Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
Wilton Rentero, Osvaldo Vicino e eu (Luiz Domingues) na sala técnica do estúdio Prismathias de São Paulo. 13 de junho de 2023. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero
Ainda a falar sobre a construção do release, eu citei anteriormente que o texto base haveria de ser extraído da longa explanação que eu havia feito para explicar o propósito da canção ao Lincoln Baraccat. Portanto, deixo abaixo o texto base para o leitor ter acesso a essa construção da história e assim ter em mente a contextualização toda do conceito:
Projeto de audiovisual para Lincoln Baraccat Artista: Boca do Céu Música: "1969"
Contexto da música: trata-se de uma balada Blues com certo tempero Soul, com bastante influência sessentista na sua formulação. Na letra, o autor fala a respeito de alguns ícones da contracultura sessentista que o impactaram em 1969, quando ele entrou na adolescência. Dessa forma, arrolam-se bandas de Rock do espectro de Woodstock, é claro, e muita ênfase nos Comics produzidos por Robert Crumb e Gilbert Shelton, com destaque nos personagens contidos na revista "Freak Brothers".
Contexto do autor ao pensar nisso: tais citações que ele faz na letra, repercutiram na sua vida a posteriori, não apenas na música, como também na sua atuação com a arte da ilustração, haja vista que ele produziu uma revista de humor bem inspirada no estilo do Robert Crumb e Gilbert Shelton, que lançou de forma precária, na base do mimeógrafo e/ou xerox, denominada: "Sarrumorjovem", mediante a criação de uma turma de freaks por ele inventados como personagens, mas adaptados à realidade brasileira e de São Paulo em específico, porém nos moldes dos "Freak Brothers" do Robert Crumb e Gilbert Shelton, com vários personagens doidos mergulhados na contracultura, em contraste com a realidade brasileira dos anos setenta, e mediante o Rock como combustível implícito.
Contexto da nossa banda em sua fase nos anos setenta: essa foi a minha (e de todos esses componentes) primeira banda de carreira. Éramos garotos sonhadores, enlouquecidos pelo panorama do Rock sessenta-setentista e movimento hippie que chegou atrasado no Brasil. Estivemos mergulhados em sonhos lisérgicos contraculturais, aspirávamos um lugar no panteão do Rock dos anos setenta, mas a nossa insipidez na ocasião não nos permitiu chegar nem perto disso, ou seja, ficamos mesmo alojados na plateia dos shows de bandas como Mutantes, O Terço, Made in Brazil, Som Nosso de Cada Dia, Joelho de Porco, Tutti-Frutti e outras tantas que nos faziam suspirar.
Portanto, entre 1976 e 1979, enquanto a banda existiu e lutou para alçar voos maiores, não passamos de shows bem amadorísticos realizados em festas particulares, apresentações nas escolas nas quais estudávamos e o nosso maior feito foi participar da edição do festival "Fico", do colégio Objetivo em 1977, com um equipamento do qual não sabíamos lidar adequadamente e perante um assustador público formado por cerca de cinco mil estudantes presentes no salão de festas do Palmeiras, completamente ensandecidos e que estavam ali apenas com o objetivo de hostilizar qualquer um que subisse ao palco.
Contexto do Boca do Céu pós-2020 - A banda se reuniu em fevereiro de 2020, para um encontro de celebração de velhos amigos e desse encontro, surgiu a ideia de resgatar o máximo de músicas da nossa criação de 1976-1979. A pandemia atrapalhou bastante esse plano, ao postergar os ensaios. E assim, somente em meados de 2021 conseguimos dar início a esse trabalho arqueológico de memória remota. De forma surpreendente, nos lembramos de 14 músicas compostas por nós nos anos setenta e no início de 2023, resolvemos entrar em estúdio para gravar uma dessas canções para fazer a banda ter ao menos uma música resgatada e lançada oficialmente na sua história, mas o plano mais ambicioso é gravar um disco completo com as demais inclusas, desde que consigamos levantar recursos para tal, logicamente.
E assim chegamos na canção, "1969", que é um tema a falar sobre os anos sessenta, e como tal perspectiva nos impactava fortemente nos anos setenta, quando a banda foi formada e lutou para chegar a um patamar mais alto. Esse é o contexto geral, portanto: uma canção a falar sobre o sonho sessentista, na visão de garotos dos anos setenta que vibravam nessa aura hippie que recebemos de forma defasada em relação aos Estados Unidos e Europa e que já estava em fase de diluição até aqui no Brasil, mas que não percebemos na ocasião.
E a última perspectiva é a de 2023, com quatro desses garotos de 1976, hoje envelhecidos, mas com condições de fazer o que não alcançamos em 1977, quando a música foi composta, ou seja, gravá-la e com aquela sonoridade que amávamos, bem na "onda" da Janis Joplin, Joe Cocker e afins.
Estamos gravando no estúdio Prismathias, do bom amigo e competente técnico, Danilo Gomes Santos, com o qual Os Kurandeiros lançaram um single em 2018 ("Andando na Praia") e depois ali gravamos o CD "Cidade Fantasma" o nosso último álbum, em 2021*.
