2014 Domingo - 20:00 Horas Diminuta Bar Rua Almirante Lobo, 622 Ipiranga São Paulo - SP Participação Especial : Edu Dias - Gaita, Voz e apresentação KK & K : Kim Kehl : Guitarra e Voz Carlinhos Machado : Bateria e Voz Luiz Domingues : Baixo
Capítulo reaberto, pois como eu deixo sempre claro, esta autobiografia está
sempre pronta a trazer adendos, mesmo em capítulos supostamente encerrados. No caso
de trabalhos antigos de bandas extintas, sempre poderá acontecer a
possibilidade para resgatar-se algum material a conter fotos, vídeos, áudio, portfólio, ou mesmo alguma peça de memorabilia, além da chance de alguma
ratificação ter que ser feita, ou por eu mesmo ter recordado-me de alguma
passagem com maior acuidade, talvez mesmo alertado por qualquer pessoa que traga-me tal esclarecimento, pois considero toda ajuda bem-vinda para esta
narrativa.
Mas no caso do tópico dos Trabalhos Avulsos, apesar
dele haver encerrado-se naquele momento da última postagem mais recente,
trata-se na verdade de um tópico em alerta permanente, pois enquanto eu
estiver vivo e a trabalhar, sempre haverá a possibilidade para surgir uma
atividade musical avulsa, fora das bandas oficiais pelas quais eu for membro, e
estiver a atuar.
Foi o caso portanto de uma participação que eu tive
em um evento, em fevereiro de 2014, e que apesar de ter sido prazeroso,
musicalmente a falar, foi bastante doloroso por outro aspecto.
Antes
de narrar sobre tal evento em si, é preciso retroagir ao final de janeiro desse
mesmo ano, para deixar bem clara a circunstância dolorosa pela qual refiro-me. Estava a trabalhar no meu Blog, durante a madrugada de um dia
quente de verão, quando ao abrir o "Google" para realizar uma pesquisa,
deparei-me com um notícia que rasgou-me o coração: -"morre o guitarrista,
Hélcio Aguirra, do Golpe de Estado".
Aquele desconforto estomacal,
típico de quando recebemos uma notícia chocante sobre o falecimento de
um parente ou amigo querido, formou-se, e assim eu fiquei sem reação por algum tempo. Como assim? Perplexo, abandonei os meus afazeres, e passei a caçar
informações pelos portais de notícias da Internet, quando finalmente enfrentei a realidade. http://rollingstone.uol.com.br/noticia/morre-o-guitarrista-da-banda-golpe-de-estado-helcio-aguirra/
No
dia seguinte, eu compareci com muito pesar ao seu velório, diga-se de passagem
um dos mais cheios que já eu havia presenciado, a denotar o quanto ele fora
querido por seus fãs, e muitos amigos e colegas. Nessa cerimônia fúnebre, encontrei-me com inúmeros amigos, muitos músicos com os quais toquei, músicos contemporâneos de diversas bandas em que atuei, jornalistas, produtores musicais, executivos de gravadoras etc.
Nesse contexto tétrico, o produtor fonográfico, Luiz
Calanca estava inconsolável. Nelson Brito, baixista do Golpe de Estado, parecia mergulhado sob uma dor
circunspecta, o percussionista do Mobilis Stabilis, Nobuga, também mostrava-se desesperado.
Enfim, foi uma tarde tristíssima para todos.
Durante a cerimônia de
cremação, eu fiquei ao lado do produtor, Vagner Garcia, que já havia produzido três
shows do Pedra e fora produtor de uma coletânea onde o Pitbulls on Crack atuou em 1993, e que aliás, desde o final dos anos 1980, este profissional fora o produtor geral da gravadora
Eldorado, e convivera muito com o Hélcio, seu contratado e a viver grande
fase com o Golpe de Estado. Ele, Vagner, ficou então a contar-me as suas lembranças sobre os dias de glória do Golpe de Estado em sua gravadora, e o quanto estava perplexo em estar ali na cerimônia de cremação do nosso amigo em comum.
Bem, eu conheci o Hélcio em 1984, e tornamo-nos amigos desde então. Além de ser um guitarrista excepcional e
compositor inspirado, foi um conhecedor de eletrônica, ao saber consertar
com destreza, amplificadores, pedais etc. Ele chegou a ganhar bastante dinheiro com isso,
paralelamente, ao manter uma oficina super requisitada pelos músicos de São
Paulo, por muitos anos, eu incluso, vide as inúmeras vezes em que ele consertara o meu velho amplificador, Duovox...
