terça-feira, 31 de outubro de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 64 - Por Luiz Domingues

No mês de maio de 2017, Os Kurandeiros fizeram uma trinca de shows, sendo que um deles, em uma casa inteiramente inédita na trajetória da banda e surpreendente pela sua ambientação, eu diria. 

Os Kurandeiros em ação em uma foto postada nas redes sociais da Internet, no calor da divulgação on line e in loco. Rockers Self Garage de São Paulo, em 20 de maio de 2017. Foto: Lara Pap

Tratou-se de uma apresentação em uma garagem/oficina de motos, cujos donos, todos Rockers, músicos e apaixonados por motos, montaram o seu estabelecimento com farta ambientação baseada no Rock, ao fazerem uma junção com o universo das motocicletas, por decorá-la com posters de Rockers famosos das décadas de cinquenta até a atualidade, a pilotarem ou a posarem ao lado de motos, além de conter diversos "stills" de filmes famosos com tal mote, caso de "Easy Rider", "The Wild One" e outros. 

Muito bem montada, a oficina apresentava a predisposição do auto serviço, ao estilo de "Self Garages" norte-americanas, naquela tradição do próprio usuário lavar e/ou operar pequenos reparos na sua moto, ao alugar o espaço, ferramentas e produtos e também ter o estilo tradicional de atendimento por mecânicos profissionais, a escolher, portanto.

Mais flagrantes da apresentação d'Os Kurandeiros na casa de espetáculos e oficina mecânica para motocicletas, "Rockers Self Garage", de São Paulo, em 20 de maio de 2017. Na última foto, não resisto à observação: "Come Taste the Band"... clicks, acervo e cortesia de Regina de Fátima Galassi
 
E assim, em meio a várias motos e pelo aspecto, só veículos de alto padrão, o palco foi montado com a garagem em pleno funcionamento, com a banda a tocar e mecânicos e usuários a fazerem os seus reparos, portanto vez por outra, o ruído forte proveniente de escapamentos e/ou aceleração das motos, a se mostra como algo inusitado e até proposital, quando um dos proprietários, ao perceber que iniciáramos a canção do "Steppenwolf", "Born to Be Wild", auxiliou-nos na performance ao imediatamente acelerar uma moto ali dentro, para criar o clima que Peter Fonda, Dennis Hopper & Jack Nicholson proporcionaram-nos no Road-Movie, "Easy Rider", em 1969. Foi muito divertido, é claro.
"Cocada Preta" (trecho), no Self Rockers Garage, de São Paulo, em 20 de maio de 2017.

Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=v_8gocFC9F4

Bem, nada mais apropriado, a casa chamava-se: "Rockers Self Garage", localizada no bairro da Saúde, zona sul de São Paulo e a se mostrar como uma feliz junção de empreendimento voltado para o universo dos motociclistas, com ótima estrutura para atender as suas necessidades mecânicas e também com ambientação Rocker, eis que vemos a figura do guitarrista Sérgio Hinds, d'O Terço, nas suas dependências, ali a cuidar de sua moto.
"Solo Delivery" em música não identificada, com o tradicional passeio de Kim Kehl entre espectadores do estabelecimento.
Rockers Self Garage, em 20 de maio de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=EqMgRHiZOpE

"Caroline" (Status Quo) no Rockers Self Garage em 20 de maio de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=5-8y00tyUks

"A Noite Inteira", no Rockers Self Garage, em 20 de maio de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=1EcaYm5l5LY 

Com um mezanino grande e uma cozinha bem estruturada, a casa mostrava-se em condições para atuar de forma híbrida, sendo casa de shows e oficina mecânica simultaneamente e como se não bastasse tudo isso, nos alto-falantes espalhados pelo estabelecimento, ficava o tempo todo a se tocar uma programação Rocker da melhor qualidade, como se fosse uma rádio interna a embalar os trabalhos dos mecânicos e usuários. Portanto, ouvir Gentle Giant e Mahavishnu Orquestra, ali, na ante-sala do nosso show, entre outras preciosidades raras, foi absolutamente inusitado e prazeroso, é claro. Aconteceu no dia 20 de maio de 2017.

No dia seguinte, estivemos novamente no Fofinho Rock Bar, para tentarmos levar adiante o projeto "Sunday Rock", cujas dificuldades operacionais inerentes eu já descrevi em capítulos anteriores e mesmo a ressalvar a maneira cortês com a qual éramos tratados pelos mandatários da casa, a verdade é que pareceu insolúvel a perspectiva de haver melhorias técnicas que possibilitassem a continuidade do projeto. 

Bem, foi de fato a nossa última apresentação ali, mas não com um final declarado do projeto, mas simplesmente por ter sido feito um adiamento "sine die".

Os Kurandeiros em ação no Fofinho Rock Bar, no dia 21 de maio de 2017. Clicks, acervo e cortesia de Regina de Fátima Galassi 

Tocamos sozinhos, ao fazermos três entradas, como no padrão das apresentações em casas noturnas em que estávamos acostumados a atuar, sem problemas por esse aspecto. 

