sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 406 - Por Luiz Domingues

Então, escolhida a ordem das músicas, o Kim Kehl providenciou a sua edição, com o áudio já todo trabalhado e como última etapa da preparação, houve o esforço para compor a arte de capa e contracapa. 

Deixei-o livre para criar, naturalmente e apenas sugeri a inclusão do velho logotipo de 1984, aquele contido na capa do Compacto de 1984, a exibir figura de uma pomba branca a voar sob o sol, e que a tipologia das letras seguisse a linha curvada existente no mesmo citado compacto e lançado no mesmo ano, exatamente como uma forma de resgatar a tradição da nossa banda. 

O Kim utilizou fotos dessa formação com Verônica, extraídas de uma sessão feita durante um dos shows que fizemos na casa de espetáculos, Victoria Pub, entre fevereiro e abril de 1983. Como eu dispunha de poucas fotos, ele optou por recortar e montar como se fosse uma foto coletiva e com a presença de uma iluminação artificial a sugerir estarmos a tocarmos ao vivo em um grande palco.

Eis então aí a capa do CD "A Chave do Sol Ao Vivo 1982/1983", simples em sua concepção, mas a se mostrar muito bonita em seu resultado final, sem dúvida alguma, ao compor uma bela apresentação visual. A palavra "pirata" foi acrescida como uma tarja para deixar claro ao consumidor se tratar de um produto com um conteúdo de qualidade sonora bem mais modesto do que um álbum bem gravado. E de certa forma, acrescenta um charme extra a demarcar o caráter raro do material.

Na contracapa, o padrão de fundo a sugerir um palco sob a incidência da iluminação de um teatro, permaneceu. Nos primeiros esboços, o Kim chegou a testar fotos e até peças de portfólio como ilustrações, mas ao constatar que atrapalharia a leitura das informações básicas da ficha técnica, a opção pela simplicidade do fundo liso, prevaleceu. 

Sobre a ficha técnica, eu havia elaborado uma lista bem mais detalhada com muitas informações, mas isso obrigaria a se usar uma tipologia de letras sob um tamanho diminuto, e que dificultaria em demasia a sua leitura, até para quem enxerga bem e não faz uso de óculos, portanto, o Kim pediu-me a parcimônia máxima. 

Eu adoro ficha técnica de disco recheada com informações, mas no caso, isso demandaria a elaboração de um encarte especial e infelizmente tal inserção ficou fora do orçamento e assim, a opção foi discriminar o repertório exibido, a formação da banda nesses espetáculos e algumas breves menções extraordinárias.

Sobre o "label" do disco, fez-se a simplicidade mais uma vez a conter o nome e logotipo da nossa banda, a inserção da palavra "pirata" e o logotipo da produtora, Crossover Records e com o mesmo fundo padrão azulado a sugerir a iluminação de um show ao vivo.

Como eu já disse anteriormente, lastimo, mas não há neste álbum, uma única música autoral, embora na época, já tivéssemos algumas já compostas, casos de "18 Horas", "Luz" e "Utopia", por exemplo e estávamos a preparar outras, tais como: "Crisis (Maya)", "A Dança das Sombras", 'Intenções" e "Átila". 

Bem, foi por um mero acaso que esta gravação só tenha preservado a performance de temas internacionais (e alguns nacionais, também), que tocávamos em nossas apresentações como forma para encorpar o set list e à medida que o tempo avançou fomos a diminuir tal espaço gradativamente, até termos um show inteiramente autoral, a partir do segundo semestre de 1983. Mas este registro ficou assim em termos de repertório:

1) Brown Sugar (The Rolling Stones)

2) Honk Tonk Women (The Rolling Stones)

3) Muito Romântico (Caetano Veloso)

4) My My Hey Hey - (Neil Young)

5) O Contrário de Nada é Nada (Mutantes)

6) Brown Sugar (The Rolling Stones) (segunda versão)

7) Johnny B. Goode (Chuck Berry)

8) Jumping Jack Flash (The Rolling Stones)

9) Now I'm Here (Queen)

10) My My Hey Hey (Neil Young) 

11) Honk Tonk Women (The Rolling Stones)

12) O Contrário de Nada é Nada (Mutantes) (segunda versão e faixa cortada ao final)

13) Johnny B. Goode (Chuck Berry)

As faixas 1 a 7, são da exibição em um evento fechado em São Paulo, que cumprimos durante a noite de 31 de dezembro de 1982, noite de Reveillon, portanto. As faixas 8 a 13, correspondem a um show realizado em uma casa noturna chamada: "Café Palheta's" também de São Paulo.

