domingo, 28 de fevereiro de 2021

Crônicas da Autobiografia - Questionário Compulsório - Por Luiz Domingues

              Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol em 1982...

Entre os Rockers, é comum a presença de pessoas que se apresentam como grandes conhecedoras desse extenso universo, a manter uma visão enciclopédica sobre o assunto. Houve época em que essa característica se provou notória para dez a cada dez donos de lojas de discos especializadas e haja vista que esse fator foi preponderante para a formação da dita: "Galeria do Rock", em São Paulo, local que em seu auge chegou a conter quase duzentas lojas a operarem no mesmo centro comercial, em plena avenida São João, no centro velho da capital paulista. 

Bem, trata-se de uma capacidade de armazenamento de dados impressionante a denotar o bom conhecimento de causa, memória prodigiosa e sobretudo, amor ao Rock, portanto, qualidades admiráveis da parte desses Rockers.

Mas nem todo "expert" no assunto, usa o seu conhecimento vasto com o bom propósito para difundir o Rock, formar novas gerações de adeptos ou trabalhar como um potencial arquivista a preservar a memória do gênero, pois ao contrário, tais pessoas dotadas de intenções escusas, mais usam a sua bagagem cultural avantajada para o exibicionismo e assim proceder para alimentar a soberba, infelizmente. 

Bem, isso não acontece somente com Rockers, se é que possa servir como consolo, pois, é um fenômeno generalizado em qualquer meio, aliás, não é preciso nem divagar muito, basta ver o comportamento padrão de certas categorias profissionais bastante corporativistas e que por conseguinte se colocam como uma espécie de casta superior dentro da sociedade e também no meio acadêmico onde o excesso de erudição de certos "scholars", geram alguns transtornos bem visíveis.

Então, o caso que eu cito nesta crônica, não caracterizou o primeiro e tampouco foi o último com o qual eu tive contato direto. Isso sempre ocorreu, acontece e arrisco dizer, se repetirá mais vezes no futuro, pois eu não vejo perspectiva de que não se repita.

Eis que bem no começo das atividades d'A Chave do Sol e exatamente no show de estreia da nossa segunda vocalista, Verônica Luhr, nós tocamos como atração musical convidada para entreter a plateia de um festival estudantil, enquanto o corpo de jurados se reunia para deliberar as notas das bandas que ali concorreram. Tal acontecimento deu-se no auditório do Colégio Manuel de Paiva, situado no bairro do Campo Belo, na zona sul de São Paulo.

Foto d'A Chave do Sol de 1983, nas a exibir a formação d'A Chave do Sol que vinha desde 1982, época em que esta crônica trata. Click de Seizi Ogawa

Bem, nós fizemos o show com excelente desenvoltura e receptividade da parte do público que ali compareceu e ficamos muito felizes pelo desempenho da Verônica Luhr, que já em sua primeira atuação conosco, mostrou-se exuberante. Tanto foi assim, que o assédio no camarim foi forte e muito nos animou, visto que aquele fora apenas o nosso quinto show na carreira iniciante de nossa banda. 

Todavia, alegria a parte, eis que um rapaz entrou no camarim para nos cumprimentar, mas logo a seguir ele adotou uma posição desagradável, ao nos questionar com bastante ironia, sobre uma questão que levantou, e que na prática, se mostrara irrelevante dentro do contexto da nossa apresentação. 

O fato, foi que nesse início de atividades da nossa banda, nós fomos a compor o nosso material com a banda já a atuar ao vivo, portanto, nas primeiras apresentações que fizemos, tivemos poucas músicas autorais para executarmos e dessa forma, preenchíamos espaço com a inclusão de releituras de clássicos do Rock internacional em predominância e alguns nacionais, também. 

Pois foi nesse exato detalhe que o rapaz se apegou para nos afrontar com um tipo de abordagem que não foi exatamente agressiva e desrespeitosa, mas certamente se mostrou desagradável pela sua intenção velada. 

Aconteceu que nós havíamos tocado a música: "Cocaine" (também apelidada informalmente como: "She Don't Lie", uma ironia que faz parte da letra da canção), cuja autoria é do grande astro norte-americano do Folk-Rock, J.J. Cale, mas no imaginário popular, tal canção seria do guitarrista, Eric Clapton que a regravara. 

Cabe dizer que J.J. Cale a lançara em seu LP "Trombadour" de 1976, e Eric Clapton a regravou em 1977, ou seja, logo a seguir, através do seu disco, "Slowhand". Clapton a gravara por ser um grande fã do trabalho de J.J. Cale, portanto não foi à toa, visto que em 1970, já havia gravado uma outra canção do mesmo autor, "After Midnight", em seu primeiro LP solo, homônimo. 

Então, com síndrome de "expert", esse rapaz ficou a ironizar-nos por termos tocado a canção, "Cocaine", sem sabermos quem seria o seu real autor, ao nos julgar incautos que pensavam ser a autoria de Eric Clapton. 

Ora, estávamos felizes naquele camarim, a atendermos as pessoas que gentilmente ali nos procuraram para cumprimentar e elogiar a nossa apresentação e esse rapaz ali ficara a insistir com brincadeiras sem graça, a nos impor ironia gratuita e a contestar se teríamos ou não a real noção sobre essa questão e pior ainda, a colocar em cheque a nossa banda, pois segundo a sua lógica, se nós não soubéssemos desse pormenor, ele insinuara que não teríamos condições de pleitear notoriedade na carreira, ou seja, questionara o nosso valor como artistas, acaso fôssemos ignorantes em tal quesito, como ele deduzira.