É bem verdade que um dos PA's que concorriam com as nossas apresentações, diminuiu bem o seu ímpeto, mas o equipamento do salão superior, a promover uma longa sessão mecânica, com uma overdose de Heavy Metal (e sob um volume com padrão de show ao vivo em Arena de médio porte, digamos), não arrefecera-se e isso inviabilizava a continuidade de nosso esforço hercúleo em fazer da nossa performance, no patamar inferior do estabelecimento, infelizmente.

"Honk Tonk Women" (The Rolling Stones)  -  Fofinho Rock Bar de São Paulo, 21 de maio de 2017.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=9LrwZSnCQqc 

"Rock'n Roll All Night" (Kiss)  -  Fofinho Rock Bar de São Paulo, 21 de maio de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=MQdghF9NdWo    

Os Kurandeiros em ação no Fofinho Rock Bar, no dia 21 de maio de 2017. Clicks, acervo e cortesia de Regina de Fátima Galassi

Atesto que insistimos muito, para arrastar o projeto desde outubro do ano anterior, mas realmente se tornara difícil mantê-lo em atividade. Para piorar as coisas, a chuva torrencial que nesse dia caiu, além da concorrência quase desleal com o evento "Virada Cultural", onde centenas de shows gratuitos ocorreram pelos quatro cantos da cidade, só intensificou a dificuldade, portanto, foi até surpreendente haver um quórum mínimo ali na casa, ante tantas adversidades alheias à nossa vontade. Tarde/noite de 21 de maio de 2017 e última ocorrência do "Projeto Sunday Rock", a contar com Os Kurandeiros como protagonistas.
Para fechar o mês de maio, alguns dias depois voltamos ao Tchê Café, perto do Aeroporto de Congonhas e desta feita com maior margem de tempo para uma divulgação pública adequada, via Redes Sociais da Internet. Casa aconchegante, com a regalia de ceder backline e até instrumentos de bom nível para os artistas tocarem, foi a nossa segunda incursão em suas dependências, tendo sido uma noitada agradável.

"Change the World" (Tommy Sims / Gordon Kennedy / Wayne Kirkpatrick) - Os Kurandeiros no Tchê Café de São Paulo, 26 de maio de 2017  

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=W4cqXpABG8o

Surpresa boa, o meu velho amigo, Osvaldo Vicino, guitarrista de minha primeira banda, o Boca do Céu, lá no longínquo ano de 1976, apareceu com sua bela namorada, que simpática, contou-me que morou no mesmo bairro onde eu e Osvaldo moramos e conhecemo-nos nos anos setenta, e apesar de não ter sido nossa colega de escola, relatou que estudara em um outro colégio próximo, além de comentar algumas relações afetivas com o bairro, comum aos três. 

Não a conheci na época, no entanto e ficou esclarecido que o Osvaldo a conheceu e namorou por volta do final de 1978, ou seja, época em que deixou nossa banda e portanto, quando perdemos contato por muitos anos. Esteve explicado então por que tínhamos tantas lembranças em comum em termos comunitários, mas sem que conhecêssemo-nos na época.

Os Kurandeiros ao vivo no Tchê Café de São Paulo, em 26 de maio de 2017. Foto: Lara Pap  

Uma última boa nova ocorreu-nos no mês de maio e em junho, teríamos uma boa agenda de apresentações pela frente. Que viesse o inverno Rocker de 2017, para cantarmos com ainda mais convicção: "Faz Frio"...
Continua...

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 63 - Por Luiz Domingues

Uma casa diferente havia convidado-nos a ali apresentarmo-nos, mas localizada em um bairro da cidade onde já havíamos tocado em diferentes estabelecimentos em um passado relativamente próximo. Tratou-se de uma pequena casa encravada entre tantas dentro da ebulição noturna dos bairros vizinhos de Pinheiros e da Vila Madalena, zona oeste de São Paulo e denominada: "Season One Arts & Bar". 

Temático, tal recinto pretendia ser um recanto para amantes de seriados de TV, com decoração adequada para tal e de fato, com monitores espalhados pelos ambientes, a se exibir seriados modernos, predominantemente norte-americanos. Também sou um inveterado fã de seriados, desde a tenra infância e apesar de deter predileção pela produção "vintage", igualmente acompanho seriados modernos, não com a mesma profusão e atenção de outrora, contudo, tenho simpatia por alguns modernos.

