sábado, 31 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 3 - Por Luiz Domingues

Em termos de estratégia da banda, eu acho que se a língua oficial deste país é o português, não havia justificativa para cantar-se em inglês, a não ser que o artista tivesse planos para fomentar uma carreira internacional. A ideia inicial do Pitbulls seria pleitear um lugar ao sol na cena nacional, portanto, na minha avaliação, deveria cantar em português. Mas as composições eram do Chris, e ele sempre escreveu em inglês, pois falava fluentemente, morou em Londres por muitos anos, e tocara em uma banda famosa da cena punk de lá, o Cock Sparrer.


Chris Skepis fala com sotaque britânico, cockney, e alega que escrever letras em inglês, é muito mais fácil do que português.
Outro dado da época, foi que no início dos anos noventa, havia uma cena, principalmente em São Paulo, com bandas a cantar em inglês, e fortemente influenciadas pelo movimento "grunge" de Seattle / USA. O Pitbulls no seu início, fez inúmeros shows com bandas dessas características. O fenômeno, "Raimundos" foi algo fora desse contexto, e atropelou essa cena de bandas a cantar em inglês. 



Na segunda foto, um click proveniente da primeira sessão promocional feita pela banda, em abril de 1992. Foto : Maura Cardoso
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Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 2 - Por Luiz Domingues


Em janeiro de 1992, recebi o telefonema do Chris Skepis, que falou-me de sua intenção em formar uma nova banda com som autoral, onde dizia já possuir um material grande, composto, e que estava com dois outros músicos já contatados : outro guitarrista, e um baterista. Mostrei-me interessado em conhecer o trabalho, e marcamos um ensaio em um estúdio perto da Estação Santa Cruz, do Metrô. Ao chegar lá, gostei do astral dos rapazes.



O baterista, Juan Pastor, era estudante de jornalismo, e estagiário na rádio 89 FM, que à época, era a principal rádio Rock de São Paulo.



E o guitarrista, chamado, Luciano Curvello Cardoso, apelidado como, "Deca", que havia morado muitos anos em Madrid, e na volta à São Paulo, havia passado por uma banda Pop Rock sem grande relevância (chamada : "Trama"). Minha primeira impressão do som, foi que pretendiam fazer um trabalho "indie" (uma vertente oriunda do Pós-Punk oitentista), mas não exatamente a descambar para aquelas esquisitices peculiares desse espectro. O guitarrista, Deca, tocava de uma forma bem Rock'n Roll tradicional, com muita influência de AC/DC, e o Chris, apesar de insistir em perseguir a roupagem moderna, era um expert em Rock 1960 / 1970, ao possuir uma coleção de vinis gigantesca, inclusive, e uma enorme coleção de Bootlegs dos clássicos. Só com os Rolling Stones, ele devia possuir mais de cem 100 discos pirata, ao perfazer um material incrível. Gostei do astral dos rapazes e apesar de não ser o som dos meus sonhos, eu estava há bastante tempo sem um trabalho fixo autoral. Sendo assim, logo no primeiro contato, aceitei a oferta e formou-se aí o Pitbulls on Crack. Mas o nome só veio algum tempo depois. Mais ou menos em março de 1992, é que mediante uma lista e votação, decidiu-se por esse nome. 


A ideia original saiu de uma foto que o Chris viu em uma revista norteamericana, onde Steven Tyler (vocalista do Aerosmith), aparecia com uma camiseta, cuja estampa tinha essa frase. Particularmente, achei feio e votei contra, mas os outros nomes propostos eram ainda piores, como "Clap Queen" (Rainha da gonorréia), e outros piores. A intenção seria mesmo ser em inglês e ser agressivo, ultrajante. Nada a ver comigo... mas...
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Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 1 - Por Luiz Domingues



Começo aqui, uma nova etapa da narrativa. Vou contar a minha história com o Pitbulls on Crack, banda na qual passei quase os anos noventa, inteiros. Bem, no caso do Pitbulls on Crack, foi minha volta a uma banda, depois de um hiato de quase três anos, após ter saído d'A Chave / The Key, em 1989. Depois disso, fiquei até o início de 1991, a realizar trabalhos avulsos, a ingressar em projetos que não evoluíram, e até show tributo, realizei. Paralelamente, dedicava-me às aulas de baixo, que ministrava desde 1987. E foi nesse show tributo que fiz em 1990 ("Electric Funeral", um tributo ao "Black Sabbath", episódio relatado no capítulo dos "Trabalhos Avulsos"), que conheci o vocalista / guitarrista / compositor, Chris Skepis.



