segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Almas Perturbadas - Por Luiz Domingues

Em um país carente, ante a necessidade de lutar para se alimentar e ter um abrigo mínimo para dormir, se proteger do frio, da violência social e poder ter acesso às condições sanitárias mais básicas, ter acesso à educação é um luxo. Tal realidade é de uma obviedade tão grande que chega a ser um disparate que não se considere tais condições adversas para a maioria das pessoas que sofrem para buscar uma melhor condição de vida na sociedade, mas sim, a insensibilidade existe e é muito maior do que possamos imaginar, da parte dos que tem uma condição melhor e que, pasmem, desprezem as pessoas carentes em geral, como se tal falta de recursos para ascender socialmente, fosse um castigo justo, por uma culpa invisível que elas carreguem pelo simples fato de terem nascidas pobres.

Foi assim então que um grupo de amigos melhor situados na escala social, teve acesso a uma gravação de um recado por um rapaz humilde, direcionado para o seu patrão e cuja prosódia absolutamente equivocada se tornou um objeto de escárnio imediato a alimentar a soberba desses rapazes.

Nessa gravação, o rapaz humilde falou sobre alguns materiais e ferramentas que precisava para executar um serviço de jardinagem e ao se empolgar na mensagem, muito provavelmente influenciado por motivações religiosas, tentou fazer uma exaltação aos vegetais em geral, como um exemplo da magnitude da criação do Deus em que acreditava e assim, a sua completa falta de recursos linguísticos, aliada ao fator inoportuno do seu improviso, o levou a desferir um discurso patético, é bem verdade.

Entretanto, esses rapazes soberbos que tiveram acesso à gravação, nem o conheciam e pior, impiedosamente relevaram sobre a intimidade invadida e sequer levaram em conta a condição educacional parca do rapaz em questão e não se furtaram à prática odiosa de disponibilizarem tal gravação para inúmeras pessoas da comunidade e pior, fomentar a discussão sobre ser tal gravação, um hilário exemplo de uma pessoa imbecilizada a tentar declamar um poema de cunho religioso a apontar para a dislexia completa.

Tais rapazes ouviam a gravação exaustivamente e gargalhavam escandalosamente a cada palavra pronunciada de forma equivocada pelo pobre rapaz, sem esboçarem nenhum sinal de piedade, mas apenas a se regozijarem com o discurso mal proferido e certamente muito constrangedor. 

O rapaz que cometeu tal discurso tão equivocado, poderia estudar, melhorar o seu entendimento da gramática, poderia também fazer um tratamento com fonoaudiologia e melhorar a sua dicção, além de buscar amparo na psicologia para se expressar com menos timidez e mais segurança.

Todavia, os rapazes que tanto se divertiram com a falta de habilidade do orador, dificilmente poderiam melhorar a curto prazo, pois a deformidade da alma é bem mais difícil para ser corrigida. 

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 69 - Por Luiz Domingues

Com uma maior proximidade, marcamos um novo ensaio para o dia 11 de julho de 2021, um domingo, no estúdio Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. A ideia inicial fora ter marcado em algum estúdio localizado nos bairros do Jardim Bonfiglioli, Butantã, Caxingui ou até na Vila Sonia, para ficar mais confortável ao Osvaldo desta feita, porém, todos os espaços que foram tentados demoraram para nos assegurar uma vaga e assim, o Osvaldo fechou com o Espaço Som de Pinheiros e alegou que não se importava em rodar um pouco a mais para atingi-lo. 

Dessa maneira, nos encontramos ali ao final da tarde de um dia marcado pela final ao vivo pela TV da final da Eurocopa (Inglaterra x Itália) e trabalhamos novamente em trio, eu (Luiz), Wilton Rentero e Osvaldo Vicino, quando pudemos reforçar bem as três músicas com as quais trabalhamos no ensaio anterior. 

Da esquerda para a direita: Osvaldo Vicino, Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues), encoberto. Ensaio do Boca do Céu em 11 de julho de 2021 no Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Click e acervo: Luiz Domingues

Dessa forma, "Serena", "Mina de Escola" e "Serena" ganharam ideias boas, inclusive um belo riff feito em dueto pelas guitarras para ornar a introdução de "Mina de Escola" e ao final do trabalho, nós praticamente conseguimos estabelecer um mapa para cada uma.