Da esquerda para a direita: Kim Kehl, Luiz Domingues & Carlinhos Machado. Os Kurandeiros no "Season One Arts & Bar" de São Paulo, em 8 de abril de 2017
 
E foi assim, entre monitores a exibirem episódios de "Bates Motel" e "American Horror Story" e mais alguns seriados que eu nem identifiquei, que nós tocamos nosso set habitual e curioso, o palco ficava bem na entrada da casa, portanto, no patamar baixo, onde poucas pessoas sentaram-se para ouvir-nos a tocar, mas a maioria passava por nós e subia sem pestanejar para um mezanino sem visão da banda, apenas a ouvir o som com relativo atraso e assim, sinal dos tempos, a banda ali teve a função de um mero chamariz, na predisposição parecida com a de bandinhas circenses a tocarem na porta de lojas populares (com todo o meu respeito para esses artistas)

Sei que é uma colocação exagerada, claro que tivemos uma apresentação digna e até com momentos de euforia, por parte dos poucos que prestaram-se a ficarem no patamar inferior, a prestigiarem a nossa banda. Bem, aconteceu em 8 de abril de 2017.

Ao final do mesmo mês de abril, tivemos uma boa sequência de apresentações. Primeiro, com uma volta ao reduto Hippie do bairro do Tucuruvi, zona norte de São Paulo, o Santa Sede Rock Bar. Ali  sempre foi garantia de uma boa apresentação, com audiência entusiasmada e muito boa hospitalidade dos proprietários da casa. Aconteceu em 22 de abril de 2017. 
Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 22 de abril de 2017. Clicks, acervo e cortesia de Cleber Lessa
"O Filho do Vodu", (trecho do solo). Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar em 22 de abril de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=cMRqdObh3TA 

No dia seguinte, 23 de abril de 2017, voltamos a apresentarmo-nos no "Projeto Sunday Rock", no famoso salão de Rock'n' Roll, "Fofinho Rock Bar". Desta feita sem convidados e a assumirmos um show padrão de casa noturna, com Os Kurandeiros "a tocarem a noite inteira", como dizia a letra de sua nova música recém lançada na ocasião. 

Uma boa nova, o PA que alimentava o botequim externo da própria casa, trabalhou com um volume reduzido, para atender uma de nossas reivindicações. Contudo, ainda a termos a concorrência do PA do patamar superior e a sua longeva sessão de Heavy Metal, ao menos a nossa situação com o nosso PA na parte inferior da casa, amenizou-se um pouco. 

Além disso, a casa providenciou uma iluminação mínima, para conferir ao palco uma maior qualidade visual, eu diria, e sobretudo a demonstrar que estavam a se empenharem para atender as nossas reivindicações, ainda que paulatinamente. 

E sobre tocar no padrão de casa noturna, para nós foi extremamente rotineiro, não causou-nos nenhum transtorno adicional. Dessa forma, destilamos o nosso repertório autoral e mais duas sessões de releituras do Blues e Rock internacional, para atrair a atenção dos que não estavam ali presentes e motivados pelo Heavy Metal reproduzido mecanicamente, no andar superior do estabelecimento.

Dois flagrantes d'Os Kurandeiros no Fofinho Rock Bar em 23 de abril de 2017. Na primeira, Luiz Domingues em destaque, com click de Ale Machado. E na segunda, uma panorâmica da banda, com click de Lara Pap.
Para fechar o mês de abril, fomos convidados pelo nosso amigo, o grande guitarrista, Fulvio Siciliano, a dividirmos a noite com ele e a sua nova banda, chamada: "Chlube do Som" e na casa mais tradicional na história d'Os Kurandeiros, o Magnólia Villa Bar, da Lapa, na zona oeste de São Paulo. Fazia um relativo tempo que não pisávamos naquele palco tão familiar para nós e foi um prazer também por isso.
Os Kurandeiros "a matarem a saudade" do palco do Magnólia Villa Bar e com Alexandre Rioli aos teclados, também a revivermos os bons tempos da "Magnólia Blues Band". 28 de abril de 2017. Foto: Lara Pap

"A Noite Inteira" no Magnólia Villa Bar, em 28 de abril de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=pIVqQ5Zzhtc
 
Sobre a banda do nosso amigo, Fulvio, era na verdade um grupo que já existia a atuar pela noite e do qual ele recém ingressara como guitarrista. Muito boa banda, com músicos tarimbados e com uma bela e competente vocalista na sua linha de frente, apresentou um repertório com clássicos internacionais bem variados, indo de músicas dos Beatles a canções mais modernas e que habitavam o dial das emissoras de rádio FM. 

Gostei da apresentação deles e indagado sobre a estranha grafia que a banda ostentou no cartaz promocional, Fulvio explicou-nos que a letra "H" grafada nessa ortografia, não fora obra de nenhum estudo proveniente da "numerologia", tampouco uma palavra oriunda de algum idioma exótico, mas um engano mesmo de digitação, portanto, "Chlube", queria dizer mesmo: "Clube", e nada mais...

