quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 129 - Por Luiz Domingues

Depois que lançamos o disco novo no Centro Cultural São Paulo, em julho de 2008, comemoramos os elogios que o disco recebeu por parte da imprensa e nas Redes Sociais da Internet, notadamente o Orkut, que ainda era a Rede mais usada nessa época, embora esta rede começasse a dar os seus primeiros sinais de desgaste nessa época. 

Os bons comentários animavam-nos, mas isso não refletira exatamente em oportunidades para capitalizarmos novos shows e assim, novamente nós entramos em uma fase difícil, com escassez de oportunidades e como resultado prático, o clima interno da banda deteriorava-se, como acontece com toda banda que fica sem perspectivas imediatas.

Uma reaproximação do agente Marco Carvalhanas aconteceu, e desta vez ele sinalizou com uma possibilidade de intercâmbio com uma emissora de rádio AM de uma cidade da Grande São Paulo, chamada Franco da Rocha. 

Seria uma permuta ao estilo das habituais negociações que ocorrem em emissoras de grande porte, com o "jabá" velado a ser cobrado em formato de shows ao vivo promovidos pela emissora. 

Nesse caso, por ser uma emissora pequena de uma cidade muito carente, foi óbvio que os shows seriam sem infraestrutura e pelo contrário, realizados em palcos modestos de madeira, improvisados e sem chance alguma de realizarem-se ao vivo, sendo regidos pela pantomima vergonhosa da dublagem.

Nunca o Pedra havia passado por uma situação dessa monta e eu contara nos dedos de uma só mão, a quantidade de vezes que passei por situações parecidas com trabalhos anteriores que realizei. 

A priori, só lembro-me das ridículas dublagens feitas no Teatro "Pimpão", que fiz com A Chave do Sol e também com o Língua de Trapo para o programa de Rádio, Balancê, da Rádio Globo/Excelsior, nos anos 1980 e uma dublagem ao vivo no Palácio das Convenções do Anhembi, para um programa da TV Record, com A Chave do Sol, também na década de oitenta.

Quando passei a proposta para os companheiros, claro que eles ficaram divididos entre a indignação e o escárnio pelo caráter questionável do que ganharíamos com tal predisposição e o aspecto ridículo de tal situação. 

Eu também sentia o ranço popularesco forte nessa situação e duvidava da eficácia para o nosso anseio artístico em meio a uma empreitada desse tipo. Uma situação seria fazermos shows nos salões suburbanos da baixada Fluminense para reverter em aparições no programa do Chacrinha, mas outra bem diferente seria enfrentarmos shows em bairros carentes de uma cidade da Grande São Paulo, para termos a execução de uma música nossa na programação de uma rádio popularesca de baixa audiência e com espectro de ouvintes muito distante do nosso nicho alvo. 

A trocar em miúdos, a expressão certa foi: para que?
Exatamente a mesma percepção foi unânime entre os quatro e até o Carvalhanas que fez a proposta também detinha essa consciência, é claro. 

No entanto, a questão também foi: Nós poderíamos dar-nos ao luxo de recusar sumariamente uma proposta de divulgação, mesmo não sendo algo fundamental para nós? Naqueles picos de escassez de oportunidades que o Pedra enfrentava costumeira e infelizmente, quando um fato novo acontecia, diante desse panorama, tornava-se quase uma obrigação agarrar a oportunidade, mesmo que acarretasse em posterior arrependimento.

Éramos como andarilhos no deserto e quando aparecia um pequeno oásis à nossa frente, não dava para questionar se a água disponibilizada era de qualidade ou não, essa é a metáfora que nos representara.

Nesses termos, mesmo a contragosto porque não foi a melhor das oportunidades, aceitamos participarmos e teoricamente a música: "Nossos Dias" do nosso disco Pedra II, entrou na programação da tal emissora, seria trabalhada até popularizar-se e então, no primeiro "show" promovido pela emissora na cidade, nós compareceríamos e faríamos uma dublagem da canção ao ar livre. 

Alguns dias depois, uma entrevista ao vivo com um locutor de tal emissora foi agendada. Eu falaria em um domingo a tarde com o rapaz por telefone e realmente isso aconteceu. Não lembro-me de seu nome (aliás, nem da emissora), mas recordo-me no entanto que o rapaz se mostrou bem comunicativo e simpático, e apesar de fazer as perguntas óbvias, a denotar não ter a mínima noção do tipo de artistas que éramos e por conta disso a usar dos clichês habituais que são utilizados no mundo artístico popularesco para entrevistar artistas dessa seara, a intervenção foi boa.