Do quinteto mais firme do Boca do Céu, apenas o baterista Fran Sérpico não está participando, mas estamos contando com músicos de apoio, queridos amigos nossos:
Carlinhos Machado - Bateria Rodrigo Hid - Teclados (meu amigo de três bandas: Sidharta, Patrulha do Espaço e Pedra) Renata "Tata" Martinelli: backing vocals Caca Lima: Backing vocals (atual baixista, violonista e backing vocalista do Língua de Trapo)
André Knobl - Sax Paulo "Beto" Pizzulin - Trompete (ambos do grupo instrumental, "Neurozen")
E com tais providências paralelas a ter andamento, a próxima sessão de estúdio que tivemos foi em 3 de julho de 2023, quando o objetivo foi gravar a voz principal do Laert e os backing vocals feitos pelos amigos, Caca Lima e Renata "Tata" Martinelli.
*Neste caso a citar a minha (Luiz Domingues) banda, Os Kurandeiros.
Osvaldo Vicino e Wilton Rentero na sala da técnica do estúdio Prismathias de São Paulo. Gravação do single "1969". 13 de junho de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
Para compor o aparato de lançamento, a minha primeira ideia foi abordar o Diogo Oliveira, um artista genial com o qual eu havia me acostumado a lidar nos tempos em que fui componente do "Pedra" e basta ver os capítulos sobre a minha história com tal banda para verificar o quanto ele contribuiu conosco com a sua arte genial.
Além de ser um tremendo artista plástico, é também ilustrador de "Comics" e fã do Robert Crumb, portanto, além de músico com forte identificação contracultural sessentista, assim como eu, foi óbvio que eu pensasse nele como o nome ideal para possivelmente compor um promo ou clipe, como queiram, pela sua identidade muito coadunada com todos esses ícones, porém, haviam outros nomes tão bons quanto para abordarmos a fim de buscarmos tal serviço e sobre esse aspecto eu tinha ciência.
Então eu o procurei no Facebook e não achei o seu perfil pessoal, tampouco página de "artista" e/ou figura pública. Ele, assim como muitas pessoas que eu conhecia, tinha aquela característica de abrir e fechar contas em redes sociais com constância e eu dei azar de o procurar em um momento no qual se evadira daquele ambiente virtual. Tudo bem, procurei no Instagram, Twitter e outras redes menos famosas e não o encontrei igualmente.
A capa em forma de "gibi" do CD Pedra II, de autoria do Diogo Oliveira, álbum do "Pedra" lançado em 2008.
Fiz contato com amigos em comum e soube que no Instagram ele tinha uma conta com um nome fantasia e sem a sua foto no "avatar" para ser identificado com facilidade e ali deixei um recado na sua parte privada. Mas ele demorou bastante para visualizar e responder, portanto, preocupado em contar com alguém preparado para fazer esse trabalho e com rapidez, eu acionei outro amigo, igualmente talentosíssimo.
Foi quando não tive dúvida e assim convidei o amigo, Lincoln Baraccat, um fotógrafo, ilustrador e webdesigner de alto quilate e com um currículo absurdo, a contabilizar muitas criações de capas de livros e discos, além de ser músico e aliás, eu já havia tocado com a banda dele, "Uncle & Friends", por diversas vezes, desde 2018. E mais um dado, as minhas fotos de autor nas "orelhas" dos quatro livros que eu havia lançado até esse ponto, foram feitas por ele, portanto, eu tinha plena confiança no seu talento multifacetado.
Foto extraída da sessão de fotos feitas comigo, Luiz Domingues, a visar escolher a foto de autor para o meu livro "Humanos Pitorescos". Sob a lente de Lincoln Baraccat em algum momento de fevereiro de 2023
Uma outra opção de ótimo profissional que estava bem próximo de nós, seria o Moacir Barbosa de Lima, popular, "Moah", que era amigo de longa data de Wilton Rentero e que gentilmente nos fotografa e filmara durante o ensaio geral que havíamos promovido em 7 de maio de 2023.
Sob a lente "olho de peixe", eis uma das fotos que o Moah clicou no ensaio de 7 de maio de 2023. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima (Moah)
No caso do Lincoln, ele aceitou de pronto nos auxiliar, embora tenha me advertido que não estava acostumado com animação. Todavia, não seria o caso exatamente, pois a minha intenção inicial foi lhe solicitar que estabelecesse uma colagem de fotos e talvez a aproveitar trechos do nosso histórico vídeo de junho de 1977, como inserção estratégica para provocar o contraste histórico entre esses dois momentos, além de fotos da banda na atualidade e inserções das poucas fotos antigas que tínhamos, as capas da revista Sarrumorjovem editadas pelo Laert naquela época. Em princípio seria essa a orientação.