As fotos de 1983 que serviram para compor a capa, foram clicks de Seizi Ogawa. Toda a produção de áudio e capa ficou a cargo de Kim Kehl e o lançamento através da produtora, Crossover Records. O primeiro lote, mediante cem cópias, foi entregue em agosto de 2020. 

Continua...

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 405 - Por Luiz Domingues

Pensei sob uma primeira instância em somente colocar nessa compilação, as músicas com o melhor padrão de áudio e esse foi o incisivo conselho da parte do Kim Kehl, inclusive, que avisou-me bem sobre a precariedade generalizada e que entre as canções, havia uma subdivisão a demarcar ainda mais discrepância sonora. 

Porém, eu argumentei que de fato, se fosse para ser analisado sob um critério puramente técnico, nenhuma faixa passaria pelo crivo mais apurado, visto que a gravação original fora feita de uma forma precária. Só para o leitor entender bem sobre o que eu falo, é preciso rememorar a maneira pela qual essas duas apresentações que compõem este disco, foram gravadas.

Primeiramente, é preciso destacar que a gravação foi proporcionada por um tape-deck caseiro. Claro, tratou-se de um bom aparelho para o propósito do uso doméstico, no padrão que convencionou-se como: "Hi-Fi", a tratar-se de um gravador da marca Gradiente, que fora uma peça de equipamento muito boa disponível no mercado nos anos setenta e oitenta, mas obviamente inadequada para promover a gravação de um show ao vivo de qualquer monta e mais ainda de uma banda de Rock. 

O segundo ponto, foi sobre o nosso equipamento usado para essas duas apresentações e que resultou na captura, respectivamente em cada lado da fita K7. 

Usamos o nosso pequeno PA (nesses shows em específico, ainda bem tímido, pois apenas ao final de janeiro de 1983, nós reunimos recursos para aumentá-lo), e com três microfones disponibilizados para as vozes, Verônica Luhr, Rubens Gióia e a convidada especial, Rosana Gióia, e apenas um para ser usado como um "overall" da bateria, ou seja, sem microfonar tal instrumento de uma forma minimamente adequada e nem ao menos o amplificador da guitarra, então foi realmente uma captura muito ruim. 

O fato do baixo sobressair-se em algumas faixas, deu-se pelo fato desse instrumento ter sido ligado na linha, ou seja, diretamente na mesa de mixagem, daí, obviamente ter obscurecido a guitarra e a bateria em quase todas as faixas e em algumas em específico ainda mais acintosamente.

E a terceira questão, diz respeito à própria "mídia" de armazenamento usada. A fita K7, por si só, sempre foi uma plataforma de captura de áudio bastante limitada, naturalmente. E com uma agravante, aliás, três: o fato de ter sido usada uma fita comum e não uma peça de cromo, que seria uma alternativa com um melhor padrão qualidade no tocante ao material químico de sua composição. 

No caso dessa fita que foi utilizada, ela era de segunda mão, portanto as nossas apresentações foram gravadas em cima de gravações de discos que o Rubens fazia normalmente para ouvir no som do seu carro, portanto, além do desgaste natural pelo uso, tal tipo de dispositivo sofria pelo armazenamento costumeiramente feito através do porta-luvas do automóvel, ou seja, sujeita ao calor extremo, se o carro ficasse exposto ao sol e com as janelas fechadas, por exemplo. 

E finalmente por ter sido usada em 1982-1983, pela última vez e ter sido também armazenada por longos trinta e sete anos, com pequenas intervenções anteriores, quando por exemplo em 2011, através de uma tentativa que foi feita para digitalizar tal fita, porém, sem a obtenção do êxito completo nessa empreitada.

Então ao pensar detidamente nessas questões técnicas e também a relevar a qualidade da performance da banda em certas faixas, com a presença de erros cometidos por um ou outro membro, além do inglês deficiente em termos de pronúncia que a Verônica apresentava para interpretar clássicos do Rock internacional nessa época e mesmo a completa falta de músicas autorais, eu pensei em todos esses aspectos negativos e no entanto, a balança pendeu para a utilização de todas as músicas no disco bootleg, pois eu considerei que esta seria uma peça arqueológica, portanto, todos os seus pecados técnicos e artísticos deveriam ser automaticamente relevados, pois a sua raridade haveria por suplantar tais questões.