Ora, para ter noção do campo cultural que estávamos a atuar e com pretensões artísticas bem delineadas, realmente denotaria a necessidade de se contar com uma noção geral sobre tal espectro, isso eu concordo, mas daí a depender de se ter certeza sobre uma informação tão específica, como se fosse uma pergunta capciosa contida em uma prova do vestibular a decidir se entraríamos na Universidade do Rock para merecermos pleitear um diploma de tal cátedra, realmente caracterizou um enorme exagero de sua parte e pior, a revelar a sua real intenção de nos humilhar para se impor como alguém que realmente conhecia mais do que nós sobre o ramo.

Todavia, que bom que nenhum componente da nossa banda, incluso eu mesmo, se deixou levar pela armadilha que o rapaz quis lançar sobre nós, portanto, não houve um grande aborrecimento que estragasse a nossa noite, que fora ótima. 

Essa história apenas marcou pelo fato extra de ter surgido mais um "sabichão" a querer se exibir e pior, a querer nos diminuir por conta de uma disputa de conhecimento forjada por ele próprio, com o claro intuito de buscar se alimentar da sua própria empáfia.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Crônicas da Autobiografia - Soft-Rock na Hora do Pesadelo de uma Sexta-Feira 13 - Por Luiz Domingues

                       Aconteceu no tempo do Pedra, em 2007

Nos anos setenta e oitenta, para uma banda independente aparecer em um programa de popular da TV aberta, não era exatamente uma tarefa impossível. Eu mesmo posso comemorar o fato de que tive inúmeras oportunidades nesse sentido, como membro de bandas pelas quais eu atuei, casos do Língua de Trapo, A Chave do Sol e The Key e mesmo nos anos noventa, com maiores restrições, oportunidades interessantes surgiram para a minha banda nessa década, o Pitbulls on Crack, ainda que mais restritas aos espectro da MTV, mas por outro lado, pode-se afirmar sobre tal emissora, que se revelou como uma estação dentro do campo da TV aberta e convenhamos, canal esse a desfrutar de um certo modismo à época. 

Depois disso, as portas cerraram-se de vez e no avançar dos anos 2000 em diante, através de outras bandas pelas quais eu toquei, como: Patrulha do Espaço, Pedra, Kim Kehl & Os Kurandeiros e Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, todas elas ficaram todas relegadas ao mais completo obscurantismo em termos televisivos, a se apresentarem quase que exclusivamente em programas a operarem no limbo subterrâneo de emissoras irrelevantes de canais obscuros da TV a cabo, a se tratarem geralmente de emissoras comunitárias compulsórias que as operadoras eram obrigadas a manter nas suas respectivas grades, a guisa de serem supostamente agentes de prestação de serviço público. Ou nas iniciantes TV's de Internet, no caso do final dos anos noventa/início dos dois mil.

Mesmo ao se considerar que A Patrulha do Espaço fora uma banda com história grandiosa, e no caso do Ciro Pessoa, individualmente ele também mantinha o seu prestígio artístico por ter sido um ex-membro dos Titãs e de Kim Kehl & Os Kurandeiros, por também manter uma longa trajetória na cena.

No caso do Pedra, tratava-se diferentemente de uma banda que começara a sua a trajetória da estaca zero e há pouco tempo. Havia o apelo em torno de pelo menos três de seus componentes contarem com uma trajetória individual bastante respeitável em termos de currículo, visto que apenas o Ivan Scartezini, o nosso baterista, apresentava uma trajetória um pouco mais nova na música, mas mesmo assim, para todos os efeitos, éramos uma banda nova no mercado. 

Então, ao contar com o panorama difícil de metade de primeira década do novo século e sobretudo pelo espaço fechado para artistas independentes, sequer com abertura na emissora outrora interessada em música, a MTV, nós participamos de programas nesses moldes e foram poucos na verdade.

Um deles, ocorreu em um curioso programa produzido por pessoas abnegadas, músicos e agitadores culturais apaixonados pelo que faziam, chamado: "Sleevers", exibido pela "TV Alterna" e sob a condução de Fabio Macarrão. 

E assim, o Pedra foi convidado por esse programa e lá fomos nós em uma noite de maio de 2007, filmarmos a nossa participação que seria com duas músicas capturadas ao vivo em um estúdio ("Tonelada", localizado no bairro da Vila Mariana, zona sul de São Paulo), e a contar com mais um bloco de entrevista, ou seja, algo muito positivo.

Mas a despeito da extrema boa vontade e hospitalidade de seu produtor e apresentador, além dos membros da sua equipe, houve ali de forma implícita uma característica com a qual não contávamos. 

O fato, foi que essa rapaziada era mais entusiasta das correntes pesadas do Heavy-Metal e por conseguinte, a proposta do programa foi montada no sentido de reproduzir uma atmosfera de filme de terror, na linha mais moderna desse gênero cinematográfico, em torno das películas com histórias sobre psicopatas sádicos que torturam e matam pessoas a esmo, sem maiores explicações etc. e tal. 