Da esquerda para a direita: Osvaldo Vicino, Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues), encoberto. Ensaio do Boca do Céu em 11 de julho de 2021 no Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Click e acervo: Luiz Domingues

O ensaio rendeu bem, e tanto foi assim que pela primeira vez nós conseguimos iniciar o resgate de uma música emblemática da nossa banda, o xaxado/Rock'n'Roll: "Revirada", que nos outorgou o segundo lugar no Festival "Femoc" de 1977. Faltavam dez minutos para finalizarmos o ensaio, mas pelo esboço que fizemos, ficou claro que relembraríamos o mote básico da canção e a reconstruiríamos com melhoramentos ao sabor da nossa infinita melhor condição musical no século XXI.

Wilton Rentero e Osvaldo Vicino em confraternização logo após o término do trabalho! Ensaio do Boca do Céu em 11 de julho de 2021 no Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Click e acervo: Luiz Domingues

Combinamos o próximo ensaio para o domingo subsequente, desta feita em algum estúdio da Vila Mariana, o meu bairro, para seguir o rodízio acordado entre nós. Nesse ínterim, dias depois, o Osvaldo me comunicou via rede social WhatasApp, que trabalhara com o prolongamento das letras de "Mina de Escola" e "O Mundo De hoje" e o Wilton também mandou-me um áudio pela mesma rede social a mostrar ideias de arranjo para "Serena".

Da esquerda para a direita: Osvaldo Vicino, Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues), "oldies but goldies" ao final do ensaio. Ensaio do Boca do Céu em 11 de julho de 2021 no Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

Estávamos bem motivados, a cumprir essa missão do resgate da nossa antiga banda e ao vermos a reconstrução das canções a ganhar materialidade visível, foi óbvio que tal sentimento se intensificou!

Continua...

domingo, 22 de agosto de 2021

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 118 - Por Luiz Domingues

Foi ao final de junho que o comunicador, Ibryss Enoch me abordou para que eu intermediasse com o meu amigo, Chris Skepis, a possibilidade de se produzir uma entrevista para o seu programa: "Hipomania", da Webradio Mutante. Eu já havia sido entrevistado em tal programa, em 2020, portanto, foi com prazer que recebi a notícia a dar conta da intenção do Ibryss e assim, eu providenciei o contato para que a entrevista do Chris Skepis fosse viabilizada.

A entrevista se consolidou e mediante uma boa conversa entremeada por muitas músicas da nossa banda que foram executadas, o Chris contou muitas histórias sobre o Pitbulls on Crack e falou também de outros trabalhos seus, a dar conta certamente da sua passagem pela banda britânica, "Cock Sparrer" e também por uma banda que criou após o término de atividades do Pitbulls on Crack, chamada: "Final Fight".

Curiosamente, quando a entrevista foi marcada para ir ao ar no dia 3 de julho de 2021, um outro comunicador, de uma outra emissora (Webradio Plano B), chamado, Rafael Dee, me comunicou que incluiria a música, "Under the Light of the Moon" do Pitbulls on Crack na lista de atrações do seu ótimo: "O Contrário de Nada é Nada", este a se configurar como um programa mais orientado para a produção setentista em via de regra.

Dessa maneira, ao criar uma edição do seu programa para realçar a produção de artistas brasileiros que cantavam em inglês, o Pitbulls on Crack foi lembrado como um exemplo nesse sentido. 

Portanto, com dois programas radiofônicos a citarem e executarem músicas da nossa banda, no mesmo dia, tal coincidência poderia ter sido interpretada como um sinal? 

Pois é, Rockers de orientação sessenta-setentista gostam de idealizar sinais sutis que seriam "mágicos", vindos diretamente dos Deuses do Rock, portanto, eu certamente fiquei feliz por tal coincidência e também animado por ver que essa ambientação repentina em torno da banda, tantos anos depois, poderia mesmo sinalizar uma oportunidade boa para que fossem intensificados os esforços em prol do lançamento de discos piratas conforme eu já estava a planejar e nesta altura, eu já conseguira o apoio do guitarrista Luciano "Deca" para patrocinar em sociedade, tal produção.

O programa "Hipomania" disponibilizou alguns dias depois, o podcasting permanente para a avaliação.