Dessa forma, eu levei em consideração que todos os fatores arrolados acima foram pertinentes, certamente, entretanto, cabíveis para serem entendidos como critério para a elaboração de um álbum oficial, mas para o padrão "Bootleg", automaticamente nos levou a relevar deficiências de todos os níveis, ou seja, o que se valoriza é a questão do documento histórico em si, como a traduzir-se como um achado arqueológico, portanto raro, de uma época remota. Em suma, o que importa é o que representa como relíquia histórica.

Dessa forma, foi o que eu assumi como uma firme tomada de posição ao comunicar ao Kim Kehl, que: sim, queria lançar todas as músicas, inclusive uma que se apresenta cortada, a conter a sua performance interrompida.

Continua...

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 404 - Por Luiz Domingues

Então, eis que avançamos na parte de atrativos para fazer desse show reunião de 2020, algo mais esfuziante ainda aos fãs do trabalho, visto que um velho sonho finalmente ganhou a sua materialidade, para fugir do campo da mera divagação. Sobre o que eu falo? 

Bem, é preciso retroagir na história para esclarecer ao leitor, que eu, Luiz, fui o guardião do material da nossa banda, desde que ela encerrou as suas atividades e antes desse acontecimento fatal ocorrido em 1987, na prática, eu mesmo houvera sido, desde sempre, o responsável pela montagem do portfólio da banda, armazenamento de fotos, arquivamento da papelada em geral, além de guardar o material com fitas K7, o recurso pelo qual dispúnhamos naquela época para resguardar o material capturado em ensaios, demo-tapes, entrevistas de rádio e shows ao vivo. 

O único item que eu não controlava pelos meus parcos recursos pessoais, fora a captura de vídeos de nossas apresentações em programas de TV e eventuais filmagens de shows ao vivo, mas apesar da minha precariedade financeira à época, o Rubens gravou muito material e através de fãs abnegados, uma quantidade de vídeos agregou-se com o passar do tempo, em resgates muito bem vindos e emocionantes pela caráter de relíquia, no sentido arqueológico mesmo para a nossa banda. 

Bem, maravilha, o material ficou guardado e catalogado, todos os dados sobre os números gerados pela banda, devidamente anotados etc. e tal. 

Entretanto, um componente sempre atormentou-me, com o passar do tempo: a deterioração do material, principalmente no tocante aos vídeos, fotos e fitas K7. Os anos foram a passar e eis que chegou a Era digital e eu desde sempre quis salvar tudo o quanto antes, mas as condições financeiras dificultavam sempre essa tomada de resolução.

Foi apenas em 2006 que eu pude enfim comprar um gravador de DVD com conversor automático de vídeo, padrão VHS e em meio a uma maratona caseira, salvei tudo o que eu possuía em termos de filmagens e aliás, não apenas sobre A Chave do Sol, mas também de outras bandas pelas quais eu fui componente. 

Mas esse foi um passo tímido ainda, pois daí a colocar esse material efetivamente à disposição dos fãs do trabalho, ainda demandou bem mais tempo. Foi somente a partir de 2012, que eu efetivamente tive apoio, em princípio da parte do Site/Blog Orra Meu, mas com ações que se limitaram ao campo de alguns lançamentos de vídeos pela Internet. 

Entre 2014 e 2016, uma nova parceria apareceu, desta feita com a abnegada amiga e ativista cultural, Jani Santana Morales e assim pudemos avançar mais com o resgate de mais alguns vídeos raros, que encantou os fãs e deu-me muito alegria, certamente por finalmente sair das gavetas e ganhar a acessibilidade virtual.

Todavia, a grande concretização sonhada há anos, só tomou forma ao final de 2019, quando eu pude reunir recursos para resgatar fotos, algumas ainda não reveladas (pasmem!) e finalmente, digitalizar todas as fitas K7 e entre elas, a esmagadora maioria a conter material d'A Chave do Sol. 

Nesse sentido, quem me auxiliou muito foi o meu amigo e colega n'Os Kurandeiros, o guitarrista, Kim Kehl, que instalou o programa especial de captura e tratamento do áudio em seu computador e mediante uma dose de paciência imensa que teve, entregou-me o pendrive para que eu pudesse iniciar, já nos primeiros dias de 2020, a decupagem desse gigantesco material e daí a dar o estopim para que nós pudéssemos partirmos então para a parte mais ambiciosa desse resgate, ou seja, a possibilidade de se lançar discos, com característica de "Bootleg", naturalmente, mas a concretizar o sonho desse material eternizar-se e sobretudo, encorpar a discografia da nossa banda. 

