domingo, 30 de julho de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 55 - Por Luiz Domingues

Após o início das gravações do EP Seja Feliz, ao final de julho de 2016, a banda naturalmente imbuiu-se dessa missão com grande entusiasmo. Todavia, sendo uma banda ativa em termos de agenda, Os Kurandeiros comemoravam o fato de que mesmo ao sentirmos na pele os efeitos da diminuição de oportunidades generalizada no setor cultural em geral, no caso, ainda assim, elas apareciam para a banda.

Ótimo, vamos em frente, então, mesmo quando as oportunidades que surgissem, não fossem exatamente dentro de nossos anseios. Foi o que ocorreu em 19 de agosto de 2016, quando a banda teve uma apresentação agendada em um curioso espaço cultural, encravado em um ótimo ponto de um bairro nobre da zona sul de São Paulo, mas mesmo assim, diante de tal localização privilegiada, ostentava uma estrutura absolutamente underground, mais a se parecer com espaços decadentes do centro da cidade, reutilizados como equipamentos culturais "modernosos" e a usar a crueza das suas instalações precárias como um tipo de trunfo cultural ao passar a ideia de uma espécie de "élan avantgarde". 

Espaços assim geridos por jovens cuja identidade cultural apontavam para tendências preocupadas (muitas vezes obcecadas), em apontar para o "futuro", geralmente esbarravam em idiossincrasias que muito fazem com que eu recorde-me da mentalidade Pós-Punk que dominou a cena oitentista. O aspecto da rudeza desoladora com ares pós apocalípticos, fora uma constante naquela década e a decadência dos escombros, tratada como um cenário ideal para fomentar tais ideais dessa gente, e claro que a minha formação cultural ou melhor a dizer, contracultural sempre apontou para o inverso disso tudo. 

Nos anos 1990, mesmo não fechados mais com o Pós Punk, explicitamente, muitos jovens flertaram com a continuidade (ou continuísmo, como queiram), dessa mentalidade e isso refletiu-se em dúzias de casas noturnas espalhadas por São Paulo e sobretudo como paradigma monolítico de quase todas as bandas de Rock da cena underground paulistana e com a qual convivi muito no meu tempo a bordo do Pitbulls on Crack.

Pois foi exatamente o que eu senti quando adentrei as dependências do espaço onde tocaríamos, denominado: "Feeling Music Bar", um misto de sala de ensaios para bandas & salas de aulas de música e espaço cultural para apresentações musicais. 

As suas dependências rústicas e multiuso lembraram-me o espaço que a revista Dynamite manteve ao final dos anos oitenta e início dos noventa, na Rua Dr. Vila Nova, pelas mesmas características. 

Gerenciado por gente jovem e certamente antenada na movimentação cultural contemporânea de segunda década de século XXI, eu posso afirmar que a orientação ali foi a do "Indie Rock", e claro que absolutamente coadunada na realidade com a qual o Rock dessa atualidade investia-se em seu micro nicho no panorama artístico brasileiro, ou seja, a fomentar uma Era de absoluto sucateamento do espaço para a cena fora do mainstream, a dita música "independente".

O que considerava-se "Rock" nesse instante, remontara aos pequenos nichos destinados ao Indie Rock e o Heavy-Metal. E sob uma terceira via, ainda de menor expressão, para os saudosistas de sonoridades do passado, e não necessariamente fechadas em apreciadores das estéticas sessenta-setentistas, mas a dividir espaço com oitentistas e noventistas ou seja, para artistas como nós, o micro espaço fica restrito aos jurássicos dos jurássicos... por isso também, uma banda como Os Kurandeiros mereceu a menção honrosa, pois ao se manter com a vida ativa e mais que isso, com alta rotatividade, e ao se levar em consideração todas as condições adversas, acima mencionadas.

Mas a falar do espaço citado, além das precariedades inerentes, a mentalidade da casa em programar shows coletivos, como se fossem mini festivais, com muitas bandas absolutamente desconhecidas, a estabelecer uma programação "obscura do obscura do underground", precisa ser analisada sob dois aspectos, um bom e outro mau. 

O lado bom, é que em meio a uma época tão árida, uma casa que propunha-se a abrir espaço para bandas dessa natureza, mereceu aplauso, pois a despeito de qualquer adversidade, onde essas bandas de garotos iriam apresentar-se e dar os seus primeiros passos?

Antigamente havia uma profusão de oportunidades para artistas iniciantes, a começar pelos festivais colegiais, incluso as redes públicas, estadual e municipal. Lembro com carinho, inclusive, de que minha primeira banda nos anos setenta ("Boca do Céu", com história inteiramente relatada no início deste texto autobiográfico e à disposição neste Blog e também no meu Blog 3, além do livro impresso), teve duas oportunidades dessa monta e foi o grande "debut" dela, enquanto banda e também da minha carreira em particular e para os companheiros de então, incluso o hoje renomado, Laert Sarrumor. 

Mas nos tempos mais atuais, isso não ocorria mais, portanto, parabéns ao "Feeling Music Bar" por ter tido essa predisposição.

Já o aspecto negativo, foi que por programar tantas bandas para uma noite só, a bagunça na organização se revelou inevitável e por ter sido assim, para uma banda com a nossa história e pelo nosso currículo, assim que entramos e vimos a vibração ali reinante, é claro que questionamos internamente o que aquela apresentação agregar-nos-ia artisticamente. 