Eis o programa "Hipomania" da Webradio Mutante, edição #69, sob a produção de Ibryss Enoch. Especial com Chris Skepis

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=NCelBR3_vkY

E o podcasting do programa: "O Contrário de Nada é Nada", da rádio Plano B, sob produção e locução de Rafael Dee, também o fez logo a seguir:

https://www.mixcloud.com/rafael-dee-garcia/programa-50-o-contr%C3%A1rio-de-nada-%C3%A9-nada-03072021/?fbclid=IwAR1Ex554dxrygqxGVJYj2RgEOtFVzUCZA87bFYInhOLWbUz1EQu0K6R5xk4

E para reforçar toda essa atmosfera boa em torno da banda, eis que o comunicador Ibryss Enoch presenteou a banda com um belo vídeoclip a conter o áudio da música "Dead News", extraída do CD "Lift Off" que lançamos em 1996.

"Dead News" em vídeoclip lançado em julho de 2021. Criação e edição de Ibryss Enoch

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=mE8ckILWUt0

Sensacional surpresa, eis um clip todo feito com motivações visuais psicodélicas, que veio a calhar com o espírito que a banda evocou em 1996, com resgate sessentista explícito em sua formulação visual, quando do lançamento do CD "Lift Off".

Passado um mês, em 11 de agosto de 2021, eis que o mesmo comunicador, Ibryss Enoch, anunciou o lançamento de mais um clip do Pitbulls on Crack, destra feita a enfocar a música: "Nevermind". 

Para quem leu a minha autobiografia, através dos Blogs ou do livro impresso "Quatro Décadas de Rock", sabe bem que o especificamente no capítulo sobre essa banda, essa canção foi muito emblemática para a carreira do nosso grupo, por conter uma estética bem calcada na moda do Indie-Rock noventista, ou seja, a se revelar como a expressão do que foi o desejo primordial de Chris Skepis ao formatar a banda em 1992, em termos de direcionamento artístico e assim buscar a adequação ao máximo à então modernidade da época, início dos anos noventa.

Portanto, tal canção tem essa característica e embora a banda tenha forçado uma guinada ao estilo Glitter-Rock super setentista logo a seguir, "Nevermind" foi um tema certo em todos os shows, até 1997, enquanto eu fui componente, a demarcar a intenção inicial do Chris Skepis em torno do Indie-Rock da década de noventa, sem dúvida.

"Nevermind" em vídeoclip criado por Ibryss Enoch. Lançado em agosto de 2021

Eis o link para assistir no YouTube:

https://youtu.be/W83tHpj_NVY

Em suma, com tais clips lançados, foram mais sinais então para me fazer crer que o Pitbulls on Crack já estava a criar novidades no século XXI e assim, obviamente que eu me animei ainda mais a acelerar a decupagem do material que eu dispunha para produzir um ou mais discos piratas dessa banda.

Continua...

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 117 - Por Luiz Domingues

Depois de novas atividades com ex-bandas que eu tive, casos de shows e discos lançados com a Patrulha do Espaço, show e single inédito lançado com o Pedra, mais o Kit de discos piratas produzidos e lançados, com a marcação de um show com A Chave do Sol (além da perspectiva de reunião da formação original do Boca do Céu para gravar uma demo ou um disco, quiçá e resgatar o material criado em 1976), eis que nessa altura de 2021, eu já não duvidava mais da possibilidade de que outras bandas em que eu atuei no passado, pudessem gerar novidades e foi o caso do Pitbulls on Crack, certamente, que entrou para esse rol sutilmente em 2020 e no avançar de 2021, abriu campo para vir a se tornar uma real perspectiva nesse mesmo sentido.

A minha entrevista para o programa "Vitrola Verde" do comunicador, Cesar Gavin, justamente com o episódio em que falamos sobre a minha história com o Pitbulls on Crack, lançada em maio de 2020

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=pSsD1id8KuQ

Bem, inicialmente ocorreu que em 2020 a minha entrevista para o espetacular programa, "Vitrola Verde" do comunicador Cesar Gavin, repercutira fortemente e especificamente o capítulo sobre a minha história com o Pitbulls on Crack, chamara a atenção dos ex-companheiros dessa banda e por conta disso, em conversa reservada, o baterista Juan Pastor me disse que um show de reunião da banda seria uma ótima ideia e nessa altura, é claro que após as experiências de reuniões que eu tive com outras ex-bandas, eu também enxerguei com bons olhos tal possibilidade.

