quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 411 - Por Luiz Domingues

Eis que o quinto bootleg de 2020, ficou pronto e este eu enfatizo ser com muito orgulho um dos mais preciosos desse projeto, por conta do material raro nele contido. E neste caso, as atrações são múltiplas. Por exemplo, este álbum, denominado: "Teatro Lira Paulistana 1985", traz como matéria prima, o show completo que marcou a estreia do vocalista, Fran Alves, em nossa banda, no dia 31 de janeiro de 1985, portanto, que maravilha poder resgatar um material tão raro. 

Para quem leu a minha autobiografia desde o começo da minha história com A Chave do Sol, já sabe que quando eu abordei esse show, dentro da cronologia do texto, também lastimei que a fita K7 que serviu para gravá-lo, houvesse sido perdida, pois alguns anos depois do show ocorrido em 1985, por volta de 1989, eu a emprestara de boa fé para um rapaz que houvera trabalhado como roadie da nossa banda (em parcas ocasiões entre 1984 e 1985), e este sujeito simplesmente desapareceu e jamais devolveu-me tal artefato. 

Lastimei demais tal conduta do rapaz, mas sobretudo a perda de um registro tão raro. De fato, em minha percepção, fora o único registro ao vivo do Fran Alves em nossa formação e claro que essa frustração se tornou enorme para a nossa banda e minha em particular, como arquivista do material do nosso grupo e portanto responsável pela sua integridade.

Por outro lado, eu guardava comigo uma fita de rolo, que eu sabia que continha a segunda demo-tape que graváramos em dezembro de 1984, e sempre quis digitalizar tal material, naturalmente e a alimentar a esperança de quem sabe um dia, pudesse lançar tal material em disco com esse registro. 

No entanto, com o passar dos anos, se tornou óbvio que a cada dia ficaria mais difícil achar um estúdio que ainda contivesse o maquinário analógico para que eu pudesse digitalizar tal fita. Consultei diversos amigos, tive indicações de alguns poucos estúdios que ainda mantinham tais máquinas em suas dependências em São Paulo e no Rio de Janeiro e até um dos Estados Unidos, que seria por intermédio do Beto Cruz, que lá morava desde 1991 e que todos sabem, foi um membro da nossa banda entre 1985 e 1987.

Mas foi apenas no decorrer do ano de 2018, que através dos meus amigos, Ricardo e Marcello Schevano, proprietários do estúdio "Orra Meu" de São Paulo, um contato foi feito com um técnico de áudio & gravação veterano no ramo e que mantinha uma máquina analógica em sua residência e melhor ainda, esse senhor poderia digitalizar o meu material. 

Quem fez o contato e levou efetivamente a fita para esse profissional, foi o prestativo roadie, Diogo Barreto, que nessa época trabalhava como assistente de produção no Estúdio Orra Meu. Mediante uma negociação rápida, fechamos por um preço que eu considerei muito abaixo da minha expectativa e isso já animou-me bastante. 

Demorou em demasia, é bem verdade, mas eis que um dia de 2019, o Diogo ligou-me e checou se eu poderia dirigir-me imediatamente ao Estúdio Orra Meu, pois o senhor em questão passaria por lá para entregar-me o CD-R com o resultado da minha fita digitalizada.

Ora, que notícia boa, após trinta e quatro anos, eu mal pude esperar para ouvir a demo-tape de 1984 e da qual eu mantinha a pálida lembrança de conter músicas como: "Crisis (Maya"), "Átila", "Intenções" e "Reflexões Desconexas", além de possivelmente, pois eu não me lembrava com propriedade, as canções inéditas: "Vestido Branco" e "Superstar". 

Cheguei ao Estúdio Orra Meu e o senhor em questão atrasou bastante para aparecer, embora houvesse avisado sobre estar com problemas com o seu automóvel. Isso só potencializou a minha ansiedade, certamente. Enquanto esperava pelo rapaz chegar, eu não parava de pensar nas boas surpresas que eu teria na audição que faríamos ali mesmo em uma sala em anexo do complexo.

Bem, o rapaz chegou, se tratou de um senhor já no avançar da terceira idade, certamente, mas completamente jovial e a conversa foi agradabilíssima no sentido de que a sua bagagem como técnico de gravação e também de shows ao vivo, remontava aos anos sessenta e eu fiquei bastante impressionado com o seu currículo, quando ele enumerou-me os discos que havia gravado desde então, nos melhores estúdios de São Paulo e Rio de Janeiro e acredite, leitor, a contabilizar obras clássicas de grandes artistas. Um exemplo, a obra seminal de Tim Maia, o LP "Racional", em três volumes, muito cultuado entre os seus fãs, eu incluso. 

Esse senhor era conhecido por um apelido sui generis: "Pato" e a se mostrar muito simpático e bem comunicativo, ele contou-me mil histórias sobre a sua carreira, todas fascinantes, incluso a sua produção mais atual ao gravar orquestras sinfônicas de alto quilate no âmbito nacional e ele revelou-me boas histórias a envolver maestros famosos do mundo erudito brasileiro, algumas bem escabrosas por sinal.

Bem, a conversa foi agradabilíssima, mas eu estava completamente ansioso para ouvir o material e então, Ricardo Schevano nos conduziu a uma sala de audição e ali, enquanto o senhor "Pato" ainda falava de uma maneira empolgada das suas reminiscências, eu notei que o som parecia ser ao vivo e as canções, algumas bem conhecidas, ou seja, aonde estava a demo-tape de 1984? 

Foi aí que eu recordei-me enfim de um fato que ficara obscurecido em minha mente, por quase quarenta anos: de forma fortuita, nós usamos a mesma fita com a qual graváramos a demo-tape de 1984, para gravar um show por cima, pois na ocasião, nós julgáramos que a demo-tape defasara, visto que decidíramos mudar completamente a orientação do repertório assim que o vocalista, Fran Alves, anunciou que aceitara o nosso convite para ingressar em nossa banda. 

Na falta de recursos para comprar uma reles fita virgem, cometemos o sacrilégio de usarmos a fita usada anteriormente para registrar a demo-tape. Ora, nós jamais deveríamos termos feito isso, mesmo por que, nós também gravamos o show de estreia do Fran mediante uma fita K7.

O lado bom dessa sandice, foi que ao perder a fita K7 por um ato de imprudência de minha parte (ao emprestar este artefato para um rapaz irresponsável, a conter um material que era valioso ao extremo), eis que eu fui salvo por um ato improvável do destino, pois o mesmo show de janeiro de 1985, se materializou ali na minha frente, ao fazer a audição, em pleno ano de 2019, ou seja, que surpresa redentora!

Com uma qualidade de áudio incrível, visto que foi gravado com uma máquina Ampex, espetada diretamente na mesa de PA pelo técnico do teatro Lira Paulistana, o ótimo, Canrobert Marques, eis que o show quase completo estava ali preservado e com duas surpresas a mais: duas músicas que sobraram da demo-tape de 1984, uma com um ligeiro corte no seu início e outra, na íntegra, ou seja, eu poderia incorporar tais faixas como bônus track no disco que pretendi produzir com a demo-tape anterior, de 1983.