Atravessei os anos sendo amigo dele, e ele
a acompanhar os diversos trabalhos diferentes em que coloquei-me, e curiosamente, Hélcio fora amigo de todos os músicos dessas diferentes bandas. Ele foi amigo de Rubens Gióia e Zé Luiz Dinola, d'A Chave do Sol, e o vocalista,
Beto Cruz, dessa mesma banda, foi quem o apresentou para Paulo Zinner e
Nelson Brito.
No Pitbulls on Crack, Chris Skepis era seu amigo e aliás,
foi o Hélcio quem nos apresentou, quando este convidou-me a fazer shows
com a banda Tributo do Black Sabbath, "Electric Funeral", em 1990. Na Patrulha do Espaço, Hélcio era amigo de longa data do Rolando Castello Junior, e através de minha pessoa, Rodrigo Hid, e Marcello Schevano também tornaram-se amigos dele.
No
Pedra, a ligação de Hélcio com Xando Zupo também remetera aos anos 1980, e
em uma certa ocasião em que quebrara o braço, no início dos anos 1990, o Xando substituíra-o em shows do Golpe de Estado, interinamente.
Portanto, a sua perda repentina foi sentida por todos, e foi um tremendo choque. Poucos
dias após a sua perda, eu recebi um recado via inbox no Facebook, a sondar a
minha possibilidade em participar de um show em homenagem ao Hélcio, e
com renda revertida à sua viúva, Jane, para minimizar a despesa do
sepultamento.
Claro que aceitei de pronto, pois seria uma honra homenageá-lo, e ajudar a sua viúva. Mais
que isso, seria a oportunidade póstuma de agradecer-lhe por tanta ajuda
que prestou-me, e tenho casos relatados aqui mesmo neste tópico, com
trabalhos avulsos que foram proporcionados por ele, Hélcio. Óbvio que aceitei, e fui informado por tal produção, que muitos amigos estariam a aderir, e não poder-se-ia esperar outra coisa, ao considerar-se a comoção gerada, e mais
que isso, o quanto o Hélcio fora querido.
Camarim do Olympia, em São Paulo, no ano de 1992. Show do Black Sabbath. No camarim, Hélcio e Tony Iommi, o seu grande ídolo no Rock, e influenciador na carreira
As circunstâncias
descritas para esse espetáculo seriam as seguintes: esse show tributo seria feito por combos
arranjados na hora, a mesclar os músicos, e cada combo tocaria duas ou
três músicas do Golpe do Estado, Mobilis Stabilis, ou do Harppia, bandas pelas quais ele, Hélcio Aguirra, foi membro, e
cogitou-se até a execução de músicas do Black Sabbath, Judas Priest, Ufo, e Michael
Schenker Group, bandas internacionais que ele gostava, e que influenciaram-no,
como guitarrista.
No entanto, os dias passaram, e houve uma certa falta
de comunicação entre as três organizadoras e os músicos, mas não
estou a culpá-las, pois ficara de certa forma implícito, que a escolha das músicas a
serem tocadas, ficaria a cargo dos músicos. De minha parte, eu avisei
que eu não teria tempo para preparar muitas músicas, portanto, gostaria de
uma definição rápida, para focar em duas ou três, apenas, mas essa
definição não veio.
A minha comunicação foi mais ativa com o vocalista, Abdalla Kilsam, um
grande amigo meu, que possuía muitos trabalhos cover pela noite paulistana, e que
seria o cantor do combo onde eu tocaria. Quando faltava dois dias para
o evento, resolvi ir para o evento com a proposta de promover uma jam-session sob improviso, pois não houve até às vésperas, nenhuma comunicação oficial sobre que músicas
eu tocaria, mas isso não teve relevância maior, pois o que mais importara ali, seria homenagear o
Hélcio.
Cheguei ao local, a "Livraria da Esquina", e gostei do
astral do estabelecimento. As instalações eram simples, a aparentar similaridades
com salões de Rock periféricos, mas havia uma ambinetação meio contracultural,
com decoração a evocar figuras fortes da literatura, e motivações um tanto quanto
psicodélicas.
De fato, ali tratava-se de uma livraria com estrutura para
shows musicais, o que tornara o ambiente interessante, pelos seus propósitos nobres.