De fato, "Nossos Dias" começou a tocar e por ser possivelmente a canção mais Pop do disco, poderia ser executada mesmo em emissoras populares e acho que com chances de vir a tornar-se um sucesso nessa camada da população. 

Mas apesar do Carvalhanas falar com o rapaz da rádio constantemente e eu mesmo ter falado algumas vezes, os tais shows de permuta nunca ocorreram. Se por um lado foi um alívio não participarmos de eventos tão fora do nosso espectro artístico, por outro, nunca ficamos a saber qual teria sido a real receptividade de uma música como "Nossos  Dias" ante uma camada popular. Poderia ter sido um balão de ensaio e tanto para aferirmos algo que foi incompreensível para nós sob uma primeira instãncia.

Um outro evento ocorrido em 2008 e também a envolver emissoras de rádio, veio da parte do nosso amigo, Osmar "Osmi" Santos Junior e coincidentemente, este é um dos autores da canção que eu mencionei acima. 

Muito experiente no meio radiofônico, "Osmi" tentou ajudar-nos mais uma vez, ao intermediar um contato na rádio Eldorado FM, aí sim, uma emissora de muito respeito no mundo radiofônico paulista e brasileiro. 

Enviamos o nosso material na sede da emissora ao selecionarmos músicas como: "Nossos Dias", "Meu Mundo é Seu" e "Projeções", mas na ótica de seus mandatários, tais canções eram "pesadas" para os padrões deles e pior ainda, consideradas "juvenis". 

Ele mandaram nos dizer que o espectro da emissora era o de padrão "adulto". Foi rir para não chorar, na idade que nós tínhamos, ouvirmos uma asneira tão despropositada dessa magnitude. Entretanto, o "Osmi", como um profundo conhecedor dos bastidores do mundo do Rádio, explicou-nos que não seria para ofendermo-nos, pois isso era normal na visão deles, radialistas. 

Essas pessoas consideravam qualquer tipo de música que soasse, minimamente "pesada" como "Rock" e mediante tal rótulo que em sua ótica seria algo pejorativo, estigmatizam o artista em questão como dirigido a adolescentes e crianças. Ou seja, se tratou de uma classificação tão imbecilizante e obtusa, que lembrou-nos a estupidez dos quadros que serviam a censura na época da ditadura militar, verdadeiras bestas analfabetas, literais e funcionais.

Ao tentar ajudar-nos ainda e não deixar-nos esmorecer em relação a tentarmos uma adequação para podermos tocar a nossa música em rádios de porte e ainda não contaminadas inteiramente com a vergonha do "jabá", "Osmi" contou-nos que um expediente usado por artistas de gravadoras majors, seria o de suprimir-se guitarras em versões especialmente concebidas para tocar nas rádios, e assim driblar o paradigma imbecil de que no rádio não pode tocar música mais pesada. 

Segundo contou-nos, muitos artistas faziam isso e assim asseguravam execução maciça nas emissoras, ao garantirem que a sua popularidade aumentasse. Na sua opinião, se tratava de uma imbecilidade tremenda e ele mesmo, por ser um Rocker inveterado, odiava essa "Lei" velada que existia dentro das emissoras, com exceção das rádios Rock, logicamente. 

A sua explicação para o caso ficou claríssima, e chocou-nos pela simplicidade dos fatos: algum idiota que militara em uma emissora de rádio, décadas atrás, devia odiar o Rock e esta pessoa passou a boicotar bandas que apresentavam um patamar de peso acima do que o seu gosto pessoal permitia. 

Nessa predisposição, ele rejeitava músicas nesse parâmetro e isso espalhou-se em outras emissoras. Em suma, foi um paradigma imbecil e que ninguém sabia exatamente de onde veio e qual a razão da rejeição, mas enquanto uma tradição criada, todo mundo pôs-se a perpetuar essa estupidez em forma de ditame e isso está aí até os dias atuais.

Com a sugestão lançada, e ao se considerar que o Xando tinha o estúdio à disposição, seria uma questão de poucas horas para se trabalhar o track bruto da música "Sou mais Feliz", suprimir a guitarra e acrescentar um violão "batido" sem muitos desenhos rítmicos,; abaixar os teclados e o baixo um pouco mais e assim mixar uma nova versão "leve" da canção. 