Muito bem, esse é o preâmbulo da história desse achado arqueológico para a nossa banda. A seguir, eu falarei sobre a produção do disco bootleg, em si.

Continua...

domingo, 27 de dezembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 410 - Por Luiz Domingues

Então chegou o quarto volume dos Bootlegs d'A Chave do Sol, a se tratar do álbum denominado: "Ao Vivo em Limeira/SP 1983". 

Este áudio foi fruto da captura do nosso show realizado no Club Gran São João, localizado na cidade de Limeira-SP, em 9 de julho de 1983, quando nós abrimos o show da Patrulha do Espaço que foi a atração maior daquela noite.

Na mesma predisposição dos álbuns anteriores, a captura e armazenamento em uma fita K7, logicamente que não propiciou um super áudio para se ouvir, mas, digamos que mantém um padrão um pouco abaixo do segundo Bootleg (CD "Teatro Piratininga/SP 1983"), e bem melhor que o primeiro: "Ao Vivo 1982/1983".

Sobre a sua capa, infelizmente eu não tinha nem uma foto sequer desse show em si e apenas o recorte de jornal, da "Gazeta de Limeira" da época, que nos cita como banda de abertura do espetáculo e assim, eu sugeri ao Kim Kehl, que ele criasse algo a conter essa nota e algumas fotos promocionais que tínhamos feito pouco antes desse show, em maio de 1983. No entanto, tais fotos foram feitas de forma amadora e erro nosso, muitas delas com alguma intenção satírica que não passam de piadas internas e jamais deveriam terem sido cogitadas sequer para o uso promocional.

Uma delas, foi até objeto de uma tentativa de aproveitamento, pois o Kim recortou as silhuetas dos três componentes da banda e inseriu tal foto adaptada na contracapa, como um detalhe, mas ambos, eu e Kim, não gostamos, pois a foto não passa a ideia que imaginamos em 1983, comigo, Luiz Domingues e José Luiz Dinola a "interpretarmos" ladrões (os famosos "trombadinhas" como se falava nos anos setenta e oitenta), a tentar roubar a guitarra do Rubens. A interpretação para a foto, foi patética e somente nós três e o fotógrafo, Seigi Ogawa, sabiam da intenção da piada, portanto, no mundo de 2020, não coube deixar a foto na contracapa desse disco.

Então, sem material adequado, eu tive uma ideia ao me lembrar de capas de discos de bandas dos anos sessenta e setenta e assim sugeri ao Kim uma abordagem semelhante. Com três fotos da sessão que fizemos para a capa do nosso Compacto de estreia de 1984, não aproveitadas para aquele disco (clicks de Fábio Rubinato, feitos em janeiro de 1984), o Kim seguiu a minha ideia e montou os nossos respectivos rostos, dentro das figuras geométricas  em formato de "estrela" ao estilo dos distintivos de "Sheriff" do velho oeste norte-americano. 

Sob um fundo a trabalhar com um tipo de mixagem entre o verde musgo & azul turquesa, com detalhe roxo e com as tais estrelas amarelas, com os nossos rostos a conter detalhes azuis. Eu gostei muito da solução, pois ficou criativa e lembra muito, diversas capas de discos de bandas de Rock de outrora, portanto, secretamente eu comemorei ter um disco assim para enriquecer a minha discografia.

Então, devidamente comentada a história da criação da capa e contracapa, entro agora na análise das faixas, mais a comentar sobre o áudio, a performance da banda nesse show e as circunstâncias com as quais lidamos na ocasião.

A primeira observação que eu devo fazer, refere-se à ordem do repertório proposta para o disco, que sofreu modificação em relação ao set list que executamos ao vivo e foi capturado na fita K7. Isso por que eu decidi privilegiar o nosso material autoral no começo do disco e deixar a seguir, as releituras que interpretamos no show para preencher tempo. 

Nessa altura, julho de 1983, nós já tínhamos material suficiente para apresentarmos um repertório inteiramente autoral, no entanto, nesse show em específico, ao abrirmos a Patrulha do Espaço, banda grande e consagrada e perante uma enorme multidão, nós achamos mais prudente tocarmos covers internacionais mesclados às nossas músicas autorais, que dada a obviedade de que éramos completamente desconhecidos do grande público até então, seriam opções mais palatáveis para as pessoas ali presentes. 

Curioso, três dias depois, nós fomos tocar ao vivo no palco do teatro do Sesc Pompeia em São Paulo, para filmar a nossa primeira apresentação no programa de TV, "A Fábrica do Som", da TV Cultura e tudo mudou, ao nos dar o primeiro impulso de projeção midiática para nos tirar do anonimato.

Falo sobre as músicas deste disco bootleg, então. Bem, o disco se inicia com "Luz", sob uma execução vibrante. O áudio, no entanto, não é dos melhores, pois o rapaz que operou o PA, anexou o gravador na mandada do monitor, portanto, a mixagem que se ouve é bem desequilibrada, com o som do baixo muito aquém, guitarra um pouco melhor, vozes altas e a bateria com algumas peças em evidência e outras bem obscurecidas.

Sobre a performance, fora a vibração já observada, é engraçada uma parte onde o Rubens esqueceu a letra da canção e improvisou com algo onomatopaico, que eu tenho certeza que ninguém ali no calor da apresentação, notou, a não ser nós da banda, pois não éramos conhecidos na ocasião. O solo do Rubens é muito bom e as vozes dos backing vocals aparecem com clareza.

O Rubens anunciou que logo mais haveria o show principal com a Patrulha do Espaço e claro que a plateia respondeu com entusiasmo e tal predisposição de sua parte poderia ter sido um ponto perigosa para nós, ao dar a deixa para a hostilidade da parte do público vir à tona, mas isso não ocorreu, ainda bem e nos deixaram tocar. 

Veio então a nossa interpretação para: "Utopia", que soa com qualidade, com uma volúpia Rocker bem acentuada e as convenções saíram bem executadas. As vozes estão bem e ao ouvir hoje em dia, eu penso que essa música, detinha, sim, um potencial Pop.

"Intenções" é a terceira faixa e mostra a banda em ótima forma, com uma execução precisa para uma série de convenções, algumas intrincadas, inclusive. Na parte cantada a banda entra com muito balanço ao se parecer como bandas setentistas como o "Captain Beyond" e "Armaggedon", com peso e substância. Gosto muito dessa canção, já disse muitas vezes mas vou repetir: arrependo-me muito de não tê-la gravado nos discos oficiais da nossa banda, pois ela é forte, bem arranjada e mostra muito mais a nossa real identidade, do que muitas canções que gravamos a posteriori, não tenho dúvida.

Sobre a minha performance vocal, eu sinceramente pareço um ébrio rouco e ofegante pela debilidade pulmonar iminente. E a minha emissão, por possuir uma voz tão grave, é mínima, tanto que o Zé Luiz, quando entra na parte B, a fazer um contraponto, praticamente anula a minha voz que continua a entoar a melodia "A" enquanto ele canta a "B", e assim, eu estraguei com a minha inaptidão à época, o sentido do contraponto que planejamos como arranjo.