A parceria com o Kim foi mais ampla, pois ele não apenas digitalizou o material, mas incumbiu-se e empenhou-se muito em também preparar o áudio, editar e mixar (dentro das possibilidades de captura, feitas de maneira precária da maioria das fitas, é claro), e ao ir além, ao criar e dar cabo do lay-out final das respectivas capas de cada disco que seria lançado no mercado e mais um dado importante: foi dele o contato com o pessoal da Crossover Records que interessou-se em lançar o material, e assim, tudo encaixou-se como por um ato de magia Rocker. 

Em meu primeiro esforço de organização, eu decidi então começar pelos áudios mais remotos e o primeiro desafio foi organizar dois fragmentos de shows, um de 1982 e o outro de 1983, que são justamente os mais remotos disponíveis que dispúnhamos. 

Mais antigo do que isso, há uma fita que registra fragmentos de ensaios, com músicas truncadas em fase de elaboração, pequenas ideias surgidas a esmo em termos de riffs, pedaços de harmonia & melodia, convenções, linhas de baixo e bateria e ideias para solos de guitarra. Está nos planos decupar esse material para ser lançado no futuro, como uma relíquia ao sabor do que os Beatles elaboraram com a série de CD's lançados nos anos 1990, "Anthology", com um teor assim. 

Mas para início de lançamento dessa linha de Bootlegs históricos, eu precisava de algo mais substancial e assim, decidi fechar com shows ao vivo e demo-tapes melhor gravadas e o primeiro em que eu e Kim trabalhamos, a seguir essa linha cronológica, foi esse material ao vivo, a conter dois shows realizados em 31 de dezembro de 1982 e 1º de janeiro de 1983, com a formação como quarteto, a apresentar a esfuziante presença de Verônica Luhr, a vocalista que foi componente da nossa banda entre outubro de 1982 e março de 1983, ao ter gerado poucos, mas intensos seis meses de trabalho, portanto.

Lamentavelmente, é o único material que dispúnhamos com a voz dela na linha de frente da nossa banda. Em 2011, eu havia procurado um estúdio especializado em digitalização de fitas K7 e essa foi a primeira fita que eu havia recuperado, mas tal trabalho fora concluído de forma parcial, a denotar má vontade desses profissionais, que entregaram-me uma maçaroca que fizeram, a conter apenas alguns trechos de poucas canções ao alegar com isso que a fita estaria completamente comprometida pela ação do mofo e dessa forma, o que haviam conseguido salvar foram aqueles fragmentos. E foi justamente esse material registrado como um "Pout-Pourri", que foi lançado pelo site/Blog Orra Meu em 2012, com o formato de um promo/vídeoclip. 

Na época, eu fiquei feliz que esse clip tivesse ido ao ar, como a única peça a representar a passagem da Verônica pela nossa banda e então, conformei-me com a sua característica prejudicada pela extrema parcimônia e mutilação inevitável, bem no espírito do mais absoluto conformismo em torno do conceito de que tivesse sido o melhor possível. 

No entanto, eu não cometi a loucura de jogar fora a fita K7 original, mesmo com a alegação de deterioração da parte daquele estúdio que mal a recuperara e assim, sete anos mais velha e supostamente sob um estado ainda mais deplorável, eu arrisquei levá-la no bojo das outras tantas fitas para o que o Kim pudesse fazer a digitalização geral e que boa nova eu tive quando ele me disse que havia salvo o seu conteúdo por inteiro e que já estava a promover um trabalho de limpeza para promover a limpeza dos ruídos típicos de uma fita K7 e fazer o possível para equilibrar o "LR" (os lados direito e esquerdo do estéreo), aleatório da captura original, colocar ambiência com um pouco de reverber, compressão e aumentar a dose de grave e agudo para dar o maior brilho possível a garantir uma inteligibilidade mínima, visto que a captura é bem prejudicada e nesses termos, nenhum "milagre" poderia ser efeito. 

Ora, só por ter salvo o material na íntegra, já foi o suficiente para eu comemorar muito e se houve a possibilidade de melhorar um pouco, que maravilha, pensei eu.

