sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 124 - Por Luiz Domingues

Então, com algumas músicas novas fechadas, a ideia de uma demo-tape, como pré-produção para um eventual novo álbum, tornou-se plausível. 

Dessa forma, o Kim gravou as bases com guitarras dobradas e também solos e contra-solos, a antecipar bastante o trabalho. Eu fui visitar a residência de Kim, onde ele mantinha o "Mandioka Studios", em 29 de janeiro de 2020, e nessa ocasião, gravei o baixo da música: "Só Curto Covers" (que posteriormente recebeu o nome definitivo como: "Bom Rock"). 

Eu, Luiz Domingues e Kim Kehl, em 29 de janeiro de 2020, nas dependências do Mandioka Studios, no bairro das Perdizes, na zona Oeste de São Paulo, com o objetivo em começar a gravar a minha participação na demo-tape dos Kurandeiros, em 2020. Click (selfie), acervo e cortesia de Kim Kehl

Canção muito próxima do estilo, "Rockabilly" clássico, com alto teor cinquentista, contém uma letra satírica e que de certa forma, lembrou-me o estilo da sátira corrosiva, praticada pelo Língua de Trapo. 

E no caso, além da minha própria pessoa, que sempre possuí essa seminal ligação com tal banda (refiro-me ao Língua de Trapo), por ter sido membro, houve também uma conexão do Kim Kehl com tal trabalho, ainda que bem mais indiretamente, por conta da amizade que ele nutria desde a sua adolescência com o jornalista/músico, Ayrton Mugnaini Junior, que além de ter sido membro do Língua de Trapo, também, ele (Ayrton), foi desde os primórdios, uma personalidade muito próxima dessa banda. 

Portanto, eu sempre enxerguei tal influência humorística em tal letra, pelo fato de conhecer essa específica música, há tempos, pois ela estava incorporada ao repertório das apresentações d'Os Kurandeiros. Em suma, foi fácil gravar a minha participação com o baixo de tal canção, para compor essa música. 

Protótipos de novas estampas para camisetas a conter as imagens do tecladista, Nelson Ferraresso e do guitarrista, Phill Collins. Fevereiro de 2020

Alguns dias depois, tivemos a notícia de que a parte da merchandising da banda estava a preparar novidades, com a criação das artes a exibirem-se as estampas com as figuras de Nelson Ferraresso e Phill Rendeiro e também novas estampas com o logotipo da banda.
Novas opções de camisetas com o logotipo mais atualizado d'Os Kurandeiros. Fevereiro de 2020

Em mais alguns dias, o companheiro, Nelson Ferraresso compareceu ao Mandioka Studios e gravou a sua participação na gravação da nova demo-tape, em 20 de fevereiro de 2020, para ser preciso. 
Nelson Ferraresso e Kim Kehl a trabalhar na gravação dos teclados para a nova Demo-Tape d'Os Kurandeiros, no Mandioka Studios, em 20 de fevereiro de 2020. Click (selfie), acervo e cortesia: Kim Kehl 

E finalmente, eu mesmo, Luiz Domingues, fechei a minha colaboração em 22 de fevereiro de 2020, ao gravar mais quatro faixas, a discriminarem-se: "Só o Terror", "Último Blues"; "Sonhos & Rosquinhas" e uma vinheta sem nome definido, mas que em princípio poderia ser chamada como: "Overture".
Dia 21 de fevereiro de 2020, no estúdio Mandioka Studios. Eu (Luiz Domingues) e Kim Kehl a trabalharmos na conclusão da gravação do baixo das músicas que compuseram a Demo-Tape dos Kurandeiros em 2020. Click (selfie), acervo e cortesia de Kim Kehl

Com tal demo-tape em andamento, tivemos enfim, um mapa de pré-produção concreto para pensar seriamente na criação de um novo álbum.

Continua...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 62 - Por Luiz Domingues

Na semana em que antecedeu o reencontro do Boca do Céu, surgiu a ideia de relembrarmos as músicas que compunham o nosso velho repertório e nesse sentido, todos exerceram individualmente, um exercício de memória notável para relembrar ao máximo o que foi possível. 

Fiquei até surpreendido, pois no esforço coletivo, muitos trechos de canções foram recordados. Na ausência de algum apoio com material gravado, seria um esforço hercúleo, visto que as poucas canções que tínhamos registradas, através de gravações caseiras e armazenadas nas arcaicas fitas K7, foram irremediavelmente perdidas ainda nos anos setenta. Portanto, quando eu notei que os companheiros, Laert, Osvaldo & Wilton, conseguiram relembrar diversos trechos a tocar e cantarolar pedaços de músicas, eu fiquei muito feliz.

