quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 95 - Por Luiz Domingues

Outras canções que surgiram, foram: "Letras Miúdas" e "Saiu de Férias". 

Em "Letras Miúdas", de minha parte eu criei um fraseado bem no estilo do grande John Entwistle, logo na introdução da música. Confesso que gosto muito dessa intervenção contundente logo de início, pois a queda brusca que faço, assim que a melodia começa, dá um efeito dinâmico muito significativo e ao vivo, isso acentuava-se ainda mais. 

A letra é muito boa, e as partes "B" e "C"  são muito interessantes por trazerem influências forte do Blues-Rock. Na minha avaliação, a parte "B" é puro "West, Bruce & Laing" em sua constituição harmônica. 

E na sua parte "C", a lembrança do "Uriah Heep" em "The Magician's Birthday", é grande na minha percepção, principalmente pelas semelhanças harmônicas e claro, pela intervenção do slide. 

No caso de "Saiu de Férias", o riff inicial foi uma ideia que eu mesmo levei à banda, com a influência do "Free", através de um riff  bem na linha do Blues-Rock.

Levei também uma segunda parte que em princípio, eu desejei que que soasse como no espectro geral da "British Invasion' 64", bem com o estilo do "The Kinks".
O Xando incorporou uma parte "C" muito interessante, absolutamente coadunada com o som do "Led Zeppelin" e dessa forma a música tornou-se bastante atraente, ainda que a minha intenção inicial fosse que ela soasse mais sessentista em sua essência. Contudo, a letra que ele escreveu, apesar da contundência da sua temática, praticamente estigmatizou a música como algo um tanto quanto panfletária e confesso, não foi o que desejei para ela.

Como o Xando tem uma personalidade forte e ficou empolgado com o rumo que a letra adotou doravante, esta culminou em ser gravada nesses moldes, ao estabelecer provocações às religiões de uma forma geral, sobretudo pela questão da exploração da fé das pessoas humildes e nas superstições decorrentes dessa exploração.

O tema é bom, a tomada de posição é interessante e eu compactuo com tais visões em linhas gerais, mas por tal letra ter ficado sujeita à má interpretação da parte das pessoas, tornou-se um fardo verificar que teríamos que invariavelmente, "explicá-la".

Algum tempo depois que o CD foi lançado, uma pessoa perguntou-me se éramos "contra" os evangélicos, por conta dessa música. Claro que não, mas assim como ela ofendera-se ao considerar dessa forma a proposta, creio que a música poderia gerar esse questionamento para qualquer religioso, e não somente os evangélicos a vestirem tal carapuça. Se entendida dessa forma, ofenderia budistas, kardecistas, islamitas, cristãos em geral, judeus etc.

E pelo lado artístico, só pelo simples fato dessa dubiedade gerar tal tipo de controvérsia, é claro que já tornou a canção um fardo para a banda, no sentido de que explicar não é função do artista, mas nesse caso, não justificar poderia render antipatias irremediáveis.

Pouco tempo depois, o Xando não desejou incluí-la mais no set list dos shows. Creio ter arrependido-se das colocações feitas, ainda que saibamos que não tratava-se de ataques às instituições religiosas, tampouco contra a fé das pessoas de uma forma deliberada e dirigida. 

No entanto, sem dúvida que a sua empolgação e insistência pela manutenção de tal letra como definitiva para a conclusão no disco, ocasionou a sua condenação ao limbo. Lamento, pois a parte musical é muito boa, a caracterizar um sinal de desperdício do material. 

A complementar, a voz grave, ao estilo "Ike Turner", nos backing vocals, é minha. Apreciei muito gravar e cantar ao vivo, ainda que em poucas ocasiões.

O áudio de "Letras Miúdas", do disco:
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=HsBqUyoWwaI

O áudio de "Saiu de Férias", do disco:
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=YpLtTFxCQk0

Continua...

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