Eis alguns ícones que haveriam de compor imagens para esse promo de apoio que necessitávamos para lançar a música: "1969". Pela ordem: o exemplar número 1 da revista Sarrumorjovem criada pelo Laert em 1976 e que ele manteve em paralelo aos seus esforços em prol da nossa banda; a capa de um exemplar da revista Freak Brothers, uma imagem institucional do festival de Woodstock, a imagem do personagem "Mr. Natural", Robert Crumb, Gilbert Shelton, Joe Cocker, Janis Joplin e a icônica (e rara) foto da nossa banda em 1977.
E na base do "brain storm" logo surgiu a ideia de inserir fotos dos personagens dos Freak Brothers citados na letra e claro, imagens de Robert Crumb e Gilbert Shelton, capas desse Comics e com destaque especial ao personagem, "Mr. Natural" que também é citado na letra da canção. Passou um pouco e surgiu a ideia de também acrescentar fotos de Janis Joplin, Joe Cocker e do festival de Woodstock, ou seja, as ideias frutificaram.
Em uma outra frente na qual eu também me preocupei em fomentar em paralelo, um release para o lançamento precisava ser criado e neste caso, haveria de ser com teor sucinto como é a praxe desse formato de documento usado no meio artístico, no entanto, em nosso caso, não poderia deixar de citar três aspectos que envolviam o lançamento da música "1969". Neste aspecto, eu havia preparado um texto padrão para entregar ao Lincoln
Baraccat, para lhe apresentar o projeto e as ideias e desse texto longo,
haveria de ser composto uma nova versão condensada para se tornar o release oficial da banda.
Laert Sarrumor durante o ensaio do Boca do Céu no estúdio Red Star de São Paulo em 7 de maio de 2023. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima (Moah)
Ou seja, em primeiro lugar, a se destacar o contexto da canção a citar os ícones contraculturais sessentistas que impactaram o autor da canção, nosso companheiro, Laert Sarrumor, e dos quais eu particularmente também admiro muito. O segundo aspecto a contextualizar o momento no qual a música foi composta e como o Laert, e nós em específico, interpretávamos a movimentação contracultural sessentista com uma defasagem de dez anos, ao final dos anos setenta. E o terceiro aspecto, como a banda havia se agrupado para resgatar esse material e gravá-lo a partir de 2020, ou seja, com quatro décadas de defasagem. Em suma, essa música representava três tempos diferentes pelas circunstância toda que a cercou.
"Still" do vídeo de 1977 a mostrar a nossa banda na ocasião
E daí em diante, só ficaria a faltar uma sessão de fotos para se compor as fotos promocionais de praxe, para que tivéssemos o material básico para o lançamento.
Eu, Luiz Domingues e Osvaldo Vicino na sala técnica do estúdio Prismathias de São Paulo. 13 de junho de 2023. 5ª sessão de gravação do single "1969". Click, acervo e cortesia: Wilton Rentero
Demorou um pouco para acertarmos a próxima sessão e neste caso, foi algo dentro da normalidade de qualquer produção e ainda mais com orçamento curto, de onde se pressupõe que não é possível reservar datas mais próximas uma das outras, além de mais uma agravante específica para este caso, no sentido de que não foi nada fácil conciliar a agenda do estúdio com a do Rodrigo Hid, e quando foi detectado que haveria uma sessão extra para se gravar teclados, logicamente que eu temi por mais uma dificuldade para gerar preocupação.
De fato demorou um pouco, ficamos parados com a produção por quase duas semanas, no entanto, eis que conseguimos enfim marcar a sessão para o dia 13 de junho de 2023.
De costas e semi-encoberto, Wilton Rentero, com Danilo Gomes Santos na mesa e o nosso convidado especial, Rodrigo Hid a se preparar para gravar. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 13 de junho de 2023. 5ª sessão de gravação do single "1969". Click e acervo: Luiz Domingues
Então, eis que o nosso convidado especial, Rodrigo Hid chegou e desta vez com a fonte do teclado "Oberheim" devidamente colocada na bolsa de cabos, partimos de imediato para a regravação do órgão Hammond, mediante uma timbragem de muito melhor qualidade em termos de simulação do Hammond original, ou seja, valeu a pena perdermos um tempo e nem foi muita coisa, pois o Rodrigo havia praticamente decorado a canção e a regravou com incrível facilidade.
O nosso convidado especial, Rodrigo Hid, a se preparar para gravar mediante o apoio de Danilo Gomes Santos. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. Gravação do single "1969". 13 de junho de 2023. Clicks e acervo: Luiz Domingues
Regravado o órgão, fomos então imediatamente providenciar que o Rodrigo Hid pudesse fazer a gravação do solo de piano acústico e agora sob a nova orientação de se buscar um timbre mais clássico de piano acústico ao estilo "saloon" do velho oeste norte-americano. E na parte da criação em si, a se orientar pela estética do Blues clássico, com aquele "swing" de New Orleans.