Continua...

domingo, 15 de novembro de 2020

Crônicas da Autobiografia - O TCC da Divagação - Por Luiz Domingues

    Aconteceu no tempo do Pitbulls on Crack, por volta de 1995

Pedidos para ajudar estudantes a comporem trabalhos como o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), para uma faculdade e até tese para mestrado, sempre foram comuns para diversos artistas. Isso por que em nosso caso, muitas pessoas escolhem temas ligados ao Rock, sob diversas nuances para estudarem e assim, há muitos anos eu acostumei-me com tal dinâmica e de fato, nesse espaço de tempo todo da minha longa carreira, foram muitas as abordagens que eu recebi e posso afirmar, sempre foi um prazer prestar depoimentos para tais estudantes à cata de informações para elaborarem as suas respectivas pesquisas.

Entre tantas solicitações dessa monta, lembro-me que no tempo em que eu fui componente do Pitbulls on Crack, um rapaz nos abordou para pedir um depoimento e o seu trabalho de pesquisa seria baseado em seu anseio para mapear o panorama do Rock noventista no Brasil. 

Tema amplo, certamente e prejudicado pela visão comprometida pelo seu óbvio imediatismo, eu não escolheria algo assim para fazer um trabalho de conclusão de curso, porém, o problema não foi meu e assim, aceitei de pronto auxiliá-lo. 

Não estive sozinho nessa tarefa, o guitarrista da minha banda, Deca, participou, também.

Marquei a entrevista com o rapaz para um sábado a tarde em minha residência e ele chegou munido de uma câmera, pois alegou que seria mais fácil para coletar as nossas falas dessa forma e que iria decupar a posteriori tal material e extrair as informações que lhe interessavam, para o seu trabalho. 

Tudo bem, sem restrições de minha parte e do Deca, ele preparou o seu equipamento e nos disse que não faria nenhuma pergunta, ao nos deixar livres para falarmos à vontade. Que assim o fosse, passamos a falar livremente conforme o solicitado.

Foi então que o rapaz deu uma pausa na máquina e nos pediu para falarmos mais naturalmente, como se estivéssemos a conversar informalmente no ambiente de um bar ou algo semelhante, pois considerou que estávamos a falar mecanicamente, de forma engessada. 

Ora, não seria um depoimento apenas para lhe passar informações sobre como enxergávamos a cena do Rock noventista no Brasil em voga? Por que a preocupação para que a nossa expressão fosse despojada? Então não seria uma pesquisa estudantil para a elaboração de um TCC, mas um depoimento para fazer parte de um documentário ou algo do gênero? 

É interessante dizer ao leitor, também, que não existia o YouTube e nenhum portal semelhante ainda na Internet e muito menos as redes sociais, portanto, qual teria sido o objetivo real do rapaz ao nos filmar e sobretudo ao fazer uma cobrança para estabelecermos uma postura despojada desse nível?

Bem, ao percebermos que aquela abordagem ficara bem estranha ao fugir do seu suposto interesse estudantil em torno de uma pesquisa, eu e Deca passamos a conversar de uma forma bem despreocupada para passarmos informações para o tema e fomos longe a divagar, para ver até quando o rapaz interviria para cobrar mais foco de nossa parte, contudo, para a nossa estupefação velada, não, ele ficou ali a gravar por quase duas horas, sem falar nada e nos deixou à vontade, mesmo ao ter ficado nítido, até para nós mesmos que falávamos, que havíamos fugido muito do assunto em meio a um devaneio que para o tema que ele quis pesquisar, ficou realmente muito distante e deveras desinteressante. 

Ao final, ele nos agradeceu e partiu, não sem antes nos avisar que deixar-nos-ia informados sobre o destino de sua pesquisa e possivelmente haveria por providenciar uma cópia daquela filmagem para nós. 

E quando estivemos a sós, eu e Deca, lembro-me que comentamos estarmos ambos acometidos pela sensação de estupefação ante o ocorrido. O que teria sido aquela filmagem, afinal de contas? Cogitamos até a hipótese de que o rapaz, por alguma razão pessoal, tenha desistido de colher o nosso depoimento por considerá-lo irrelevante por alguma razão e constrangido por estar ali e a nos fazer perder tempo, fingiu filmar, para não criar um embaraço descortês. 

Ora, se fosse o caso, ele teria ficado com os cinco minutos iniciais da filmagem, quando eu e Deca falamos focados no tema que ele havia proposto. E mais um detalhe, a luz vermelha da câmera, a indicar o ato de estar a gravar, esteve ligada o tempo todo, portanto, descartamos a hipótese de que ele tenha simulado a filmagem e mais um dado, por que aguentaria ficar ali por duas horas a nos filmar a falar sobre questões irrelevantes à sua pesquisa?