Apesar de estarmos a lançar um disco novo e termos três músicas com potencial Pop excepcional, que eu já citei acima, o "Osmi" insistiu em uma estratégia de trabalharmos "Sou Mais Feliz", por que ela tocava na sua emissora, a Brasil 2000 FM, até aqueles dias de 2008 e portanto, seria mais fácil obter um "efeito cascata" se tal música entrasse também na programação da Eldorado. 

Segundo ele, quando uma cascata formava-se no mundo das rádios, tal precipitação tendia a obrigar outras emissoras a viralizar a música, mesmo não se não houvesse a maldita cobrança do jabá, portanto, seria uma chance.

Perdeu-se um bom tempo nessa operação, mas claro que valeria a pena a tentativa e assim que uma nova versão de "Sou Mais Feliz" ficou pronta, o "Osmi" a pôs para tocar na Brasil 2000 FM, já na estratégia de caso a Eldorado aderisse, a cascata radiofônica estivesse pronta para iniciar-se. 

Mas... a versão ultra light de "Sou mais Feliz" foi rejeitada e o programador mais uma vez insistiu na tese de que o Pedra não fazia uma música "adulta" e que buscasse execução em rádios "jovens". 

Falo de bom humor, sem rancor algum com a Rádio Eldorado FM e a sua equipe de produção, mas se "Sou mais Feliz", na sua versão normal do disco, já era adequada para tocar, na minha opinião de músico, imagine então essa versão que seria aprovada até pelos fiscais do "Psiu"(para quem não é paulistano, explico que o "Psiu" é um órgão da prefeitura de São Paulo que fiscaliza casas noturnas que excedem o barulho durante a noite e madrugada), e seus indefectíveis medidores de decibéis em mãos.

Então é isso, quem sabe um dia o Xando lança essa curiosa versão leve e alternativa de "Sou mais Feliz" como uma peça curiosa da discografia da banda e seria bem interessante nesse aspecto.

Um outro fato novo que aconteceu nesses meses finais de 2008, deu-se também no campo do jornalismo. Um jornalista de primeira grandeza, crítico musical de uma revista de circulação nacional na ocasião e ouso dizer, a maior do país naqueles dias, abordou-nos via E-mail. 

Ele disse que havia achado o nosso trabalho interessante, ao pesquisar na Internet e gostaria de ter consigo os nossos discos para uma análise mais aprofundada. Particularmente, achei inacreditável que um jornalista do mundo mainstream abordasse-nos espontaneamente e dessa forma simpática, solícita. 

Desde os anos oitenta, acostumara-me a ser hostilizado nesse mundo da superfície do mainstream e o que sempre esperava desse tipo de jornalista da camada superior, era o desdém absoluto.

Mas esse rapaz mostrara-se alheio à essa cartilha nefasta de seus pares, portanto estava a ser sincero, o que foi extraordinário, não só para o trabalho do Pedra, mas a enxergar muito além, eu diria que foi um fato inédito para a minha carreira toda. 

Ao longo da minha trajetória, e o leitor atento há de recordar-se dos capítulos anteriores a abordar a minha histórica com bandas pregressas pelas quais trabalhei, eu citei muitos nomes de jornalistas que considero verdadeiras feras desse ofício, com canetas fortes e caráter ilibado, porém em sua maioria a militarem em órgãos pequenos e médios do jornalismo cultural. 

Por ser assim, creio que tirante a minha estada no Língua de Trapo, que foi uma banda bem relacionada em esferas maiores do jornalismo, um crítico musical de primeira grandeza, a trabalhar em um órgão mainstream e que abordasse com simpatia sincera um trabalho meu, foi algo inédito na minha carreira e naquela altura já a ostentar mais de trinta e dois anos de labuta.

Respondemos o e-mail e entregamos os discos no endereço residencial desse jornalista e dias depois, ele respondeu que havia gostado muito do som, mas não muito das letras. 

O Xando que tinha uma verdadeira obsessão por tal quesito em si, ficou chateado e estupefato, pois na sua ótica, as letras seriam um dos grandes trunfos da nossa banda. Eu também achava/acho isso, ainda que com maior cautela. 

Dias depois, em outra conversa por e-mail, o jornalista estreitou relações e quis conhecer-nos pessoalmente e depois de quebrado esse gelo inicial em que o tratávamos com um cuidado especial devido a sua posição em um órgão de imprensa gigante no mercado, nos tornamos amigos e maravilha, o rapaz era (é) gentil ao extremo.