Vem a seguir a nossa interpretação para "18 Horas" e antes de começarmos, o Rubens fala ao microfone que essa música apresenta os três membros da banda. O meu solo dentro da música é bem econômico, por que eu teria um solo maior a seguir em outra música. 

Chega a vez do solo do Zé Luiz e nas partes onde ele buscou a dinâmica mais branda, ouvem-se murmúrios da plateia, já com os primeiros impacientes com a nossa então condição desconhecida e que ansiavam pelo show da Patrulha do Espaço, mas quando o ímpeto volta em sua interpretação, eles cessam e certamente a volúpia sonora os calou. O solo do Rubens é muito bom, ele estava bem inspirado nessa noite. 

Aí vem a deixa para voltarmos ao tema central e eu errei completamente ao antecipar a convenção e assim a criar o constrangimento aos meus colegas. Mas o Rubens foi rápido e improvisou uma saída, e assim, ele fez mais um solo muito bom e nós três, desta feita, fizemos a saída da música corretamente. Em seu improviso, é possível notar perfeitamente quando ele faz uso do recurso de tocar a guitarra com o dentes, ao fazer a óbvia menção e dessa forma, homenagear o imortal, Jimi Hendrix. Ao final, o Rubens citou o Zé Luiz para a plateia o saudar em relação ao seu solo de bateria. 

"Átila", a próxima canção, infelizmente foi cortada quase que inteiramente na fita K7, pelo motivo óbvio de ter encerrado o lado "A" e o técnico que operava o PA demorou para virar a fita e colocar o Lado "B" para gravar. Sobrou então apenas trinta e sete segundos para ouvirmos dessa performance, com a música quase no seu final. Foi aplicada na pós-produção de 2020, uma radical solução com um reverber seco para mascarar o final abrupto e sobretudo em relação ao ruído indesejável que estava impregnado na fita K7.

A seguir, ouve-se a nossa interpretação para: "Blue Suede Shows" do Carl Perkins, com uma ótima interpretação da banda. Rubens canta bem e ao final, ouve-se um coro a pedir: "pauleira, pauleira", ou seja, queriam que tocássemos temas mais pesados, situados entre o Hard-Rock e o Heavy-Metal, pois o termo "pauleira" foi uma gíria surgida na metade/fim dos anos setenta e que perdurou pelos anos oitenta, a designar o dito: "Rock pesado". 

Passaria despercebido, mas eu revelo: durante o solo, eu (Luiz Domingues) e o Zé Luiz, seguimos a cantar o backing vocals por distração nossa. Mas foi interessante, seguimos no erro e sem nos olharmos, por intuição e fomos em frente para que dessa forma parecesse ser o arranjo normal. É claro que foi inconveniente e atrapalhou o solo, mas o fato de mantermos o erro foi uma solução boa para efeito de performance ao vivo, certamente, pois pior seria se um de nós houvesse relutado e parado no meio do caminho a acentuar a falha. 

"Tie Your Mother Down", canção do Queen, vem a seguir com direito a um solo de minha parte, Luiz. Foi um solo planejado e que eu fizera igualmente no show realizado no Teatro Piratininga ao final de abril do mesmo ano e que também foi lançado em 2020 como um álbum bootleg. 

Nesta altura, a garotada presente na plateia já estava insuflada pela turminha que clamava por "pauleira" e ficou a entoar esse clamor nas partes baixas da minha dinâmica. Faltou-me experiência, pois eu deveria ter imaginado que nas partes mais sutis a buscar efeitos com o botão de volume do instrumento, eu daria brecha para a impaciência da plateia se manifestar. Tanto que nas partes mais pesadas e ritmadas do solo, eu provoquei interação, mesmo sendo um completo desconhecido para aqueles três mil e quinhentos garotos ali a nos verem e ouvirem. 

No disco eu suprimi, mas na fita K7 original, houve um momento em que pararam de gritar, "pauleira" para entoar a palavra, "debulha", ao naturalmente apoiar o meu esforço ali em fazer um solo para entretê-los. No disco, a banda volta com tudo e o final apoteótico é bom, com o Zé Luiz a apresentar-me e claro, a fazer uso daquele apelido que eu usava na ocasião.

"Foxy Lady" do Jimi Hendrix vem a seguir e a performance da nossa banda é muito boa. Soamos como o "Experience" nos anos sessenta, com a volúpia do Acid-Rock psicodélico, que orgulho. É muito bom, também, o solo do Rubens.

"Cocaine" do JJ Cale tem uma versão mais curta, sem repetir os versos em demasia, que foi proposital para esse show. Zé Luiz canta bem e os backing vocals feitos por Rubens e eu, Luiz, funcionam bem, igualmente. Ao final, a plateia responde de pronto quando fizemos a última volta do módulo e estancamos o instrumental de propósito para que a plateia sobrasse sozinha. Nesta faixa, dá para ver que o técnico do PA aplicou uma frequência média-aguda exagerada na caixa da bateria, pois a ressonância do harmônico da nota, a cada ataque da baqueta do Zé Luiz, é quase nula.

"My My Hey Hey" tem uma boa performance, com energia. Curioso, o Rubens fala antes de começarmos, que seria um momento para acalmar os ânimos, mas a nossa performance foi vigorosa.

A próxima canção, na ordem real do show foi a segunda, mas para este álbum foi colocada como nona faixa. Trata-se da nossa versão para: "Jumping Jack Flash" dos Rolling Stones, com uma performance instrumental bastante energética. A minha voz solo é medonha, eu reconheço, isso além do fato que ao buscar uma linha de interpretação agressiva, eu tentei acionar o "drive" de voz que eu nunca tive, portanto, pareço uma abelha fanha. 

E mais uma consideração: a pronúncia em inglês se mostra como algo indecifrável, visto que o que eu canto ali é tudo menos o idioma inglês. Na minha performance, eu pelo menos evitei fazer loucuras, baseado na minha atuação durante o show do Teatro Piratininga feito anteriormente, portanto, no Club São João de Limeira, eu fui mais comedido.

Para fechar, a nossa versão de "Blue Wind"/"Train Kept a Rollin" foi bastante convincente, com uma boa atuação do Rubens, mais uma vez. Ao final, ele mesmo, Rubens diz: -"boa noite, muito obrigado, até uma próxima oportunidade". Lamentavelmente a nossa banda nunca mais voltou à cidade de Limeira-SP, uma pena, mas três dias depois desse show, A Chave do Sol começaria a sair do anonimato, quando gravou a sua participação para o programa: "A Fábrica do Som" da TV Cultura, diretamente do palco do Sesc Pompeia de São Paulo e assim, atingiu um grande público pela primeira vez.

Para encerrar, a ficha técnica deste bootleg: A Chave do Sol ao Vivo em Limeira-SP 1983. 9 de julho de 1983. Clube Gran São João em Limeira-SP. Pós-produção de áudio em 2020: Kim Kehl. Criação e lay-out de capa: Kim Kehl. Fotos: Fábio Rubinato. Apoio: Crossover Records. Supervisão geral: Luiz Domingues.

Continua...  