No entanto, banda resiliente e sem nenhuma vaidade como a nossa, não haveria de ter constrangimentos. Em outras bandas por onde eu passei, talvez a atitude fomentada por outros membros fosse a de insistir em cancelar e evadir-se do local sumariamente, inclusive com revolta, porém Os Kurandeiros não eram assim e dessa forma, mesmo diante de um panorama bastante questionável em termos de dividendos a serem capitalizados, artisticamente a falar, subimos ao palco e demos o nosso recado. 

Bem, o equipamento não ajudou em nada. Tratou-se de um palco até razoável em termos de dimensão, ao lembrar o de casas mais bem aprumadas por onde já havíamos tocado, mas a sonoridade ali, apesar da existência de um PA e backline aceitáveis, deixou a desejar. Dá para ver no vídeo existente com um resumo da nossa apresentação, que foi sofrido para a banda, mas levamos com dignidade até o final, é claro.

Sobre as outras bandas, eram todas completamente desconhecidas e achei engraçado quando um rapaz da produção citou-as para nós, como se fossem reconhecidas por um grande público. Talvez no universo desse circuito obscuro do obscuro do qual nem consigo conceber, tenham os seus seguidores, tomara que sim, mas realmente, eu nunca havia ouvido falar de nenhuma sequer e apesar dos pesares, eu costumo ter uma noção do que ocorre na cena underground pelos contatos que tenho em diversos setores da música, incluso amizade com jornalistas bem informados sobre os seus subterrâneos, mas o fato de não fazer nem ideia de quem eram aquelas bandas, realmente espantou-me. Bem, boa sorte para todos que ali apresentaram-se e que sonham com o êxito na vida artística.

Sobre o som dessa garotada, algumas eram formadas por bons músicos, devo reconhecer pelo que vi e ouvi, mas a orientação da maioria era pelo Heavy Metal ou pelo Indie Rock, portanto, não despertou nenhuma comoção da minha parte. Somente um duo acústico, formado por dois violonistas com tendência "Folk", agradou-me mais pela obviedade de ser algo mais palatável à minha formação musical. Mas por não ter anotado os nomes de todos para a minha ficha pessoal do show, não recordo-me quem eram, para cita-los, agora.
Um resumo do show que fizemos no Feeling Music Bar, em 19 de agosto de 2016

Eis o Link para assistir no You Tube:
https://www.youtube.com/watch?v=diOTpVKM-Cs

Passada essa apresentação todos os esforços foram concentrados no arremate da produção do novo álbum e de fato, ele logo finalizou-se e apresentou-se para lançamento. Nesse ínterim uma casa tradicional da zona leste de São Paulo, sinalizou com a ideia de um projeto para Os Kurandeiros. Falo disso a seguir.

Continua...

terça-feira, 25 de julho de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 54 - Por Luiz Domingues

Produção do disco em estúdio encerrada, no tocante à parte visual/gráfica, seguiu-se o mesmo padrão de extrema praticidade, com uma capa sóbria, porém bela, a ostentar um vistoso logotipo em tons avermelhados, criada pelo grande ilustrador/desenhista e design gráfico, Johnny Adriani. 

Tal artista já havia feito essa ilustração, tempos antes, portanto o Kim só resgatou uma arte que já dispunha e estava arquivada, a aguardar oportunidade para ser aproveitada. E o momento de utilizá-la chegou enfim, e posso afirmar sem dúvida alguma que encaixou-se como uma luva ao espírito desse novo álbum d'Os Kurandeiros. 

Eu já havia tido trabalhos meus ilustrados pelo Johnny Adriani, antes, inclusive capa de disco, no caso o CD "Chronophagia", da Patrulha do Espaço, lançado no ano 2000. E agora mais uma vez teria o prazer de ter uma bela obra assinada por esse incrível ilustrador. 

Sobre a contracapa, uma foto da banda ao vivo, capturada em maio de 2016, na Feira da Vila Pompeia, mostra a formação com o Power-Trio base reforçado por seus membros honorários, Nelson Ferraresso, Renata "Tata" Martinelli e Phil Rendeiro. Veio a calhar, pois todos, com exceção do Phil, participaram da gravação do disco. 

EP Seja Feliz - Os Kurandeiros
Gravado no Estúdio Curumim / São Paulo - SP / 24 canais / Gravação Digital - entre julho e agosto de 2016
Técnico de Som e Produtor de estúdio : Fernando Ceah
Mixado e masterizado no estúdio Foka / São Paulo - SP - entre setembro e outubro de 2016
Técnico de Mixagem; masterização e produção de estúdio : Carlos Perren
Capa: arte e criação: Johnny Adriani
Foto: Juja Kehl
Arte final de capa & contracapa: Kim Kehl
Assistência: Lara Pap
Produção geral: Kim Kehl

Faixas:
1) A Noite Inteira (Kim Kehl)
2) Faz Frio (Kim Kehl)
3) O Filho do Vodu (Kim Kehl)

Formação da banda nesse álbum:
Kim Kehl: Guitarra, Voz e Violões
Carlinhos Machado: Bateria
Luiz Domingues: Baixo
Nelson Ferraresso: Teclados
Renata "Tata" Martinelli: Voz

Músicos convidados:
Marcos Soledade "Pepito" : Percussão nas três faixas
Carlos Perren : Trompa em "Faz Frio"

"A Noite Inteira" (Kim Kehl)

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=P0R6P6KAuqo

Essa música, conforme eu já citei anteriormente, tem uma junção de estilos setentistas do Rock, bem marcantes. Trata-se de uma feliz transição entre o Blues-Rock, com certa identidade Hard-Rock, porém com muito do Glitter Rock britânico daquela década. 

