Desde 1999, havíamos adquirido a rotina de apresentarmos uma temporada anual no histórico Centro Cultural São Paulo. Apenas em 2000, tivéramos um show apenas, de forma isolada, mas nos demais anos até então (1999, 2001 e 2002), tínhamos tido mini temporadas, com dois ou três shows consecutivos.
Desta feita no entanto, a agenda do CCSP nos concedeu só um dia e como já expliquei reiteradas vezes, tocar um dia só é sempre um transtorno, por que nos obriga a empreender todo o trabalho de transportar e montar o equipamento, arrumar o camarim, afinar a iluminação e fazer o cansativo ato do soundcheck e tudo isso para se realizar um único show apenas, com a perspectiva de ter que desmontar e cuidar da logística da saída, no mesmo dia e na contrapartida, quando se tem mais um ou mais dias de espetáculos, os demais dias de apresentações são muito mais tranquilos, com o artista tendo mais tempo para relaxar e se concentrar em fazer uma boa performance no palco, tão somente. Infelizmente, em 2003, isso não foi possível e assim, contamos apenas com essa data em julho.
Há se registrar também que tivemos um adereço de cena muito especial nesse show, ao colocarmos no palco uma escultura em formato de um "extraterrestre", e este ao estilo "Grey", para quem acompanha a ufologia.
Tal obra foi era de autoria de uma das filhas da fotógrafa Ana Fuccia, Amanda Fuccia, que nos emprestou a sua escultura gentilmente. Em tamanho mais ou menos de 1.50 m, tal boneco impressionou pela perfeição e ele ficou acomodado perto da bateria, para chamar muito a atenção do público. Nada melhor para enfeitar o palco, que um "ET", para fazer jus às tradições espaciais da nossa banda!
Tudo bem, fizemos a nossa divulgação de praxe e lá fomos nós tocar, no dia 20 de julho de 2003, um domingo.
Tivemos novamente o histórico guitarrista Dudu Chermont como um convidado mais do que especial. Nesse caso, digo que um ex-membro histórico da própria banda não foi um convidado, mas algo além, pois a sua história na banda lhe conferira um status diferenciado em relação a outro convidado que viesse a abrilhantar a noite, simplesmente.
Tivemos um bom público e a performance do Dudu conosco foi bastante emocionante. Exatamente como ele fizera quatro meses antes o show de lançamento do álbum ".ComPacto", em um salão da zona leste de São Paulo, Dudu tocou como se o tempo não tivesse passado.
A sua saúde estava péssima, decorrente de várias doenças degenerativas que o acometiam e que lhe tiraram a vitalidade e também a coordenação motora. Por perder os sentidos com frequência devido aos picos de subida da pressão arterial, ele estava há meses a sofrer desmaios constantes que lhe conferiam tombos terríveis e assim, ele estava sempre com escoriações pelo corpo todo.
De fato, Dudu estava irreconhecível, envelhecido e com uma coloração de pele que denunciava as várias doenças simultâneas que o atingiam e ainda por cima com escoriações por conta das quedas.
Todavia, quando ele empunhou a guitarra e cantou, já no soundcheck, foi incrível como se uma luz vinda dos Deuses do Rock o iluminasse, pois tocara e cantara como se estivesse nos anos de ouro de sua presença como guitarrista e vocalista da Patrulha do Espaço, nos anos oitenta.
A tocar e cantar com uma firmeza incrível, naqueles minutos em que atuou no palco, pareceu ser o Dudu Chermont "Rock Star" que eu conhecera pessoalmente em 1982, mas que já o acompanhava desde 1976, ao vê-lo a tocar ao vivo em shows de Rock.
Dudu Chermont em dois momentos: a tocar com a Patrulha do Espaço no final dos anos setenta, à esquerda e no dia do show do Centro Cultural que eu citei acima, à direita. Na foto de 2003, dá para ver o braço do meu baixo Rickenbacker, ao fundo
Eu, e creio que todos ali presentes, ficamos emocionados com a sua performance no show e tristes ao mesmo tempo, ao vê-lo sob um estado de saúde tão debilitado, que lhe fazia ter dificuldade de locomoção. Inclusive, ele estava a usar uma bota de gesso, pois havia fraturado o pé recentemente.
Enfim, não só nos emocionou no dia, como é desagradável ter que observar um outro detalhe, mas esse foi o seu último show de Rock em vida, pois ele veio a falecer dois meses depois, em setembro de 2003.
Dia 20 de julho de 2003, domingo. Centro Cultural São Paulo, com trezentas pessoas na plateia. Esse show foi filmado, e um dia tais imagens poderão vir à tona, via YouTube.
Dedico este capítulo ao grande, Dudu Chermont.
Luiz, estou muito emocionado lendo esses relatos!
ResponderExcluirMuito obrigado por compartilhar estas histórias!Histórias do rock tupiniquim! Cara vc é demais!
Espero um dia ver esse vídeo com a participação do Dudu. Tem um com a qualidade muito ruim no Youtube.
Mais uma vez, obrigado por compartilhar isso!
Estou acompanhando. Abraços, bro!
Mingo :
ExcluirEmocionado fico eu por saber disso, pois não só a minha história com a Patrulha, mas tudo o que já escrevi sobre todos os trabalhos que fiz na minha carreira, foi escrito com o espírito de tentar levar o máximo de fidedignidade histórica e emoção no relato.
Portanto, se um leitor afirma o que que você afirmou acima, é claro que minha sensação é de imensa satisfação por saber que meus esforços logram êxito.
Aproveito para lhe agradecer por recentemente repercutir este capítulo em específico na Rede Social Facebook, onde aliás causou uma comoção,pelo que acompanhei,com vários fãs do Dudu se manifestando.
Sobre vídeos, o Ray Castello, filho do Rolando, me falou que está providenciando a postagem no You Tube do Show na Led Slay, Full, de 2003. Nesse,tem participação do Dudu, como sabes. A qualidade é sofrível do vídeo, haja vista um promo de "Columbia" que já está no You Tube, extraído desse mesmo material.
Estou buscando encontrar o show de julho/2003 no Centro Cultural SP,que como mencionei, é o último da vida dele, fazendo participação especial conosco.
Quanto à autobio, sinto-me honrado com sua leitura e o convido a ler outros capítulos de outras bandas também, porque tem muitas histórias bacanas.
Grande abraço !!