Ex-aluno de jornalismo da... claro... Cásper Líbero, a faculdade de jornalismo que caminhou em paralelo à minha carreira musical desde os primórdios do Língua de Trapo e lá estava eu de novo a estreitar amizade com outro jornalista "casperiano"...

Inconformado pelo fato de uma banda como a nossa ser ignorada no mundo mainstream, ele nos falou sobre alguns aspectos que foram como dardos no meu coração, mas positivamente, eu diria, pois as suas afirmações sobre a falta de oportunidades e reconhecimento para trabalhos como o Pedra também poderiam ser atribuídas a trabalhos anteriores que fiz, notadamente com A Chave do Sol e a Patrulha do Espaço, portanto, ouvir isso da parte de um jornalista mainstream foi um bálsamo para a minha alma. 

A sua afeição pela nossa banda foi total, mas daí a abrir o seu computador e escrever resenhas para os nossos discos houve uma dificuldade.

Claro que nós precisávamos respeitar a hierarquia de sua redação e não dependia só de sua vontade pessoal, contudo, ficou óbvio que enxergava qualidade em nós e se dependesse dele, na primeira oportunidade dar-nos-ia uma mão. 

E só para constar: depois que ficamos amigos e tivemos liberdade, o Xando perguntou-lhe sobre ele não ter apreciado as letras na primeira avaliação que fizera dos álbuns e ele retrucou que confundira com outra banda e isso foi normal ao se considerar que ele ouvia materiais o dia inteiro e escrevia diversas resenhas. O seu nome era Sérgio Martins e ele era o crítico musical da Revista "Veja".

Ao fazer um balanço final sobre o ano de 2008, ele começou marcado pelo acúmulo de frustradas tentativas em recuperamos o embalo de 2006, perdido ao longo de um 2007, muito difícil para a banda. A estratégia proposta pelo Rodrigo ao buscarmos espaço no mundo dos festivais independentes foi muito válida e só no decorrer do tempo nós fomos perceber que esse mundo era muito corroído. 

Enfim, tudo bem, absorvemos a ideia do "viver e aprender" e assim fizemos dois shows em tais festivais, ao abrirmos a porta para um terceiro, graças a esse esforço dele, Rodrigo. Tivemos um momento de intensa motivação quando fomos surpreendidos pela viralização do vídeoclip da música: "Longe do Chão", e pareceu que retomaríamos o embalo de 2006 e o superaríamos até, mas tudo virou pó da noite para o dia e por conta de uma mal-entendido tremendo.

O nosso maior orgulho em 2008 foi o lançamento do álbum Pedra II, o segundo trabalho oficial da banda, pleno de atrativos musicais e visuais.

Vídeo promocional do CD Pedra II, produzido em 2008
Eis o Link para assistir no YouTube :
https://www.youtube.com/watch?v=r3782u2SXzk

 
Emendamos uma sequência de shows interessantes, inclusive fora de São Paulo. Outra grande surpresa foi ganhar o apoio sincero de um jornalista mainstream, do porte de Sérgio Martins. E após o show de lançamento, caímos de novo em um momento de ostracismo...

2008 terminou com o Xando muito incomodado com esses altos e baixos na trajetória da banda e a ter uma ideia para mudar o panorama de 2009 , enfim. E tal ideia só ganhou corpo mesmo, quando um fato novo apareceu e animou-nos mais uma vez.

Ocorreu que o Sérgio Martins, esse grande jornalista musical do mundo mainstream, ligou-nos, e disse estar com uma pauta já em andamento para sua revista mega famosa de circulação nacional, a "Veja". Ele queria acompanhar os bastidores de turnês de alguns artistas. 

Nesses termos, ele viajaria com artistas do patamar mainstream em meio às suas turnês milionárias e recheadas de mordomias e conforto, viajaria com um artista médio, em condições boas, mas bem abaixo do luxo das mega estrelas, e por fim, enfrentaria a dura realidade de um artista do underground, a viajar e tocar com parcos recursos. 

Estávamos convidados, portanto, a contarmos com um jornalista de primeira linha e acompanhado de um repórter fotográfico dessa grande revista, a viajarem conosco e cobrirem por 24 horas por dia as nossas dificuldades e virtudes e os nossos esforços para vencer adversidades, mas também a levar em consideração a determinação de levarmos a nossa música onde quer que fosse, a angariarmos público e simpatia das pessoas.