Ela começa com um riff clássico de Rock'n' Roll, que lembra bastante o trabalho de bandas como o "Humble Pie", fortemente influenciada pelo Blues. Mas o elemento Glitter logo pronuncia-se, com diversos signos, entre os quais o uso e abuso de backing vocals a cumprir o clássico, "Uh Uh", que faz com que a sonoridade fique absolutamente festiva, ao sabor de bandas dessa escola "Glam", como "T.Rex", "Mott the Hoople", "Silverhead" e "Glitter Band", entre outras. 

Gosto muito da voz da Renata "Tata" Martinelli, que canta com uma voz rasgada, tanto na voz solo, quanto em contra vozes, onde impressiona pela afinação e alcance agudo. As suas intervenções lembram-me muito o estilo da Silvinha (famosa cantora da "Jovem Guarda"), que cantava muito, por sinal.

O solo de guitarra do Kim é melódico e lembra muito o som do Mick Ronson, tanto nas resoluções, quanto no timbre. Nelson toca piano, a pontur com intervenções bem Rock'n' Roll e há também um órgão Hammond a sedimentar uma base sutil, com uso de caixa Leslie, sempre bem vinda. 

A bateria toca reta, como nos discos do "Status Quo", e eu gosto dessa firmeza na condução e dos timbres, incluso o bumbo grave e a quase completa ausência de reverber nela, o que é uma dádiva na minha percepção. Gosto do som abafado, ao estilo do áudio dos anos setenta. A percussão do Marcos Soledade "Pepito" é bastante criativa, com o uso de diversos instrumentos ao longo da canção, mas a deixar predominar o som das congas na parte final, para conferir-lhe um balanço incrível. No entanto, dá para ouvir a pandeirola, guiro, cowbell e timbales. Todavia, tudo muito bem distribuído, com critério e bom gosto.

Sobre o baixo, usei o Fender Precision e ele soa mais comedido que o normal. Não é o registro mais agressivo, com estalo metálico que eu mais uso, mas ele ronca em alguns trechos da canção, não resta dúvida.

A respeito da opção do Kim Kehl gravar o vocal solo em duo com a Tata, creio que a explicação é simples. O fato dela não estar presente em todos os shows, talvez condenasse a canção ao engavetamento, com execuções sazonais, só quando ela participasse das apresentações d'Os Kurandeiros, mas com a voz do Kim registrada igualmente, a canção é peça permanente do repertório dos shows desde o seu lançamento e posso atestar, faz muito sucesso ao vivo.

E finalmente sobre a letra, trata-se de uma opção festiva. Pode não ter pretensões intelectuais, mas cumpre o seu papel ao encaixar-se como uma luva na sonoridade da canção. A temática é simples, a falar sobre se aproveitar o embalo de uma festa etc. e tal. Nada diferente do que todo mundo que escute os Rolling Stones ou Faces a cantarem em inglês em suas canções e aprove o seu teor, ao não entender a língua estrangeira, falemos objetivamente...

"Faz Frio"  (Kim Kehl)

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=sc4r0cQZHXU

Essa canção é uma balada clássica, com forte identidade sessentista em sua essência, e que me faz lembrar muito do estilo Pop e sofisticado de Burt Bacharach, mas ao longo dos arranjos que foram a se incorporarem aos diversos instrumentistas convidados, ganhou outras nuances, igualmente instigantes ao meu ver, e enriqueceu-se sobremaneira.

A inclusão da trompa, um instrumento de sopro sinfônico e não muito usual em gravações de música Pop em geral, reforçou a ideia da influência de Burt Bacharach. Muito mais comum, se fosse uma canção do Burt, teria sido a inclusão de trompete, um tipo de instrumento de sopro muito usado nas suas canções da década de 1960, mas a simples inclusão da trompa a estabelecer uma linha melódica doce, cumpriu a mesma função e deu esse ar sofisticado, como se a canção fosse trilha de um filme daquela década. 

É ouvir esse começo e imaginar Audrey Hepburn com uma xícara de chá esfumaçante, a olhar pela janela de seu apartamento em Queens, lá em Nova York, a mirar a rua sob nevasca e com a presença de pessoas super agasalhadas a andarem apressadas pela calçada. 

No entanto, quando o Nelson Ferraresso colocou os seus teclados, novas influências trouxeram um colorido diferente à canção. Mediante o seu piano Fender Rhodes, super criativo, a música parece uma balada dos Rolling Stones, daquelas tantas, uma mais linda que a outra, dos discos dessa banda nos anos setenta. 

O espírito de Billy Preston baixou no estúdio Curumim, graças a uma intervenção direta dos Deuses do Rock e o Nelsinho foi muito feliz em dar vazão a tanta inspiração e criatividade. Fora o piano Fender Rhodes que ficou lindo, tem também a intervenções do órgão Hammond e strings ultra setentistas, a lembrar trilhas de seriados policiais de TV, daquela década. Desta vez é o inspetor Kojak que espia da janela da sua delegacia, a olhar para o bairro do Bronx, e enquanto degusta o seu pirulito vermelho, ele pensa em como surpreender os bandidos nas ruas. 