No início de 1992, ele convidou-me a integrar uma nova banda que estava a formar, e eu aceitei a empreitada, pois a proposta era totalmente diferente de tudo o que eu realizara anteriormente, e assim, eu achei que ao empreender algo na contramão de minhas idiossincrasias, poderia colher frutos mais saborosos do que eu havia colhido com A Chave do Sol, na década de 1980. Se encaixava-me musicalmente ? Acredito que dois fatores incentivaram-me, a aceitar entrar nessa banda : 



1) A proposta acre do som, por direcioná-lo para o lado oposto de tudo em que eu acreditava, ou seja, a aposta no som que potencialmente agradaria o tipo de crítico musical, que pensava o contrário de minhas convicções, e; 



2) O fato dos rapazes ser absolutamente divertidos. O Pitbulls foi a banda onde mais ri, pois ninguém falava sério ali. Era um show de sarcasmo; piadas, imitações, ironias... nos cinco anos em que toquei nessa banda, lembro-me de um ou dois climas tensos, no máximo. Foi uma banda desopiladora de fígado...


 
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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 3 - Por Luiz Domingues

Realmente... a filtragem era necessária, mas sem maiores rigores. Mesmo por que, não havia meios para filtrarmos ainda mais. Foi simples : se demonstrasse interesse na carta, ao mencionar que queria tocar, ou que já possuía uma banda, mostrava-se o suficiente para nós. Tive uma sensação muito estranha na primeira aula. Isso por que em 1983, eu havia tido uma experiência como professor, mas de uma forma diletante. Eu ministrara algumas aulas de teoria musical para um guitarrista de uma banda, que gravitava na órbita d'A Chave do Sol (Archibald's Band, e que posteriormente mudou o seu nome para : "Fênix"), um rapaz chamado : Iran Bressan. Foram poucas e gratuitas. Mas nesse outro momento, seria diferente, pois estava a cobrar, e assim adquiri a responsabilidade em passar informações com muito maior conteúdo e responsabilizar-me pelo aprendizado dos alunos.

Posto isso, digo que a primeira aula foi muito estranha, pois havia absorvido a realidade de que estava a assumir-me como um professor, e foi algo inusitado na minha trajetória musical. Para efeito de informações deste relato, devo alertar o leitor, que infelizmente, perdi o meu caderno com anotações sobre as aulas. Da maioria dos alunos, eu simplesmente esqueci seus nomes e datas precisas de seu início e término de aulas comigo.
Peço desculpas antecipadas à todos que não mencionarei nominalmente neste relato, por essa falha. Citarei alguns que foram mais marcantes, mediante histórias engraçadas  e / ou inusitadas, mas ficarei a dever o nome da maioria. E em alguns casos, citarei apenas nome; ou sobrenome ou ainda, talvez só um apelido, fruto dessa perda lastimável de meu caderno, que muita falta faz agora que trato deste capítulo da minha sala de aulas. Lembro-me que as primeiras aulas em julho de 1987, foram ministradas no escritório do Zé Luiz Dinola, em Pinheiros, onde ele também ministrava as suas aulas de bateria.
A fachada do Edifício Dinola, pertencente à família do José Luiz. Na frente, a loja de produtos finos de cerâmica e porcelana, da irmã dele, Beth Dinola. Em uma das salas, ficava o escritório do José Luiz Dinola.


Mas logo em agosto, mudei-me para a casa do Beto Cruz, para tornar assim, tal endereço, a minha a sala de aulas, dali, até meados de 1989.


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Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 2 - Por Luiz Domingues

Com o tempo, criei exercícios, e uma sequência de músicas que aumentava o grau de dificuldade, à medida que os garotos avançavam. Além das lições de música, tornei-me também, conselheiro; psicólogo prático; conselheiro matrimonial; amigo, e em alguns casos, amigo de alguns pais.