Então, quando fomos gravar a nossa participação, esses rapazes entraram no estúdio para cumprirem a função de cinegrafistas a usarem macacões de cor laranja e máscaras macabras, dentro desse espírito e a movimentarem-se entre nós para filmar de uma maneira frenética, a estabelecer uma atmosfera perturbadora. 

Claro que eu achei bastante divertida e criativa tal linha de atuação, embora na realidade, fosse algo absolutamente antagônico à estética da nossa banda. De fato, fazia mais sentido com bandas sedimentadas na estética do Heavy-Metal e de preferência as mais radicais, do dito Metal extremo ou mesmo orientadas pelo Punk-Rock. 

E certamente se tratava do tipo de sonoridade que esses rapazes gostavam (inclusive eles formavam uma banda a atuar com esse espectro) e praticamente só filmavam outras bandas desse mesmo mundo correlato.

Bem, foi bem curiosa a nossa presença ali a tocar: "Sou Mais Feliz", por força de ser o nosso maior sucesso na ocasião, mas a tratar-se de uma canção no estilo Soft-Rock com alto teor Pop, portanto a destoar bastante da linha do programa, mas foi divertido, não posso negar.

Tocamos também, a música: "Se agora eu Pulo Fora", teoricamente um tema mais pesado para o nosso consenso interno, mas que na prática, deve haver soado como uma pluma para aqueles rapazes, entusiastas do Heavy-Metal. 

A minha lembrança de um dos personagens a dançar dentro do ritmo da canção, com uma máscara de porco, a trajar paletó, gravata, cueca por cima da calça e a distribuir notas falsas de dólares a satirizar o capitalismo, foi a mais divertida do que as dos monstrengos representados pelos demais, em minha avaliação. 

E ainda introduzimos ao final da nossa performance um trecho da música: "The Mule" do Deep Purple, para tornar tudo ainda mais bizarro dentro daquela ambientação. 

Gravamos essa participação na noite de 29 de maio, porém, o programa foi ao ar em 15 de junho de 2007. E assim, mesmo ao nos sentirmos como estranhos no ninho, eis que participamos desse bizarro programa.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Crônicas da Autobiografia - Brinquedo Novo que Fascina - Por Luiz Domingues

          Aconteceu no tempo de um Trabalho Avulso, em 1979

Em início de carreira, qualquer músico sofre os arroubos oriundos da sua pequena vivência no meio. É um tipo de fenômeno verificado não apenas nesse meio, mas que na verdade, trata-se de um conceito generalizado e que vale para qualquer ramo de atividade. 

No caso, a falar sobre a nossa profissão, é comum que músicos inexperientes fiquem inebriados por conta do uso de equipamentos e instrumentos e que ao não saber dosar o seu entusiasmo por um eventual novo artefato que lhes seja disponibilizado. E foi exatamente o que ocorreu comigo e com o baterista que estava envolvido nesse mesmo trabalho.

Corria o ano de 1979, e a minha primeira banda, o Boca do Céu, havia encerrado a sua atividade em abril. A partir de junho do mesmo ano, iniciara-se o embrião remoto do que viria a se tornar o "Língua de Trapo" e no decorrer do segundo semestre, ainda de uma forma bem tímida, esse embrião deu os seus primeiros passos.

Nesse cenário de oportunidades tímidas, foi em outubro que eu recebi o convite para participar de uma atividade paralela e que se constituiu do meu primeiro trabalho extra, fora das minhas bandas autorais, ao fazer parte da banda de apoio do ator/diretor de teatro/cantor/compositor e pianista, Tato Fischer. 

Eu fora convidado pelo meu amigo, Cido Trindade, que já atuava como baterista dessa banda e que o conhecera em 1978, por ocasião de uma montagem teatral/musical produzida pelo Tato Fischer e cuja banda que dera suporte ao vivo nas encenações, foi liderada pelo próprio, Tato, que também tocava piano ao vivo e dirigia o espetáculo. 

Bem, convite aceito de minha parte, eu ensaiei e passei a ser componente dessa banda de apoio do Tato Fischer, já a participar de um show realizado na cidade de Cubatão-SP e a seguir, nós cumprimos uma temporada encenada em dois teatros, Martins Penna e Paulo Eiró, ambos pertencentes à Prefeitura de São Paulo. 

Pois foi em um dos show que fizemos no Teatro Paulo Eiró, que o primeiro arroubo aconteceu, desta feita perpetrado pelo meu amigo, o baterista, Cido Trindade. 

O fato, foi que ele chegou em determinado dia no teatro para o soundcheck vespertino e a carregar consigo uma novidade: um cowbell, que acabara de comprar e muito excitado por tal aquisição, rapidamente instalou a peça de percussão acoplado ao seu bumbo e o tocou com bastante ímpeto, durante todo o soundcheck. Inebriado, ele naturalmente abusou muito do uso, mas fora algo compreensível, na medida em que esteve encantado com a nova possibilidade sonora da qual dispunha.

Então, veio o show e ... bingo, o Cido se mostrou apaixonado pelo cowbell e em toda as músicas, tratou de usá-lo a tornar tal recurso que é lindo, se usado nos momentos certos, como algo enjoativo e não deu outra, o Tato reclamou no camarim no momento do pós-show e já a partir do dia seguinte, o Cido diminuiu drasticamente o seu uso. 