Mais uma vez, o Carlinhos Machado brindou-nos com uma bateria sóbria, segura e com belos timbres. O nosso convidado, Marcos Soledade "Pepito" trouxe uma percussão contínua, com uso de caxixis a manter o ritmo e a usar pontuais intervenções com o carrilhão, a produzir efeitos. Simples, mas bonito.

Gosto muito da base de violão "batido" que o Kim manteve na gravação, com timbre agudo, muito belo. E as intervenções de guitarra são excelentes, incluso o solo, onde o uso de caixa Leslie, ficou um primor, ultra setentista e extremamente doce. 

E na parte da voz, gosto também da melodia e da interpretação do Kim, ao fazer menção que estava a sentir frio de fato, ao garantir fidedignidade à proposta da temática da letra. Esta por sinal, com forte teor romântico, mas que saiu ilesa do verdadeiro tobogã que é para qualquer letrista, não escorregar na pieguice. O Kim passou com louvor nesse perigoso e escorregadio quesito.

Sobre o baixo, eu usei Fender Jazz Bass, certamente um baixo muito adequado para tocar-se qualquer canção que tenha conexão com a Black Music em geral. Em por se tratar de uma balada com sabor R'n'B sessentista em seu âmago, nada melhor portanto que evocar os mestres James Jamerson e Donald "Duck" Dunn... e viva a Motown!

"O Filho do Vodu" (Kim Kehl)

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=gAkLHthBIiM

Aqui, trata-se de uma canção fortemente comprometida com as mais profundas raízes do Blues-Rock, mas com a carga lisérgica direta do período conhecido como o mais louco da história do Rock, o dito "Late Sixties"/"Early Seventies", traduzido em puro Acid-Rock. É Jimi Hendrix ressuscitado em meio a um ritual vodu com a invocação de zumbis creoles, diretamente de um pântano do Mississipi.

Sobre a gravação em si, claro que o carro chefe é a usina de riffs oriundos da guitarra do Kim e todo mundo foi atrás, a conferir um sustentáculo de peso mastodôntico e por isso mesmo, agradabilíssimo. 

Impressionante o peso e a incidência de registros de frequências graves na bateria de Carlinhos Machado. Com um som "gordo" de bumbo e tambores a moda antiga, a sua bateria é um autêntico azougue, a soar-me muitíssimo bem. Os teclados do Nelson impressionam também pela massa que ele concebeu. Com órgão Hammond distorcido e percutido ao estilo do grande Jon Lord, realmente se conferiu um peso incrível à canção. Há strings estridentes em alguns trechos também, e intervenções pontuais de pianos, muito bonitas ainda que bem sutis. 

O Marcos Soledade "Pepito" "pilotou" congas com muito molho, a lembrar muito algumas canções do LP "Eletric Ladyland" do Jimi Hendrix. Gostei muito de tal acréscimo. E claro, toda a parte de guitarras é muito boa, ao mesclar timbre robustos de guitarra Gibson Les Paul, com a acidez aguda da Fender Stratocaster, com direito a alavancadas, ruideiras & loucura a vontade, por que "aqui é sixties, bicho"...

Sobre a proposta da letra, a explicação do Kim quando mostrou-nos a canção, foi tão convincente que tirou a possibilidade de qualquer contra argumentação em contrário. Ora, você leitor, se gosta de Blues-Rock, Southern Rock, Acid Rock & afins, tem ideia de quantas músicas clássicas desses gêneros tem esse mesmo teor na temática? A começar por "Voodoo Child", do Jimi Hendrix,  e ao passar por incontáveis similares, realmente, digamos que é ideia recorrente, no bom sentido do termo. Sobre a sua interpretação, acho-a bem condizente com a proposta e as intervenções com risadas "macabras", tem tudo a ver com o clima de fantasmagoria francófana, ao estilo da cultura de New Orleans. 

Sobre o baixo, eu não tive como fugir da escolha do Fender Precision e evocar o espírito Hendrixiano de Noel Redding e Billy Cox, mas confesso, contém algumas escapadas fora da curva do rio, e o Gary Thain aparece vez por outra... sobre o timbre, ele mostra-se um pouco mais abafado do que geralmente gosto de timbrá-lo, mas está com peso e ronca nas entrelinhas.

Para encerrar sobre o álbum, creio que o resultado geral do áudio é muito bom, com capa bonita e o fato de ser uma produção simples em termos gerais, em nada atrapalhou o seu resultado artístico e pelo contrário, acho que é um mérito a mais, visto que com poucos recursos, tenho a consciência de que fizemos muito, como produto de qualidade, bem acabado. E claro, sinto muito prazer e orgulho em ter esse disco como um registro de minha atuação nessa banda, e espero que seja o primeiro de muitos.

Os Kurandeiros no estúdio Curumim, com o produtor, Fernando Ceah. Julho de 2016. Foto: Lara Pap

Continua...  

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 53 - Por Luiz Domingues

E tivemos então uma data definida para iniciarmos o trabalho de produção do novo álbum: 28 de julho de 2016. O estúdio que abriu suas portas aos Kurandeiros foi o tradicional "Curumim", cujo proprietário era nosso amigo de velha data, o guitarrista/cantor, poeta e compositor, Fernado Ceah, líder da boa banda autoral: "Vento Motivo".