Na primeira foto, a jam-session mencionada, com Fulvio Siciliano a atuar junto aos Kurandeiros. E na segunda, a confraternização final com os músicos das duas bandas e diversos amigos. 28 de abril de 2017, no Magnólia Villa Bar de São Paulo. Clicks de Lara Pap 

Ao final, uma jam com os músicos das duas bandas a se revezarem no palco, tratou de tornar o desfecho da noitada muito agradável, como fora aguardado, de fato. 

Os nossos próximos compromissos, estavam marcados para o final de maio e uma dessas datas, em uma casa inteiramente nova e muito interessante pela sua ambientação e que eu posso atestar, não era apenas temática, mas concreta...

Continua...  

domingo, 29 de outubro de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 62 - Por Luiz Domingues

Embalados pelos bons ventos proporcionados através do advento do novo EP em que estávamos a trabalharmos, a agenda mostrava-se bastante movimentada nesse começo do ano de 2017, que bom!

Um exemplo disso ocorrera nos meses de março e abril, quando tocamos bastante ao vivo, inclusive em casas onde nunca havíamos visitado anteriormente e sempre era estimulante para a nossa banda apresentar-se em novos espaços, em que o fator surpresa era sempre grande, inclusive se pensarmos em aspectos negativos, mas mesmo assim, a novidade abriu o caminho para experiências inéditas e isso era sempre bom para a banda e até para o meu relato autobiográfico, que beneficiara-se através desses adendos interessantes que inspiram boas crônicas.

Os Kurandeiros no Fofinho Rock Bar de São Paulo, em 26 de março de 2017. Da esquerda para a direita: Kim Kehl, Carlinhos Machado e Luiz Domingues. Foto: Lara Pap 

O penúltimo show do mês de março ocorreu no entanto em um lugar em que estávamos a lutarmos bravamente para manter em pé mediante um projeto que no papel, teoricamente a se falar, parecia bem interessante, mas na prática, nós enfrentávamos problemas técnicos, que a bem da verdade eram insolúveis ali naquela casa, e apesar da camaradagem e bons tratos com os quais os mandatários do estabelecimento recebiam-nos, a política da casa em termos de seus usos & costumes mostrava-se imutável e sendo assim, apesar de ser interessante tentar manter o projeto em atividade, ficava a cada edição muito difícil acreditar ser isso possível. No entanto, Os Kurandeiros eram/são resilientes por natureza e dessa forma, nós insistimos. 

Nessa edição de 26 de março de 2017, convidamos um outro artista para fazer show o compartilhado conosco e tratou-se de Duck Strada, um artista multi-talentoso, por natureza. Baterista de bandas de Rock, há anos, mantinha (mantém) também uma carreira paralela autoral e solo, ao apresentar-se como um "Folk-Singer", na base do violão & voz, e mais do que isso, ele demonstrava um talento grande como compositor e letrista, ao seguir uma linha nobre da MPB com raízes contraculturais, naquela vertente com um pé no Rock, psicodelia, experimentalismo e baseada nos ecos distantes do movimento Hippie. 

Ao fazer-me lembrar artistas como Zé Geraldo, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Lula Cortes, Sá & Guarabyra, Alceu Valença, Jards Macalé e tantos outros bacanas dessa vertente, Duck Strada deu o seu recado ao mesclar as suas ótimas composições com clássicos desses artistas que eu citei e de outros, com bastante maestria. 

Gostei muito de sua performance e das suas composições, uma inclusive que se fixou na minha memória, chamada: "Via Leste", uma bela crônica urbana que compôs, a falar das pessoas que vão e vem da zona leste de São Paulo a usar a metáfora dos trens de subúrbio e do metrô para falar desses trilhos que levam as pessoas para essa trilha na vida. Muito inspirado e bonito, certamente.

Os Kurandeiros no Fofinho Rock Bar de São Paulo, em 26 de março de 2017. Foto: Regina de Fátima Galassi

Depois fizemos o nosso show, igualmente a enfrentarmos a velha questão da guerra de PA's interna da casa, a atrapalhar a nossa sonoridade, e no caso do Duck Strada, com a sua apresentação baseada na voz & violão, creio que ele foi ainda mais prejudicado por tal situação alheia à nossa vontade. Paciência.

"Baby I'm a Want You" (David Gates / Bread) - 26 de março de 2017 no Fofinho Rock Bar de São Paulo

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Bky-YOOvJ7c

Por meio de uma sinalização tímida, mas animadora, a casa providenciou para que o PA da parte da frente (que alimentava o botequim em anexo do estabelecimento, virado para a Avenida Celso Garcia), abaixasse bastante o seu volume. Isso amenizou o nosso drama ali no salão inferior, mas o PA do andar superior prosseguiu a atazanar-nos com o Heavy Metal ensurdecedor, não teve jeito...

O próximo show foi exótico pela maneira em que transcorreu. Primeiro que o convite surgiu em cima da hora, ao nos surpreender ao ponto de não termos tido tempo hábil para empreender uma divulgação prévia mínima. 