Eu deveria ter absorvido bem essa lição que o colega teve, mas ainda na mesma turnê com Tato Fischer, eu cometi o deslize igual, atraído pelo mesmo sentimento de uma criança que ganha um presente novo no dia de Natal.

Aconteceu em um show posterior da mesma turnê, realizado no interior de São Paulo, especificamente na cidade de Penápolis-SP, que foi provido tecnicamente pelo uso do equipamento integral de uma banda de bailes local. 

E os donos desse equipamento nos cederam tudo gentilmente: PA, backline, iluminação, kit de bateria com todas as peças e pratos, teclados vintage de alta categoria e até pedais de efeitos. 

Como não tínhamos um guitarrista na formação dessa banda base, atuávamos como um Power-Trio com baixo/bateria e teclados a la Emerson/Lake and Palmer, portanto, o nosso grande tecladista, Sérgio Henriques pegou os pedais que desejou para acoplar ao seu kit de teclados e eu fiquei tentado a usar alguns também no baixo. 

O detalhe contraditório dessa minha decisão, foi que eu nunca gostei de usar efeitos no baixo e de fato, depois dessa noite, nunca mais usei um pedal ligado ao meu baixo. Entretanto, nessa tarde, ali enquanto fazíamos o soundcheck e motivado pelo fato dos donos do equipamento terem sido tão gentis em nos prover tudo o que a sua banda de bailes possuía, eu sucumbi e liguei um pedal "Phase 90", no meu set, o clássico da marca, "MXR".

Muito bem, sem sentido prático para o baixo a grosso modo, a não ser por estabelecer um detalhe a ser usado com extrema parcimônia e em um momento específico de uma música, o fato é que eu sabia disso e nem gostava de efeitos no baixo, mesmo naquela época a deter pouca experiência na música que eu tinha, porém, mesmo assim eu me deixei levar e quando o show se iniciou, eu passei o espetáculo inteiro a ligar o pedal para realçar os trechos que elegia na hora para receber tal efeito e claro, portei-me na verdade como uma criança tola que faz uso de um brinquedo novo, assim que o retira do pacote, enquanto os seus pais e avós tecem comentários sobre o quanto ela está encantada com o artefato ao seu redor.

Em resumo, não fui admoestado pelo Tato como ele o fizera com o Cido por conta do uso excessivo do cowbell em um show anterior, mas exagerei da mesma forma ao cometer o excesso por conta da fartura de recursos que nos foi oferecida, ou seja, a se tratar de uma atitude bastante inconveniente da minha parte. 

O lado bom foi que eu aprendi na prática, algo que eu já sabia na teoria, ou seja: "menos é mais" e por extensão, adquiri mais um ensinamento: "em uma festa, coma moderadamente e não motivado pelo caráter gratuito da fartura ali colocada à mesa" e que na verdade fora algo que eu também já sabia em tese, mas que infelizmente eu cometi o desatino de não seguir à risca. 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Crônicas da Autobiografia - Poucos, Porém Bons Fãs - Por Luiz Domingues

                 Aconteceu no tempo do Boca do Céu, em 1977

Entre 1977 e 1980, pelo menos, eu perdi as contas de quantos shows assisti do grupo: "Papa Poluição", uma banda de Rock híbrida, que mantinha uma forte dose de aproximação com a MPB, contudo, tal banda atuava bem naquela perspectiva setentista de uma MPB hippie a absorver tendências múltiplas da Folk-Music generalizada e profundamente comprometida com a contracultura sessentista. 

Mais que bem situada no espectro cultural, a banda era muito boa artisticamente e as suas composições se mostravam como bem inspiradas, com forte senso melódico e letras compostas mediante profundidade, bem construídas sob o ponto de vista poético e cheias de citações, a evocar signos múltiplos, da literatura de cordel aos Beatles. 

Formada por artistas nordestinos radicados em São Paulo (apenas um dos componentes era paulistano nato), tal grupo surgiu ali no início dos anos setenta e começou a despontar na cena do Rock underground na metade dessa década, mas infelizmente, não cresceu como deveria e dissolveu-se por volta de 1980. 

De sua formação, um dos componentes, José Luiz Penna, houvera sido ator na montagem brasileira da peça teatral, "Hair" em 1969 e ele mesmo, enveredou para a política nos anos oitenta em diante, quando chegou a ser presidente nacional do Partido Verde (PV). 

Além do mais, tal banda era parceira do compositor cearense, Belchior, portanto, algumas músicas que nós costumávamos ouvir em seus shows, ficaram famosas a posteriori na interpretação desse famoso artista, graças à sua maior projeção, fator que o Papa Poluição, a despeito do seu quilate artístico, nunca alcançou, infelizmente. 

Enfim, o fato é que nós que éramos aspirantes a artistas a labutarmos com o Boca do Céu, a nossa primeira banda e gostávamos muito do Papa Poluição, tanto que sempre que podíamos, íamos assistir os seus shows, em diversos teatros de São Paulo. 

O nosso guitarrista, Wilton Rentero, em visita que fez ao camarim do show d'Os Doces Bárbaros em 1976, com Gilberto Gil atrás de si. Click de Nelson Rodrigues Rentero. Acervo de Wilton Rentero

Eis que um dia de 1977, eu estava na companhia dos meus amigos e colegas de banda, Wilton Rentero (guitarrista) e Laert Sarrumor (vocalista e tecladista), em um ambiente absolutamente contrário à movimentação pela qual marcávamos presença (um malfadado Shopping Center), quando deparamo-nos com um dos componentes do grupo, Papa Poluição, a se tratar do guitarrista, Paulinho da Costa, e este a conduzir o seu filho pequeno, com cinco ou seis anos de idade, aproximadamente. 