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 409 - Por Luiz Domingues

Na sequência, veio o novo lançamento da série de Bootlegs d'A Chave do Sol, bem no início de outubro de 2020, e desta feita, trouxe à tona para os colecionadores e fãs, o disco: "Demo Tape 1983". De fato, a fonte que gerou tal CD, falo sobre a fita K7 que armazenara tal material, já houvera sido digitalizada anos atrás e cada faixa fora devidamente promovida através de promos especialmente produzidos para tal finalidade (graças aos esforços da produtora cultural, Jani Santana Morales), na utilização de fotos e peças de portfólio correspondentes à época. 

Todavia, quando houve o esforço maior para preservar todo o material das fitas K7, que ainda precisava ser salvo da deterioração, essa fita foi novamente digitalizada. Na comparação com o material salvo anteriormente, ficou nítida a superioridade da digitalização feita ao início de 2020, e assim, prevaleceu essa fonte para preparar o áudio do disco.

Então, eis que se apresenta para este disco, o material da nossa primeiro demo-tape, gravada em maio de 1983 e com uma produção absolutamente caseira. Foi feita, na verdade, como uma gravação de ensaio, mediante os parcos recursos em termos de equipamento dos quais nós dispúnhamos à época e na prática, a constar como os meios que tínhamos para ensaiar. Portanto, historicamente, eu diria que essa demo tem a sonoridade muito próxima da nossa realidade de ensaios.

Para especificar, tínhamos poucos microfones, portanto, basicamente, usamos um microfone para o bumbo, um "overall" para capturar a bateria como um todo, dois microfones para as vozes e um direcionado no amplificador do Rubens, com o baixo ligado diretamente na linha (mesa). 

Tudo isso passou por uma velha mesa de mixagem da marca Giannini, com doze canais e proveniente dos anos setenta. Devo acrescentar que a mesa apresentava problemas técnicos, pois não estava inteiramente em ordem, com alguns canais avariados e certos paramétricos em desuso. E a gravação foi feita por uma tape-deck da marca, Gradiente, um bom aparelho, não tenho dúvida, mas em tese, com função Hi-Fi caseira. 

Ou seja, se tratou de uma forma de captura espartana, mas foi o que tivemos para registrar este trabalho. Hoje em dia, sabedor dessa falta de recursos com os quais contamos naquela ocasião, eu pondero que o resultado é surpreendente na proporção inversa, em relação à maneira como foi gravado.

Na pós-produção de 2020, dirigida pelo meu amigo, Kim Kehl, que preparou o áudio desse disco, foi acrescido uma ambiência, visto que a gravação original estava seca, sem ressonância alguma, portanto, tal filtro sutil a garantir o efeito do reverber, trouxe a função da sala vazia, que faltara no resultado da gravação original, armazenada na fita K7. 

Sobre o repertório, eis que seguiu-se a lista, ipsis litteris, contida na fita K7. E como novidades, tivemos duas inclusões sensacionais, a se revelarem como um autêntico achado arqueológico. Duas músicas que sobraram da demo-tape de dezembro de 1984, que nós havíamos perdido irremediavelmente, foram recuperadas ainda em 2019 e a explicação mais detalhada sobre essa recuperação espetacular para a história da nossa banda, será emitida quando eu comentar sobre o disco número cinco desse projeto maravilhoso dos Bootlegs de 2020.

"Luz", abre o álbum e eu digo que é nesta música que mais o efeito da ambiência colocada na mixagem pós-2020, é sentida, pois a versão original estava muito seca. Na parte musical de 1983, eu creio que o andamento mais lento é o ideal para essa canção e isso contrasta com a versão oficial do compacto que lançamos em 1984, que ficou bem mais acelerada. Mas a performance da banda é praticamente igual, pois nós a tocávamos dessa forma desde o final de 1982, portanto nesse aspecto, é praticamente igual ao que se ouve no disco de 1984, inclusive o solo do Rubens, com poucas variantes em relação à versão do disco.

A versão de "18 Horas" desta demo-tape é muito boa, igualmente. Mostra-se muito próxima de como a gravamos no compacto de 1984, a sora muito fidedigna e firme, justamente por ter sido a nossa primeira composição e assim, número presente desde o nosso primeiro show que fizemos em 25 de setembro de 1982. As poucas diferenças que o ouvinte notará, serão em algumas sutilezas contidas através dos três solos individuais por nós perpetrados e ao início, em relação aos efeitos feitos pelo Rubens à guitarra.

"Átila", soa muito bem, igualmente. É até surpreendente o peso das convenções iniciais da canção, somente feitas pelo baixo e bateria. Gosto também da parte mais eloquente com a guitarra a usar bastante efeito e preencher de uma forma muito bonita todo o espaço.

A quarta faixa, "Utopia" soa bem. Foi sem dúvida a nossa música com melhor teor Pop nesse início de carreira da banda, mas mesmo assim, apesar da letra ingênua por eu mesmo escrita e da interpretação bem linear da parte do Zé Luiz no comando da voz principal, há certos detalhes destoantes, pois se a intenção seria soar popular, a presença de algumas convenções mais intrincadas para esse padrão, são ouvidas e o solo do Rubens é bem vigoroso no padrão do Hard-Rock. 

Eu sempre gostei dessa música, mas ela foi sendo descartada aos poucos do repertório até ser extirpada de vez, quando percebemos que apesar de diversos retoques, na sua essência ela se parecia muito com a música: "Summertime Blues" do Eddie Cochran e pelo viés da versão do The Who, portanto, por mais que a maquiássemos, a comparação seria sempre inevitável, mesmo que estivéssemos a viver a década de oitenta e neste caso, tal referência fosse considerada anacrônica e talvez só perceptível para Rockers tradicionalistas com cultura sessenta-setentista (e neste caso, também versados pela cultura cinquentista).

"Dança das Sombras" é a quinta faixa e soa muito bem. Chama a atenção logo de início, a estranheza proposital criada pelo Zé Luiz no desenho do seu pedal de bumbo, ao propor uma marcação não usual, mas esse detalhe dura por alguns compassos somente. 

Acho que logo quando a banda entra no balanço do tema inicial, uma parte A, digamos assim, há uma aceleração do andamento que não percebemos quando gravamos. Mas mesmo assim, soa com um balanço muito bom, inspirado no Jazz-Rock mais funkeado, sob viés setentista. E depois, quando quando o tema avança sobre uma jam-session mais vibrante, é mesmo um clima em torno do Blues-Rock com sabor Jazzy, bem ao estilo do Ten Years After. 

De fato era uma jam livre para as improvisações da parte dos três instrumentistas, no entanto, há uma quantidade de convenções estratégicas para delimitar o tema em fases, portanto, sempre houve o senso da organização a norteá-la e assim, a improvisação apresentava margens bem definidas para se desenvolver e segurança para irmos e voltarmos, o tempo todo. 

"Blue Suede Shows", o clássico cinquentista de Carl Perkins serviu como um item estratégico dessa demo-tape, pois ela não fora concebida para ser mostrada em gravadoras, mas para pleitear espaço de atuação em casas noturnas, daí a necessidade que tivemos de contar com algum material cover. Trata-se de uma boa versão, a soar exatamente como a executávamos ao vivo desde 1982, com a voz do Rubens bem aplicada e um vibrante solo de guitarra de sua parte.