Fernando Ceah na linha de frente, a cantar com Os Kurandeiros. Show dos Kurandeiros no Espaço Cultural Gambalaia de Santo André / SP, em 15 de agosto de 2014. Foto: Vanessa Anchieta 

Encravado em um quadrante estratégico entre o centro de São Paulo, e já a apontaro para os primeiros bairros da zona oeste, tais como: Santa Cecília, Higienópolis, Pacaembu, Campos Elíseos, Barra Funda e Perdizes, a sua localização excelente, com estação de metrô muito próxima, fazia dele, bastante usado por artistas de diversas searas da música brasileira. 

De bandas de Rock a veteranos da velha guarda da MPB, o fato é que tal estúdio mantinha a sua tradição. Portanto, além de tudo, pelo fato da amizade com Fernando Ceah e também pela passagem do próprio Kim Kehl como ex-membro do "Vento Motivo" em um passado próximo, tudo isso somado fez com que a ambientação do Curumim fosse muito familiar aos Kurandeiros, o que certamente contribuiu para o melhor andamento do trabalho, possível.

Show d'Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar de São Paulo. 23 de julho de 2016. Foto: Rogério Utrila

E foi o que ocorreu, com a receptividade calorosa de Ceah em seu estabelecimento e com a sua própria atuação como operador de áudio na captura inicial da base que ali gravaríamos. 

A ideia foi cumprirmos uma gravação otimizada, com o Power-Trio primordial a tocar ao vivo para finalizar a base. Sob tal predisposição, creio já ter explanado a minha opinião em capítulos anteriores (principalmente a enfocar a minha passagem por outras bandas por onde atuei no passado), sobre o que penso dessa metodologia de gravação. 

Só para resumir rapidamente, não é a minha predileção. Sei que o argumento a favor versa sobre a autenticidade da volúpia ao vivo capturada por uma banda e isso é positivo, não nego, mas particularmente, prefiro a estratégia mais convencional, do "um por vez", com a bateria a ser gravada inicialmente, aí sim com suporte de guia ao vivo, mas todos os demais instrumentos a posteriori, com a bateria oficial gravada, e a guia a servir como base, sendo substituída por cada novo instrumento gravado oficialmente dentro do processo.

Show d'Os Kurandeiros na Casa Amarela de Osasco-SP.  7 de maio de 2016. Foto: Maurício Marcondes Santos

Entretanto, sei que a verba que Os Kurandeiros dispunha era modesta e claro, gravar a base ao mesmo tempo tornou-se premente, e não seria a primeira vez que eu gravaria um disco sob tais circunstâncias. Outro aspecto, se por um lado fora temerário para uma banda que não costumava ensaiar usar tal prerrogativa de gravação, por outro lado, por sermos uma banda com constante atuação ao vivo e mais do que acostumada a interagir e improvisar sem receios, não houve nada a temer, por conseguinte.

Não deu outra, passado o rápido preâmbulo de captura dos timbres primordiais de cada instrumentista, Kim, Carlinhos e eu, Luiz, colocamo-nos a disposição de Fernando Ceah para o início dos trabalhos. 

Um ponto que poderia desestabilizar-nos, foi a falta de comunicação visual melhor com o Carlinhos Machado, devido ao fato da sala por ele usada estar longe visualmente da técnica, e tal contato apenas ser possível em ser estabelecido mediante a imagem do baterista por um monitor de TV. Mas nem esse fator limitante foi capaz de atrapalhar a nossa performance, pois na realidade, nós gravamos as três canções com poucas tomadas, de tão seguro que foi. 

Portanto, bateria, baixo, bases de guitarra e até alguns solos e contra solos, foram gravados nessa tarde, sob uma rapidez que surpreendeu a todos. Esperávamos uma gravação tranquila, mas o resultado final mostrou-nos algo além de nossas mais otimistas previsões, pois chegáramos ao estúdio por volta das 15 horas, e passava um pouco das 19 horas, quando eu já estava no trânsito, a caminho da minha residência. 

Foto a capturar o final dos trabalhos no estúdio Curumim, de São Paulo, na sessão inicial de gravação da base com as três canções do EP Seja Feliz. Da esquerda para a direita, na sala da técnica: Carlinhos Machado, Fernando Ceah, Kim Kehl e Luiz Domingues. 28 de julho de 2016. Foto: Lara Pap

Gravamos três canções compostas pelo Kim, com estilos e intenções diferentes uma das outras. A primeira, "A Noite Inteira", foi um Rock fortemente influenciado pelo Blues-Rock, com elementos Glitter, bem ao sabor setentista. Na prática, seria como se o "Humble Pie" soasse como o "Mott the Hoople" (ou vice-versa), para que o leitor familiarizado com sonoridades daquela década possa identificar. 

A segunda canção, "Faz Frio" tem forte identificação com o Pop sessenta-setentista. A olho nu (o ouvido, na verdade...), parece uma canção sessentista do Burt Bacharach, mas no desenvolver do arranjo e entrada dos teclados de Nelson Ferraresso, foi a ganhar uma outra aura, ao se parecer muito com as baladas setentistas dos discos dos Rolling Stones nessa década, notadamente ao final da "Era Mick Taylor" e início da "Era Ron Wood" para quem conece bem a carreira dos Rolling Stones. 

E a terceira canção, não há dúvida, neste caso o Kim quis trazer a atmosfera do Acid-Rock sessentista de Jimi Hendrix, com brutal carga de Blues-Rock pesado, a tratar-se de: "Filho do Vodu". Esmiuçarei mais as canções em capítulo próximo, quando abordar o lançamento do disco em si.