No início, nesse período entre 1987 e 1990, principalmente, 99 % dos alunos tinham orientação em termos de Heavy Metal ou Hard Rock oitentista.
Só a partir de 1992, foi aparecer uma nova safra, com garotos muito interessados em Rock 1960 / 1970, principalmente, e claro que foi um alívio em meu caso, pois essa é a minha predileção natural. Ministrei aulas na base da intuição, mesmo por que, cada garoto era um caso diferente, pois nem todos estavam na estaca zero do aprendizado.

Logo de início, aprendi que na primeira aula precisava avaliar o aluno, para ver em que estágio ele encontrava-se. Isso tornou-se uma praxe que usei por doze anos. Os primeiros que apareceram em 1987, mostravam-se mais experientes, não eram novos no aprendizado. Então, já parti de uma etapa mais avançada. 

E antes de prosseguir, preciso recuar um pouco no tempo para dizer como anunciei pela primeira vez que ministraria aulas. Foi através de uma matéria na revista, "Metal" (edição n° 37, de 1987), onde o jornalista, Sérgio Martorelli, publicou as últimas notícias sobre a nossa banda, onde disse que eu (Luiz Domingues); Beto, e Zé Luiz Dinola, estávamos a ministrar aulas.
Como maneira prosaica para estabelecer-se contato, saiu publicada a caixa postal da banda. Dessa forma arcaica, ficávamos a esperar pelas cartas de interessados, e só aí ligávamos para eles. Se fosse hoje em dia, com internet disponível e baseado na fama que a banda tinha, arrumaríamos dúzias de alunos, mesmo por que, mesmo assim, na base do contato paleolítico que tínhamos, muitos surgiram, interessados nos três "professores". Daí o fato de filtrarmos primeiro os interessados, antes de marcar aula, e fornecer-lhes o endereço. Muita gente só queria conhecer-nos, pedir discos etc.
Agora, como triagem, não havia requintes maiores. Líamos as cartas dos interessados e os que demonstravam realmente interesse em aulas, eram contactados por telefone, ou mesmo por resposta via carta. Tempos paleozoicos...

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Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 1 - Por Luiz Domingues




Uma etapa muito diferente na minha trajetória, iniciou-se no segundo semestre de 1987. Sendo assim, minha atividade como professor, aconteceu paralelamente ao fim das minhas atividades com "A Chave do Sol"; atravessou o limbo em que fiquei entre 1989 e 1991; passou pelo "Pitbulls on Crack" (onde teve seu apogeu com a formação de meu exército de alunos "Neo-Hippies"); viu a formação do "Sidharta", e encerrou-se, logo que eu ingressei na "Patrulha do Espaço". Em resumo, ministrei aulas de julho de 1987, a abril de 1999. 
Com 12 anos de aulas, acumulei muitas histórias, e procurarei lembrar delas, neste capítulo. Comecei por necessidade, pois "A Chave do Sol" estava sob um período muito difícil na metade de 1987, e nessa perspectiva sombria, precisei criar uma fonte de renda alternativa. 



No início, comecei a ministrar aulas no velho escritório onde funcionou por anos o fã-clube d'A Chave do Sol, na Rua dos Pinheiros, no bairro de mesmo nome, na zona oeste de São Paulo.
Mas isso durou pouco, pois o espaço estava compartilhado gentilmente peço seu proprietário, Zé Luiz Dinola, onde ele também ministrava suas aulas de bateria, mas por ser pequeno em espaço físico, não comportava outra agenda, no caso, a minha. Fiquei ali por um mês, apenas, e minha primeira aula foi para um rapaz chamado, Zé Roberto, que demonstrava ter um nível avançado, e eu não tinha muito o que ensinar-lhe, portanto. Esse rapaz ficou nas minhas aulas por dois meses aproximadamente, apenas. Tive que buscar outro espaço, e daí, o mais lógico foi ter aceito o convite do vocalista d'A Chave do Sol, Beto Cruz, que também estava por iniciar atividade como professor, ao ministrar aulas de guitarra e vocalização, para eu poder também ministrar as minhas aulas de baixo em sua residência, visto que os ensaios da banda também haviam sido transferidos para tal local, e meu amplificador ficava ali alojado. Ele morava no bairro Jardim Bonfiglioli, na zona sudoeste de São Paulo. Para quem não conhece São Paulo, eu situo o bairro como vizinho do bairro do Butantã, perto do Instituto do mesmo nome, e do campus principal da USP, a Universidade de São Paulo. Era conveniente assim, pois todo o equipamento da banda estava lá, visto que estávamos a ensaiar ali, desde o início de 1987. 

