quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Crônica da Neve - Por Marcelino Rodriguez


Sabe, garota, tenho vontade de te falar, mas depois de nossa discussão penso que você ainda desconhece sua força para me atingir em cheio.
 
Então vim aqui andar na neve, conversar sozinho. Não sei se resolve, mas assim passo meu tempo e o mesmo fica menos dolorido. De vez em quando, nas poças d`água, penso estar vendo seu rosto das nossas horas felizes.

Eu já te contei o mundo bonito que pintei, te pondo dentro dele,até porque se você não estivesse, ele não seria bonito.
os amores e amantes se ajudam sabe? Sempre foi assim
através dos tempos. E ainda acredito que assim deve ser.
 

A mulher é a força do homem.

Todos andam pensando que o amor vem pronto
como num encaixe perfeito, mas não é bem assim.



O amor sempre nos oferece um desafio, tipo
"sois digno"? O amor de verdade nos chama
para um crescimento e mistura poesia cotidiana
com épico. Ele exige o maior e o melhor de nós.


Agora você brigou comigo e fiquei sem jeito.
 

Penso que existem dragões que só vencerei se você
estiver comigo. Penso que certos segredos só comigo tu saberás e achares outro de mim nesse mundo é tão fácil como você ver de sua janela um camelo andando pela rua. Penso que é bobagem ficarmos como duas crianças emburradas.


Sabe, Senhora, eu gostaria mesmo era de te abraçar em silêncio, alisar seus cabelos olhar ao redor e sentir o vento frio recitando poesia pela nossa paz. 

Olho agora diante de mim e vejo na poça d'água teu lindo rosto de nossas horas felizes. Por favor, me chame de volta.



Marcelino Rodriguez é colunista ocasional do Blog Luiz Domingues 2. Aqui, o autor nos traz um crônica cheia de sentimento, quase como uma pequena catarse.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Crônicas da Autobiografia - Reconhecido no Trólebus em 1982... - Por Luiz Domingues

                   Aconteceu em 1982... no tempo d'A Chave do Sol...

Quando uma banda inicia um trabalho, pode demorar para surtir algum efeito prático que sinalize que o público está a notá-lo.

Volátil ao extremo e ainda a se tratar de um país como o Brasil, onde o incentivo à arte & cultura é zero (quando não abaixo disso, com sabotagens & boicotes), pode demorar muito para que haja algum sinal, isso se aparecer, pois muito artista talentoso nem chega perto disso, infelizmente.
Foram os primeiros meses de atividades d'A Chave do Sol e nesse instante do segundo semestre de 1982, éramos uma banda completamente desconhecida do grande público, a dar os seus primeiros passos ainda, a tocar ao vivo em casas noturnas de pouca expressão na cena paulistana, quando o nosso maior feito até então fora termos sido retratados através de uma reportagem de um programa de TV, mas de forma completamente fortuita, pois o mote do jornalista Goulart de Andrade, em questão, que apresentava o programa: “Comando da Madrugada”, era o de cobrir a noite paulistana e por acaso ele nos filmou a tocarmos em uma casa noturna dessas onde estávamos a nos apresentar, bem no início de carreira, e claro, sem menção alguma à nossa banda. 
 
Portanto, aparecemos na Rede Globo à esmo, em uma madrugada de outubro de 1982, mas como ilustres desconhecidos.
Fora disso, outra conquista inicial da banda fora uma micro reportagem que fizemos para um jornal de porte de São Paulo, a “Folha da Tarde”, com direito a uma foto. Foi muito para uma banda com poucas semanas de vida, comemoramos muito, é lógico, mas em termos práticos, foram os primeiros passos de uma longa jornada a ser percorrida. 
 
Então, sem ilusões naquele momento e a focarmos na labuta pura e simplesmente, encarávamos o anonimato com normalidade, mas em pé de igualdade com a esperança de chegarmos a patamares mais altos na música, como combustível motivacional sine qua non, evidentemente.

Por volta de novembro de 1982, tivemos então essas pequenas conquistas contabilizadas no nosso insípido currículo e portfólio e uma surpreendente agenda ao se considerar sermos uma banda iniciante, visto que começamos a articular a banda em julho, mas a estreia oficial acontecera ao final de setembro. 
 