E mais reminiscências maravilhosas foram feitas, com todos a relembrarem as atividades culturais que presenciamos em companhia mútua a contabilizar shows de Rock e MPB, cinema, teatro, exposições e inúmeras outras atividades culturais em que estivemos juntos nos anos setenta. Para tal, além do meu Blog e o relato dos capítulos escritos sobre o Boca do Céu em minha autobiografia, outros companheiros postaram fotos da época, caso do Wilton, que disponibilizou-nos diversas fotos clicadas pelo seu primo, Nelson Rentero, sobre shows que ambos assistiram entre 1974 e 1976, antes até dele, Wilton, ingressar em nossa banda.

O nosso guitarrista, Wilton Rentero, ao lado de Rita Lee (primeira foto), e Gilberto Gil (segunda foto), no camarim do Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, no dia 26 de junho de 1976, por ocasião do show do super grupo da MPB, "Doces Bárbaros". Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Nelson Rentero

Quando eu vi tais fotos do Wilton, eu notei que todo o relato da minha vivência pessoal com o Boca do Céu e por conseguinte, toda a minha percepção sobre a ambientação cultural e sobretudo, contracultural que envolvera-me nos anos setenta, estava incrivelmente reforçada, pois a energia contida em tais fotos, corroborou de uma força absurda com o bojo das minhas colocações expressas em texto.
O nosso guitarrista, Wilton Rentero, presenciou, na companhia de seu primo, Nelson Rentero, um show de Caetano Veloso, nos idos de 1975. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Nelson Rentero

Pois muito bem, estávamos prontos para o reencontro, com todos animados e com um adendo, pois o companheiro, Fran Sérpico alegou que perdera o traquejo com o instrumento e assim, ele mesmo tomou a dianteira e convidou o seu cunhado, que
era (é) baterista e que toca regularmente na noite paulistana com bandas cover, desde os anos sessenta, portanto, a mostrar-se bem experiente. 
O nosso guitarrista, Wilton Rentero, presenciou, na companhia de seu primo, Nelson Rentero, um show de Jorge Mautner, nos idos de 1976. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Nelson Rentero

Nelson Laranjeira era (é) o nome do rapaz e ele aceitara participar do nosso reencontro. Eu roguei ao Fran Sérpico, que explicasse ao seu cunhado que seria um ensaio truncado, pois tirante as músicas do Joelho de Porco que combinamos tocar por recreação, a ideia seria tentar executar pequenos trechos de músicas do nosso velho repertório, que lembráramos durante aquelas duas semanas anteriores, pela via do aplicativo, Whatsapp. 
O nosso guitarrista, Wilton Rentero, presenciou, na companhia de seu primo, Nelson Rentero, o show de lançamento do LP "Tudo Foi Feito Pelo Sol" dos Mutantes, no Teatro Bandeirantes de São Paulo, em 1974. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Nelson Rentero

Que viesse então o dia 15 de fevereiro de 2020, o dia do grande reencontro do Boca do Céu e curiosamente, quarenta e três anos após o nosso primeiro show, realizado em 12 de fevereiro de 1977!

Continua...

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 61 - Por Luiz Domingues

O guitarrista Osvaldo Vicino e a sua amiga, Cristiane Ewel, nos idos de 1978, pouco tempo após ele ter deixado o Boca do Céu. Acervo de Osvaldo Vicino

Após a criação do grupo de ex-componentes do Boca do Céu, no aplicativo virtual, "Whatsapp", a conversação básica inicial enveredou por dois pontos básicos: as reminiscências de cada um sobre o nosso convívio na década de setenta e um apanhado sobre o que cada um fez da vida, doravante, inclusive a envolver a criação de família e a enumerar filhos e a trajetória deles, visto que falamos sobre filhos que hoje em dia são adultos e em alguns casos, com mais de trinta anos de idade. 

Em suma, uma grande atualização e que foi mais que prazerosa, mas elucidativa sobre como cada um construíra a sua respectiva vida.

Osvaldo Vicino a tocar guitarra nos dias atuais e nas fotos subsequentes, a tocar baixo com duas bandas tributo ao "Whitesnake". Acervo de Osvaldo Vicino

Sobre o Osvaldo, que eu já havia reencontrado algumas vezes após 2015, eu sabia que ele mesmo ao ter uma vida forjada no mundo corporativo do trabalho formal, jamais houvera abandonado a música e que muito pelo contrário, desenvolvera-se também como baixista nesses anos. 