A sétima faixa, "Purple Haze" também  teve o objetivo de servir como uma mostra da banda para vender shows em casas noturnas. Esta versão soa bem próxima da gravação original do Jimi Hendrix, portanto agrada-me muito. Rubens a interpreta bem e faz um bom solo.

A oitava faixa é uma grata surpresa aos fãs d'A Chave do Sol, exatamente por ser uma das duas faixas recuperadas da demo-tape posterior que gravamos, em dezembro de 1984. A canção: "Crisis (Maya)", vem cortada, pois perdemos o seu início, mas mesmo assim, tem o sabor do tesouro recuperado. Com uma qualidade um pouco melhor de áudio, pois fora gravada através de uma máquina de gravador de rolo e com melhores microfones, assim mostra a banda bem entrosada, a soar muito bem.

E para fechar, a se tratar de uma outra faixa bônus e oriunda da demo-tape perdida de 1984, eis aqui uma curiosa versão instrumental da música: "Segredos", que gravamos para ver como estava a soar, como sobra da fita de rolo e sem a intenção de incluí-la no material da demo-tape oficial. 

Interessante, há uma resolução harmônica diferente na sua parte B, que foi descartada logo a seguir, pois nós a gravamos sem essa variante, escutada através do EP lançado em 1985.

Sobre a criação da capa e contracapa, o Kim Kehl seguiu o mesmo plano dos álbuns anteriores. No entanto, como desta vez se tratava de uma disco a conter a gravação de uma demo-tape, evitou-se a presença de fotos da banda ao vivo, e daí, ele usou algumas fotos de uma sessão promocional, na verdade a primeira sessão com esse sentido, feita em março de 1983, sob a lente de Seizi Ogawa, assim que a Verônica Luhr deixara a nossa banda. 

Mas não são fotos com muito sentido promocional como se observa (estão todas disponíveis para o leitor, no meu Blog 3), pois todas elas tiveram um certo ar satírico a buscar uma diferenciação que certamente não conseguimos e no máximo, são apenas objeto de piadas internas, que só nós entendíamos, portanto. Todavia, mediante um esforço com efeitos, elas foram maquiadas e serviram ao propósito de se cobrir as ilustrações deste álbum em sua capa & contracapa.

Uma curiosidade interessante, a demo-tape de 1983 foi o material que levamos à produção do programa: "A Fábrica do Som", da TV Cultura, assim que a gravamos, em maio de 1983, e que motivou a nossa escalação para participar pela primeira vez dessa atração televisiva, em julho de 1983.

CD Demo-Tape 1983. Gravado em maio de 1983 (faixas 8 e 9, em dezembro de 1984). Autoprodução de áudio em 1983 e captura em 1984, de Carlos Muniz Ventura. Digitalização das faixas 8 e 9 em 2019: Pato. Apoio: Diogo Barreto e Ricardo Schevano (Estúdio Orra Meu). Áudio e criação e lay-out de capa em 2020: Kim Kehl. Apoio: Crossover Records.

Muito bem, quando este disco ficou pronto no início de outubro de 2020, o próximo lançamento do projeto, o de número quatro dos bootlegs de 2020, já estava finalizado e fora enviado para a fábrica, portanto, em breve, chegaria mais uma surpresa para os fãs do nosso trabalho.

Continua...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 67 - Por Luiz Domingues

Após alguns meses em compasso de espera por conta de um possível apaziguamento da pandemia de 2020, que enfim nos desse trégua para que pudéssemos promover um ensaio presencial, eis que decidimos marcar de fato um apontamento para o dia 23 de dezembro, a antevéspera do natal de 2020.

Nesse ínterim, a pandemia voltou a ficar forte, em sua segunda onda de contágio, portanto ainda mais assustadora. Entretanto, nós mantivemos o compromisso firmado para avançarmos enfim com os ensaios a visar resgatar as nossas músicas do período 1976/1977, a primeira parte da nossa missão.

Após tantos adiamentos por conta dos impedimentos de um ou outro membro e curiosamente em uma fase em que a pandemia houvera recrudescido, eis que nós insistimos para realizar justamente esse ensaio, para que simbolicamente houvesse a demarcação do avanço ainda em 2020 e assim nos garantisse o impulso para continuarmos motivados em 2021, mesmo que a situação social e sanitária do país (e do mundo), permanecesse caótica. 

O guitarrista Wilton Rentero a nos mostrar o seu infortúnio por estar internado para tratar de cálculos renais, dois dias antes do ensaio marcado para dezembro de 2020. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero

E então, o imponderável ocorreu, pois um de nossos guitarristas, Wilton Rentero, revelou-nos que não poderia participar, pois estava internado em um hospital na cidade de Guarulhos-SP (Hospital Carlos Chagas), diagnosticado com cálculos renais, sob fortes dores e que justamente no dia marcado para o ensaio, estaria a submeter-se a uma intervenção cirúrgica. Poxa, que azar, depois de tantas postergações para se marcar esse ensaio presencial, esse infortúnio surgiu para atrapalhar os nossos planos. 

Mesmo assim, resolvemos, eu e Osvaldo Vicino, mantermos o ensaio marcado, pois mesmo desfalcados do Wil, nós haveríamos de evoluir em nossos trabalhos e além do mais, como eu já expus anteriormente, esse ensaio teria a simbologia da resistência da nossa banda. Se a pandemia mundial de 2020 não houvesse ocorrido, nesta altura dos acontecimentos, talvez até estivéssemos a gravar a nossa demo ou disco, quem sabe, e assim, a avançarmos, ainda que de uma forma cautelosa ante o perigo do contágio, eis que a insistência para se manter o ensaio, conteve tal simbologia.

O guitarrista, Osvaldo Vicino e eu, Luiz Domingues, na sala de ensaio, em que trabalhamos em dupla, em prol do Boca do Céu, no dia 23 de dezembro de 2020. Click (selfie), acerco e cortesia: Osvaldo Vicino

Dessa maneira, em 23 de dezembro de 2020, eu (Luiz Domingues) e Osvaldo Vicino, nos encontramos em uma sala de ensaio localizada no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo e trabalhamos juntos em três temas do nosso velho repertório setentista: "O Mundo de Hoje", "Serena" e "Mina de Escola". Com alguns avanços na parte estrutural das três canções, nós ficamos contentes com o resultado e o esforço empreendido. Filmamos versões das três canções e assim, combinamos de prosseguir no trabalho, assim que o Wil sinalizasse estar em condições de participar e também a coincidir com o fechamento das festas de final de ano e a se observar a situação da pandemia, logicamente.

Wilton Rentero no momento pós-operatório, a nos sinalizar estar bem e ao mesmo tempo, preocupado em colher informações sobre como ocorrera o ensaio da nossa banda sem a sua presença. 23 de dezembro de 2020. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero

Wil Rentero repercutiu conosco o resultado do ensaio, algumas horas depois, já com a boa novidade da sua cirurgia ter sido concluída com sucesso e mesmo em momento pós-operatório, ele mostrou vitalidade na conversação pelo "whatasapp" do nosso grupo e assim, nós também ficamos contentes por saber que ele estava muito bem.