Mais alguns meses se passaram e o sucesso retumbante que o Kit de discos piratas d'A Chave do Sol que eu lancei no mercado, abriu o caminho para novas produções e neste caso, eu já pensava em lançar um ou dois discos do Pitbulls on Crack, no caso com gravações de duas apresentações que fizemos em estúdios de emissoras de rádio, em 1993 e 1994, respectivamente. 

Nesse caso, mesmo ainda sem decupar o material, eu já avisara o meu amigo e colega d'Os Kurandeiros, Kim Kehl, que produzira todo o material dos discos d'A Chave do Sol, referente ao Kit de álbuns piratas, sobre a minha intenção de avançar no projeto, com o foco doravante para o material do Pitbulls on Crack. 

Portanto, por conseguinte, se abriu a possibilidade concreta para que eu gerasse novos capítulos com tal banda, mediante boas novidades. Entretanto, não ficou somente com essa questão de possíveis discos piratas a serem produzidos, pois fatos novos surgiram por outros meios e tal profusão de novidades serviu para reforçar ainda mais a ideia de que em 2021 a banda teve um sinal de revitalização muito interessante.

Continua...  

sábado, 14 de agosto de 2021

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 149 - Por Luiz Domingues

Eis que no começo de julho de 2021, finalmente nós concluímos o trabalho de preparação do novo álbum. Foi um dia feliz esse 4 de julho, um domingo em que nos reunimos no Estúdio Prismathias de São Paulo, para ouvirmos o trabalho de masterização do nosso novo álbum. 

Feliz pela conclusão, mas também pela constatação de que o áudio ficou muito bom, a conter timbres muito felizes, execução de ótimo padrão e acabamento de áudio muito bom, proporcionado pelo engenheiro de áudio e proprietário do estúdio, Danilo Gomes Santos. 

Danilo Gomes Santos, o técnico de áudio e proprietário do Estúdio Prismathias de São Paulo, a trabalhar na masterização do nosso disco em 4 de julho de 2021. Kim Kehl & Os Kurandeiros a masterizar o novo álbum no estúdio Prismathias de São Paulo em 4 de julho de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues

Estivemos em peso para acompanhar essa última etapa, menos o tecladista Nelson Ferraresso, que não teve condições pessoais para estar presente conosco nessa etapa. 

Na primeira foto, Carlinhos Machado (sentado) e Phill Rendeiro (em pé). Na segunda foto, Kim Kehl. Kim Kehl & Os Kurandeiros a masterizar o novo álbum no estúdio Prismathias de São Paulo em 4 de julho de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues 

Mediante pequenas observações pontuais, a abrir a mixagem rapidamente, tais melhoramentos sugeridos por nós foram rapidamente sanados pelo Danilo Gomes Santos. Feito isso, faixa a faixa, fechamos a masterização do material e muito satisfeitos pelo resultado do trabalho, graças à ótima atuação do Danilo na operação do áudio em todas as etapas da gravação desse disco.

Gravamos as músicas: "Cidade Fantasma", "Gasolina", "Noite de Sábado", "São Paulo" e "Viagem Muito Louca". Aliás, nesse mesmo dia, ali no estúdio, nós conversamos sobre a questão da arte de capa e contracapa e certamente sobre o título do álbum e o Kim sugeriu: "Cidade Fantasma", nome de uma das músicas e ideia simbólica para fazer alusão à pandemia mundial da Covid-19 que enfrentamos, com direito à paralisação das atividades, com quarentena. 

A letra dessa canção, não trata desse aspecto, pelo contrário, é uma brincadeira sobre fantasmagorias, em tom de realismo fantástico, mas no campo subliminar, a alusão à cidade vazia, com as pessoas recolhidas em seus lares, nos pareceu interessante. Portanto, nesse dia, ficou pré-estabelecido que esse seria o nome do disco, oficialmente.

Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues), a escutarmos o trabalho de masterização. Kim Kehl & Os Kurandeiros a masterizar o novo álbum no estúdio Prismathias de São Paulo em 4 de julho de 2021. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

E em meio a essa alegria pelo trabalho finalizado no estúdio e sobretudo pela constatação da sua qualidade em termos de resultado final de áudio, nós ficamos contentes com o fato desse disco ter sido planejado desde o início de 2020, todavia brutalmente paralisado pela pandemia mundial do Coronavírus/Covid-19. 