Portanto, polivalente, a tocar guitarra ou baixo, esteve envolvido com bandas cover como o "Love Hunter" e "Snakebite", ambas a revelarem-se como bandas tributo ao grupo britânico, Whitesnake.

Wilton Rentero em sua residência, a praticar o violão. Acervo de Wilton Rentero

Já no caso do Wilton, que eu não tive notícias desde 1978, diretamente e apenas por volta de 2012, soube de algumas informações mais superficiais, graças ao Laert, também foi bom tomar conhecimento que ele jamais abandonou a música, inteiramente. 

Ao ter investido na música erudita, Wilton contou-nos que já em 1979, tornara-se um professor de violão erudito e que vivera efetivamente de suas aulas, até a metade dos anos oitenta, pelo menos. Ele enviou-nos alguns vídeos caseiros para o vermos a tocar no ambiente de sua residência e foi ótimo vê-lo a tocar tão bem.

Fran Sérpico contou-nos que vendera a sua bateria, cerca de dois anos após deixar a nossa banda em 1978 e que não se desenvolvera mais. Ele optou por focar em seus estudos, formou-se e tornou-se um homem de negócios a gerir uma empresa orientada pela instalação de equipamentos para gerar energia solar em parques industriais, residências e instituições as mais diversas. Muito bem sucedido, vivia nessa ocasião no Rio, mas mantinha uma base em São Paulo e ele nos disse que visitava a cidade para trabalhar, pelo menos uma vez por mês.

Marcamos enfim um ensaio/reencontro/confraternização para o dia 15 de fevereiro de 2020 e previamente, combinamos de resgatar todas as músicas que pudéssemos relembrar e também quatro canções do Joelho de Porco, para deixarmos fluir a parte musical do encontro, a contabilizar: "Mardito Fiapo de Manga", Boeing 723897", "México Lindo" e "São Paulo By Day". 

Em princípio, foi cogitada a hipótese de convidarmos agregados que tivemos na ocasião, amigos e membros com participação menor, mas não menos importante, caso da cantora, Pollyana Alves, por exemplo. Mas ao ponderar, resolvemos manter esse primeiro encontro, mais reservado e quem sabe em outros encontros posteriores, abrir espaço para algo mais expansivo, a agregar não somente ex-membros, porém, amigos que interagiram com a nossa banda nos idos de 1976-1979.

Continua...

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 60 - Por Luiz Domingues


Quatro membros do Boca do Céu, reunidos em pleno 2020. Da esquerda para a direita: Laert Sarrumor, eu (Luiz Domingues), Wilton Rentero e Osvaldo Vicino. Bastidores do Show: "Vanguarda Paulistana in Concert", no Teatro Municipal de São Paulo, em 26 de janeiro de 2020. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Paulo Elias Zaidan

Fantástico, após o grupo do Boca do Céu, na Rede Social Facebook, ter sido criado, rapidamente abriu-se um grupo também no "Whatsapp" e foi o momento em que o nosso velho guitarrista, Wilton Rentero, entrou com tudo para interagir com os demais. 

Logo nos primeiros dias, trocamos informações avidamente, como seria por esperar-se entre amigos que não conversavam há décadas e certamente que o teor dos assuntos sugeridos, extrapolou o campo das nossas reminiscências sobre a década de setenta e enveredou para a atualização generalizada dos dados, a dar conta sobre o que cada um de nós fez nessas quatro décadas em que não não tivemos convivência direta, entre os cinco membros mais presentes na formação do Boca do Céu. 

O Laert, por sua vez, convidou à todos para estarmos presentes no dia 26 de janeiro de 2020, em meio ao luxuoso ambiente do Teatro Municipal de São Paulo, onde realizar-se-ia um show comemorativo sobre o saudoso, Teatro Lira Paulistana, ocasião em que diversos expoentes daquela famosa cena da dita "Vanguarda Paulistana", comporiam o grande corpo das atuações e haveria também um pequeno espaço à cena do Rock oitentista, ainda que circunscrita ao espectro do Punk-Rock, essencialmente. 