Como eu não tinha nenhuma formação teórica mais avantajada, além do mínimo necessário, passei a desenvolver um método próprio, baseado em minha formação de Rock  das décadas de 19 60 e 1970. Meu método, forjado de uma forma natural, foi 90 % baseado no desenvolvimento da percepção do aluno, e com duas características que são minhas, naturalmente: a paciência, e o incentivo a cada progresso, por mínimo que fosse. Talvez por isso, mesmo por ser um professor despreparado, teoricamente, eu acabei por apresentar tal longevidade como educador informal, pois sempre respeitei o limite de cada um, sem cobranças ou constrangimentos, como muitos professores costumam exercer em sua didática, mais baseada em desafios.
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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 13 - Por Luiz Domingues

         Primeira foto da banda, publicada na imprensa grande
 
Então, a boa nova que a dona Sabine comunicou-nos, foi que ela tinha um contato no jornal, "Folha da Tarde" (que hoje em dia, chama-se : "Agora"). Dessa forma, os shows dos dias 22 e 23 de outubro de 1982, tiveram o reforço de uma mini entrevista com direito a foto, um marco para uma banda com tão pouco tempo de vida. Fomos à redação do jornal (que pertencia à Folha de São Paulo), na Rua Barão de Limeira, em Campos Elísios, zona central de São Paulo, e fomos fotografados lá, in loco. Já como trio, sem a ilusão em contar com Percy Weiss, e uma particularidade pessoal : é a única foto em que estou "barbudo", no portfólio inteiro d'A Chave do Sol. Estava a cultivar uma barba cerrada, há semanas, e no início de 1983, cortei-a. Infelizmente, essa matéria não surtiu efeito prático na bilheteria dos dois shows, o que foi absolutamente previsível. O importante, foi que essa oportunidade que surgiu, proporcionou-nos a nossa primeira matéria publicada em jornal de grande circulação, e somados aos quatro shows que havíamos feito, além de uma aparição relâmpago na TV Globo, foi uma somatória muito animadora para nós que éramos garotos, e em tão pouco tempo com atividades. Enquanto isso, novas músicas surgiam : "Luz", um Rock'n Roll tradicional, com letra um tanto quanto esotérica, cujo teor, quase ninguém percebe, e "Intenções", um Jazz-Rock com a sua letra a evocar a ecologia. 
"Luz" seria o carro-chefe do nosso primeiro compacto, que lançaríamos em 1984, e "Intenções" nunca foi gravada, embora eu a considere uma música muito boa, e que deveria ter sido gravada. Fora disso, ainda tínhamos a meta em providenciarmos um vocalista para tornar a banda, um quarteto. Foi quando o Rubens teve uma lembrança a respeito de uma pessoa que já havia visto e ouvido cantar. Ele sugeriu, e surgiu uma pequena polêmica, por conta do inusitado em torno dessa pessoa.
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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 12 - Por Luiz Domingues