Aceitamos fazer o show, assim mesmo e sob um poder de improviso bem grande da parte do Kim, ele fez ações on line com a banda no palco de tal estabelecimento, a tratar o evento como um "show secreto" e isso acabou por despertar a curiosidade de muita gente nas redes sociais e por vias tortas, culminou em ter sido uma ação de marketing interessante.

Os Kurandeiros no Tchê Café de São Paulo, em 30 de março de 2017. Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, com o Tajima Jazz Bass cedido pela casa, Carlinhos Machado e Kim Kehl. Foto: Lara Pap

O espaço era chamado como: "Tchê Café", localizado bem próximo do Aeroporto de Congonhas, e como sugeria o seu título, a se mostrar como um estabelecimento dirigido por gaúchos radicados em São Paulo. Mas apesar disso e do seu logotipo a ostentar um clássico "chimarrão", nada mais gaúcho, a casa não era 100% fechada em tradições gaúchas etc. e tal. 

Decorada como um bar estiloso, baseado no espírito dos Pubs ingleses e a ter como carro chefe uma vasta carta de cervejas artesanais a oferecer aos seus clientes, ficamos com uma boa impressão inicial assim que ali adentramos. 

E mais do que isso, foi bom verificar que era bem musical por sua decoração. Com um palco bem razoável para as bandas apresentarem-se, achamos inusitado que além do PA disponibilizado, uma praxe que raramente não é observada por outras casas, todo o backline e até instrumentos estavam ali para usarmos. Havia bateria, baixos e guitarras se quiséssemos usar e apesar do Kim não ter interessado-se na guitarras ali oferecidas e preferir tocar na segurança de suas próprias guitarras, eu aceitei usar um dos baixos ali disponíveis, um "Tajima", modelo Jazz Bass, e tal fator ocorreu por que o testei e verifiquei que continha um braço macio, muito bem feito, bastante semelhante ao seu modelo inspirador, o clássico Fender Jazz Bass. 

Gostei de seu timbre e de fato, foi prazeroso fazer o show com tal instrumento gentilmente cedido pela casa, uma prática incomum, diga-se de passagem, pois o normal para as casas noturnas é não haver nem PA, mas essa em questão, surpreendeu-nos positivamente nesse aspecto. 

Bem, simpatia e empatia estabelecidas, esse show súbito e em caráter "secreto" abriu-nos as portas para novas apresentações nessa casa. Bom, gostamos de ter ido lá e certamente gostaríamos de voltar em ocasiões futuras. Ocorreu em 30 de março de 2017, uma noite quente, embora o outono já estivesse a prevalecer no calendário.

"Reflexions on My Mind" (The Marmalade) - 30 de março de 2017, no Tchê Café de São Paulo

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=NBBb_CfGNXo
"Without You" (Pete Ham / Don Evans / Badfinger) - 30 de março de 2017 no Tchê Café de São Paulo

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=tnCyn3mCPWE 
"Sleepwalk" (Santo & Johnny Farina) - 30 de março de 2017 no Tchê Café de São Paulo

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=4pF9ckUpVIo  

Em abril, teríamos mais apresentações pelo circuito da noite paulistana, e com direito a casas diferentes, onde jamais havíamos passado anteriormente, a se gerar mais histórias pitorescas.

Continua...  

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Os Kurandeiros - 29/10/2017 - Domingo / 17 Hs. - 8ª Feira de Artes e Cultura da Lapa - Lapa - São Paulo / SP

Os Kurandeiros

29 de outubro de 2017 - Domingo - 17 Horas

8ª Feira de Artes e Cultura da Lapa

Ao Ar livre / Entrada Gratuita

Rua Faustolo (quarteirão entre as Ruas Tibério e Sabaúna) - Lapa - São Paulo / SP

Os Kurandeiros :
Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Luiz Domingues : Baixo

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Os Kurandeiros (+ Magnólia Blues Band + Old Boys Band) - 27/10/2017 - Sexta-Feira / 19 Hs. - Magnólia Villa Bar - Lapa - São Paulo / SP -



Os Kurandeiros + Magnólia Blues Band + Old Boys Band 

27 de outubro de 2017 - Sexta-Feira - 19:00 Horas

Show de encerramento da casa Magnólia Villa Bar

Magnólia Villa Bar
Rua Marco Aurélio, 884 - Lapa - São Paulo / SP

Os Kurandeiros :
Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Luiz Domingues : Baixo

Magnólia Blues Band :
Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Alexandre Rioli : Teclados
Luiz Domingues : Baixo

sábado, 21 de outubro de 2017

Fim de Tarde no Vietnam - Por Marcelino Rodriguez

A maior saudade que tenho do tempo que passei no Vietnam, eram as conversas de fim de tarde com o Ninja, que me contava histórias fabulosas. A gente tomava uma long neck junto, e ele começava:

- Eu assombrei Nova Iorque com o meu amigo Porco Milagroso, gafanhoto. Onde eu ia com meu porco as coisas começavam a dar certo pra todo mundo.