Só houve um detalhe negativo para que aceitássemos tal convite: o Pedra era uma banda sem agenda, com uma dificuldade gerencial terrível nesse sentido e não havia perspectiva alguma de show, nem para São Paulo. 

No entanto, esse jornalista fora taxativo: seu editor queria que ele viajasse para cobrir turnês e para figurarmos nessa reportagem, no mínimo deveríamos apresentar duas datas em cidades interioranas para chamar isso de turnê e justificar a nossa participação na reportagem.

Seria possível dispensarmos a possibilidade de sermos retratados em uma mega reportagem recheada com fotos na Revista "Veja?"

Portanto, o Xando tirou da cartola uma ideia e materializou dois shows no interior de São Paulo para janeiro de 2009, para garantir assim ao jornalista Sérgio Martins, que estávamos prontos e ele poderia fechar conosco para essa etapa de sua reportagem de campo. 

Dessa forma, 2009 teve tudo para garantir-nos uma guinada e assim animamo-nos mais uma vez para enfrentarmos tal desafio.

Continua...

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 128 - Por Luiz Domingues

Foi chegada a hora do grande lançamento em São Paulo, do nosso novo álbum, Pedra II. Com uma capa espetacular, um nome pomposo e um conjunto de ótimas canções, tivemos em mãos uma grande obra, que talvez tenha superado o primeiro disco, sem nenhum demérito ao anterior que eu também acho ótimo.
Contudo, ficou claro o nosso amadurecimento como banda, ao concluirmos um disco cheio de coloridos memoráveis, tanto na qualidade das composições, quanto na excelência dos arranjos. Houve a questão do apuro nas letras um ponto de honra para a banda e com a mão de ferro do Xando nesse quesito, que chegava a exagerar em sua exigência nesse aspecto.
Bem ensaiados e uma com surpreendente sequência de shows, algo atípico para a história da banda, lamentavelmente, chegamos ao Centro Cultural São Paulo para preparar o nosso palco, bem adiantados, logo no início da tarde.
 
Montamos tudo com rapidez e tivemos o apoio sempre bem-vindo do iluminador Wagner Molina, que seria garantia de tornar o nosso espetáculo algo muito mais valorizado, graças a sua capacidade e criatividade para conceber um mapa de iluminação espetacular.
Sem uma banda de abertura, tampouco outras intervenções como havíamos feito com uma trupe de teatro e a performance ao vivo do artista plástico, Diogo Oliveira, em duas ocasiões anteriores, a ideia ali foi fazer um show de Rock tradicional e mais longo, ao tocarmos o máximo de músicas do novo álbum, mescladas com algumas do primeiro disco, logicamente.
Estávamos em um momento muito bom, tecnicamente a citar-se, e apesar de alguns revés ocorridos recentemente, o nosso clima interno estava bom, animados pela sequência de shows e lançamento do disco, a se refletir no palco, com uma energia boa que transpassava ao público.
Portanto, a lembrança que eu tenho desse show no Centro Cultural São Paulo, em 2008, é da banda estar a soar muito bem.

"Longe do Chão no CCSP - 18 de julho de 2008
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_JhlxQOhQOY


De fato, foi um ótimo show e acredito que fizemos um belo espetáculo de lançamento, a altura do grande disco que estávamos a apresentar aos fãs, críticos e sem soar piegas e presunçoso, mas a ser realista, para o mundo. 


"O Dito Popular", com direito à menção de "Papa Was A Rolling Stone" - Centro Cultural São Paulo - 18 de julho de 2008
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=I07o8Rxj0J8


O único ponto negativo nessa equação, foi o público tímido que compareceu ao Centro Cultural São Paulo, mas houve uma desculpa na ponta da língua: o fato de cair em uma sexta-feira e naquele horário padrão das 19 horas estipulado por esse teatro, ou seja, uma hora de trânsito engarrafado em São Paulo, apesar de julho ser mais ameno por conta das férias escolares.

Então, talvez isso fosse um consolo, mas claro que apesar disso, a nossa banda a lançar um disco dessa qualidade merecia a casa lotada, e quiçá, em meio a uma temporada de cinco dias seguidos com casa lotada em todas as noites. 