Nessa foto promocional do Papa Poluição, o guitarrista, Paulinho da Costa é o rapaz que segura o exemplar de um jornal 

Com um visual incrível a la Hippie chic que ele usava em seu cotidiano e não apenas como figurino de palco, logo ele chamou a nossa atenção, naturalmente e claro que não perdemos a oportunidade para abordá-lo e mesmo sendo adolescentes sem um grande poder de discernimento à época, foi uma abordagem bastante educada de nossa parte, apenas para repercutir o quanto gostávamos da banda, a envolver o seu trabalho e luta. 

Curioso, o guitarrista do Papa Poluição, Paulinho da Costa, se mostrou muito surpreendido por ter sido reconhecido por nós, seus fãs, e na época, nós não entendemos corretamente tal reação da parte dele. 

No entanto, muitos anos se passaram e a responder por eu mesmo (não sei se o Wilton e o Laert tem essa percepção exatamente igual a minha, nos dias atuais, respondo por mim neste instante), mas eu penso hoje em dia que Paulinho deve ter tido a real percepção sobre o alcance popular que o Papa Poluição detinha e dessa forma, surpreendeu-se, sim, com o nosso assédio. 

Reação normal, eu compreendo que guardasse consigo a baixa expectativa a respeito da popularidade da banda, ou seja, que pena por tal sentimento de resignação, devo acrescentar, pois como eu já disse, a banda era muito boa, a despeito de não haver angariado um maior apelo midiático, como certamente o mereceu. 

Bem, a despeito dessa estupefação de sua parte, a denotar até um certo constrangimento por ter sido flagrado em um momento familiar a passear com o seu filhinho, ele rapidamente desfez essa estranheza inicial, ao nos tratar de uma forma muito cortês e ao final do colóquio, ficou feliz por saber que nós acompanhávamos com vívido interesse o seu trabalho e mais do que isso, ao tomar conhecimento que apreciávamos muito a sua obra. 

Claro que ajudou e muito a quebrar o gelo, o fato de que o Laert teve em mãos alguns exemplares da sua revista artesanal, o grande, "Sarrumorjovem" e mediante a sua apresentação ao Paulinho, este apreciou o teor da publicação, certamente, e por notar que éramos músicos iniciantes e entusiasmados pela nossa banda, assunto que colocamos à baila, igualmente.

Com o tempo, eu também aprendi que manter uma carreira no patamar underground denota contar com as suas muitas particularidades e entre os muitos aspectos negativos, existem também os pontos positivos e entre eles, a questão de se valorizar cada fã do trabalho. 

Mesmo que sejam poucos e que representem sempre os mesmos rostos que você identifica na plateia dos seus shows e até que se chegue ao ponto de você os tratar pelos seus nomes, o que realmente importa é que esses poucos, são muito bons e sinceros, pois estarão sempre contigo. 

Talvez o Paulinho da Costa tenha tido esse sentimento enquanto conversou conosco nesse dia 4 de junho de 1977 (O Laert Sarrumor anotou o acontecimento e passou-me a informação precisa em 2020), quando o abordamos em um corredor do Shopping Ibirapuera, na zona sul de São Paulo. 

Tomara que sim, pois o nosso apreço ao "Papa Poluição" era muito grande e de minha parte, digo que ainda o é, e sempre será, pois trata-se de uma obra memorável, perpetrada por uma banda muito boa, que eu guardarei com carinho na memória, para sempre.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 415 - Por Luiz Domingues

Montagem de fotos do Rubens Gióia feita pelo fã, Alejandro Daniel Marin, assim que ele soube da perda do Rubens em 15 de janeiro de 2021 e postado no seu perfil da Rede Social Facebook

O choque pela notícia bombástica, triste, chocante, foi duplicado, na verdade, pois a informação sobre o seu estado de saúde pregresso, com direito a uma longa internação, não fora divulgado, portanto, quando vazou a notícia do seu falecimento, foi um choque generalizado e com o poder da surpresa absoluta, evidentemente.

Bem, com aquela sensação muito ruim de aperto no coração e enjoo estomacal típico de quem acabou de receber uma notícia ruim sobre a perda de um ente querido, lá fui eu pesquisar na internet e logo pude comprovar a informação, com diversas pessoas a publicarem e repostarem reportagens a dar conta do falecimento do Rubens, sob uma velocidade bem grande, para que não pairasse nenhuma dúvida sobre a veracidade do ocorrido, infelizmente.