Ainda a falar sobre o ensaio, Osvaldo entregou-me a minha camiseta do Boca do Céu, que ele mesmo preparara meses antes e eu fiquei muito feliz por recebê-la. Que incrível, uma ação de merchandising que a nossa banda nunca teve oportunidade de possuir nos anos setenta e eis que no limiar de 2020, tal esforço se concretizara.

Em tom de brincadeira, mas a repercutir uma verdade, Osvaldo lembrou-me que esse ensaio realizado em dupla o fizera se lembrar dos nossos mais remotos esforços em prol da banda, com ensaios preliminares feitos somente por nós dois em seu apartamento da Rua Inhambú, no bairro de Moema, na zona sul de São Paulo, no longínquo mês de abril de 1976. 

Ora, foi a mais pura verdade, que volta incrível demos em torno de quarenta e quatro anos decorridos, para voltarmos a trabalhar pelo Boca do Céu, novamente e no mesmo formato, ainda que desta vez tenha sido por uma contingência meramente ocasional, dada a situação de saúde do nosso companheiro, Wilton, e pelo fato do Laert sabidamente não participar dessa fase de ensaios preliminares, de forma proposital por morar em outra cidade (São Vicente-SP, no litoral) e no caso, ele só viria a participar de ensaios futuros. 

Esperançosos de que a pandemia mundial do Covid-19 se arrefecesse em 2021, e sobretudo que o nosso legado pudesse enfim ser construído a resgatar o nosso material e eternizá-lo, nós fechamos o ano com tais expectativas em alta voga. Que 2021 fosse o ano da "Revirada" do nosso heroico, Boca do Céu...

História em franca (re)construção, portanto...

Eu, Luiz Domingues, a ostentar orgulhosamente a bela camiseta da minha primeira banda na carreira, o glorioso: Boca do Céu, grupo de Rock, desde 1976, em pleno avançar do século XXI! 23 de dezembro de 2020. Click (selfie) e acervo de Luiz Domingues

Continua...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 408 - Por Luiz Domingues

No embalo dos lançamentos programados em torno do chamado: "projeto Bootlegs", eis que ficou pronto o segundo álbum dessa linhagem. Desta feita, e a seguir uma ordem cronológica pré-estabelecida, eis que surgiu o álbum: "Teatro Piratininga/SP 1983", a tratar-se de um show que realizamos nesse citado espaço em 30 de abril de 1983. 

Sobre o show em si, toda a sua história (que foi rica em detalhes, não apenas pelo espetáculo em si, mas a conter um longo preâmbulo a descrever diversas particularidades a respeito da sua produção), está devidamente descrita no capítulo correspondente sobre A Chave do Sol em meus Blogs 2 e 3 e que compõe o texto da minha autobiografia que em livro impresso, é chamado como: "Quatro Décadas de Rock"

Sobre o disco, particularmente, ele foi fruto da digitalização de uma fita K7 que conseguiu capturar grande parte do show, evidentemente ao perder a sua íntegra, devido à sua prosaica falta de espaço físico. Apesar das suas óbvias limitações tecnológicas, a notícia boa foi que a captura se mostrou surpreendente, dentro da sua realidade inerente, logicamente, e tal qualidade se explica pelo fato da fita ter sido usada através de um bom tape-deck, acoplado diretamente à linha da mesa de mixagem do show e o técnico que nos assistiu na ocasião, ao operar o nosso som ao vivo, teve a perspicácia de ligar na mandada do PA e não do monitor, ou seja, o som se mostra mais encorpado e com os instrumentos e vozes bem melhor mixados e mais uma vez eu faço a ressalva, dentro das limitações de uma gravação feita através de uma parca fita K7. 

Uma única ressalva nesse sentido se faz em relação ao som da guitarra que poderia ter sido melhor por um detalhe prosaico que o técnico e (e nem nós), percebemos naquele dia: o microfone instalado na boca do amplificador do Rubens Gióia, foi mal posicionado. 

Por ter sido usado um microfone Shure SM 57, este deveria ter sido colocado direcionado frontalmente ao alto-falante e ao ser colocado pendurado e por tal modelo de microfone ser unidirecional por natureza, é óbvio que não captou da maneira mais adequada a emissão do som de guitarra.

Uma boa nova em termos de repertório, foi que já a partir deste show, este que foi o primeiro sem a presença da nossa ex-vocalista, Verônica Luhr, nós já tivemos mais músicas autorais para apresentar, embora a balança ainda pendesse para as releituras com material alheio, para preenchermos o espaço de um show. 

O lado ruim foi que ainda estávamos a nos readaptar com a ideia da perda da nossa espetacular cantora, Verônica Luhr, e assim, nós distribuímos as músicas entre os três componentes de então, para a tarefa vocal. Nesse quesito, as melhores interpretações que são ouvidas nesse disco, na verdade são apenas as mais razoáveis, pois nenhum de nós três, membros remanescentes, chegou nem perto do potencial que ela possuía, mas o Rubens sempre foi o mais afinado e que melhor interpretava entre nós. E o Zé Luiz demonstrava ter potencial para desenvolver a sua performance. 

Já no meu caso, Luiz, bem, ao longo do disco eu até fiz alguns backing vocals razoáveis, mas a minha performance como cantor solo, foi sofrível. Tanto que eu segui apenas mais alguns meses a cumprir tal participação na divisão de vozes, mas desisti da ideia por uma questão de autocrítica. 

Muitos anos depois, eu melhorei bastante a minha performance, mas nunca mais tentei cantar de forma solo, embora eu considere hoje em dia que até poderia, pela melhora que tive, porém, mesmo assim, sempre irei preferir ficar restrito aos backing vocals e deixar a função solo para quem realmente sabe cantar e interpretar de fato.

Sobre o repertório do disco, eis a seguir as minhas considerações sobre a performance e as características do áudio alcançado para chegarmos a este disco. Primeiro e muito importante ponto: eu mesmo pedi para providenciara mudança da ordem original contida na fita K7, que gravara o show, quase na íntegra, pois a minha intenção ao montar o repertório do disco, foi priorizar o repertório autoral no início e deixar as releituras de covers, para o final, e não seguir o roteiro do show como ele foi montado ao vivo em 1983, de maneira intercalada.

Sobre a nossa composição, "Átila", só para constar, foi uma coincidência o fato dela ter sido realmente a primeira música do show, e veio a calhar que tenhamos mantido a fala proferida pelo nosso baterista, José Luiz Dinola, ao atuar como um apresentador da própria banda (ele diz: -"senhoras e senhores, A Chave do Sol"), mas tudo bem, não tínhamos condição para contar com uma produção mais requintada que nos garantisse o glamour que gostaríamos, no entanto, eu acho que foi interessante. 

A respeito da performance dessa música em específico, o andamento um pouco mais acelerado e típico de apresentação ao vivo, sob efeito natural da adrenalina, se faz presente. Na ordem natural do show, não seria "Luz", a próxima canção, mas para compor melhor o disco, e conforme eu já esclareci anteriormente, eu preferi privilegiar todo o material autoral, concentrado no início do álbum. 