Em suma, esta história entrou para o rol daquelas que se apresentaram para o campo dos enigmas jamais esclarecidos, mesmo por que, o rapaz nunca mais nos procurou e assim, ficamos sem saber o que isso significou, realmente.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Autopercepção - Por Telma Jábali Barretto

Cada vez mais somos convidados, estimulados a isto que julgamos como “sinal dos tempos”... e bons tempos... Tudo conspira nesse sentido e nunca fomos tanto o centro dos processos que nos cercam. Bastante bonito todo esse movimento e a sensação de nova proporção diante da responsabilidade adquirida em função dessa demanda, também, bem diferente. Talvez, por conta disso vemos a todo momento pessoas indo até o oposto daquilo que pensamos...?!...(só mesmo o senhor tempo revelará...) estejamos mais predispostos a outras situações, igualmente apontadas como sintomas modernos como ansiedade, estresse e muitas mais que seguem nessa sintonia aí... Fato é que somos instados a essa muito bem-vinda!!!

Autopercepção em meio a curas buscadas que, mesmo antes delas, como lidar com elas... essas emoções e pensares sempre antes presentes em nosso cardápio, possivelmente em menor proporção já que nós, seres ditos humanos, desse abençoado planeta e vida a que temos direito de ora usufruir, vivíamos com a consciência mais centrada num plano muito mais individualista e... claro e também, olhar bem mais restrito a um tempo e circunstâncias menores e... ousamos dizer que nossa vidinha cabia circunscrita em mais simples e pequenos círculos, abrangências de contato, convívio e trocas, não só as de interações humanas, mas em níveis ou tamanhos comportados daquilo que, ali, conhecíamos proporcionais ao que se resumisse, então, nossa existência. 

Já dizia frase bem conhecida e sim!!! e sem dúvida, “conhecimento liberta” e acompanhado dessa libertação, responsabiliza em igual medida! Tal como qualquer crescimento que deixa a infância, a adolescência... etc... etc... Percebermos e reconhecendo como mais e melhor cuidamos do corpo físico e denso que é e, ainda, a aventura em trazer luz sobre as próprias sensações, acrescida de mente que contínua e ininterruptamente solicitada a tantos pensares mais múltiplos bem além, bem mais adiante de si, estendendo a tão longínquos lugares bem mais amplos que família biológica, alcançando núcleos com novas distâncias, abraçando “famílias maiores” que a consciência ampliada soube conquistar, aderir e valorizar... e ... nossa pergunta latejando: acha pouco até onde chegamos?!...

Viemos de gigantesca jornada forjada no passo a passo, lento e gradativo que nem por isso menos relevante e grandiosa. Estamos no limiar desse maravilhoso despertar e quanto amadurecimento, ainda, com suas belezas e dores nos aguardam pacientemente... Celebrando descobertas e assustando com o que daí advenha. E que venham!!! Sagradas e abençoadas mortes a nos levar a florescer... sementes perecendo e possibilitando desabrochar de uma mais adulta humanidade. Perceber e participar, com alguma consciência, em crescente olhar maximizado sobre si e sobre a imensa Vida Cósmica vislumbrada, sentir-se célula d’Ela num transbordar de gratidão pela beleza da magia dessa existência. JAYA, JAYA, JAYA!!!

 

Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira civil, é também uma experiente astróloga, consultora para harmonização de ambientes e instrutora de Sudha Raja Yoga. Neste texto, a colunista nos fala sobre a autopercepção como um exercício mais do que necessário.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 403 - Por Luiz Domingues

Eis que já a visar contar com novidades para oferecer aos fãs como objetos de merchandising durante o show que faríamos em julho de 2020, uma boa perspectiva abriu-se quando eu tomei ciência de que uma velha amiga estava a produzir uma linha de produtos de decoração com as capas de discos de diversos artistas e que ao já ter feito toda a discografia de um ex-aluno meu, Marcelo "Pepe" Bueno, motivou-me inicialmente a produzir tais peças como promoção para os três volumes do meu livro então recém lançado. 

E por terem ficado tão boas, passou algum tempo, eu encomendei também a feitura de mais produtos, desde feita a conter as capas de todos os discos que eu lancei na minha carreira, até este momento de 2020.