Conforme disse no final do último trecho deste meu relato, ficamos quatro dias a interpretar aquele convite do Percy, como uma real possibilidade dele ter gostado da banda, e estar a delinear-se então, a sua entrada oficial como membro de nossa banda. Não pensávamos nessa questão da banda ser conhecida como "a banda do Percy", como hipótese, caso isso concretizasse-se. Contávamos sim, em ter um grande vocalista, com muito mais currículo, e bagagem do que nós, mas sem achar que ele ofuscar-nos-ia, nesses termos, pois tínhamos confiança no potencial da banda.
Então chegou o dia da apresentação no bar 790 (que aliás, havia mudado o seu nome para : "Pierrot Lunar"). Apesar de ser uma quarta-feira, a casa estava lotada, pois tratava-se de uma festa fechada. No intervalo da apresentação da banda cover, "Áries", entramos e tocamos quatro músicas, infelizmente só covers, pois o Percy queria estar o tempo todo no palco, e nossa única música própria nesse instante, fora a instrumental, "18 Horas". E quando estávamos para entrar no palco, notamos um pequeno alvoroço na casa. Quando demo-nos conta do que ocorria, tratava-se de uma equipe de filmagem da TV Globo, e o apresentador, Goulart de Andrade, que fazia enorme sucesso naquela época, com seu "Comando da Madrugada". 
Ele filmou um pouco, "A Chave do Sol" a tocar e entrevistou algumas pessoas presentes. Os membros da banda,"Áries", ficaram revoltados, pois a equipe da Rede Globo, filmou bem na hora em que estávamos nós no palco, e não eles, e pior : em pleno uso do equipamento deles ! Depois que tocamos, o Percy agradeceu a nossa participação e disse-nos que achava a banda interessante, mas tinha outros projetos etc. Ficamos resignados, pois apesar de nutrirmos esperanças, esse foi um desfecho previsível. E essa foi a nossa primeira aparição na TV, embora eu não a tenha em meu acervo. Aliás, mais da metade das nossas aparições foram perdidas, infelizmente. Mas isso é assunto para outra hora. 
Aparecemos então na TV Globo, no sábado subsequente, mas sem citar-se o nosso nome e a tocarmos : "Black Night", do Deep Purple. Em uma semana, foram dois shows, e uma aparição na TV, convenhamos, nada mau para uma banda que começara em menos de um mês antes ! Animados, saímos a marcar mais shows, e por assumir o Rubens, como vocalista, pelo menos até quando encontrássemos um especialista para a função. Seguiu-se então mais dois shows no Café Teatro Deixa Falar, nos dias 22 e 23 de Outubro de 1982, desta vez sem o impacto inicial da estreia, e com público reduzido: dez pagantes em cada dia. Mas ainda em outubro, uma boa nova proporcionada pela Dona Sabine, surgiria...

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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 11 - Por Luiz Domingues


Então chegou o dia da grande estreia ! Por volta das 16:00 horas,  estávamos com o palco montado. Às 20:00 horas, já estávamos nas dependências do Café Teatro Deixa Falar, prontos. E às 21:00 horas, subimos ao palco para o início do show. Noto com grande tristeza que fora o início dos anos oitenta, e ainda tínhamos bons hábitos adquiridos nas duas décadas anteriores, como por exemplo, começar shows no padrão das peças teatrais, às 21:00 horas. No avançar da década de oitenta, isso diluir-se-ia, e nos anos noventa, já imperou o costume que permanece até hoje (anos 2000), dos shows começar na madrugada, quando o público já está embriagado, e não quer saber de música, mas só de zoeira... 
Mas de volta à narrativa, a primeira música foi "Purple Haze", do Jimi Hendrix, seguida de "Foxy Lady" e "Wild Thing", com o Rubens a cantar. O Percy quis começar apenas na quarta música, para entrar de uma forma triunfal, e aí tocamos "Black Night", do Deep Purple. A última música, foi "Listening to you", do The Who.
Deixamos a nossa primeira composição própria, "18 Horas" para o final do show, e apreciamos demais a acalorada recepção do público.

Claro, tal contingente fora formado exclusivamente por amigos e parentes, mas foi caloroso mesmo, além das palmas educadas de praxe. O público pagante foi formado por aproximadamente sessenta pessoas, e com a renda, conseguimos pagar o cachet "astronômico" que o Rubens havia prometido ao Percy. Sobrou uma parcela ínfima, que guardamos para investir na banda. Uma surpresa agradável surgiu do Percy, ainda naquela noite. Ele convidou-nos para tocar em rápida participação que ocorreria no intervalo da apresentação de uma banda cover, relativamente famosa da época, chamada "Áries", no bar "790", no bairro do Itaim-Bibi, aliás, mesmo bairro do Deixa Falar. Essa apresentação ocorreria na quarta-feira posterior, e é claro que aceitamos !
Por quatro dias, ficamos a elucubrar aquele gesto, naturalmente a pressupor que o Percy gostara de nós, e que seria o nosso vocalista oficial, doravante. E nesse primeiro show, conheci o poeta, Julio Revoredo, meu amigo desde então, e que tornar-se-ia daí em diante, parceiro da Chave do Sol; Sidharta e Patrulha do Espaço, com várias letras a compor músicas nossas.