A minha rotina pessoal nesses tempos era feita no sentido de deslocar-me de minha residência, que ficava localizada no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, até a residência da família Gióia, no bairro do Itaim-Bibi, este na zona sul da cidade, onde um amplo quarto de despejos, localizado na edícula da casa, foi oferecido-nos como espaço, para montamos o nosso estúdio de ensaios.
Neste caso, o meu caminho para chegar até lá previa a viagem de metrô, da estação Tatuapé, até a estação Santa Cruz, na zona sul e de lá, no terminal acoplado a estação, eu usava o trólebus, linha “Santa Cruz-Pinheiros”. 
 
Para quem não é de São Paulo, “trólebus” são ônibus elétricos, uma tradição paulistana desde 1949. Eles convivem com os ônibus tradicionais a diesel, normalmente pelas ruas, mas detém as suas peculiaridades óbvias, como não poder mudar o itinerário, por conta de terem que seguir a linha elétrica que os alimenta, são muito mais confortáveis, parecem deslizar de tão macios e quase não tem o barulho típico de um motor em funcionamento.
 
O percurso que eu fazia da estação Santa Cruz até o ponto da Avenida Santo Amaro onde descia, quase em frente à rua da residência dos Gióia, era relativamente curto. Ao descer na época a rua Borges Lagôa (já faz um certo tempo o sentido das mãos mudaram ali, e a Borges Lagôa nos dias atuais tem sentido para o cruzamento com a Rua Domingos de Moraes, na Vila Mariana), e a circundar pelas ruas do Jardim Lusitânia, um micro bairro com mansões que circunda o Parque do Ibirapuera, ele embrenhava-se pelas ruas da Vila Nova Conceição, outro bairro que envolve o diâmetro do Parque, sendo igualmente de alto padrão, portanto, um passeio agradável e naquela época, com muito menos tráfego no seu entorno.
Pois foi nesse trólebus, em um dia de novembro, que eu tive o primeiro sinal de que a nossa banda estava a chamar a atenção. Foi um sinal tímido, é bem verdade, visto que nos anos vindouros o nosso grupo teria bastante exposição midiática e contabilizaria conquistas imensamente maiores, mas naquele breve instante, dada a dimensão em que os fatos transcorriam, marcou-me.
 
Aconteceu que uma garota viajava alguns bancos a frente e eu notei que ela olhava-me com uma expressão facial típica de quem pensa ter reconhecido alguém, mas não faz ideia como, por que e tampouco quem fosse a pessoa em questão. Em um dado instante, a garota tomou coragem e abordou-me, ao perguntar-me se eu seria músico, e se por acaso não tocara dias antes em uma casa noturna localizada no bairro do Bixiga, na zona centro-sul da cidade.
Sim, a nossa banda estava a cumprir uma temporada nessa casa, para tocar regularmente nas sextas e sábados e ela de fato havia nos visto em ação. 
 
Saquei de imediato uma filipeta (flyer), do bolso, a anunciar tal temporada e a convidei a retornar e levar amigos nas próximas apresentações que ainda tínhamos marcado para essa casa. Foi uma simples abordagem, mas que teve um fator de incentivo enorme, pois assim que eu cheguei ao ensaio, minutos depois, estive bastante empolgado com esse fato singelo e o dividi com os companheiros de jornada tal notícia, para comemoramos, visto ser naquele momento, algo muito importante para nós. 

Em suma, reconhecimento é tudo para um artista. O aplauso no calor do show, as abordagens pessoais, as cartas manuscritas (que naquela época foi uma forma muito usual de receber o carinho das pessoas e hoje em dia evidentemente, substituídas pelas ferramentas da Internet), enfim, cada pequeno gesto espontâneo, a sinalizar que estão a gostar do trabalho que fazemos, é um incentivo que não tem preço. 
 
Portanto, tirante as abordagens nos primeiros shows e o apoio abnegado de familiares, parentes & amigos, eu creio ter sido esse singelo gesto que adveio de uma pessoa estranha, e sob um ambiente nada glamorizado, revestido da absoluta normalidade do cotidiano (o transporte público), o primeiro sinal concreto que tive que essa banda faria sucesso. E fez... portanto: muito obrigado a todos os fãs desse trabalho! 

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Os Kurandeiros - 19/8/2016 - Sexta / 21 H. - Feeling Music Bar - Vila Mariana - São Paulo / SP

Os Kurandeiros

19 de agosto de 2016

Sexta-Feira  -  21:00 Horas

Feeling Music Bar

Rua Domingos de Morais, 1739

Vila Mariana

Próximo da Estação Vila Mariana do Metrô

São Paulo  -  SP

Ingresso : R$ 20,00

Atenção : Show Pocket dos Kurandeiros em noite compartilhada com muitas outras bandas, em clima de festival.