Encontrei inúmeros amigos, e devo dizer que a maioria ali presente foi mais da cena
do Heavy-Metal oitentista, do que da órbita do Golpe de Estado. Nessa circunstância, houve
mais fãs do Harppia, o que foi exótico em minha avaliação, por que a despeito do
Hélcio ter construído uma parte de sua carreira dentro dessa banda, e nessa cena, a sua fama
maior foi construída com o Golpe de Estado.
Isso poderia ser explicado
parcialmente pelo fato das garotas que organizaram a festa, terem mais
proximidade com tal cena do Heavy-Metal oitentista. Nada contra, mas
achei exótico tocar-se muito mais material do Harppia, do que Golpe de
Estado, e não ter havido nenhuma menção ao Mobilis Stabilis, um outro trabalho importante
da carreira do Hélcio.
E assim, os sucessivos combos tocaram, com o
Heavy-Metal a predominar. Percy Weiss, Tibério Corrêa, Ricardo Ravache,
Nilton "Cachorrão", e outras personas dessa cena, tocaram, e o Rubens
Gióia, meu ex-colega d'A Chave do Sol, participou também.
O
guitarrista da banda, Nacionarquia, Roger Bacelli, chamou-me então para
tocar, e naquele mesmo momento, ele organizou um combo. Roger perguntou-me se eu aceitaria tocar
alguma canção d'A Chave do Sol, com o Rubens Gióia. Claro que eu aceitei
tocar com ele, mas achei que tentar alguma música d'A Chave do Sol, seria
uma temeridade, pois as músicas dessa nossa ex-banda, são complicadas,
cheias de convenções e detalhes, portanto, não seria possível para tocar-se em uma jam-session
despretensiosa. Na verdade o correto seria ter ensaiado previamente para
fazer a exibição corretamente, se fosse o caso, mas na falta dessa pré-produção, o
melhor a ser feito ali, foi estabelecer uma jam-session sob improviso.
O Roger, que é
um excelente guitarrista (professor bem tarimbado, inclusive), e uma pessoa muito gentil, ainda ponderou se eu aceitaria
tocar um cover, e que o Rubens houvera proposto tocarmos algo do Jimi Hendrix. Eu insisti
que uma jam-session seria mais seguro, e mais condizente com o espírito do
espetáculo.
E assim, subimos ao palco com o combo formado na hora
e que consistiu de: Roger Bacelli na guitarra, Marcelo Ladwig (baterista da
ótima banda de Hard-Rock, King Bird) e Rubens Gióia, na outra guitarra, além de
eu mesmo, Luiz Domingues, no baixo. Por incrível que pareça, com todo o
afastamento que eu e Rubens tivemos pelos desentendimentos que
culminaram com o fim d'A Chave do Sol, e início de uma dissidência forçada para
eu e Beto Cruz, o fato é que eu não tocava com ele, desde dezembro de
1987.
Enfim, além da comoção pelo passamento do Hélcio e de fato, o
banner colocado no palco com a sua foto não deixou-nos perder o foco do
propósito daquela festa, mas foi emocionante também para nós dois, eu e Rubens, esse
reencontro.
A jam-session citada acima. Filmagem proporcionada pelo casal Rocker de fotógrafos e documentaristas, Bolívia e Cátia
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=5AiKzBH7L2U Estávamos os dois sob comoção por isso também, e foi nítido tal sentimento em nossos respectivos semblantes. O tema que tocamos foi algo inspirado
no estilo do Jazz-Rock ou Fusion, com o Roger a criar na hora, uma bela harmonia,
com sofisticação jazzística.
Todos entraram no clima e ambos os guitarristas revezaram-se em solos mediante o improviso, interessantes. Eu e Marcelo entendemo-nos bem, ao promovermos mudanças de levadas, às vezes a insinuarmos o
Funk-Rock setentista. O público presente aglomerou-se na frente
do palco, e houve uma comoção gerada.
Eu não esperava por isso, mas dentre os
admiradores do Heavy-Metal oitentista, houve (e há em linhas gerais) um respeito enorme
pelo trabalho d'A Chave do Sol. Isso eu entendo e aceito positivamente, embora no
capítulo sobre A Chave do Sol, nesta autobiografia, eu tenha feito inúmeras
ressalvas ao fato da banda ter aproximado-se dessa cena. Ainda penso
assim, mas jamais poderia deixar de reconhecer o carinho dos que
professam tal admiração pessoal, e enxergam A Chave do Sol como
componente desse cenário.