- O senhor andava com um porco em Nova Iorque, mestre?

- Sim, qual o problema dele ser porco? Era meu amigo.

- Mas como o senhor ficou amigo dele, mestre?

- Ora, eu nunca reparei no que ele comia ou se tomava ou não banho, isso não é problema meu. O que eu reparava é que ele abanava o rabo quando eu chegava e que tinha bom coração. Eu sou uma pessoa educada, gafanhoto, e não fico reparando nos hábitos alheios. Além do mais, você já encontrou algum homem que tenha coração melhor do que um porco ? 
- Era assim o mestre. Uma metáfora viva. Até hoje, por causa dele, tenho saudades dos fins de tarde no Vietnam.

Marcelino Rodriguez é colunista sazonal do Blog Luiz Domingues 2. Escritor com vasta e consagrada obra, aqui mostra-nos uma crônica curta, contendo uma metáfora forte e que só os mais atentos entenderão...

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Crônicas da Autobiografia - Show Acrobático, Ensurdecedor e Inspirador (mas não pela música em si) - Por Luiz Domingues


       Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, em janeiro de 1983...

Bem naquela virada de década de setenta para oitenta, a vida de um Rocker versado pela estética sessenta-setentista (meu caso), esteve dificílima e na verdade, tal panorama já vinha a degringolar desde 1977, pelo menos e só intensificara-se tal estado de coisas à medida que a mídia, de mãos dadas com a dita “formação de opinião”, decretou que o sonho hippie acabara e quem não comungara com tal ideia, havia perdido o bonde da história. 
 
Eu nunca acreditei nisso, é óbvio, mas paguei um preço amargo pela minha resistência em não correr ao salão de barbearia para acabar com a minha longa cabeleira "woodstockeana" que permaneci a ostentar e é óbvio que ao contrário dos “moderninhos de plantão”, ávidos pela estética blasé do Pós-Punk, eu só enxergava deméritos na produção artística oitentista em geral, salvo raríssimas e honrosas exceções.
Mas mesmo que houvesse um campo do Rock que ignorava retumbantemente essa turma altiva e invariavelmente raquítica, musicalmente a falar (o termo “raquítico” foi inspirado por um amigo meu que usa tal palavra nos dias atuais (2017), para designar tais artistas dessa estética e este fala com propriedade, visto que militou nesse métier nessa época, mas reconhece nos dias atuais, a fragilidade musical de quem embarcou nessa vertente), tal tipo de opositores não foi formado exatamente por tradicionalistas como eu, a respirar por aparelhos em uma espécie de UTI contracultural, mas uma turma que se por um lado era oposta ao Pós-Punk, ainda assim não significara ser algo compatível e agradável que encaixasse-se plenamente aos tradicionalistas em prol de um “religare”, através de seu clamor nostálgico. 
 
Refiro-me simplesmente a uma vertente que professava o dito “Heavy-Metal”, uma estética que nasceu em algum momento dos anos setenta, quando alguém jogou condimentos demais no molho do Hard-Rock e a comida passou do ponto, digamos assim... ao precipitar que se ramificasse tal como uma metástase, ao gerar subdivisões as mais diversas. 
 
Um desses ramos, foi parar na Califórnia, Estados Unidos e lá, mesmo a conter em seu bojo, certos artistas radicais, como em qualquer parte do planeta, a tendência para tudo que surge ali, é que a cultura local amenize e incorpore elementos seus muito particulares. Portanto, mesmo que a proposta seja um som pesado e acelerado, sempre vai haver o calor abrasador do asfalto da "Rodeo Drive", de Los Angeles em sua música, assim como uma latinidade caliente e festeira, mesmo que os artistas sejam genuinamente “wasp” em sua mentalidade inerente, a se pensar em outras temáticas mais rudes. 
 
Bem, eis que nesse estado da costa leste, meca do cinema e curiosamente berço do estopim do movimento hippie na América sessentista, surgiu ali na metade dos anos setenta e passou a ficar famosa ao final dessa década, uma banda formada por dois irmãos de origem holandesa, que ao se juntarem a dois amigos, formaram o seu grupo ao nomeá-lo com o sonoro sobrenome de sua família: Van Halen.
Eu só fui tomar conhecimento de sua existência por volta de 1980, mais ou menos e a primeira impressão que tive foi que o seu som som parecia um trabalho moderno para aquela ocasião, mas baseado no Power Blues-Rock acelerado do Ted Nugent, pelos riffs etc. e tal.
 
Tal banda nunca causou-me nenhuma comoção especial, mas tampouco a ojeriza, como eu nutria pelo Punk-Rock e seus derivados como o nascente Pós-Punk. Mas ali, por volta de 1981, 1982, eu passei a ter uma certa simpatia pela banda, não ao ponto de tornar-se uma referência na minha vida, mas por enxergá-la como uma espécie de boia salva-vidas, ao se considerar que o mar revolto oitentista consumir-me-ia por completo e dessa forma, agarrei-me no Van Halen como uma esperança de sobrevivência em meio à escassez de outras formas defensivas para se lidar com o ambiente hostil que desenhara-se. 
 