Bem, o nosso baterista, Fran Sérpico, por morar no Rio de Janeiro, pediu desculpas, mas de antemão já declinou do convite por conta da logística que não poderia cumprir. Ficou quase acertado, portanto, que eu (Luiz Domingues), Osvaldo Vicino e Wilton Rentero iríamos prestigiar o nosso amigo, Laert, que não apenas apresentar-se-ia com o Língua de Trapo, como seria um dos apresentadores do evento, junto ao Wandi Doratiotto, outro grande músico, ator e humorista e membro do "Premeditando o Breque". 

Em suma, um show sensacional e a ofertar uma oportunidade única de reencontrarmo-nos os quatro membros do Boca do Céu da formação mais clássica de 1977, a faltar apenas o Fran Sérpico para ser completo.

Marcamos então o encontro para a escadaria do Teatro Municipal. Eu tive um contratempo caseiro e avisei que atrasaria um pouco, mas estava a caminho. Cheguei à escadaria e não avistei Wilton e Osvaldo, em princípio. O Laert havia deixado os nossos nomes na lista Vip dos convidados, portanto, apesar do teatro estar já bem cheio, eu não temi por não encontrar lugares, visto que as nossas poltronas estavam garantidas. 

Eis que alguns segundos depois, eu avisto um rapaz a olhar para todos os lados, em típica postura de procura e que eu não reconheci de pronto, mas fiquei com a forte sensação de que poderia ser o Wilton. Assim que ele mirou-me e sorriu, ficou claro que finalmente, após "apenas" quarenta e dois anos (falo sobre 1978), finalmente reencontramo-nos. 

Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues), na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo, em 26 de janeiro de 2020. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero

Alguns minutos depois, vimos o Osvaldo a aproximar-se e a procurar por nós e foi uma alegria quando vimo-nos os três, ali na escada do Teatro Municipal, e incrível, o Osvaldo também não via o Wilton desde 1978.

Wilton Rentero, Osvaldo Vicino e eu (Luiz Domingues), neste instante, um trio do Boca do Céu na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo. 26 de janeiro de 2020. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero

Entramos no teatro e rapidamente eu avistei diversas pessoas conhecidas, entre músicos, produtores, jornalistas e pessoas ligadas ao espectro do velho Lira Paulistana, na década de oitenta. 

Entre nós três, recordamos sobre diversos shows vistos no Teatro Municipal, sendo o mais memorável de todos, o clássico Concerto de Rock apresentado entre as bandas de Rock, Mutantes e O Terço a tocar o som dos Beatles, em 1977, que foi histórico. 

Bem, as luzes apagaram-se e o show iniciou-se. Foi emocionante para nós três, vermos o Laert a apresentar com desenvoltura o espetáculo e posteriormente a atuar com muita maestria com o Língua de Trapo. Incrível, em um teatro onde tanto sonhamos, assistimos o nosso vocalista, ali a atuar com brilhantismo no momento de 2020.

O ingresso que eu usei, a sinalizar que sentei-me na cadeira número 11. Bastidores do Show "Vanguarda Paulistana in Concert", no Teatro Municipal de São Paulo, em 26 de janeiro de 2020. 

Além das nossas expectativas pessoais, em meio às reminiscências do Boca do Céu, o espetáculo foi belíssimo. Com a participação de grandes artistas que gravitaram na órbita do Lira Paulistana, amparados pelo apoio excelente da Orquestra Sinfônica Municipal, foi um apanhado e tanto do melhor que o Lira lançou, diretamente do seu famoso palco intimista, para o Brasil e o mundo. 

O violeiro, Passoca, a tocar, "Sonora Garoa", uma canção belíssima, causou emoção, assim como o Grupo Paranga e a sua deliciosa brejeirice ao sabor dos filmes do Mazzaropi. O Grupo Rumo, representado por Ná Ozetti, em grande forma, uma bela homenagem ao Itamar Assumpção e o seu, "Isca de Polícia", Arrigo Barnabé, a evocar a sua "Clara Crocodilo", Premeditando o Breque (não completo), com direito a uma sensacional versão de seu sucesso, "São Paulo, São Paulo" (com inúmeras citações cinematográficas implícitas no arranjo executado pela Orquestra Sinfônica Municipal), Língua de Trapo e Tetê Espíndola (que pediu desculpas por cantar uma oitava abaixo, nos dias atuais, devido a estar com sessenta e seis anos de idade naquela atualidade de 2020, mas no calor da canção, "Escrito nas Estrelas", fez uso de todo aquele malabarismo vocal e agudíssimo, para levantar a plateia), a elegantérrima, Vânia Bastos, o monstruoso, Bocato e a Patife Band, foram os pontos marcantes dessa parte inicial. 