Revista Roadie Crew – Ricardo Batalha

https://roadiecrew.com/morre-o-guitarrista-rubens-gioia-a-chave-do-sol/

Rádio Kiss FM Informativo on line

https://www.kissfm.com.br/morre-rubens-gioia-guitarrista-do-banda-a-chave-do-sol/

Site WikiMetal – Nando Machado

https://www.wikimetal.com.br/morre-rubens-gioia-a-chave-do-sol-patrulha-do-espaco-santa-gang/

Site RoadieMetal – Gustavo Troiano

https://roadie-metal.com/a-chave-do-sol-morre-o-guitarrista-rubens-gioia/

Site Ligado à Música – Marcos Chapeleta

http://ligadoamusica.com.br/rubens-gioia-guitarrista-de-a-chave-do-sol-morre-aos-67-anos/

Site Wiplash – Bruce William

https://whiplash.net/materias/news_735/327852-chavedosol.html

Revista Rock Brigade on line

http://rockbrigade.com.br/xxx/morre-rubens-gioia-exa-chave-do-sol-e-patrulha-do-espaco/

Revista Dynamite on line

http://dynamite.com.br/morre-rubens-gioia-guitarrista-da-chave-do-sol/

Em questão de minutos, o blogueiro Carlos Retamero já soltou essa imagem acima em seu Blog 2112, em sinal de condolência pelo Rubens.

Bem, além da avalanche de notícias vindas da mídia especializada, a quantidade de manifestações oriundas da parte de pessoas físicas pelas redes sociais, foi enorme. Nesse ínterim, a informação mais reservada que eu havia recebido, houvera vindo da parte da companheira dele, Valéria Namur, que fora a sua acompanhante em seus últimos dias na longa internação que ele teve no hospital São Camilo, no bairro da Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo. 

Segundo o emocionado áudio que ele enviou para o whtasApp d'Os Kurandeiros, através do contrato prévio que fizera com a nossa produtora, Lara Pap, o Rubens fora internado com um grave problema de ordem gastrointestinal e tal mal se agravara após duas cirurgias, uma delas feita naquela semana e que não conteve o avanço da doença sobre o seu intestino e que lhe gerou uma infecção generalizada.  

Fora uma opção familiar não repassar a informação sobre a doença e agravamento do estado de saúde dele e mesmo por que, com a situação da pandemia mundial ainda em grave curso, certamente que o hospital não toleraria a presença de visitas, portanto, de nada adiantaria alertar os amigos em geral, certamente com a boa intenção de que ele superaria a crise e ao ter alta, pudesse então receber visitas em sua residência, se bem que com a ressalva óbvia de que a pandemia ainda estava a nos atacar com um alto grau de periculosidade.

Por último, o áudio enviado pela Valéria também serviu para que ela nos passasse as coordenadas sobre o velório e cerimônia de sepultamento. Ele seria velado por um espaço mínimo de horas em uma Igreja de orientação protestante, a denominação Batista, no caso e templo esse que era frequentado por sua família há décadas e cujo patrono in memoriam era (é) o próprio tio dele, irmão do seu pai e pastor fundador ali. Pelo que entendi, a cerimônia seria fechada para a família, sem a presença de amigos e tampouco admiradores dele como artista, fãs d'A Chave do Sol, de outros trabalhos que ele fez em sua carreira ou pessoas ligadas ao meio artístico de uma forma geral.

Naturalmente que mesmo atônito com a notícia, eu soube que precisava emitir uma nota pessoal minha e assim, parei, respirei e sob profunda comoção, escrevi um texto relativamente longo para o padrão das redes sociais, mas foi absolutamente necessário em minha avaliação. Tal postagem sensibilizou muito as pessoas, houveram mais de 870 participações com comentários estarrecidos da parte das pessoas que gostavam do Rubens e da sua obra artística. Eis abaixo, a íntegra desse texto:

Amigos: hoje, 15 de janeiro de 2021, eu tive a duríssima notícia do falecimento do meu amigo e companheiro de uma bela jornada na música, o guitarrista, Rubens Gióia. 
 
Nos conhecemos por volta de junho de 1982, e identificados por termos os mesmos ideais em torno do Rock, fundamos juntos com José Luiz Dinola, a nossa querida banda, A Chave do Sol, em julho. Em setembro de 1982, fizemos o show de estreia e dali em diante, construímos uma obra em conjunto. 
 
Tivemos ótimos momentos de alegrias compartilhadas, obras eternizadas para nos orgulharmos, rimos muito, choramos perdas, trabalhamos intensamente e sobretudo, sonhamos coletivamente em perfeita sintonia.
 
Como guitarrista, Rubens foi um talento nato, forjado pelas mais lindas tradições do Rock das décadas de cinquenta, sessenta e setenta. Entre tantas influências fortes que teve, cito músicos como: Jimi Hendrix, Johnny Winter, Carlos Santana e Alvin Lee, sobretudo, mas ele admirava outros, igualmente, Leslie West, por exemplo e que também nos deixou recentemente.
 
Ele também teve uma bela história com outras bandas. Foi tripulante da nobre nave da Patrulha do Espaço, esteve em uma formação da Santa Gang e participou do Yankee.
 
Ao final de 2019, nós articulamos juntos um show reunião d'A Chave do Sol e que teve como data acertada pelo produtor Geraldo Guimarães, nosso amigo em comum, "Gegê", o dia 15 de julho de 2020. Para tal, produzimos uma série de seis bootlegs da nossa banda a conter material raro e oriundo de gravações preservadas em fitas K7 e que seriam lançados no dia desse show, que aconteceria no Teatro Cacilda Becker do bairro da Lapa, em São Paulo. Ele estava feliz pela possibilidade do show e pelos discos bootlegs que resgatam muitas pérolas escondidas da nossa história, incluso material inédito, não gravado em discos oficiais.
 