Eis acima, a primeira peça publicitária oficial, a dar conta do começo dos trabalhos, e a conter cenas da gravação da base das três canções do EP, capturadas em 28 de julho de 2016.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=KkvDb6b8ik8
Segundo vídeo promocional lançado pelos Kurandeiros desta feita a fazero uma rápida inspeção no estúdio Curumim, durante a sessão de teclados do Nelson Ferraresso, e a mostrá-lo a gravar a canção: "Faz Frio". Agosto de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=vGiXPblJsYA

No terceiro vídeo a abordar os bastidores da produção do EP Seja Feliz dos Kurandeiros, eis um apanhado, ainda que bem curto, sobre a sessão da vocalista, Renata "Tata" Martinelli, a gravar a sua bela voz em "A Noite Inteira". Agosto de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Fk9u4AxwCqU 
Quarto vídeo a mostrar a gravação do álbum "Seja Feliz", d'Os Kurandeiros em 2016. Desta feira, se mostra a cobertura da gravação do músico convidado, o excelente percussionista, Marco Soledade "Pepito", a colocar muito balanço na faixa: "Filho do Vodu". Agosto de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=7XHpsGi6SaU
A hora e a vez do Kurandeiro-Mor colocar a sua voz em: "O Filho do Vodu". Clima de Acid/Blues-Rock e magia de New Orleans no ar, com Kim Kehl a trazer o batuque do Kurandeiro...
Agosto de 2016
Um vídeo a fazer um resumo dos trabalhos desde a gravação da base, até a voz. Setembro de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=pDKXA9F8mYE
Ao final de setembro de 2016, já a mostrar cenas das sessões de mixagem, com o produtor, Carlos Perren, que inclusive também gravou uma surpreendente e agradável intervenção de um instrumento de sopro, no caso, uma trompa, que deu o "toque Burt Bacharach", para a canção: "Faz Frio"...

Eis o Link para assistir no TouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=68eQ7JaQYWM

Com o disco pronto no estúdio, o anúncio acima alertou de que em breve estaria disponível para venda. Outubro de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=r_imQ7256xI

E assim foi, com muita eficácia e alegria que consumou-se uma produção simples, mas que no cômputo geral, revelou-se bastante interessante e ouso dizer, sofisticada, pelo ponto de vista artístico, por inúmeros aspectos. 

Primeiro pela versatilidade das canções, a demonstrar algumas das múltiplas facetas que Os Kurandeiros apresentam normalmente em seus shows pela noite, ao transitar por muitos estilos e escolas do Blues, Black Music em geral e Rock, principalmente, mas com cada item desses troncos citados, a representar ainda mais possibilidades em desdobramentos incalculáveis. 

Segundo, pela riqueza que cada instrumentista, incluso os convidados, trouxe para cada canção. Terceiro pela qualidade do áudio e proposta com timbres vintage e quarto, por sermos uma banda extremamente objetiva no estúdio, ao não dar margem a postergações intermináveis e mesmo assim, a mostrar qualidade no seu produto final.

Três fotos capturadas nas sessões de mixagem: Kim Kehl na companhia do produtor musical, Carlos Perren, que mixou o álbum e atuou como músico convidado ao tocar Trompa em "Faz Frio". Outubro de 2016. Fotos de Lara Pap 

Sobre o disco em si, e a análise das faixas e produção em geral, falo em capítulo posterior, com maior apuro.

Continua...

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 52 - Por Luiz Domingues

A predisposição da banda já estava voltada para a gravação do EP, o primeiro disco de fato, com a minha participação na formação e claro que estávamos todos animados com tal perspectiva e eu em particular pela minha expectativa pessoal em ter um registro de minha estada nesse trabalho e a somar mais uma realização no cômputo da carreira inteira.

Todavia, concomitantemente, a agenda da banda estava a apontar atividades e isso também foi um fator de alegria. No início de junho, eu ainda tinha certos incômodos decorrentes de minha terceira cirurgia, mas estava em condições de levar uma vida quase normal, só a estar mesmo proibido de fazer esforços físicos mais pesados, mas tudo bem, apesar de gostar do trabalho braçal, não faria a loucura de ser carrier de um enorme backline e/ou PA e assim, ao contar com "With Little Help From My Friends" e inclusive a estar sob a vigilância dos colegas que sabiam que eu gostava de ser útil ao máximo em tais tarefas, mas simplesmente não podia, eles já prometiam não deixar-me exagerar nos meu arroubos...
Pois muito bem, pelo menos a estar em condições de fazer as apresentações em pé e a poder até estabelecer uma mise-en-scène mínima que fosse, já dei-me por satisfeito e como já falei anteriormente, depois do que passei, passei a valorizar cada segundo a mais que tenho tido e poder estar em um palco a fazer um show de Rock, já foi um verdadeiro bônus para a minha existência.
Palco d'Os Kurandeiros montado no Santa Sede Rock Bar, noite de 3 de junho de 2016. Foto: Lara Pap

Nesses termos, antes mesmo de começarmos a gravar o novo álbum d'Os Kurandeiros, voltamos à simpática casa noturna, "Santa Sede Rock Bar, um reduto Rocker e hippie, raro nos então dias atuais, encravado no bairro do Tucuruvi, na zona norte de São Paulo. 
 