Na parte do Rock, segundo o programa oficial impresso, constava a participação de Roger Moreira, Edgard Scandurra e Sérgio Britto, mas quem de fato atuou foi Clemente Nascimento, d'Os Inocentes e Finho (do grupo "365"). Bem, é claro que o Punk e as correntes do Pós-Punk tiveram no Lira Paulistana uma boa mola propulsora para atingir o mainstream daquela década, mas outras correntes também obtiveram uma história em tal teatro, para ser citada. 

Que ninguém dessa outra corrente atuasse no palco, mas ao menos a menção no audiovisual, que foi exibido ao início do espetáculo, teria sido elegante da parte da produção, todavia, isso não ocorreu e antes que o leitor especule, eu não fiquei magoado, mas é claro que A Chave do Sol construiu uma boa história nesse teatro, onde inclusive lançou dois discos no seu palco, portanto, ao lado de outras bandas de fora da seara do Punk & Pós-Punk, houve uma outra cena Rock que ali solidificou-se, é bom registrar-se.

Sobre a apresentação do Língua de Trapo, esta foi impecável. Ao aproveitar o apoio da orquestra, a banda iniciou com: "Como é Bom Ser Punk", que foi uma música composta pelo Carlos Melo (Castelo), quando eu estava em minha segunda passagem por essa banda, mas nessa ocasião (falo sobre 1983-1984), eu não participava da sua execução ao vivo, que era feita em duo pelo João Lucas ao piano e Pituco Freitas, a cantar. 

Neste caso, sob um suntuoso arranjo, Laert, Serginho Gama e Cacá Lima, cantaram em trio, com uma afinação exemplar, sob uma grande performance. "Concheta", o eterno clássico do primeiro álbum do grupo, veio a seguir, com apoio de Mário "Manga" Aydar e Wandi Doratiotto, ou seja, dois músicos do Premeditando o Breque no apoio e uma versão impecável de "Sampa", do Caetano Veloso, que aliás, suscitou o comentário de Wilton, ao meu lado, a observar que os arpejos feitos por Serginho Gama, remeteriam à "Dear Prudence", dos Beatles. Realmente houve uma certa similaridade, mas após encontrarmos o Laert no momento pós-show, ele negou que houvesse tal menção, então, foi uma mera impressão de nossa parte. 

Uma linda menção à nossa estada no teatro, foi feita pelo Laert, que ao microfone, improvisou um "caco" (citação fora do texto ensaiado, no jargão do teatro), a narrar que assistira ali mesmo naquele palco, o show em dupla perpetrado pelos Mutantes e O Terço, em 1977, a homenagearem os Beatles e citou que "assistira ao lado dos companheiros: Luiz, Osvaldo & Wilton, e que nós estávamos presentes na plateia", que bonito, esse foi o "momento Boca do Céu", a tornar-se público.

De minha parte, eu estava muito feliz por estar ali ao lado de dois companheiros do meu velho, Boca do Céu, feliz pela possibilidade de prestigiar e aplaudir o Laert, que juntar-se-ia conosco, a posteriori para o reencontro do quarteto, orgulhoso por ver o Laert ali a brilhar, feliz por estar a apreciar um belo show e também por ter a minha parcela de gratidão pelo Lira Paulistana, onde eu vivi uma bela história com o próprio, Língua de Trapo e também com A Chave do Sol, diretamente, portanto a trazer por acréscimo, uma infinidade de shows de outros artistas que eu ali assisti, a boa amizade construída com a sua cúpula, principalmente com Chico Pardal e Ribamar de Castro, além de Canrobert Marques, que operou quase todos os shows que eu ali realizei e foi técnico d'A Chave do Sol, inclusive em alguns shows fora do Lira Paulistana. Li no programa que o Canrobert operou o show no Municipal, mas eu não o encontrei nessa tarde e teria sido mais um reencontro sensacional. 

Entretanto, eis que vejo um outro velho amigo a caminhar pelo corredor: Paulo Elias Zaidan, ator que foi membro do Língua de Trapo, na época da minha segunda passagem pelo grupo. Então, ele ligou no perfil de "Whatsapp" da Marcinha Oliveira, esposa do Laert e empresária do Língua de Trapo, com o intuito em verificar se não seria abusivo visitarmos o camarim para cumprimentar o Laert, entretanto o mais óbvio aconteceu, visto que a quantidade de artistas mostrara-se enorme e dessa forma, receber convidados seria inoportuno na intimidade do camarim, pois então, os artistas desceram ao grande saguão de entrada e ali receberam fãs e amigos. 