Infelizmente, fomos surpreendidos pela pandemia mundial e a esperança foi que superássemos essa situação para remarcarmos o show para quando fosse seguro e possível para todos, em algum dia de 2021, mas hoje, 15 de janeiro de 2021, esta possibilidade foi ceifada. Uma grande pena para nós e todos os fãs do nosso trabalho.
Contudo, pior que isso é saber que o amigo não está mais entre nós, isso sim, nos dilacera.
 
Agradeço à todos os amigos e admiradores d'A Chave do Sol que enviaram-me votos de condolências, reservadamente pelo inbox do Facebook e por outras redes sociais. Acreditem, cada mensagem dessas é um alento para suportar a dor. 
 
A Chave do Sol foi um sonho que ele acalentou desde a sua tenra infância ao ouvir os discos de seu irmão mais velho, Rafael (e este que também não está mais entre nós) e certamente que ele concretizou tal aspiração, com todos os méritos.
 
Desejo força para a família dele: sua mãe, filho, companheira, irmãs, cunhados e sobrinhos. Aos amigos e colegas de jornadas na música e no radialismo, onde ele também escreveu uma história bonita através do seu programa transmitido pela Webradio MKK (Blog do Rubão) e no cerimonial do governo municipal onde ele prestou um serviço relevante à nossa cidade de São Paulo.
 
Descanse em paz, meu amigo. "Um minuto Além" e nos encontraremos novamente em meio à "Luz"!
 
Luiz Domingues
 
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Bem, eu captei a intenção da família e jamais desrespeitaria tal determinação firmada por seus membros em um momento agudo de dor. Mas ao mesmo tempo, como eu poderia não comparecer ao seu velório para uma última homenagem e despedida? Mesmo com essa vontade soberana da sua família, eu resolvi comparecer e precisava avisar pelo menos outras duas pessoas que foram muito próximas dele: José Luiz Dinola e Julio Revoredo. O Dinola me disse ter ficado chocado, mas que não iria ao velório, ao alegar que não gostaria de se lembrar do Rubens de outra forma que não fosse com ele em vida e não prostrado em um caixão. Claro, um sentimento a ser respeitado, eu não contestei de forma alguma. 

Liguei para o Julio e a reação de choque foi a mesma, pois pior ainda, ele estava com o seu computador quebrado naqueles tempos, portanto, ficara alheio às informações que abundavam a blogosfera naquele instante. E o Julio também alegou preferir não comparecer ao velório, para guardar em sua mente apenas as suas lembranças com o Rubens de momentos alegres que ele vivenciou em conjunto.

Julio Revoredo preparou essa singela homenagem ao Rubens (foto acima), momentos após ter sabido da sua morte e publicou tal desenho alguns dias depois em sua rede social Facebook.

Bem, por ser notívago por natureza, para que eu pudesse estar às 8:00 horas da manhã no salão da Igreja sugerida, e esta a estar localizada no bairro do Catumbi, na zona leste de São Paulo, eu evidentemente não dormi e assim, logo que amanheceu, pus-me a caminho para usar o metrô. Da estação Belém, até o quarteirão da igreja, eu caminhei bastante, pois se trata de um bairro vizinho, mas mesmo assim, fui o primeiro a chegar ao templo. 

Bem recebido por uma simpática funcionária da faxina e pelo técnico de som que fazia testes com o equipamento sonoro do templo, eu fiquei enfim por quase noventa minutos sozinho na presença do corpo do meu amigo que nos deixara horas antes e então, pude meditar sobre tudo o que passamos, as nossas conquistas, os sonhos que tivemos e o esforço empreendido sob ajuda mútua que motivou o fato concreto de que tenhamos deixado um legado juntos com A Chave do Sol. E claro, vibrei muito por ele, para que a sua passagem da vida material para uma outra realidade, fosse a mais amena possível.

Rubens Gióia ao vivo em uma homenagem que o grupo Heavy-Metal "Viper" lhe fez anos atrás e com direito a uma foto do compacto de 1984 d'A Chave do Sol, no telão. Click de Dener Ariani

Tempo de pandemia, é claro que fui ao triste evento devidamente mascarado e quando as irmãs do Rubens chegaram, ambas simplesmente não me reconheceram. Tudo bem, eu envelheci, estava bem grisalho e diferente da imagem que elas guardavam da minha aparência e ainda por cima mascarado foi que se tornou difícil mesmo para elas saberem quem seria aquele velhinho cabeludo. 

Além do mais, o sofrimento de ambas, assim que adentraram o salão foi tamanho, que tal detalhe tornara-se irrelevante e assim, eu apenas limitei-me a responder para a Rosely Gióia que indagara-me sobre quem eu seria, que eu estava ali por que tocara com o irmão dela por muitos anos. Mais tarde, no avançar da noite, eu fui procurado pelo inbox da rede social Facebook por ambas, com o intuito de pedirem-me desculpas por não haverem me reconhecido, mas foi óbvio que eu entendi a confusão gerada e relevei completamente o esquecimento delas. Isso não foi nada ante o sofrimento que ambas experimentaram naquele dia, portanto, me solidarizei completamente.