"Projeções" no Centro Cultural São Paulo - 18 de julho de 2008
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=U6Z-o3IOL-Y

Então foi assim, fizemos um show ótimo, com a banda muito bem afiada e motivada, a lançar um disco excelente, no entanto, com apenas oitenta pessoas presentes na plateia. Dia 18 de julho de 2008, no Centro Cultural São Paulo.

Continua...

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 127 - Por Luiz Domingues

Já com o segundo álbum em mãos, o nosso próximo compromisso ocorreu novamente no interior de São Paulo e sob uma ação pouco usual na vida do Pedra, infelizmente. 

No dia seguinte a nossa banda faria o show de lançamento do novo álbum em São Paulo, capital. Digo que foi uma grande pena mesmo, que uma banda a conter um trabalho tão virtuoso a exibir, tivesse tão poucas oportunidades de estabelecer uma agenda sustentável e dessa forma, contar com dois shows seguidos em cidades diferentes foi uma exceção e jamais a regra em nossa trajetória, como merecíamos e queríamos, certamente. 

Bem, conjecturas em forma de lamentos à parte, lá fomos nós para Piracicaba-SP em 17 de julho de 2008, para apresentarmo-nos na unidade do Sesc daquela cidade super pujante e bem aprumada.

Eu preciso retroagir um pouco, no entanto, pois existe uma pequena história pregressa para explicar o por que de termos conseguido um show no Sesc de Piracicaba, se ainda não havíamos tocado em nenhuma unidade dessa rede sociocultural na nossa própria cidade, São Paulo. 

Ocorre que o  meu primo, Emmanuel Barreto, havia morado uns tempos nessa cidade, de 2007 até o o início de 2008, quando esteve empregado em um estúdio de gravação e ensaios, ali recentemente estabelecido. Tal estúdio era de propriedade de uma amigo dele, que eu conhecia também e que fora dono de um estúdio em São Paulo, ao final dos anos noventa, onde a minha banda, Sidharta, chegou a ensaiar e posteriormente, a Patrulha do Espaço, também fez os seus primeiros ensaios da nossa formação, por volta de abril de 1999. 

O estúdio chamava-se "Alquimia" e ficava localizado no bairro da Aclimação, na zona sul de São Paulo e o nome do rapaz era, Claudio, apelidado como: "Formiga", e que aliás era um bom guitarrista.

Enfim, ao estabelecer contatos com a cena musical da cidade, o Emmanuel conheceu muita gente e logo foi apresentado a uma produtora do Sesc Piracicaba e então começou a trabalhar por uma data para o Pedra. 

Esse trâmite não foi nada fácil, no entanto, pois não éramos famosos no patamar do mainstream e de nada adiantou argumentar que "éramos bons", "éramos uma banda de Rock com elementos de MPB e Black Music, e não Heavy Metal" (como geralmente os leigos enxergam o Rock, a generalizá-lo como um barulho perpetrado por e para gente da faixa infantojuvenil), etc. 

A se mostrar difícil na negociação, finalmente a mulher agendou-nos, mas ela não colocou-nos a menor esperança de que arregimentássemos um público mínimo, não escalou-nos no teatro como queríamos, mas em um palco "lounge", da lanchonete da instalação. 

Não é nenhum demérito tocar em um ambiente assim nas unidades do Sesc em geral, pois a infraestrutura de palco e equipamento é de primeira qualidade, hajam vistos os shows que ocorrem normalmente na Chopperia do Sesc Pompeia ou na "Comedoria" do Sesc Belenzinho, ambas com estrutura melhor que muito teatro por aí.

Todavia, sem dúvida que a nossa aspiração seria o teatro, com a perspectiva das pessoas sentarem-se ali para nos verem/ouvirem, e não para comerem e beberem mediante o nosso som de fundo. Paciência, claro que aceitamos o agendamento e assim processou-se.

Fomos para Piracicaba no dia do show e com bastante tranquilidade. Viagem rápida (188 Km de São Paulo, apenas), estrada excelente e astral interno ótimo por que tivemos dois shows para fazer nessa semana, portanto, a motivação foi total. 

A unidade do Sesc é muito bonita, localizada em um belo bairro residencial daquela cidade e próxima ao seu charmoso e famoso rio, o rio Piracicaba, cantado em prosa e verso, e cenário de vários esportes ligados à canoagem, pela sua forte correnteza natural. 

Passamos por uma banca de jornais a caminho e ficamos contentes por constatar mos que havíamos sido retratados em vários jornais impressos locais, com boas matérias.