Bem, "Luz" saiu com aquela energia típica das nossas apresentações ao vivo entre 1982 & 1983. O baixo ficou um pouco aquém nesta captura, mas em compensação, a minha voz no backing vocals aparece mais do que a do Zé Luiz.

Rubens faz uma breve introdução para explicar ao público que éramos, A Chave do Sol e que tocaríamos música autoral e algumas releituras sessenta-setentistas naquele noite, e que a seguir, tocaríamos: "Utopia". 

E nesta canção anunciada, a performance é boa no geral. Zé Luiz a canta com segurança, embora ele não soubesse modular na época e assim, é um tipo de interpretação linear, afinada, mas sem desenhar, a explorar as possibilidades para burilar melhor a sua melodia. 

Chama a atenção o forte sotaque paulistano que ele apresenta, fator natural para ele e também para eu e Rubens, é claro, mas deve soar gritante para quem não for de São Paulo. Entretanto, o lado bom foi que ele se soltou, vide ao final, quando até improvisou um vocalise solo para costurar o backing vocals que eu e Rubens mantivemos em uníssono sob o sentido do "looping".

Vem a seguir: "Intenções", cujo vocal solo é meu e a despeito de eu ter sido o mais fraco componente nesse quesito dentro da nossa banda, a minha performance é razoável. Falta emissão em uma ou outra palavra, mas não patinei na afinação e dentro do meu estreito limite à época, a interpretação foi razoável. Zé Luiz apoia no contraponto proposto para o refrão e na parte instrumental, a performance é bastante vibrante da banda. 

A música soa bem e chama a atenção pela quantidade grande de pontes, convenções, bruscas mudanças de ritmo com desdobradas, ou seja, por conta de tais atributos, eu sempre lamentarei muito que essa peça não tenha sido gravada em discos oficiais, visto que em minha opinião, foi uma das melhores composições e concepção de arranjo que tivemos no início das atividades da nossa banda. 

O nosso clássico tema instrumental, "18 Horas", entra de forma abrupta neste disco, infelizmente, por conta de ter sido mutilada, pois na captura da fita K7, ela fechara o lado A, e o técnico, ao demorar para perceber isso ao vivo e tratar por virar a fita para prosseguir a gravar a partir do lado B, naturalmente perdeu tempo e assim, além do começo que entrou já com o tema avançado, ele cortou praticamente todo o solo do Rubens, uma grande pena. Portanto, uma ginástica foi feita da parte do Kim Kehl que preparou esse áudio para o disco em 2020 e assim, a emenda quase que conseguiu disfarçar o corte brusco ao final com o intuito de providenciar um fechamento razoável para uma faixa que nós tínhamos toda mutilada nesta gravação original da fita K7. 

Pensei em não incluir o tema, justamente por essa deficiência, no entanto, creio que como material arqueológico, tudo é válido e assim, pedi ao Kim o esforço para fazer o melhor possível para termos ao menos uma amostra dessa peça tão importante do nosso repertório.

Vem a seguir, "Crisis (Maya)", com uma boa performance da banda, embora eu ache (e sempre achei) que a aceleração do andamento na parte B da música, sempre prejudicou a sua execução ao vivo.

Surpreende a próxima faixa, a primeira da parte de releituras e que eu deixei para o final do disco, pelo fato da música em si não ter sido um mega sucesso reconhecível de forma inexorável da parte do grande público. Por sugestão do Rubens Gióia, executamos a canção: "Let me In", proveniente de um disco solo do guitarrista, cantor e compositor, Rick Derringer. 

Peça com sabor ultra-setentista, tem um sentido Pop/Rock'n' Roll muito interessante. A nossa releitura foi acelerada, no entanto, em relação à versão de estúdio do disco de Rick Derringer (LP "Derringer", de 1976), contudo, nós seguimos mais a versão ao vivo do disco posterior dele (LP "Derringer Live", de 1977). 

O Rubens estava gripado no dia do show e assim, em alguns trechos onde a música exigiu a subida da tonalidade, a sua voz quase não saiu, com a emissão de um quase sussurro de sua parte, mas a despeito da questão do seu impedimento para cantar com maior desenvoltura nesse dia, ele não comprometeu de forma alguma. No todo, acho uma interpretação boa e certamente que surpreendeu o público presente no auditório naquele dia e mais ainda aos fãs d'A Chave do Sol que agora a ouvem nos dias atuais, através desse disco com caráter bootleg.

"Blue Suede Shoes" do Carl Perkins, seguiu o padrão de nossa interpretação para essa releitura, praticada nesse período entre 1982 e 1983, quando mais a tocamos em nossos shows. Chama-me a atenção que a minha voz no backing vocals esteja mais alta que a do Zé Luiz e claro que isso foi por conta do técnico de PA que assim preparou a mixagem do show ao vivo. 

"Black Night" do Deep Purple tem a sua versão bastante poderosa neste disco. É curioso um detalhe, antes de iniciarmos a performance em si, quando o Rubens a introduziu mediante um questionamento que fez para o público ao microfone: -"será que alguém se lembra de Deep Purple?" Bem, se houve alguém ali sentado no auditório em abril de 1983, que não se lembrava dessa banda britânica, acho que nós tratamos por refrescar-lhe a memória. 

Outro ponto interessante, a frase final de encerramento, feita dentro do andamento, mas claramente caracterizada por ser um clichê típico para ser utilizado em sentido de "rallentando", forçou uma sutil diferenciação na concepção do nosso arranjo, creio eu. 

Mesmo gripado, Rubens a canta bem, dentro de uma linha mais comedida, ele não teria a pretensão de buscar a emissão do vocalista, Ian Gillan com o Deep Purple, mas ao mesmo tempo a sua voz era (é) afinada e mais uma vez ao ouvi-lo, eu fico com a certeza de que a nossa busca frenética por um vocalista, por anos a fio, jamais foi vital pois o Rubens supriria o comando da voz, com alternância com o Zé Luiz Dinola e apoio de backing de nós três, eu incluso.

Vem a seguir a versão para: "Tie Your Mother Down", peça energética do Queen (contida no álbum: "A Day at the Races" de 1976), quando nós programamos para haver um solo de baixo no meio da performance. Interessante como eu busquei uma construção de solo muito inspirada nos solos do Chris Squire em meio aos shows do "Yes" nos anos setenta, inclusive a introduzir o recurso da dinâmica mediante o uso do volume feito no botão do instrumento para criar efeito e trechos ritmados para angariar a participação do público, mediante bicordes percutidos como se fosse uma guitarra e não um baixo. Bem, sempre estive anos-luz de distância desse saudoso mestre, mas ele é uma influência confessa de minha parte e com muito orgulho!

E a seguir, mediante uma deixa bem ensaiada, voltamos para a música com sentido apoteótico e a encerrarmos com pompa e circunstância. Ao final, o Zé Luiz enaltece-me ao microfone ao dizer: -"o bruxo da loucura paulistana, agitando no baixo... Tigueis" (ao usar o apelido que eu ostentava à época). Tal menção ao "bruxo" foi fruto de uma brincadeira interna, por eu ter usado um chapéu de bruxo em diversas apresentações da nossa banda, ocorridas em 1982.