Os Kurandeiros :

Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Luiz Domingues : Baixo

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Carências - Por Telma Jábali Barretto

 
Paradoxal, contraditório e, às vezes, surpreendentes são as carências que detectamos num mundo em que os caminhos para comunicação são abundantes e, em tempo real, onde quanto mais convivemos, observamos e aprendemos... Aliás, talvez aí mesmo esteja a resposta: a facilidade, acessibilidade a tantas formas de contato simplesmente revelam, desmascaram e as nomeiam seus vários formatos.

Muitos alertas atualmente existem para que o extremo de exposição não propicie, inclusive, perigos para a própria privacidade e segurança, mas...literalmente questionamos: quem está atento a isso quando, se no inverso, uma necessidade absurda de existir para o outro, seja um especial outro, ou, mais delicado ainda, qualquer outro que faça eco ao que se dividir, simplesmente expor ou exibir ?!... O que se esconde de fato atrás desse comportamento senão uma escancarada ou velada, subliminar carência ?!... E, sobre isso gostaríamos de convidar para uma reflexão !
Muitas são elas não ?!...e não falamos aqui só das materiais ou afetivas. Para nos sentir existindo, parece que precisamos cavar, inventar motivos para que alguém me enxergue...e, nisso, temos visto muita originalidade. E a que vem ?

Quando partilhamos algo, em qualquer forma de grupo social, virtual ou presencial, informamos, acrescemos ou esclarecemos ou ali só puramente mostramos, de’monstramos’ aquilo que nos importa trazer ? Um bem material e de qualquer importância, um sonho realizado, a chegada a algo pacientemente construído, adquirido, semeado e florescido e, tal expor a que ou a quem, quantos beneficiará, proporcionará, tanto objetiva quanto subjetivamente, num alavancar, estimular, de verdade, espalhando, reverberando ganhos ? 
Porque se não for assim, qualquer fala no compartilhar visa suprir nossa extrema carência de ocupar um espaço no olhar do outro, na escuta de meu feito, de que tipo, tamanho seja, ainda que nada, nada mesmo inspire, ensine ou encante no meu próximo, que à sua maneira, numa mesma sintonia talvez retorne, replique, responda percebendo quão similar são as trocas, configurando um tecer de falatório, blábláblá que retroalimenta barulho continuado, mantenedor do apaziguado piloto automático, num enganoso sentimento de que oferecemos, quando, no fundo, bem mais embaixo, só fazemos manter o público que aplaude, é aplaudido igual, mantendo eco, criando luzes sobre o palco montado para exibição fugaz.

Quanto de silêncio é preciso para florescer e como florescer, se, a todo tempo, estamos pré-ocupados e mobilizados em expor, contar os rotineiros, triviais, corriqueiros feitos ?
Quanto energia gastamos, produtora de seguido ruído dentro e fora de nós, exportando e importando desnecessários (e como mensurar o necessário para cada um?!...) imagens, falas e fatos?

Quanto a aprender sobre o bom uso dessa facilidade e liberdade de comunicação com um maduro filtro capaz de expandir conhecimento, propiciar melhora na qualidade de vida, abrir horizontes e acessar novas fronteiras, multiplicadora de ganhos para todos, levando aos crescimentos definidores de satisfação interna, material ou espiritual, e,  não aprisionadores, ainda mais, num enredo viciado de brilhos artificiais, pouco reveladores do real sentido a vida !

Assim, concluímos buscando coerência com o teor do ‘discurso’ trazido,  perguntando-nos, no mais íntimo da própria consciência: a quem imagina possa ter servido tal reflexão, além de a si mesma ?
Essa, sabemos, talvez devesse ser sempre a prévia pergunta, antes mesmo de ousar quebrar o sagrado silêncio que é ouro, como diz o próprio ditado, onde reina absoluta abundância !!! 

 
Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira Civil, é também uma experiente astróloga; consultora para harmonização de ambientes e instrutora de Suddha Raja Yoga.

Nesta crônica, fala-nos sobre a questão das carências múltiplas com as quais os seres humanos lidam, mas sobretudo, analisando o dispêndio de energia mal canalizada, muitas vezes no afã de resolver-se cada pendência. 

sábado, 6 de agosto de 2016

Por Que Nem Tudo é Brinquedo? - Por Luiz Domingues

Nesses meses iniciais de existência, tudo é absolutamente fascinante, e também confuso. Formas, cores, luzes, pessoas...
Não demora a se chegar em um estágio onde os adultos penduram artefatos coloridos no seu berço e propositalmente, colocam objetos ao seu alcance. O momento de experimentar a sensação tátil de segurar tais peças chegou e agora não apenas você é livre para manuseá-los a vontade, como também torna-se questão de tempo e força, para descobrir o prazer do livre arremesso.