Foi o dia 6 de junho de 2016, e o trio primordial atuou como de costume, após o último show ter sido com a dita "Full Band", ou seja, a contar com três membros sazonais, mas considerados fixos, em show realizado na Feira da Pompeia, conforme eu já relatei anteriormente. E assim foi uma noitada boa, como geralmente ocorre no estabelecimento onde tantas vezes já havíamos apresentado-nos anteriormente.
Da esquerda para a direita: Kim Kehl; Carlinhos Machado na bateria e eu, Luiz Domingues, no Santa Sede Rock Bar em 3 de junho de 2016. Foto: Lara Pap

Após essa apresentação, a próxima jornada da banda ocorreu em outra casa onde já havíamos tocado bastante, antes, igualmente. Tratou-se da "Casa Amarela", da cidade de Osasco-SP e as nossas experiências pregressas ali sempre foram boas, portanto, fomos animados para para uma noitada de Blues, Baladas e Rock'n' Roll.
O Power Trio base dos Kurandeiros em ação na "Casa Amarela", de Osasco-SP, em 21 de julho de 2016.  Foto: Lara Pap

Sob um frio intenso, a noitada foi ótima e nessa altura dos acontecimentos, já tocávamos as três músicas novas que fariam parte do EP que começaríamos a gravar em questão de poucos dias. Portanto, nada melhor que uma noite fria de inverno para tocar a balada ultra "seventies": "Faz Frio"...
Dois dias depois e voltamos ao Santa Sede Rock Bar, onde a noitada foi igualmente animada. Sob clima de gravação do disco, fizemos a apresentação com muita volúpia Rocker, e valeu como um último apronto para entrarmos em estúdio a seguir.
Kim Kehl em rara foto a usar uma guitarra Fender Stratocaster branca, e Luiz Domingues a atuar com um baixo modelo Precision, igualmente branco, não foi proposital, mas combinou! Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar, em 23 de julho de 2016. Foto: Rogério Utrila

Passado esse show no Santa Sede Rock Bar, finalmente chegara a hora, estávamos agendados para usar as dependências do estúdio Curumim, de São Paulo...

Continua...

domingo, 16 de julho de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 51 - Por Luiz Domingues

A próxima atividade dos Kurandeiros estevea marcada ainda para maio de 2016. A participação na tradicional Feira da Vila Pompeia, que nesse ano celebraria a sua 29ª edição, não seria nenhuma novidade para a banda. 

Pelo contrário, na história d'Os Kurandeiros, somavam-se diversas participações e no que concerne-me diretamente, eu participei na edição de 2013 como componente, mas também já havia tocado com outros trabalhos anteriores da minha carreira, no caso com a Patrulha do Espaço em 2001, e com o Pedra em 2006 & 2008.

A experiência com Os Kurandeiros em 2013, não houvera sido boa, no entanto, conforme eu já relatei em capítulo anterior, a acompanhar a cronologia dos fatos. Foi por conta de vários desmandos da parte da produção, que haviam perpetrado situações à nossa revelia, como por exemplo a inclusão súbita de um grupo folclórico da Turquia, a gastar o nosso tempo para a apresentação indevidamente, além do equipamento ruim e sobretudo sobre a sua operação ter sido um desastre nesse dia. 

Dessa forma, quando o Kim comunicou-me que desta feita estávamos escalados para o "Palco Rock", eu soube de antemão que as condições seriam melhores, incluso a presença de uma multidão na audiência, uma tradição nesse palco da Feira, mas por outro lado, temi pela inevitável sessão de maus tratos perpetrados da parte de técnicos e produtores estressados, também uma constante nesse específico palco.

Uma panorâmica do "Palco Rock" da tradicional Feira da Vila Pompeia em São Paulo, com Os Kurandeiros em ação, no dia 15 de maio de 2016. Da esquerda para a direita: Nelson Ferraresso aos teclados, Luiz Domingues, Kim Kehl, Carlinhos Machado na bateria (encoberto), Renata "Tata" Martinelli e Phil Rendeiro. Foto: Toni Estrella

Contudo, os meus temores recônditos não confirmaram-se, pois tudo deu certo nesse show. Organização e pontualidade respeitadas, som bem legal de PA e backline e também bem operado pelos técnicos terceirizados pela Feira, compartilhamento com bandas amigas e significativas da cena Rock paulistana em voga (o bom "8080", dos amigos Chico Marques e Claudio "Moco", tocaram antes de nós e de forma super agradável, diga-se de passagem.
Flagrantes d'Os Kurandeiros na Feira da Pompeia em 15 de maio de 2016. Primeira foto: O trio "núcleo duro" da banda, Luiz Domingues, Kim Kehl & Carlinhos Machado. Foto: Carlota Carlotinha. Segunda foto: Carlinhos Machado & Renata "Tata" Martinelli. Foto: Julio Cesar Andrade. Terceira foto: Kim Kehl em destaque. Foto: Leandro Almeida  

Mais que uma junção feliz da banda com o equipamento bom e a ser bem operado, o fato da banda atuar como sexteto, e assim contar com os membros honorários e sazonais, evidentemente "encorpou" o som, sobremaneira. Phill Rendeiro é um bom guitarrista que tem o repertório base d'Os Kurandeiros na ponta da língua, portanto, quando ele toca, a base harmônica fica toda sedimentada para o Kim apenas preocupar-se em solar, além de que o Phill sabe fazer um backing vocals igualmente competente. 