E afinal, de que produto eu falo? Pois é, Amanda Fuccia era (é) uma artesã e artista plástica muito habilidosa, portanto costumava criar muitas alternativas interessantes, normalmente, mas neste caso, eu falo sobre uma linha de almofadas para o uso decorativo e para o conforto de assentos em geral, como linha para sofá, poltrona, cadeira e cama de uma forma geral e assim, ela providenciou-me as capas dos discos d'A Chave do Sol e claro, além de eu colecionar particularmente e abrir-se a mesma possibilidade aos meus companheiros, evidentemente que pretendi colocar à disposição dos fãs, a serem vendidas durante o show que ocorreria em julho de 2020. 
Feitas com um ótimo tecido, com costura caprichada e a presença de zíper para facilitar as lavagens periódicas, se apresentavam sob o tamanho padrão em torno da medida 40x40. Com bonita impressão, eu gostei muito do resultado e certamente que animei-me muito com a perspectiva de que tais produtos haveriam por agradar muito os fãs do nosso trabalho e que seria um prêmio a mais para quem se dispusesse a ir nos ver tocar ao vivo, após longos trinta e três anos de hiato gerado pelo final das atividades oficiais da nossa banda, desde o longínquo ano de 1987.
E assim, mesmo com a pandemia a aumentar a sua agressividade e a postergar a possibilidade da quarentena abrandar-se, ficamos preparados com essa boa opção para oferecer ao fãs da nossa banda, assim que possível, em relação à concretização do show anteriormente marcado para julho e adiado sine die. 
Foi sensacional contar com o apoio de Amanda Fuccia, uma artista que eu conheço há muitos anos, pelo fato dela ser filha de Ana Fuccia, e esta a revelar-se como uma grande fotógrafa, que fez fotos promocionais e para capas de discos, além de muitos shows ao vivo da Patrulha do Espaço, quando eu fui componente dessa banda.
Mas a surpresa aos fãs, programada para ser divulgada a partir do show, apenas, não ficaria concentrada nas almofadas. Pelo contrário, uma outra novidade, que na verdade foi um sonho acalentado por muito anos, também entrou em franca produção logo no início de 2020, portanto antes da pandemia chegar oficialmente ao Brasil e curiosamente demarcada pelo breve instante de 2020, onde nem cogitávamos que a vida social seria duramente prejudicada e a cultural, praticamente circunscrita ao mundo virtual. 

Falo sobre essa outra novidade a seguir, e mesmo que o plano inicial para tornar pública a sua produção, houvesse sido planejado para ser uma surpresa a ser revelada apenas por ocasião do show de julho, foi óbvio que a quarentena apenas mudou a planificação inicial, mas não coibiu a sua preparação durante esses meses em que só trabalhamos de forma virtual.

Continua...

domingo, 1 de novembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 402 - Por Luiz Domingues

Foi então que eu sugeri um nome que supriria com bastante naturalidade a nossa necessidade de uma voz principal potente e com um potencial gigantesco para atuar como guitarrista e tecladista, igualmente, ou seja, quem mais a não ser, Rodrigo Hid?

Preciso explicar ao leitor da minha autobiografia quem ele é, ou sobre a ligação que nós temos como amigos e parceiros na música? Pois é, ao citar a minha ligação de amizade com ele que remonta ao meu tempo como professor e expresso no capítulo "Sala de Aulas" da minha autobiografia, ele como um adolescente e agregado das minhas aulas por tocar em uma banda de um aluno meu, o Alexandre Peres "Leco" Rodrigues, depois já a tornar-se colega de banda no Sidharta, o desdobramento desse projeto que nos levou juntos a tocarmos com Patrulha do Espaço e como se não bastasse tudo isso, o fato de termos tocado por quase dez anos em uma outra banda, o Pedra, fez dele um personagem recorrente em meu texto autobiográfico.
Rodrigo Hid durante as sessões de gravação do CD Chronophagia da Patrulha do Espaço. Estúdio Camerati de Santo André-SP, em janeiro de 2000. Acervo: Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato. Revelação e digitalização em 2020: Vinicius Troyan 

E havia mais, pois o Zé Luiz Dinola também esteve junto conosco no Sidharta e ambos tiveram uma banda que tocou na noite por um tempo a tocar covers de Classic Rock, o "Tarantula". E eu e Dinola tocamos algumas vezes com o "Hid Trio" outra banda cover a atuar pela noite, com membros flutuantes e graváramos duas músicas em 2017, para compor o seu ainda não lançado disco solo, portanto, Dinola conhecia muito o Hid e claro que adorou a ideia.