Danilo Gomes Santos na mesa, com Rodrigo Hid a conversar com ele, enquanto eu (Luiz Domingues) e Wilton Rentero posamos para a câmera. Boca do Céu a gravar o single "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 13 de junho de 2023. Click, acervo e cortesia: Osvaldo Vicino
Assim que o Rodrigo acertou o timbre do simulador de piano, ele nos mostrou uma ideia bem mais condizente com o espírito que esperávamos para a canção. Isso sem deixar de mencionar que ele manteve sutilmente a linha da melodia do solo anterior, exatamente dentro daquele premissa na qual a melodia em si era interessante e a performance anterior houvera sido boa, mas não a havíamos aprovado tão somente por uma questão de melhor adequação estética ao que buscávamos, isto é: não era o momento para invocar o Keith Emerson, mas sim o Nicky Hopkins, para quem conhece bem a história do Rock, entender bem o que eu quero dizer.
Acrescido desse sabor do Blues, o solo nos agradou muito mais e ornou melhor para a canção, inclusive na opinião do Laert que não esteve presente na sessão mais uma vez por conta da sua impossibilidade naquele instante por morar no litoral, mas a partir da sua opinião emitida no dia seguinte, logo ao ouvir o áudio prova da sessão, do qual ele gostou muito.
Danilo Gomes Santos na
mesa a trabalhar, com Rodrigo Hid a gravar, enquanto eu (Luiz Domingues) e
Wilton Rentero estamos a posar para a câmera. Boca do Céu a gravar o single
"1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 13 de junho de 2023. Click,
acervo e cortesia: Osvaldo Vicino
Sessão mais curta conforme previmos, esta foi muito eficiente na sua resolução e o mais importante, nos deixou plenamente satisfeitos em relação ao resultado que o nosso convidado nos ofertou. E claro, sob um clima de camaradagem enorme, ou seja, foi mais uma noite agradabilíssima para todos os envolvidos nessa sessão.
Na primeira foto, Osvaldo Vicino e Wilton Rentero a observar o trabalho. Na segunda, Wilton Rentero (de costas), com Osvaldo Vicino sentado e ao fundo, o nosso convidado especial, Rodrigo Hid a se preparar para gravar. Boca do Céu na gravação do single "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 13 de junho de 2023. Clicks e acervo: Luiz Domingues
Fechada essa etapa, a próxima sessão de gravação só pode ser marcada para o dia 3 de julho, ou seja, cerca de vinte dias depois, e bem dentro daquela predisposição de dificuldade para se ajustar a agenda bem conflitante entre o estúdio, e neste caso com os cantores convidados para gravar os backing vocals. Não foi fácil se chegar a esse denominador comum, mas enfim conseguimos marcar.
No sentido horário: Osvaldo Vicino, o nosso convidado especial, Rodrigo Hid, Danilo Gomes Santos (de costas), Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues), no comando do selfie. Boca do Céu a gravar o single: "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 13 de junho de 2023. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues
Nesse ínterim, eu já havia estabelecido um contato para prover um audiovisual para a música ser lançada no YouTube, e neste caso, cabe um parêntese para ser devidamente analisado, pois se tratou de uma boa história análoga desta produção.
O nosso convidado especial, Rodrigo Hid a regravar o som de órgão Hammond mediante o uso do simulador "Oberheim". Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo em 13 de junho de 2023. 5ª sessão de gravação. Filmagem: Luiz Domingues
Osvaldo Vicino e Wilton Rentero na gravação do single "1969" do Boca do Céu. Estúdio Prismathias de São Paulo. 4ª sessão de gravação em 31 de maio de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
Eis que nós marcamos uma sessão mais curta conforme havíamos aventado no decorrer da produção, para suprir os últimos procedimentos que faltavam em relação ao trabalho das guitarras. Neste caso, se tratou de dois contrasolos muito rápidos da parte do Wilton, que por força do horário insuficiente observado na sessão anterior de gravação de guitarras, não foi possível cumprir tal objetivo e o solo número três da canção, feito pelo Osvaldo.
Assim que chegamos ao estúdio, eu propus que começássemos pelo trabalho do Wilton, exatamente por ser o cumprimento de duas intervenções que seriam executadas de uma maneira muito ligeira.
Wilton Rentero a se preparar para gravar as suas últimas intervenções de guitarra na primeira foto e na segunda, já efetivamente a gravar. Boca do Céu na gravação do single "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 4ª sessão de gravação em 31 de maio de 2023. Clicks e acervo: Luiz Domingues
Dessa forma, de fato se tratou de duas intervenções muito rápidas e que o Wilton gravou com tranquilidade. Daí já passamos a montar o set para o Osvaldo gravar a sua guitarra solo e mediante um astral muito bom ali reinante no ambiente do estúdio, foi com muita animação geral que preparamos essa que foi a última intervenção das guitarras, o que nos deu uma sensação extra de prazer ao vislumbrarmos que faltava pouco para a parte instrumental ser encerrada, pelo menos em relação ao trabalho da banda e não dos convidados de apoio.
