sábado, 2 de agosto de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 154 - Por Luiz Domingues

Encontramos com a outra metade da banda, no horário combinado, e fomos diretamente o bairro da Lapa, para aguardar o momento de realizarmos o soundcheck. Estávamos muito contentes com o fato de estarmos escalados para o sábado, um dia nobre, e no turbilhão de um Festival de grande porte, a tocar ao lado de nomes consagrados do BR-Rock 80's, ainda que em nosso dia de atuação em específico, não houvesse ninguém muito famoso.  

Pode parecer bobo, ingênuo até, mas achávamos que esse festival poderia ser um marco para a carreira da banda, pois deu-nos a impressão de que fora um fruto da ascensão nítida que estávamos ter, por vários fatores já elencados anteriormente nesta narrativa. De fato, o foi mesmo, se considerarmos que talvez não fôssemos escalados, caso não estivéssemos nesse "momentum" significativo. No sábado, no entanto, as atrações que circundou-nos, não foram de grande relevância para aquele panorama. Lamentamos, pois queríamos ter sido escalados em um dia que estivéssemos acompanhados de Lobão & Os Ronaldos; Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e outros nomes da crista da onda etc. 

Todavia, foi clara a intenção do Festival em agrupar bandas emergentes, portanto ainda não consagradas, e indo além, o fato de ter-se pensado no sábado, supostamente um dia nobre, como o dia para esse tipo de bandas com menor apelo de público, só pode ter sido por um motivo : o fato das bandas consagradas estar com agendas lotadas... portanto, nessa hora, lembrei-me do baterista Daniel, do Metrô, que dissera-me na noite anterior, que no sábado, a sua banda iria tocar em Salvador, para voltar ao Rio, no domingo, para visar gravar o programa do Chacrinha... então, estaríamos acompanhados de : "Gato de Louça"; "Vento Sul", e Luciano Alves. 

O único conhecido em minha avaliação, foi o tecladista, Luciano Alves, que eu tinha vivo na lembrança, pelo fato de ter sido o último tecladista dos Mutantes. Mas a questão, foi : o que estaria a produzir agora ? E no meio do turbilhão oitentista, eu só podia esperar pelo pior, ou seja, um som decepcionante; modernoso e pleno de carga Pós-Punk. 

Fomos bem tratados no soundcheck, e quando saímos do palco, a banda de Luciano Alves chegou para passar o som. Assistimos um pouco a passagem de seu som, antes de partirmos para o hotel, em que hospedar-nos-íamos ali perto, na Lapa mesmo. Pelo pouco que vi, até surpreendi-me, pois não era nada radicalmente modernoso como eu esperava. Pelo contrário, apesar de parecer algo Pop, com intenções comerciais / radiofônicas, apresentava elementos do Rock'n Roll tradicional, em linhas gerais. Enfim, dos males o menor, não tocaríamos com "replicantes" saídos dos filmes  : Blade Runner ou Mad Max, algo tão comum naqueles dias sombrios...

O lado ruim, internamente a mencionar, foi que o Chico Dias chegara ao Rio, com um mau humor insuportável. Infelizmente ainda não recuperara-se dos aborrecimentos da semana anterior, e ao invés de estar feliz por estar a conhecer o Rio, e prestes a cantar no Circo Voador, um espaço badalado na cidade, em meio aos maiores artistas do BR Rock 80's (ao falar em termos do Festival inteiro e não especificamente sobre os artistas escalados para o dia), ele estava com o semblante fechado, a pronunciar poucas palavras, e a não demonstrar nenhum entusiasmo por tudo o que citei acima. Bem, não tínhamos tempo para contratar um psicólogo, e sendo assim, só restara-nos ter um tato mínimo para não piorar o clima, e com isso, tal mau humor, não atrapalhar a performance da banda. Só faltava-nos mais essa, em um momento desses...


Continua... 

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