A foto acima mostra uma cena do filme: The Phantom of the Paradise", de Brian De Palma, com o personagem: "Winslow" 

A minha voz na condução dos backing vocals é estranha, pois eu busquei imprimir um "drive" natural que evidentemente eu não tinha, e assim, o que se ouve é uma voz metálica, com registro médio anasalado, bem esquisita, mesmo. Me inspirei no Johnny Winter para buscar tal resultado, mas na prática, saiu a voz do personagem, Winslow, do filme de Brian De Palma: "The Phantom of the Paradise" ("O Fantasma do Paraíso").

"My My Hey Hey" do Neil Young/Crazy Horse foi um outro tema recorrente em nosso repertório de releituras e que sob a interpretação da Verônica Luhr, a nossa ex-vocalista, soava muito bem. Rubens passou a cantá-la nessa fase do Power-Trio, novamente instaurado e a defendeu com dignidade e posso dizer, mais se aproximou do original do Neil Young do que na interpretação da Verônica Luhr que por sua vez, insinuava a presença de Tina Turner.

Uma boa interpretação de "Purple Haze" vem a seguir, ainda que um tanto quanto acelerada em minha opinião. Rubens se dava muito bem ao interpretar o som de Jimi Hendrix, tanto na atuação à guitarra, obviamente parte vital desse processo, quanto na atuação vocal, inclusive ao balbuciar frases em meio à canção (algumas obscenidades são faladas bem ao estilo do que o Jimi costumava proferir em seus shows), e solos, tal como Hendrix o fazia. 

Tal interpretação de nossa parte foi programada para conter um solo do Rubens para o show, sem a banda no palco, para destacá-lo. E neste caso, é muito bom esse solo, inclusive com direito à citação de: "Hear my Train Coming", uma peça Blues do repertório do próprio, Jimi Hendrix, portanto, uma feliz menção.

Bem, a nossa releitura para "Jumping Jack Flash" dos Rolling Stones tem uma execução boa, vibrante, certamente, mas a minha performance vocal deixa muito a desejar, devo fazer a minha autocrítica sem pudor. Eu não desafino acintosamente, mas a absoluta falta de maleabilidade para modular, aliada à minha parca emissão e ao inglês macarrônico e indecifrável, realmente torna a experiência para o ouvinte, como algo radical, digamos assim. Em alguns trechos, eu cometi o desatino de perder o senso da melodia e praticamente passei a recitar alguns versos, ao invés de entoá-los. 

No entanto, entre omitir a peça e colocá-la no disco, eu novamente pensei que um disco bootleg tem a característica diferente de um álbum regular oficial e assim, somado ao fato cabal da raridade arqueológica que guarda em si, creio que não poderia ficar de fora. A nossa versão era mais inspirada na gravação do Johnny Winter do que a original dos Rolling Stones, devo acrescentar como um dado.

Vem a seguir a nossa interpretação para "Cocaine", canção Country/Folk-Rock composta por J.J. Cale, mas geralmente atribuída a sua criação para o guitarrista, Eric Clapton, graças à sua versão que ficou mais famosa. 

Zé Luiz a canta com certa desenvoltura, mas chama muito a atenção o seu sotaque ultra paulistano (o termo: "hang out" quando pronunciado nas ruas do bairro da Mooca, certamente é um bom exemplo), e o inglês macarrônico, ao pronunciar de forma bizarra algumas palavras, como por exemplo: "Forget" e há mais uma ocorrência nesta versão em específico: ele se esqueceu de um pedaço da letra e assim houve um hiato na sua performance. Mas tirante esses detalhes, é uma versão boa, bem tocada. 

Ao final, a minha fala ao microfone foi uma intervenção combinada, feita em todos os shows. Nós julgamos na época ter sido um ornamento interessante para o espetáculo, mas que na prática, se revelara apenas como uma piada interna e bem sem graça, devo acrescentar. Eis a minha voz a afirmar: -"é o brilho da cidade', para estabelecer uma espécie de ode, lastimável, eu digo hoje em dia, a um tipo de malandragem de rua, descabida pela insinuação infeliz. 

A seguir, vem uma super vibrante performance do tema instrumental, "Blue Wind" do guitarrista, Jeff Beck, com direito a uma menção ao tema: "Train Kept a Rollin' (de autoria de Tiny Bradshaw em 1951), e também pela introdução com bastante improviso criado com felicidade pelo Rubens Gióia. Tanto que logo no começo e não ao final como seria mais esperado, o Zé Luiz exalta a performance do Rubens ao microfone para o público: -"esse garoto incrível na guitarra, Rubão!" Ainda com a introdução em andamento, eu mesmo grito ao microfone: "Blue Wind". 

De fato, entre todas as releituras que foram regulares em nossos shows nesse período, a nossa interpretação para "Blue Wind", ao lado das canções de Jimi Hendrix, foram as que mais marcaram. Várias pessoas comentam sobre se lembrarem de nos verem a tocar "Blue Wind", até nos dias atuais, pois realmente marcou positivamente para muitos. Após um final apoteótico, o Rubens se despede do público ao dizer: -"Boa noite, muito obrigado, até uma próxima oportunidade"...

Na edição do disco, ficou bem demarcada a ideia de que o último tema: "Wild Thing" (tema do grupo: "The Troggs", mas a nossa versão certamente inspirada na regravação do Jimi Hendrix), foi a nossa volta ao palco para a execução de um pedido de "bis", pela reação da plateia. Soamos bem sessentistas nessa execução, algo muito estimulante para o meu gosto e formação pessoal, porém anacrônico para a década de oitenta em que vivíamos quando dessa gravação.

Então, é isso, creio que a missão foi cumprida com esse lançamento, pois eu fiquei muito feliz pelo resgate estabelecido e a imortalidade garantida para uma audição da banda ao vivo em 1983, ou seja, que presente para a memória da nossa banda, para nós, que somos os seus componentes e sobretudo para os fãs do trabalho.

Show no Teatro Piratininga de São Paulo, em 30 de abril de 1983, com operação de áudio de Pérsio (PA e monitor). Fotos: Seizi Ogawa. Produção de áudio e lay-out de capa em 2020: Kim Kehl. Um lançamento da Crossover Records. Coordenação geral: Luiz Domingues

Sobre a concepção da capa, contracapa e label do disco, o Kim Kehl optou pelo uso de uma foto ao vivo do próprio show, bem escolhida, embora no recorte a presença do Zé Luiz, atrás na bateria, ficou um pouco prejudicada, mas na contracapa isso ficou recompensado com uma foto individual dele, onde se vê bem o seu rosto. De resto, a concepção a seguir o padrão desses lançamentos "Bootlegs", a conter o logotipo da nossa banda de 1984 e o nosso nome em arco, com cor amarela. 

Enquanto a pandemia do Covid-19 persistia, ao menos mais uma novidade da nossa banda já estava a aquecer no forno.

Continua...