Mas é bom que eu esclareça, esse “admirar”, não significou que tornei-me seu fã inveterado, ao deixar de cultuar os artistas que realmente influenciavam-me, mas simplesmente foi melhor saber que o Van Halen existia ali em 1982 e ao menos os sujeitos usavam instrumentos e configuração de um quarteto Hard-Rock tradicional, cabelos longos/figurino Rocker mezzo setentista e postura de palco Rocker, em confronto com os dândis oitentistas arrogantes que inundavam os vídeoclips que passavam na TV, na ocasião. 

Então, com a minha banda, A Chave do Sol a dar seus primeiros passos no segundo semestre de 1982, foi quando soubemos que o Van Halen viria ao Brasil no início de 1983. Tirante apresentações sazonais com artistas internacionais, desde os anos sessenta, o Brasil não era ainda uma rota internacional para shows, consolidada. 
 
A logística do show business era precária e nas raras apresentações com artistas internacionais, tudo fora feito com muito improviso, a se gerar falhas e reclamações generalizadas do público e principalmente da parte dos próprios artistas estrangeiros, desacostumados a lidarem com um tipo de amadorismo gerencial e vergonhoso. 
 
Anos depois o Brasil pôs-se a crescer nesse quesito e creio, após o advento do Festival Rock in Rio de 1985, a máquina engrenou e o país finalmente ganhou espaço na rota das turnês mundiais dos grandes e médios artistas e hoje em dia, é uma alternativa interessante até para os pequenos também, a abrigar um circuito menor bem organizado para trazê-los ao país.
Mas ali em 1983, ainda havia muito amadorismo, como por exemplo na completa omissão por parte da produção do mesmo, para anunciar que haveria uma atração nacional como show de abertura. No caso, todos ficaram surpresos ao verem o equipamento da Patrulha do Espaço montado no palco do Ginásio do Ibirapuera. 
 
E foi um show espetacular, eu posso atestar, com a banda nacional a viver o auge de sua formação como trio, com Rolando Castello Junior, Serginho Santana & Eduardo Chermont, a cumprirem uma apresentação incrível e com direito a um solo de bateria do Junior, aplaudido com ênfase pelas doze mil pessoas aproximadamente que ali encontravam-se, eu incluso, além de Rubens Gióia e José Luiz Dinola, os meus colegas de banda, e vários amigos que estiveram conosco.
A Patrulha do Espaço em sua fase de ouro como Power-Trio no início dos anos oitenta. Essa formação, com Dudu Chermont, Rolando Castello Junior e Serginho Santana, respectivamente da esquerda para a direita, abriu os três shows do Van Halen em São Paulo, no mês de janeiro de 1983 

Bem, a despeito dessa apresentação memorável, a praxe do show business cumpriu-se e a valorosa banda brasileira tocou com cerca de 20% da potência de som e iluminação. Ou seja, depois que os Rolling Stones sentiram-se ofuscados pelo então desconhecido King Crimson, no Hyde Park de Londres em julho de 1969, nunca mais o artista principal quis deixar bandas de abertura tocarem com o mesmo equipamento de som e iluminação e assim, mesmo que a banda de abertura faça um show maravilhoso, quando a banda principal entra em cena, o impacto sonoro e visual é tão grande que automaticamente isso faz com que se apague da memória da plateia, a apresentação do artista emergente que abriu a noite. 
 
Portanto, quando o show do Van Halen iniciou-se, a carga sonora e a iluminação foram frenéticas, ou como diz outro amigo meu, e que entende muita da matéria: alucinante!
Diante de tal impacto, claro que o show foi impressionante, pelo aparato todo em si, mas por um fator, ou melhor, dois, que foram méritos do Van Halen e devo ser justo em reconhecer isso: o preparo físico da comissão de frente da banda, falo sobre as personas do baixista, vocalista & guitarrista que ao fazerem um mise-en-scène muito agressivo, com direito a coreografias e acrobacias ousadas, imprimiam um tipo de atração de tirar o fôlego.
 
E segundo ponto, a fama do guitarrista Edward Van Halen como virtuose ao instrumento, era concreta e em meio ao seu frenesi cênico impressionante, a sua performance musical foi igualmente marcante, ao segurar toda a banda nas costas, pois sem outro instrumento harmônico de apoio, Ed representou ali a usina de riffs, bases “ganchudas” e solos virtuosísticos acintosos, tudo ao mesmo tempo. 
 