Maravilha, o Boca do Céu viu-se como um quarteto por alguns minutos, novamente, só a faltar a persona de Fran Sérpico, para ficar completa a nossa velha banda reunida. Tive o prazer de conversar com os sempre simpáticos, Zé Miletto e Marcos Martins, membros do Língua de Trapo então atual, igualmente.

Quase o Boca do Céu completo, enfim! da esquerda para a direita: Laert Sarrumor, eu (Luiz Domingues), Wilton Rentero e Osvaldo Vicino. Bastidores do Show "Vanguarda Paulistana in Concert", no Teatro Municipal de São Paulo, em 26 de janeiro de 2020. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Paulo Elias Zaidan

No calor da rápida conversa, dada a aglomeração ali presente e com o Laert a ter que atender várias pessoas, combinamos de intensificar a conversação pelo nosso grupo do "Whatsapp" e organizar, aí sim, o grande encontro oficial do Boca do Céu, para fevereiro de 2020. 

Coincidência? Pois fora em fevereiro de 1977, que a banda fizera o seu primeiro show, portanto, tal como Napoleão ante as pirâmides do Egito, chegara a hora para afirmarmos, não sobre quarenta séculos, mas a observar: "quatro décadas contemplam-nos!"

Continua...

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Bastidores - Por Telma Jábali Barretto


Temos uma certa atração por aquilo que acontece nos camarins, no atrás da cena... e quando falamos no plural nos referimos a nós próprios e à natureza humana em geral, população...
Explicamos e desmembramos aquilo que estamos propondo como reflexão, expondo e, principalmente, trazendo para dividir esse especial interesse. Um passa pela necessidade de saber, pura e simplesmente, pelo conhecimento da intimidade alheia, com costumes e hábitos e toda gama de diversas emoções que as movimentam. Aquelas tratadas em biografias quando sérias e verídicas, num sentido que poderia até ser significativo e didático (afinal... aprendemos uns com outros) chegando às invencionices, coloridas por esse apelo que no vulgar denominamos com as fofocas, fakes... que, atualmente são abundantes nas redes sociais.
Hoje, a coluna social ‘dos antigamente’, possíveis, apenas, antes entre os bem-nascidos e, agora, democraticamente, servido ao bel prazer por cada qual e elegendo e satisfazendo a si e aos demais. Esse aspecto embora abundante...pouco interesse nos provoca. O outro lado desse interesse que, realmente, nos move passa por buscar interpretações de comportamentos bem mais subjetivos, anteriores e interiores mesmo, carregados não do que, momentaneamente, vemos, mas e sim! De um formato de fatos repetidos e viciados que a Vida insiste e persiste, para nossa felicidade, em quebrar, criando hiatos libertadores e promotores de substancial crescimento. Esses acontecimentos são carregados de informações, histórias, padrões e mecanismos que quando bem observados, com critério, trazem revelações, insights, subliminares, alavancas para abrirem novos caminhos, em princípio quase sempre ameaçadores para nossas seguranças e resistências, aquelas que insistimos em manter, amedrontados diante do desafio do convite para explorar novos atalhos que, talvez?!... criem simples vicinais, mas quem sabe?!... as próximas e livres vias de acesso aos grandes fluxos, desarmados e, portanto, mais responsáveis, com menos ‘vitimices’ e reações regredidas daquele tipo de energia infantil que não assume riscos e menos, ainda, compromissos... característica de uma fase mais adulta, madura... Independência!
Então, os bastidores que nos encantam não são aqueles de identificações com as alegrias/tristezas oscilantes das novelas, séries ou filmes entre o que ganhamos e perdemos, mocinho/bandido, saindo desse jogo dicotômico, dual, entre festejo e lamento, começando a operar nossa nau de experimentação, com realismo impregnado de perspectivas estimulantes, enriquecedoras numa aventura constante diante de quaisquer que sejam as muitas possibilidades que se apresentem e JAYA!!! ...um novo voo teremos alçado!
Crescemos olhando para fora e dentro, o outro e a nós... e quando um dos lados é privilegiado, certo que a parte de nós adormecida, impedirá o fluxo da plenitude, unicidade, inteireza, síntese em nós...

Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira civil, é também uma experiente astróloga; consultora para a harmonização de ambientes e instrutora de Suddha Raja Yoga.