Nas duas primeiras fotos, Osvaldo Vicino a se preparar para gravar e Wilton Rentero a lhe prestar apoio. Na terceira foto, vê-se o Osvaldo já a gravar o seu solo, efetivamente. Boca do Céu a gravar o single, "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 4ª sessão de gravação de 31 de maio de 2023. Clicks e acervo: Luiz Domingues
Como havia se esmerado para criar um solo altamente melódico, tal intervenção que o Osvaldo Vicino gravou teve uma linha que ficou no limiar do que seria um solo propriamente dito e um contrasolo a "duelar" com a voz principal no refrão final e ficou bem bonito. Dessa forma, com notas longas mediante "bends" bem acentuados na sua curvatura, tratou de legar à canção um elo emocional a mais para ornar bem a sua parte final e sendo assim, nos agradou bastante.
Encerrada a sua gravação, de fato verificamos que a sessão mais curta em termos de tempo gasto foi muito produtiva e mais do que isso, ficamos satisfeitos com o resultado obtido desse trabalho em específico e ainda mais, com a conclusão da base instrumental total e também dos ornamentos no que se referia à nossa parte, dos membros da banda.
Sob a perspectiva da sala da técnica, Danilo Gomes Santos e eu, Luiz Domingues, acompanhamos o trabalho de Osvaldo Vicino a gravar na sala de gravação. Boca do Céu a gravar o single "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 4ª sessão de gravação em 31 de maio de 2023. Click, acervo e cortesia: Wilton Rentero
Ao ouvirmos os instrumentos gravados nesta sessão já inseridos no restante da parte anteriormente gravada, gostamos muito do resultado geral obtido até esse ponto. E como eu já mencionei anteriormente, se somou nesse instante a nossa sensação muito boa de já termos uma construção sólida e a conter alguns itens de acabamento inseridos, portanto, foi algo além do prazer normal que qualquer músico sente ao ver a sua obra em fase de construção no passo a passo de uma produção de estúdio e neste caso, já com uma visível construção em estado avançado mediante até alguns ornamentos agregados.
Houve igualmente o caso excepcional deste trabalho em específico a ser considerado, no sentido de chegarmos a um resultado palpável, após quarenta e sete anos do momento que adolescentes que éramos, iniciamos esse processo de formar uma banda de Rock, no calor daquela euforia Rocker/contracultural setentista ainda tão vívida na ocasião. E o quanto sonhamos e não atingimos o objetivo primordial de gravar um álbum naquela época, e então em 2023, ali a se concretizar efetivamente. Em síntese, foi algo bem impactante para nós, os membros da banda nos anos setenta.
Danilo Gomes Santos a trabalhar na mesa, com Wilton Rentero atrás e Osvaldo Vicino sentado, ao lado. Boca do Céu a gravar o single, "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 4ª sessão de gravação. 31 de maio de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
Claro, era ainda apenas uma música e não um disco completo, mas simbolicamente a descrever, a emoção foi muito intensa, isso eu posso garantir, embora, evidentemente que não saímos do estúdio e fomos gritar pelas ruas por causa disso, sob um arroubo de euforia juvenil, senhores sexagenários a caminho da idade septuagenária que já éramos, no entanto, o regozijo, ainda que mais comedido, foi grande.
Na sala da técnica, no sentido horário: Osvaldo Vicino, Danilo Gomes Santos, Wilton Rentero e eu, Luiz Domingues, a comandar a "selfie". Boca do Céu a gravar o single "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 4ª sessão de gravação. 31 de maio de 2023. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues
E a se considerar que ainda faltava completar alguns detalhes dos teclados e os sopros para fechar o instrumental, e sim, a voz principal e os backings vocals para encerrarmos de fato o trabalho para enfim partirmos para a fase da mixagem, a nossa alegria já se justificava plenamente por termos chegado até esse ponto.
Um contrasolo bem sutil gravado pelo Wilton Rentero.
A seguir, marcamos a sessão extra para suprir o que faltou completar dos teclados, que haveria de ser bem curta dada a celeridade com a qual realizar-se-ia.
Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues), na sala da técnica do estúdio Prismathias de São Paulo. Gravação do single: "1969". 3ª sessão de gravação. 23 de maio de 2023. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues.
Gravada a base e já a contar com dois solos e alguns contrasolos também gravados na sessão anterior, chegara a vez de colocarmos os teclados. Ainda faltava fazer dois pequenos contrasolos e o terceiro solo de guitarra, este da parte do Osvaldo Vicino, mas para efeito de aproveitamento máximo da logística, visto que não foi fácil conciliar a agenda do estúdio com a do Rodrigo Hid, nosso convidado especial para gravar os teclados, nós estabelecemos que essa terceira sessão fosse exclusivamente focada nessa missão, e assim a deixarmos a meta para cumprir o que faltara das guitarras para ser gravado em uma quarta sessão, exclusiva com tal finalidade, talvez até mais curta em termos de duração.
O nosso convidado especial, Rodrigo Hid, a tocar na gravação da música "1969". Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 3ª sessão de gravação. 23 de maio de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
Por ter muita convivência com o Rodrigo Hid, meu querido amigo e companheiro de três bandas, é claro que me prontifiquei a lhe dar todo o conforto possível em termos de lhe prestar carona, no sentido de valorizar a sua boa vontade para contribuir conosco. E assim, nos encontramos em um horário nada bom para se enfrentar o trânsito de São Paulo, mas por uma estranha sorte, ou por influência direta dos "Deuses do Rock", eis que chegamos na porta do estúdio Prismathias, com pouco menos de dez minutos de antecedência ao horário marcado, ou seja, que ótimo.