Bem, a cerimônia conduzida pelo pastor responsável foi bastante respeitosa e dentro dos parâmetros daquela denominação religiosa, portanto eu considerei normal que ali naquele ambiente, não houvesse nenhuma citação ao lado artístico do Rubens, sobre o seu legado, a sua merecida fama adquirida etc. Bem, a ênfase foi no aspecto familiar e religioso da sua família, uma tradição que veio do seu tio e do pai etc. e tal. Tudo bem, em paralelo, a comoção no mundo do Rock foi grande e ele foi agraciado com inúmeras homenagens e isso perdurou por bastante tempo, aliás.

Já dia seguinte à sua morte, no dia do sepultamento (16 de janeiro de 2021), o programa: "O Contrário de Nada é Nada" da webradio Plano B, anunciou um micro-especial a tocar músicas d'A Chave do Sol e da Patrulha do Espaço para homenageá-lo, com a boa produção de Rafa Bee.

Bem, fui de carona no carro de Valéria Namur, a seguirmos a viatura fúnebre quer transportou o corpo de Rubens, da igreja Batista no Catumbi até ao cemitério do Araçá, perto da estação Clínicas do Metrô. Ali não haveria uma outra cerimônia e a ordem em tempos de pandemia foi descarregar o caixão do carro e conduzi-lo diretamente ao jazigo da família e com um restrito número de pessoas a acompanharem tal desfecho. 

Então, me despedi dela que estava sob um sofrimento intenso e também do filho do Rubens, o valoroso, Rubinho Gióia, com o qual eu pude falar um pouco ainda no templo. Deixei claro para o jovem que o adicionaria nas redes sociais e que ele assumiria em lugar de seu pai como legítimo herdeiro, sobre os eventuais lucros obtidos pela venda dos recém lançados discos bootlegs da nossa banda. 

Bem, outras homenagens advieram rapidamente. Como era bem sabido de todos, o Rubens mantinha um programa radiofônico semanal na webradio MKK, chamado: "Blog do Rubão" e com a competente produção de seu próprio filho, Rubinho Gióia. 

Então, a emissora abriu espaço em outra atração sua, o programa: "Sampa Clipping", para reproduzir na íntegra duas edições do programa "Blog do Rubão" e assim ocorreu nos dias 18 e 25 de janeiro de 2021, quando pudemos ouvir a voz do Rubens por mais duas vezes e bem no estilo dele, culto, a escolher um tema ("medicina" e "mulher", nestes específicos casos dos programas repetidos), para sugerir músicas com analogia com tais motes e a fazer inúmeras citações poéticas, filosóficas e até científicas sobre cada tema proposto e a discriminar os nomes dos homens e mulheres célebres que deixaram tais aforismos inscritos nos anais da história. Claro que isso foi fruto da boa produção do seu filho na base da pesquisa, mas eu conhecia e convivi bastante com o Rubens e atesto, ele sempre teve tais citações na ponta da língua, pois foi um homem culto em vida.

De 23 a 29 de janeiro de 2021, o radialista, Julio Cesar Souza fez a sua bela homenagem ao Rubens, através do seu programa: "Só Brasuca" na Webradio Crazy Rock. Na programação, ele selecionou músicas d'A Chave do Sol, Patrulha do Espaço e Yankee, bandas em que o Rubens participou como guitarrista, cantor e compositor.

Programa É Noise – Paulinho Heavy

https://www.youtube.com/watch?v=zRJDmwyB80s

Rockbrasileiro.net – Cesar Gavin

https://www.rockbrasileiro.net/2021/01/um-minuto-alem-para-o-guitar-hero.html

https://www.miltonmedusa.com.br/guitar-heroes-br-metal/

Site Milton Medusa – Guitar Heroes anos 1980

https://www.miltonmedusa.com.br/guitar-heroes-br-metal/

Blog A Chave do Sol – Will Dissidente

http://achavedosol.blogspot.com/2021/01/rubensgioia.html

Blog A Chave do Sol Mensagem de Luiz Domingues

http://achavedosol.blogspot.com/2021/01/luizdomingues.html

Nos dias 6 e 13 de fevereiro de 2021, o guitarrista superb, Milton Medusa usou o seu programa: "Guitarras & Rock'n' Roll", através da webradio "A Música Venceu" para homenagear o Rubens, com muita ênfase, fã declarado d'A Chave do Sol que ele sempre foi. 

E a mensagem do Rubinho Gióia, ainda no velório de seu pai, certamente jamais sairá da minha memória: -"o meu pai estava feliz com a possibilidade do show (que não ocorrera em julho de 2020, mas ainda estava de pé para ocorrer, por conta da pandemia da Covid), e também eufórico pelo lançamento dos Bootlegs".

Poxa, que pena, não deu tempo para que ele pudesse usufruir desse momento de alegria, com uma retomada de proeminência da nossa banda, perspectiva de shows, resgate de material raro, barulho na mídia, enfim, uma lástima que cortou-me o coração. Acho que ele nem chegou a ver os dois últimos discos da coleção dos bootlegs, pois pelo que eu soube, quando a segunda remessa de discos que eu lhe enviei chegou à sua casa, via correio, ele já estava internado.

Bem, a história prosseguirá, justamente por que a repercussão dos Bootlegs seguiu a abrir portas para a nossa velha banda e assim, a gerar mais histórias.

Descanse em paz, Rubens Gióia! Muito obrigado por aqueles cinco anos intensos de 1982 a 1987, pelos sonhos compartilhados, realizações e legado.

Continua...