A tal produtora mostrou-se surpresa com isso e nessa altura já devia estar a mensurar a realidade que não éramos uma banda de Pop-Rock iniciante, mas tínhamos substância, história e resultados já registrados para contar e claro que o nosso show deveria transcorrer nas dependências do bom teatro da unidade, mas, paciência.

Montamos o "backline" e ficamos contentes por verificarmos que o técnico de som se mostrou extremamente simpático e competente. Rápido e eficiente, deixou-nos com um ótimo som de monitor do palco e um confortável som no PA ao se considerar que foi uma situação diferente no sentido de se apresentar em um lounge de lanchonete ao invés de um teatro. 

Ele contou-nos várias histórias de artistas que havia sonorizado no teatro, algumas hilárias e outras revoltantes, ante o estrelismo de certos colegas afetados. 

Soundcheck feito com muita tranquilidade, fomos descansar e esperar a hora de tocarmos.

Havia um horário, é claro, mas pelas circunstâncias, não necessariamente as pessoas apareceriam ali para ver-nos. Por ser uma lanchonete, o entra e sai foi frenético e tivemos a total consciência de que poderíamos enfrentar todo tipo de situação adversa ali. 

Contudo, esse rapaz que chamava-se Danilo, disse-nos para ficarmos tranquilos, pois a possibilidade de haver hostilidade ali seria impossível. O máximo que poderia acontecer seria uma debandada, se o som não os agradasse e outro ponto, palmas e manifestações positivas como gritos e assovios eram raros. A cada término de música, a tendência seria o silêncio. Tudo bem, estávamos avisados.

Quando chegou a hora de tocarmos, o lounge detinha aproximadamente cem pessoas ali presentes. Começamos a tocar e a cada final de canção, houveram poucas palmas e a maioria das pessoas permanecera em silêncio. Muitos nem olhavam para nós, a ignorar-nos retumbantemente.

"Saiu de Férias" no Sesc Piracicaba, em 17 de julho de 2008

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=3rjmyu-dM_o

Um rapaz que sentou-se bem na frente, na primeira mesa, tomava café e lia um jornal. Se tratou de um jornal local e deu para ver nitidamente quando ele estava a ler a página do caderno cultural onde havia uma longa reportagem sobre nós, com direito a uma grande foto da banda em destaque. 

Nem assim ele levantou a cabeça por um minuto sequer, por curiosidade tola que fosse, para checar se os sujeitos da foto éramos nós em cima do palco, a tocar... hilário! Finalmente após acabar de ler o jornal inteiro, esse rapaz levantou-se e partiu sem olhar para nós! Para ele, entre nós e uma "Jukebox", não havia diferença alguma.

Fomos a tocar, sem importarmo-nos com essas reações estranhas e quando o show acabou, o técnico disse-nos que fora um sucesso, pois apesar do quase silêncio nas mesas, haviam gostado, pois ao contrário, teria ocorrido uma debandada em massa logo na primeira música, fato costumeiro ali.

Em uma mesa havia um casal e uma moça, que foram uns dos poucos que aplaudiam e sorriam para nós, ao verem o show com atenção. Eles abordaram-nos e compraram os dois discos da banda. Haviam gostado e acho que tornaram-se fãs doravante.

Na van, ao voltarmos para a casa, o motorista do veículo, que foi uma indicação do Rodrigo, havia mostrado-se a sério, como um senhor reservado, na viagem de ida. No entanto, na viagem de volta, mais ambientado conosco, ele começou a contar "causos" que envolveram clientes malucos que atendera em ocasiões passadas. 

Uma das histórias que contou-nos é impublicável aqui e nem vem ao caso especificar, mas digo que foi uma das mais hilárias que eu já ouvi e gerou uma epidemia de gargalhadas que deixou-nos com os respectivos abdomens a doer, de tanto que rimos. 

Aos membros da banda que lerem este trecho da minha narrativa e a equipe técnica que acompanhou-nos nessa viagem (principalmente o Samuel Wagner, roadie, que quase teve um colapso de tanto que riu), eu deixo apenas uma dica interna para lembrarem-se: foi a história da "cumbuca".

No dia seguinte, o compromisso foi nobre: lançamento do álbum Pedra II, no Centro Cultural São Paulo. Em Piracicaba tocamos no dia 17 de julho de 2008, na unidade do Sesc Piracicaba, com cem pessoas na estranha plateia e pelo visto, só com três a prestarem atenção no nosso trabalho.

Continua...