Assim que adentramos o ambiente do estúdio, e eu ainda fazia a devida apresentação do Rodrigo e do Danilo, um ao outro, foi quando o Rodrigo colocou a mão na cabeça e suspirou ao se lembrar que esquecera de trazer a fonte que alimentava o teclado "Oberheim", ou seja, o instrumento que ele trouxera especificamente para gravar a melhor simulação de órgão Hammond possível naquele instante. Na mesma hora eu tive o impulso de propor voltarmos imediatamente ao bairro da Aclimação, na zona sul e voltarmos com a fonte em mãos ao Parque São Lucas, na zona leste, ou seja, mesmo com o trânsito a se apresentar surpreendentemente bom nesse dia, essa seria uma operação que nos extrairia pelo menos uma hora entre ida e volta, fora o cansaço que acarretaria.
Eu, Luiz Domingues, a observar e Rodrigo Hid a tocar. Gravação da canção "1969". Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 3ª sessão de gravação em 23 de maio de 2023. Click, acervo e cortesia: Wilton Rentero
Na mesmo hora, o Rodrigo amenizou a adversidade ao apontar que o outro teclado que trouxera, um teclado da marca "Korg", com o intuito de gravar uma simulação de piano elétrico e o solo de piano acústico, oferecia também uma convincente imitação de órgão Hammond. Sim, eu sabia disso, sobre esse teclado em especial, o Rodrigo o havia comprado no tempo em que tocamos juntos no "Pedra", portanto, eu sabia dessa possibilidade, muito embora fosse algo incontestável que o Oberheim se colocava como um simulador específico, de melhor nível e que igualmente ele sempre o usou nos tempos da carreira construída com o Pedra e também durante o período final em que estivemos juntos na formação da Patrulha do Espaço.
Rodrigo Hid e Wilton Rentero em um momento de confraternização no estúdio durante a gravação dos teclados para a canção: "1969". Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo em 23 de maio de 2023. 3ª sessão de gravação. Click e acervo: Luiz Domingues
Mesmo assim, ante a dificuldade gerada, e com o horário do estúdio a correr, a decisão do Rodrigo foi de gravar a parte do órgão Hammond mediante a ação do simulador Korg, para otimizarmos o tempo. De fato, o Oberheim chega normalmente muito mais perto do som de um verdadeiro órgão Hammond, mas o Korg não desapontou, mesmo que sabidamente mais falho nesse aspecto, e assim que o Rodrigo acertou o timbre e o Danilo também o reforçou com algum apoio discreto em termos de "plug-ins" da sua mesa de operações, nós partimos para a gravação propriamente dita.
Com pouco desenho empreendido pelo Rodrigo de uma forma comedida propositalmente e dessa forma mais centrado na tarefa de prover o chão harmônico da canção, mesmo assim de forma mais econômica, o órgão ficou magnífico. Não me surpreendi nem um pouco com a performance segura e tranquila da parte do Rodrigo, muito experiente para trabalhar em estúdio.
O nosso convidado especial, Rodrigo Hid, a gravar teclados para a canção: "1969". Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 3ª sessão de gravação. 23 de maio de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
A seguir, eis que a missão foi gravar o piano elétrico. Sabedor que a canção já tinha duas guitarras base e o baixo como suporte, além da inclusão do órgão na mesma função harmônica, eu pedi ao Rodrigo que colocasse uma linha de piano elétrico bem pontual, apenas em alguns trechos e mais para que sobrasse nos espaços de respiro dos tempos fracos dos compassos, a ressonância típica do instrumento, apenas para ornar sutilmente o arranjo.
Ele acertou um timbre mais agudo, mais próximo do piano Würlitzer do que o Fender Rhodes e realmente seguiu essa linha de observar a parcimônia no arranjo. E claro, mesmo assim, ele foi tão criativo a improvisar que mesmo a introduzir poucas intervenções, a sua contribuição ficou muito marcante ao ponto do Danilo se empolgar ao ouvir e imediatamente declarar que certos trechos não poderiam ficar obscurecidos na hora de mixar definitivamente a canção, de tão bonitos que ficaram, a acrescentar muito para o tema. Concordei com ele, Danilo, pois realmente foi um acréscimo e tanto para o enriquecimento da música e embora ainda fosse uma época muito prematura da gravação para se falar em termos de mixagem, de fato, criou-se ali um "bom problema" a ser resolvido mais à frente.
O nosso convidado
especial, Rodrigo Hid, a se preparar para gravar teclados para a canção: "1969". Boca do
Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 3ª sessão de gravação. 23 de
maio de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
Tudo fora cumprido com bastante eficiência em termos de tempo, portanto, havia uma boa margem para que a terceira tarefa do dia, fosse cumprida logo a seguir. Tratou-se do solo de piano acústico solicitado pelo próprio Laert, e que aliás, conforme eu já descrevi em capítulo anterior, fora objeto de sua solicitação em cima da hora da produção, para justamente propor a mudança no mapa da canção, para introduzi-lo.
