Nos anos setenta e oitenta, para uma banda independente aparecer em um programa de popular da TV aberta, não era exatamente uma tarefa impossível. Eu mesmo posso comemorar o fato de que tive inúmeras oportunidades nesse sentido, como membro de bandas pelas quais eu atuei, casos do Língua de Trapo, A Chave do Sol e The Key e mesmo nos anos noventa, com maiores restrições, oportunidades interessantes surgiram para a minha banda nessa década, o Pitbulls on Crack, ainda que mais restritas aos espectro da MTV, mas por outro lado, pode-se afirmar sobre tal emissora, que se revelou como uma estação dentro do campo da TV aberta e convenhamos, canal esse a desfrutar de um certo modismo à época.
Depois disso, as portas cerraram-se de vez e no avançar dos anos 2000 em diante, através de outras bandas pelas quais eu toquei, como: Patrulha do Espaço, Pedra, Kim Kehl & Os Kurandeiros e Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, todas elas ficaram todas relegadas ao mais completo obscurantismo em termos televisivos, a se apresentarem quase que exclusivamente em programas a operarem no limbo subterrâneo de emissoras irrelevantes de canais obscuros da TV a cabo, a se tratarem geralmente de emissoras comunitárias compulsórias que as operadoras eram obrigadas a manter nas suas respectivas grades, a guisa de serem supostamente agentes de prestação de serviço público. Ou nas iniciantes TV's de Internet, no caso do final dos anos noventa/início dos dois mil.
Mesmo ao se considerar que A Patrulha do Espaço fora uma banda com história grandiosa, e no caso do Ciro Pessoa, individualmente ele também mantinha o seu prestígio artístico por ter sido um ex-membro dos Titãs e de Kim Kehl & Os Kurandeiros, por também manter uma longa trajetória na cena.
No caso do Pedra, tratava-se diferentemente de uma banda que começara a sua a trajetória da estaca zero e há pouco tempo. Havia o apelo em torno de pelo menos três de seus componentes contarem com uma trajetória individual bastante respeitável em termos de currículo, visto que apenas o Ivan Scartezini, o nosso baterista, apresentava uma trajetória um pouco mais nova na música, mas mesmo assim, para todos os efeitos, éramos uma banda nova no mercado.
Então, ao contar com o panorama difícil de metade de primeira década do novo século e sobretudo pelo espaço fechado para artistas independentes, sequer com abertura na emissora outrora interessada em música, a MTV, nós participamos de programas nesses moldes e foram poucos na verdade.
Um deles, ocorreu em um curioso programa produzido por pessoas abnegadas, músicos e agitadores culturais apaixonados pelo que faziam, chamado: "Sleevers", exibido pela "TV Alterna" e sob a condução de Fabio Macarrão.
E assim, o Pedra foi convidado por esse programa e lá fomos nós em uma noite de maio de 2007, filmarmos a nossa participação que seria com duas músicas capturadas ao vivo em um estúdio ("Tonelada", localizado no bairro da Vila Mariana, zona sul de São Paulo), e a contar com mais um bloco de entrevista, ou seja, algo muito positivo.
Mas a despeito da extrema boa vontade e hospitalidade de seu produtor e apresentador, além dos membros da sua equipe, houve ali de forma implícita uma característica com a qual não contávamos.
O fato, foi que essa rapaziada era mais entusiasta das correntes pesadas do Heavy-Metal e por conseguinte, a proposta do programa foi montada no sentido de reproduzir uma atmosfera de filme de terror, na linha mais moderna desse gênero cinematográfico, em torno das películas com histórias sobre psicopatas sádicos que torturam e matam pessoas a esmo, sem maiores explicações etc. e tal.
Então, quando fomos gravar a nossa participação, esses rapazes entraram no estúdio para cumprirem a função de cinegrafistas a usarem macacões de cor laranja e máscaras macabras, dentro desse espírito e a movimentarem-se entre nós para filmar de uma maneira frenética, a estabelecer uma atmosfera perturbadora.
Claro que eu achei bastante divertida e criativa tal linha de atuação, embora na realidade, fosse algo absolutamente antagônico à estética da nossa banda. De fato, fazia mais sentido com bandas sedimentadas na estética do Heavy-Metal e de preferência as mais radicais, do dito Metal extremo ou mesmo orientadas pelo Punk-Rock.
E certamente se tratava do tipo de sonoridade que esses rapazes gostavam (inclusive eles formavam uma banda a atuar com esse espectro) e praticamente só filmavam outras bandas desse mesmo mundo correlato.
Bem, foi bem curiosa a nossa presença ali a tocar: "Sou Mais Feliz", por força de ser o nosso maior sucesso na ocasião, mas a tratar-se de uma canção no estilo Soft-Rock com alto teor Pop, portanto a destoar bastante da linha do programa, mas foi divertido, não posso negar.
Tocamos também, a música: "Se agora eu Pulo Fora", teoricamente um tema mais pesado para o nosso consenso interno, mas que na prática, deve haver soado como uma pluma para aqueles rapazes, entusiastas do Heavy-Metal.
A minha lembrança de um dos personagens a dançar dentro do ritmo da canção, com uma máscara de porco, a trajar paletó, gravata, cueca por cima da calça e a distribuir notas falsas de dólares a satirizar o capitalismo, foi a mais divertida do que as dos monstrengos representados pelos demais, em minha avaliação.
E ainda introduzimos ao final da nossa performance um trecho da música: "The Mule" do Deep Purple, para tornar tudo ainda mais bizarro dentro daquela ambientação.
Gravamos essa participação na noite de 29 de maio, porém, o programa foi ao ar em 15 de junho de 2007. E assim, mesmo ao nos sentirmos como estranhos no ninho, eis que participamos desse bizarro programa.
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