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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 41 - Por Luiz Domingues

Após essa catarse pela via de um blues sessentista, o clima voltava ao presente (anos 1980), com uma música do tecladista, João Lucas. Tratava-se de um Rock oitentista, com certa modernidade "New Wave", e cujo tema da letra foi uma crítica aberta aos políticos, e sua sanha pelo poder. Nessa música, o Pituco Freitas retomava o vocal, enquanto o Laert voltava aos bastidores para livrar-se do visual de Joe Cocker, com o qual atuara na canção anterior. A letra da música, "Deve ser Bom", era explícita, sem sutilezas e até hoje não sei como foi aprovada pela censura.
Talvez por estarmos nos estertores da ditadura, pois se fosse um pouco antes, certamente que a "Dona Solange", teria passado a famosa tesoura, ou simplesmente a vetado. O seu som, era bem embasado harmonicamente, mas com o arranjo a satirizar a New Wave do início dos anos oitenta. Eu costumava tocar como o baixista do Duran Duran, ao exagerar na dança New Wave, para satirizar aquele modismo todo.
A seguir, a letra de "Deve ser Bom":

Deve ser Bom (João Lucas)

O meu sonho maior é ser político, bem famoso
E desfrutar de tudo o que vier
Do modo que o Brasil ainda raquítico, comatoso,
A ordem é um salva-se quem-puder

No ato, eu emprego toda a família e os amigos
Garanto o futuro dessa gente
Isso sem sonhar c'a maravilha, não consigo,
Que é um dia ser o presidente

Tudo isso sem falar em outras mordomias e salários,
Que não menciono agora por prudência
Trabalhar, dar duro mesmo, nem um só dia, é pra otário
E ainda ser chamado de excelência

Deve ser bom processar jornalista
E se fingir caluniado
Deve ser bom taxar de comunista
Quem não for mesmo um aliado

Deve ser bom um carro oficial
Levando a gente passear
Deve ser bom a foto no jornal
Com "um porção" de militar

A seguir, uma vinheta de áudio, com três piadas curtas, dava-nos o tempo de sair do palco para trocar a vestimenta. Na verdade era só para acrescentar um ridículo paletó, com um corte "futurista" e cor de abóbora...

Voltávamos ao palco para a música seguinte que nos levava direto à Jovem Guarda dos anos sessenta...

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Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 40 - Por Luiz Domingues

A letra de "Amor à vista" :

Amor à vista (Laert Sarrumor)

Oh ! Baby, venho lhe dizer :
Você tem ganho pouco e a situação está cada vez mais difícil
Os tempos são de crise e você tem que se desdobrar (uou, uou)

Você tem que garantir nosso sustento e o de nossos filhos
Tente sair com mais encanto, com mais graça e mais brilho (uou, uou)

O desespero é geral, a fome é internacional
E nos consome pouco a pouco
Enquanto você trabalha , eu leio o jornal
E sinto pena desse mundo louco

Nas esquinas, o que mais lhe preocupa é o presente
Mas o futuro não está nada promissor
Por isso você tem que insistir
Tente calar a voz que vem do seu interior

Baby, você me ama e eu sei disso muito bem
E sei até que você sabe que eu te amo muito, também
Mas baby, você tem que faturar
Nunca esqueça, amor : que eu sou seu homem, seu cafetão, seu rufião
Ah...eu sou seu o seu gigolô !

Oh ! Baby, procure enxergar
Nós moramos em São Paulo e aqui a oposição está no poder
Mas o colapso econômico, isso ninguém pode resolver (uou, uou)

Oh ! Baby, eu votei no PT
Que é que tem ? Gente baixa também pode ter consciência
Eu acho até que todas vocês tem mais é que se unir pra evitar
nossa falência

E tem o lado social, fortalecer o movimento
E até sindicalizar
Pagar INPS e ter horário certo para o trotoar
Eu sei que o amor não se vende mas essa é a mais antiga profissão

Por isso, você tem que nos garantir
Você deve oferecer, ah ! você tem que insistir
Tente calar a voz que vem do seu interior
Baby, você me ama e eu sei disso muito bem
E sei até que você sabe que eu te amo muito também

Mas baby, você tem que faturar...
Nunca esqueça, amor : que eu sou seu homem, seu cafetão, seu rufião
Ah ! eu sou o seu gigolô ! 


 Continua...