O nosso convidado
especial, Rodrigo Hid, a gravar teclados para a canção: "1969" e eu, Luiz Domingues a observá-lo a trabalhar. Boca do
Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 3ª sessão de gravação. 23 de
maio de 2023. Click, acervo e cortesia: Wilton Rentero
Bem em cima disso, a questão foi que no ensaio que realizamos em 7 de maio e com a participação dele, Laert, justamente nessa nova parte por ele sugerida, durante a sua ocorrência nas filmagens que fizemos do ensaio, ele havia cantarolado uma melodia de puro improviso e com a específica intenção de demarcar o espaço, para que quando este nosso convidado visse e ouvisse (sobretudo), a filmagem, soubesse exatamente onde ficara inserido o espaço do solo.
No entanto, o improvável ocorreu quando ao escutar, o Rodrigo gostou da melodia e influenciado por essa impressão, ao montar a sua concepção no estúdio ele quis seguir esse padrão melódico. Até aí, tudo bem, a melodia era interessante, mas do jeito que o Rodrigo a interpretou ao piano, a intervenção ficou nitidamente fora do espírito de uma canção Blues-Soul a la Janis Joplin, conforme esteve estabelecido de comum acordo entre nós como padrão a ser seguido, e contrariamente, veio a ganhar uma forma de expressão mais a se parecer com uma formulação do "Krautrock" pela natureza mais "dura" dos ataques "martelados" às teclas e pela insinuação melódica a resvalar em alguma influência caribenha bastante improvável. Para o leitor mais conhecedor da história do Rock, seria algo como se o Keith Emerson estivesse a tocar em um disco do "Guru-Guru", mediante uma melodia que ouvira durante as suas férias no Caribe. Piada a parte, foi exatamente como soou esse piano.
Wilton Rentero no comando da "selfie", eu (Luiz Domingues) e Rodrigo Hid, nosso convidado especial. Boca do Céu a gravar a canção "1969". 3ª sessão de gravação no estúdio Prismathias de São Paulo em 23 de maio de 2023. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero
E eu tive uma boa dose de culpa nessa formulação mais áspera, digamos, quando sugeri ao Rodrigo que gravasse a mesma frase com duas oitavas de diferença de uma mão para a outra. Dessa forma, o contraste brusco de uma oitava bem grave com o agudo da outra bem mais alta, só reforçou a estranheza quase experimental que me remeteu ao conceito de lembrar ser uma peça típica da escola germânica do Krautrock, ou a trocar em miúdos, não ficou feio, mas destoara em demasia da proposta inicial.
No dia seguinte, o Laert se pronunciou, ao se penitenciar por haver induzido o Rodrigo a essa formulação e o Rodrigo por sua vez me disse que teve receio de desagradar o Laert, se fugisse completamente da ideia por ele cantarolada durante os vídeos de ensaio que ele assistira. Em suma, faltou uma melhor comunicação entre nós, entretanto, e para amenizar, o Rodrigo me disse que a despeito desse desencontro, de fato havia mesmo gostado da melodia improvisada pelo Laert.
Eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid, Wilton Rentero e Danilo Gomes Santos na confraternização após o encerramento da 3ª sessão de gravação da canção "1969". Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 23 de maio de 2023. Acervo: Luiz Domingues. Click (selfie): Danilo Gomes Santos
Bem, ficou acertado então que esse solo de piano seria regravado em uma sessão posterior, bem rapidamente, e o Rodrigo lançou a seguinte ideia, assim que isso ficara resolvido: já que abriríamos uma nova sessão para gravar esse solo novamente, será que nós aceitaríamos regravar o órgão, mediante o uso do Oberheim, que não fora usado por um detalhe tolo do esquecimento de uma fonte para ligá-lo? Bem, a se considerar que ele não gastaria mais de uma hora para cumprir tal função, é claro que valeria a pena regravar o órgão, a despeito da versão anteriormente gravada estar ótima sob o ponto de vista da execução da parte dele.
Gravação do órgão na 3ª sessão. Convidado especial: Rodrigo Hid. Boca do Céu a gravar a música "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 23 de maio de 2023. Filmagem: Luiz Domingues
Então foi assim que decorreu essa primeira sessão de teclados: o piano elétrico ficara maravilhoso e o órgão igualmente, mas este segundo seria substituído mediante uma nova sessão a ser marcada, por uma questão de timbre melhor do outro teclado a ser usado e finalmente, um novo solo de piano acústico seria feito, por uma questão de estética, a buscar a adequação total dentro do espírito que a canção necessitava.