Rubens também aprovou a sugestão, pois mesmo sendo o único entre nós do Power-Trio d'A Chave do Sol que nunca tocara com o Rodrigo Hid em alguma banda, por outro lado, conhecia bem a sua carreira e portanto, soube de imediato que fora uma boa escolha.

Rodrigo Hid em destaque (com Ivan Scartezini ao fundo), durante o show "Reunion" do Pedra em 5 de abril de 2019, no Teatro do Sesc Belenzinho, em São Paulo. Click, acervo e cortesia: Cesar Gavin

Feito o convite, Rodrigo Hid mostrou-se feliz pela lembrança e aceitou o convite para participar do nosso show "reunion", marcado para 15 de julho de 2020, a ser realizado no Teatro Cacilda Becker, no bairro da Lapa, na zona oeste de São Paulo. 

A ideia inicial foi formular então um repertório base para os quatro músicos se concentrarem em trabalhar e assim marcar-se ensaios entre maio e junho de 2020. No caso do Rodrigo, seria vital definir o quanto antes o que tocaríamos, pois ele precisava mais dos que os membros originais da banda, familiarizar-se com as canções e fazer as suas escolhas sobre qual instrumento tocar em cada, uma, se a guitarra ou a suprir com teclados. 

Eu antecipei-me e lhe disse que gostaria que ele tocasse mais teclados nessa missão, justamente para encorpar o som da nossa banda com uma orientação mais setentista e assim a resgatar a raiz mais primordial d'A Chave do Sol que nasceu assim em 1982, sob forte orientação setentista em seu rol de influências, então, eu mal poderia esperar para ensaiar e ter em músicas como "18 Horas" e "Átila", por exemplo, um som vigoroso de órgão Hammond com a caixa Leslie a rodar rápida, piano ao estilo Honk Tonk em "Luz" etc.

Dessa maneira, sob uma votação simples, entre eu (Luiz), José Luiz Dinola e Rubens Gióia, fechamos com as seguintes músicas para compor o set list do show:
1) Luz
2) 18 Horas
3) Anjo Rebelde
4) Crisis (Maya)
5) Intenções
6) Um Minuto Além
7) Átila
8) Sun City
9) Saudade

Dessa forma a revelar-se como um set curto, definimos que a canção: "Luz" seria cantada pelo Rubens para demarcar bem a sua gravação original do Compacto de 1984 e tirante as instrumentais (18 Horas, Crisis/Maya e Átila), as demais ficariam sob a responsabilidade vocal do Rodrigo.

Zé Luiz Dinola em destaque no show realizado em 21 de maio de 1984, na Faap em São Paulo. Acervo: Luiz Domingues. Click: Seizi Ogawa 

Uma segunda frente foi iniciada, pois se iríamos fazer esse show, a oportunidade de estarmos ensaiados novamente, abriu essa chance e uma tratativa de bastidores foi feita de imediato, mas eis que em meados de fevereiro a pandemia chegou com força devastadora ao Brasil e a quarentena foi imposta como medida sanitária acertada e mesmo que tudo tenha sido assustador, nessa época e até meados de março, houve a vã esperança de que se atingisse o platô da doença por volta de maio e assim, em julho a nossa data já agendada não sofresse nenhum dano. Mas à medida que o tempo avançou, percebemos que essa possibilidade não seria plausível.

Rubens Gióia em um dos shows de lançamento feitos no Teatro Lira Paulistana, de São Paulo, em 30 e 31 de julho de 1984. Acervo: Luiz Domingues. Click: Carlos Muniz Ventura

Tudo bem, a pandemia atrapalhou os nossos planos mas não arrefeceu a nossa animação. Montamos o grupo de Whatsapp para falarmos sobre os nossos planos e eu fiquei contente por saber que o nosso convidado especial, Rodrigo Hid se integrou com muita alegria, ali também. 

Então, mesmo sem perspectivas concretas para se pensar em remarcar oficialmente a data prevista anteriormente para o Teatro Cacilda Becker e muito menos seguir em tratativas para um segundo show em um outro teatro famoso da cidade, ao menos a nossa banda seguiu a gerar novidades sensacionais no campo do marketing e melhor ainda, com lançamentos há muito tempo sonhados e somente nesse momento a se concretizar efetivamente!

Continua...