Só conseguimos marcar ensaios no final do ano de 2020 e início de 2021, com muitos protocolos e medo, sim, pela idade que já tínhamos (nós, os membros mais velhos) e sem perspectiva de vacinação naquele momento, foi um risco que corremos, mesmo ao usarmos máscaras, mantermos o distanciamento estratégico entre nós e a constante lavagem de mãos com álcool em gel. 

Só conseguimos entrar em estúdio para gravar o disco, enfim, no mês de fevereiro e somente em maio concluímos as gravações das vozes e backing vocals. 

Em junho, fizemos muitas audições das mixagens, cada um de nós, os membros, em nossas respectivas residências, a ouvirmos as provas que o Danilo nos enviara e a lhe respondermos com relatórios a conter observações, correções pontuais e tudo mais.

Portanto, em 4 de julho de 2021, ficamos muito felizes por termos concluído esse trabalho, também pelo aspecto da superação que ele representou para nós.

Da esquerda para a direita: Danilo Gomes Santos, eu (Luiz Domingues), Kim Kehl, Phill Rendeiro e Carlinhos Machado. Kim Kehl & Os Kurandeiros a masterizar o novo álbum no estúdio Prismathias de São Paulo em 4 de julho de 2021. Click (selfie), acervo e cortesia: Luiz Domingues

Continua...

sábado, 7 de agosto de 2021

Imediatismo - Por Telma Jábali Barretto

Normalmente oposto de lerdeza que, como tudo na vida, tem lá seus momentos em que, provavelmente, seja muito bem-vindo e sim! quando estamos na dor (física ou emocional onde queremos alívio imediato...) e, ainda e mesmo assim, a urgência e prontidão, parte ou primas irmãs dessa rapidez pedem sempre atenção. 

Fato é que vivemos de tal forma, em linhas bem gerais, que essa atitude é quase também bem aceita com naturalidade o que, de nossa percepção, talvez mereça um melhor olhar e cuidado. Muito hoje convida a isso pelos caminhos que viemos evoluindo pelas vias maquininhas, mídias mágicas que tanto nos servem fazendo que um toque, dígitos acabem sendo suficientes para obtermos aquilo desejado. A pergunta e questionamento é tudo mesmo pode ser satisfatoriamente atendido com agilidade ou...muito daquilo que mais amamos, alimentamos e, mais que isso, valorizamos é assim respondido, suprido? 

A grande maioria de nós gosta de ser ouvido com paciência, atenção e cuidado, não só por aqueles próximos, digo, parentes e amigos, mas e também, principalmente, tantos e outros que das mais diversas formas nos atendem, satisfazendo, quando necessário, quanto a coisas, objetos que consumimos, mas e sim e muuuitttto em aspectos emocionais, racionais e até e porque não nas elucubrações e assombrações mais interiores. 

Claro que temos aí profissionais para isso e quão eficientes são... e como não constatar que nossas maiores caraminholas passam pela carência daqueles que, com zelo e respeito, ouçam, sintam e com isenção e empatia aqueçam contatos, trocas e com paciência (paz ciência) e disponibilidade demonstrem carinho buscando, verdadeiramente, acolher estando/sendo razão desta ou daquela fala, ação, posicionamento ou silêncio desvelado ou...denunciador... quem sabe e até mascarado...?!... 

Muitas são as linguagens e é preciso tempo, feeling e interesse calmo para absorver e corresponder. Não precisamos de sensibilidade psíquica, mediúnica ou surreal para perceber...basta um pouco de nos retrairmos, recolhermos e, finalmente, ver e dar aos outros espaço necessário para que existam diante de nós, com suas urgências ou lerdezas, em seus próprios passos e tempos, sem que as nossas circunstâncias e motivos reinem absolutas e omnipotentes (quase sempre bem apoiadas em muitas e bem justificadas razões de ser...) sobre a dos demais contínua e ininterruptamente! Fraterno conviver (com viver) viver ... existir!

 

Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira civil, é também uma experiente astróloga, consultora para a harmonização de ambientes e instrutora de Suddha Raja Yoga. Nesta reflexão, ela discorre sobre a questão do imediatismo da vida, que pode eventualmente nos desviar das questões mais importantes que precisamos nos ater. 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Sem Limão Não Há Limonada - Por Luiz Domingues

Waclaw foi um menino que desde pequeno mostrou habilidade para lidar com a madeira, ao construir os seus próprios brinquedos, ainda que de forma rudimentar, sem técnica alguma e a usar artefatos improvisados como ferramentas. 