Uma tomada a mostrar o Rodrigo Hid a gravar o piano elétrico da canção "1969". Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 3ª sessão de gravação em 23 de maio de 2023. Filmagem: Luiz Domingues
Cabe a acrescentar que o clima com o nosso convidado foi maravilhoso. O Wilton estabeleceu amizade instantânea com o Rodrigo e por coincidência, o fato do Rodrigo se apresentar costumeiramente em uma casa noturna da cidade na qual o Wilton morava, Guarulhos, e cujo proprietário era um ex-professor colega seu da universidade na qual lecionara, só estreitou a boa conversa estabelecida entre ambos, fora as inevitáveis derivações para se falar de Beatles, Rock Progressivo, Clube da Esquina e Led Zeppelin, como citações de gosto comum entre nós e que gerou por conseguinte, conversas das mais agradáveis não só entre os dois, mas para todos, incluso eu e Danilo.
Eis o início da construção do solo de piano acústico não aprovado para a música "1969". Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. Rodrigo Hid, como convidado especial na 3ª sessão de gravação. 23 de maio de 2023. Filmagem: Luiz Domingues
Um vídeo a mostrar a prova de áudio com os três teclados gravados na 3ª sessão de 23 de maio de 2023 por nosso convidado especial, Rodrigo Hid. Filmagem: Luiz Domingues
Enfim, foi uma noite memorável para todos e mais uma vez para mim em específico, ficou marcada como mais uma parceria que criei com Rodrigo ao longo da minha autobiografia, mediante amizade, companheirismo, parceria musical, é claro, e neste caso, para ele, foi um prazer também colaborar com o Laert, do qual era amigo há muitos anos por outras conexões que os uniu, independente da minha intervenção como elo.
E para o Boca do Céu, claro, foi um luxo contar com o talento de Rodrigo Hid nessa história do resgate e a provar que o curso da história é muito intrigante, no sentido de que o Rodrigo nasceu em dezembro de 1978, ou seja, durante os momentos finais do Boca do Céu, que encerrou atividades oficialmente em abril de 1979. Quem poderia em dezembro de 1978, imaginar que essa banda se reagruparia em 2020, e que em maio de 2023 estaria a gravar uma música, com esse então bebê recém-nascido na época na qual estávamos agrupados nos anos setenta, e agora a gravar teclados para abrilhantar a nossa canção neste ponto do século XXI? Mais enredo de seriado "Sci-Fi", impossível.
Wilton Rentero, eu (Luiz Domingues e o nosso convidado especial, Rodrigo Hid. Gravação da música: "1969". Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 3ª sessão de gravação. 23 de maio de 2023. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues
Normalmente olhamos para elas quando parecem, impactam, de maneira mais
efetiva, quase sempre deixando de valorizar aquelas corriqueiras e
menores e, essas, quão abundantes são.
Nossa atenção ou... não atenção, mecanismo dispersivo ou até ansioso,
nostálgico, enfatuado ou em contínuas expectativas, pouco observa o tal
presente, o agora.
Vemos lembretes, textos e mensagens muitos sobre o assunto mas, fato é
que, pouco atentamos, reverenciamos e cuidamos dele com a devida
importância de quem é alertado que é no dia a dia, na sagrada rotina que
construímos as mesmas e tais memórias que, muitas de forma saudosa,
depois de tempos idos e até questionamos como deixamos escapar no vão
dos dedos aquela boa época que não mais volta... ?!..
Todos os dias temos inúmeras chances, se mais observadores formos,
respeitando a pequenas escolhas necessárias no cotidiano e pudermos
transformar em boas oportunidades hábitos passageiros, trocas de
agendas, conversas corriqueiras e até compromissos da vidinha, ampliando
e mudando nosso olhar, foco, se, real e simplesmente, estivermos
“presentes”, naquele valorizado e continuado agora, elegendo a cada um
deles como significativo.
Às vezes esperamos aquela comemoração, viagem ou encontro e... viemos
vivendo antes numa espera alimentadora dele que, parece precisamos
rotular, designar situações “lá” e... não poucas vezes, enquanto
festejamos pouco ali ‘estamos’, nos dias atuais até muito preocupados
mais em registrar e documentar, compartilhar do que experimentar,
sentir, mergulhar e viver aquele desejado então agora, finalmente
acontecendo e ... Não tem melhor registro do que aquilo vivenciado
quando inteiros ali e, esses ficam conosco ecoando emoções, sensações
boas ou... nas doloridas demandando trabalho nosso para sua
transposição.
Às vezes, seguimos para a próxima agenda futura que nos
entreterá novamente e... ?! ... desperdiçando tantos agoras tranquilos,
fugazes mas apaziguadores ou sustentadores de tantos empenhos
continuados que nos mantêm em curso, fortalecendo a trajetória, muitas
vezes desafiadora.
Que, mais passado nas imagens, estejam vivas dentro de nós cenas, falas,
aprendizados e resultados que sabemos quais momentos e marcos fizeram
em meio a importantes, pequenos e/ou passageiros instantes definiram e
nos trouxeram a esse hoje, buscando, lembrando, alertando-nos e atentos a
isso, dar outro colorido às rotinas que envolvem o contexto maior de
nossa jornada. A oportunidade é sempre agora e todo dia... vivamos!!!
Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira civil, é também uma experiente astróloga, consultora para a harmonização de ambientes e instrutora de Suddha Raja Yoga.