Se somos acrobatas pela habilidade de colocarmos o pé na cabeça, ao estabelecermos uma autêntica performance circense, também somos bons na prova do arremesso de disco ou dardos...
Instigantes são os formatos desses objetos. Vai demorar para identificarmos e decorarmos os nomes e os seus correspondentes na vida real. Sim, porque a ideia em via de regra, é a de que tais pequenos volumes simulem seres vivos e/ou objetos que existam na vida real, ou que no mínimo façam uma caricatura da realidade.

Bem, pouco importa nessa fase da vida saber com exatidão o que é um carro, caminhão ou uma espécime do Reino animal.

Aliás, o que é um bicho? O que significa um Ser Humano? 
Muitos anos depois e poderemos chegar a questionar a falta de humanidade e o caráter animalesco de certos humanos, mas isso é preocupação bem para o futuro.
 
O importante nessa etapa da vida é explorar os aspectos táteis desses objetos que os adultos nos fornecem. Alguns são bem coloridos, portanto chamativos. Outros produzem ruídos engraçados conforme os tocamos e essa é mesmo uma fase de experimentações a esmo, desprovidos de qualquer senso lógico, nenhuma conjectura racional a nos basear. Apenas apertamos os objetos e gostamos da sensação de tal manipulação, pelo contato com a borracha, o material plástico ou seja lá de que forem feitos.
 
Gostamos das suas cores e formas e também dos ruídos que emitem. Ou não, às vezes. Há os que antipatizamos e não há explicação alguma para tal. Não nessa época. Simplesmente não simpatizamos com a fachada de um ou outro, simples assim.
A falta de qualquer vínculo com normas é extraordinária nessa fase da vida. Se não gostamos, simplesmente o arremessamos para longe. Se o adulto insiste em querer que gostemos de algo que não nos agrada, basta chorar para mostrar o desagrado.

Passa mais um tempo, não muito por sinal e já estamos a engatinhar e assim esboçarmos os primeiros passinhos. Diante dessa possibilidade de locomoção, um novo leque de oportunidades se abre. Aí começa um conflito e tanto.
Os adultos passam a nos repreender, ao alegarem que alguns objetos são liberados para nós manipularmos, mas a maioria dos artefatos que contém formatos interessantes e cores chamativas, não o são.

Que confusão isso cria para o nosso entendimento...

Por que não se pode mexer a vontade no que quisermos? Não foi assim a predisposição até bem pouco tempo atrás? 
Pois agora há sempre um adulto por perto a nos dizer que não devemos pegar a maioria dos objetos interessantes do Lar.

Não demora, e o conceito que cerca a palavra “brinquedo”, nos é falado à exaustão. Alguns objetos são brinquedos, mas a maioria não, e os que não o são, em hipótese alguma podem ser tocados.

No entanto, qual a diferença entre um brinquedo e o que não um é brinquedo? Essa é a primeira pergunta que nos ocorre e segundo ponto: se já conhecemos os ditos “brinquedos”, por que nos impedem de explorar outras possibilidades?

Agora eu sou adulto e claro que entendo o posicionamento, mas com poucos meses de vida, é difícil ao extremo entender porque somos estimulados a tocar em certos objetos e duramente repreendidos se tocamos em outros, considerados inadequados.

Visto pelo ponto de vista de adulto, isso é inquestionável, claro. 
Mas ao pensando na experimentação livre de quando somos bebês, onde tudo é absolutamente novo e interessante a nos chamar a atenção, a incompreensível distinção entre o que se pode pegar e o que não pode, é uma das primeiras angústias da vida.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Elementos - Por Julio Revoredo

A tinta

O cubo

O ocre
O acre. Simca

Arrisca

Repinta
Soslaio. Esfera

Treboa

Trinca

A tinta. A espera
Respinga

Triangulo

Movimento

Primavera

O triangulo

Muda esfera


Julio Revoredo é colunista fixo do Blog Luiz Domingues 2. Poeta e letrista de diversas canções que compusemos em parceria, em três bandas pelas quais eu atuei: A Chave do Sol; Sidharta e Patrulha do Espaço.