O competente guitarrista, Phill Rendeiro, em ação com Os Kurandeiros. Feira da Vila Pompeia, 15 de maio de 2017. Foto: Juja Kehl 

Sobre Nelson Ferraresso, eu já falei várias vezes o quanto o admiro pela sua categoria e bom gosto como tecladista. Fora ser um sujeito excepcional, é sempre um enorme prazer quando ele toca conosco e infelizmente isso é raro dada a vida atribulada que tem como empresário, isso sem contar que a sua empresa além de ser dinâmica no mercado, tem como campo de atuação, uma agenda nobre, pois fabrica artefatos de apoio para a sustentação de crianças com dificuldades motoras e/ou paralisia cerebral, portanto, graças aos seus esforços, muitas crianças tem a chance de melhorar a condição de vida, o que eu acho magnífico enquanto ação ação de alta cidadania consciente. 

Como músico, Nelson é extremamente competente e tem tantas participações como músico convidado em discos de diversos artistas de várias vertentes do Rock, Blues, Pop & Reggae, que o seu currículo impressiona, mediante uma discografia gigantesca.

O fantástico Nelson Ferraresso, tecladista da pesada, pessoa da mais alta estirpe e empresário do bem. Foto: Juja Kehl. Feira da Vila Pompéia em 15 de maio de 2016, com Os Kurandeiros

E com a voz da incrível Renata "Tata" Martinelli, tudo fica mais intenso, sempre. Dona da de uma voz potente, muito afinada, fora o seu carisma e presença de palco, isso por si só já bastaria, mas a "Tata" é também uma amiga daquelas cujo convívio e prosa agradável, sempre queremos ter por perto.

Renata "Tata" Martinelli, a atuar com Os Kurandeiros na Feira da Vila Pompeia, em 15 de maio de 2017. Foto de Juja Kehl.

Mas houve um elemento a mais nessa apresentação d'Os Kurandeiros na 29ª edição da Feira da Vila Pompeia e que só tratou por coroar a jornada feliz da banda, a tratar-se da presença de um bom público e muito melhor, a estabelecer uma sincronicidade excelente. 

Com o público a responder com energia, a performance foi muito agradável, sem dúvida alguma. Eis abaixo um especial com os melhores momentos dessa apresentação, através de uma filmagem do casal de fotógrafos e film-makers, Bolívia & Cátia:

Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=waKc9sGtA08 

Satisfeitos pela tarde Rock agradável na Vila Pompeia, a banda tinha agendado para breve, mais uma apresentação na casa de espetáculos, Santa Sede Rock Bar, mas a conversação sobre a iminência de se gravar um novo disco, estava a dominar a nossa atenção. 

Nessa altura, já estava certo tratar-se de um "EP" com três músicas novas que o Kim havia composto e que enviou-nos por E-mail para ouvirmos e fazermos cada um o seu arranjo pessoal.

Respectivamente: Carlinhos Machado, Kim Kehl & Luiz Domingues. Os Kurandeiros na Feira da Vila Pompeia, em 15 de maio de 2016. Fotos: Juja Kehl

Continua... 

sábado, 8 de julho de 2017

Tenacidade - Por Telma Jábali Barretto

Como entender tal capacidade? Ou defeito?!... Por um lado total resolução, fibra inquebrantável, por outro, margeia a teimosia, quem sabe até dureza.


Fato é que quando funcionando no seu melhor aspecto, essa competência, se adquirida, passeia por a tudo resistir diante de determinada causa, sobre uma espécie de coragem aliada a perseverança... e, dessas duas outras qualidades, coragem e perseverança, associadas a essa atribuição também são quase sempre raras ! Ainda vale questionar que em seu uso...,no caso da coragem, quanta passagem não cria para atropelos e grosserias, bem como a perseverança, conforme vivida, encosta no apego, dificulta o deixar ir para que o novo respire/inspire...

Tal como a tenacidade, algumas circunstâncias outras, criam esse desconforto da dificuldade para estabelecer limite entre o apropriado, justo, certo?!... ou mesmo aquilo que produzirá a experiência desejada, como propiciadora de ganho, conquista e, até onde, talvez, estejamos teimando, sendo resolutos numa medida similar à turronice ?!...


Pensamos que todos já passamos, vivemos tais ‘saias justas’, muitas vezes sem discernir até onde estamos sendo tenazes ou inflexíveis...

Provável que o limite ‘real’, na medida de cada um,  envolva algo desafiador, aquilo que nos empurra a transpor medos e que, assim, chegamos a questionar se não é mesmo por aí, onde o processo de desenvolvimento acontece, quase que como uma abençoada armadilha que, só após, aceitamos como bem-vinda a nos testar, ensinar num convincente jogo de esconde-esconde, detector de nossos pares de opostos, mostrando, revelando, desvendando quem somos, tangenciando extremos lusco-fusco, fazendo vir à tona algo de nossa sombra/luz, transitando entre heroísmo corajoso e intransigência dessa que é hoje suposta, conhecida como fragilidade...

E, em meio a essa incrível batalha interna, quando essa disposição guerreira ascende, uma posse nova é adquirida e também, presumimos, sutilezas outras ficam estabelecidas, criando ganhos que abdicam antigas seguranças para um apoderar-se de outras e em diferentes formatos... como a Vida, em sua sabedoria, não cansa de nos convidar !!! E que haja tenacidade suficiente para não desistir dos próprios sonhos, de si, da humanidade...

Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira civil, é também uma experiente astróloga, consultora para harmonização de ambientes e instrutora de Suddha Raja Yoga. Nesta reflexão, fala-nos sobre a tenacidade, essa força interior que faz com que não desistamos de nossas metas, jamais.