Fiquei muito contente com essa pequena
comoção em prol d'A Chave do Sol, e mesmo ao não atender aos gritos de pessoas que pediam
músicas da nossa banda e outros mais ousados a cobrar-nos sobre uma "volta oficial", claro que
eu agradeci o carinho, com entusiasmo. Terminada a minha
participação, fiquei mais um pouco na casa, e parti dali, alguns minutos depois, não sem antes
cumprimentar as meninas (Sandra Marques, Christine Funke e Gigi Jardim), que esforçaram-se para o evento acontecer.
Foi
assim a minha participação no evento: "Tributo ao Hélcio Aguirra", em 22
de fevereiro de 2014, na Livraria da Esquina, em São Paulo.
Cabe registrar que esse evento teve alguns problemas decorrentes de alguns mal-entendidos gerados através das redes sociais. Uma celeuma foi criada, pois houve a informação de que os membros remanescentes do Golpe de Estado estavam a desaprovar a realização de tal evento e teriam lançado uma nota oficial, a repudiá-lo.
De fora dessa questão, mesmo por que, eu era (sou) amigo dos três membros remanescentes dessa banda, eu não entendi o por quê deles esboçarem tal reação. Uma explicação inicial deu conta de que eles consideravam o evento muito próximo do passamento do Hélcio, e que ele mereceria um Tributo com maior porte e organizado pela banda, de uma forma oficial.
Bem, se por um lado houve uma certa razão, pois o Hélcio mereceu um evento de grande porte para homenageá-lo, por quê uma iniciativa gerada por amigos, e mesmo sem grande magnitude, não poderia ocorrer? Nesses termos, o Hélcio por ter tido muitos fãs e amigos, merecia tal carinho espontâneo, e ninguém poderia querer monopolizar uma homenagem. Nesses termos, por quê não poderia acontecer tal Tributo?
Bem, dias depois do Tributo ter sido realizado, adveio uma outra polêmica. Um boato surgiu no métier, de que o evento fora manipulado para a renda não chegar às mãos da viúva do Hélcio, mas diferentemente, fora embolsada por um elemento, que manipulara as três organizadoras do evento.Quando eu ouvi isso, fiquei indignado, pois tratou-se de uma mentira deslavada que espalhara-se de uma forma sorrateira pelas redes sociais da Internet, e que denegria a imagem, não só das meninas envolvidas, mas fazia de nós, participantes (eu, incluso), otários que fomos tocar com um nobre propósito, e teríamos sido usados, como idiotas úteis.
Imediatamente eu entrei em contato com uma das garotas, e passei-lhe tal informação sobre o boato, e ela prontamente apressou-se e esclareceu tudo, não sem antes mostrar-se boquiaberta com a maldade sabotadora de quem espalhou tal calúnia. Ela enviou-me internamente o borderô referente daquela noite, e marcou então uma visita à viúva do Hélcio, para entregar-lhe a quantia arrecadada.
No entanto, a viúva recusou-se em receber, ao alegar estar constrangida pelo mal-entendido gerado antes da realização do evento, e dessa forma, autorizou a produção do show a doar o dinheiro para uma instituição de caridade. Dessa maneira, o dinheiro foi doado para a AACD de Osasco, e essa amiga minha, postou o recibo em meu inbox do Facebook, e deve ter tornado isso público para calar a língua venenosa dos caluniadores e mal-intencionados de plantão.
Não acompanhei mais o caso, e não vou postar o recibo aqui, para não expor ninguém, mas na minha consciência, estou tranquilo, ciente que não fui usado por nenhum gatuno, como estavam a afirmar, e nem as três meninas podem ser acusadas de também terem sido idiotas úteis para ladrões.
Três
meses depois, um outro evento com maior magnitude foi organizado pelos
membros sobreviventes do Golpe de Estado, com vários convidados em um dos palcos
da Virada Cultural de São Paulo, mas desta vez, eu não fui convidado, e foi
óbvia a razão, pois o Nelson Brito foi o baixista que deveria pilotar o baixo, o
tempo todo. E nessa ocasião, a homenagem foi calcada no exclusivamente no trabalho do Golpe de Estado,
notadamente a banda onde o Hélcio mais brilhou em sua carreira.
Descanse em paz, amigo Hélcio, e muito obrigado por tudo!
Capítulo geral dos Trabalhos Avulsos, sujeito a reabertura, sempre que for necessário. e de fato, o foi. Procure pelo capítulo 82, com uma história ocorrida ainda nesse mesmo ano de 2014.