Ao se considerar que o baixista era bem limitado, praticamente a tocar baixo contínuo sem frasear e o baterista, apesar de manter andamentos acelerados sem oscilações e fazer boas viradas, não era nenhum “assombro” no seu instrumento, dessa forma, o guitarrista segurava tudo ali, sem sombra de dúvida.  
Lembro-me que apenas para o uso do Eddie Van Halen, haviam doze cabeçotes Marshall, com vinte e quatro caixas a formarem os seus gabinetes de amplificadores. Mas na realidade, ele deve ter usado de fato, três no máximo, pois isso já gera uma potência absurda em cima do palco e a bastar mixar essa carga no PA com parcimônia, é mais do que o suficiente para suprir um ginásio daquele tamanho. 
 
O cenário usado foi uma tela imensa cuja ilustração básica simulava mais amplificadores, ao dar a impressão ótica da “montanha” ser ainda maior do que o fora na realidade. E na parte superior, houve a presença de uma tela com uma estampa a retratar um leão dourado, também mote secundário da contracapa do álbum. Pelos cantos, vimos bandeiras vermelhas daquelas de sinalização náutica, pois reproduziam também o visual da capa do mais recente disco: "Diver Down", que conteve essa temática baseada no mundo do mergulho submarino. 
 
A bateria do Alex Van Halen se mostrou descomunal. Foram quatro bumbos com extensão, a formarem portanto, bumbos duplos, um absurdo total.  
 
Como já observei, a movimentação dos três músicos da frente foi tão frenética, que chegara a embaralhar a vista. Os artistas pulavam, faziam acrobacias e sem parar de tocar. Achei o baixista Michael Anthony bastante limitado ao instrumento, mas gostei muito de seus backing vocals afinados, a demonstrar bastante potência vocal, além de sua movimentação esfuziante pelo palco, mas sobretudo, apreciei a sua simpatia.
A espetacular dupla de cantores/humoristas, formada pelo genial Louis Prima e a incrível, Keely Smith, a garota que não sorria... 

O David Lee Roth se portara de uma maneira extremamente divertida. Ele parecia no entanto, mais um entertainer do que um vocalista de Rock. Tanto foi assim que anos depois este artista deu início à sua carreira solo ao regravar um clássico de um artista dessas características (com a música:“Just a Gigolo”), a se tratar-se no caso, do genial cantor/humorista, Louis Prima, que fora basicamente um entertainer à moda antiga, muito famoso na América do Norte, entre os anos 1930 e 1950, e certamente David Lee Roth devia adorá-lo, ao ouvir as suas velhas bolachas da coleção de discos de seus pais e por vê-lo cantar na TV, em programas cinquentistas em preto e branco. 
 
Sobre a atuação de Roth ao vivo, mediante as suas poses acrobáticas e trejeitos, foram engraçados e acima de tudo, ficara a impressão de que ele divertia-se em assumir-se como um canastrão desses que fazem shows com alto teor popularesco em cassinos de Las Vegas. 
 
E o Eddie Van Halen representara sem dúvida a solidez musical da banda, pois a sua guitarra virtuose era incontestável (embora para o meu gosto, isso canse em tese e de fato, eu admito que “orei” aos Deuses do Rock para que o seu solo interminável e sob um volume ensurdecedor, terminasse, com os meus tímpanos em frangalhos ali no ginásio do Ibirapuera), além da sua simpatia e movimentação de palco alucinante. 
 
Quanto ao Alex, o achei um baterista seguro, mas muito simplório para o meu gosto. Particularmente, acho o Rolando Castello Júnior da Patrulha do Espaço, muito superior, tecnicamente. E falo isso de cátedra, pois toquei com ele, Junior, por quase seis anos e sei bem disso, sem exagero. 
 
No cômputo geral, esses três shows do Van Halen marcaram muito para nós, pois dera-nos esperanças de que nem tudo estava perdido no Rock. Haviam artistas ainda a acreditarem nos parâmetros setentistas, mesmo sendo algo bem sutil no caso dessa banda em específico, mais ligada ao Hard-Rock oitentista, uma corrente mais amena do Heavy Metal, naturalmente.
Em suma, saí do Ginásio do Ibirapuera não exatamente a amar tal banda norte-americana, mas aquela predisposição de se imprimir uma movimentação frenética no palco, influenciou-nos ao ponto de poucos meses depois, em julho, quando apresentamo-nos no palco do Sesc Pompeia, em filmagem ao vivo para o programa “A Fábrica do Som”, ao menos de minha parte (e isso é nítido nos vídeos de nossa aparição inicial), a lição de casa foi feita, pois esforcei-me bastante para seguir o parâmetro que assistimos no Ginásio do Ibirapuera sob noites quentes de verão, em janeiro daquele mesmo ano, 1983...
Acima, um dos shows do Van Halen em São Paulo, no mês de janeiro de 1983, com filmagem da Rede Bandeirantes de TV. Eu; Rubens Gióia e José Luiz Dinola estávamos nessa plateia, além de muitos amigos nossos que gravitavam na órbita d'A Chave do Sol.