Para reforçar a ideia de que esse talento nato a apontar uma vocação tão natural, fora totalmente espontâneo, corroborou o fato de que Waclaw não era filho, neto ou sobrinho de algum marceneiro, carpinteiro e tampouco algum artesão que o influenciara e pelo contrário, ele simplesmente costumava pegar pequenos tocos de madeira que achava em sua casa e com eles fazia carrinhos, caminhões e outros brinquedos rústicos é bem verdade, mas fidedignos em seu formato e com eles brincava.

Bem, por sua origem pobre em um vilarejo do interior da Polônia, se pode afirmar que esse talento garantiu que ele tivesse brinquedos na tenra infância, pois o seu pai não reuniria mesmo recursos para comprar brinquedos em lojas, portanto, veio a calhar.

Daí em diante, o óbvio aconteceu, ou seja, à medida que cresceu, ele se aperfeiçoou, mesmo que de forma intuitiva, visto não ter condições para fazer um curso profissionalizante. No entanto, já adolescente, a sorte surgiu quando um marceneiro que era famoso no vilarejo vizinho, lhe ofereceu uma oportunidade, ao lhe convidar para ser o seu aprendiz. Ora, a chance da vida para o menino humilde, ele mal pode acreditar que teria essa chance, mas uma segunda informação que recebeu do velho marceneiro, o desconcertou.

Ocorreu que esse mestre marceneiro o convidou, no entanto com uma condição: que o jovem aprendiz usasse apenas as suas próprias ferramentas na oficina, pois estaria terminantemente proibido que usasse qualquer ferramenta que fosse dele, o marceneiro veterano. De fato, a se pensar nesse senhor, a sua fama de ser apegado às suas ferramentas era notória em toda a região, e nem mesmo os seus filhos ele permitia que chegassem perto de tais artefatos.

Waclaw foi da euforia ao desespero em questão de segundos, visto que nunca tivera uma ferramenta profissional para trabalhar e até aquele ponto, só usava artefatos improvisados e até mesmo improváveis para exercer a sua marcenaria tão rudimentar.

Extremamente preocupado com a possibilidade concreta de perder a grande oportunidade de sua vida, visto não ter recursos para comprar as ferramentas básicas, ele chorou, ao se sentir humilhado pela vida. Cabisbaixo, o jovem foi para a sua casa desiludido e ao comunicar a situação aos seus pais, se pôs a lamuriar.

Foi quando a sua mãe lhe disse que a única saída seria apelar para o seu avô e tios que detinham uma melhor condição de vida. Uma pequena convulsão familiar se instaurou no entanto, pois fazer contato com a família da matriarca, era considerada um tabu, visto que para se casar, ela brigara com o seu próprio pai e irmãos e em represália, por não gostarem do seu noivo, estes juraram jamais visitá-la e que se considerasse doravante como persona non grata da família.

Entretanto, ela se provou resoluta, ao pensar na felicidade do seu filho e assim, lançou a ideia, que de pronto foi rechaçada pelo marido e pelo próprio filho, que nem conhecia o seu avô e tios.

Não foi de pronto, pois essa discussão durou por horas, a alternar momentos de nervosismo, choro e troca de acusações. No entanto, eis que diante da total impossibilidade de haver outro meio plausível para se resolver a questão da aquisição das ferramentas, eis que o pai orgulhoso se conformou e o filho aceitou enfim a proposta da sua mãe.

Dessa forma, ela o instruiu a escrever quatro cartas, uma para o avô e três para os seus tios a explicar-lhes a situação e lhes pedir recursos, compartilhados entre os quatro, para que ele pudesse comprar as ferramentas que necessitava para se colocar como aprendiz do marceneiro.

O avô e dois de seus tios, nem responderam a humilde missiva do menino e apenas um dos tios se dignou a lhe enviar um bilhete sucinto com os seguintes dizeres: "Rapaz: se esforce mais obter algum progresso na sua vida, pois eu achei muita petulância da sua parte me fazer tal pedido".

Bem, resignado com a falta de recursos para obter uma oportunidade mínima de aprendizado, Waclaw fez o que esteve ao seu alcance, como todo menino pobre ao redor do mundo e continuou a trabalhar de forma intuitiva, mediante ferramentas improvisadas e inadequadas para exercer o seu ofício e mesmo com o seu talento bruto, ele jamais conseguiu uma projeção profissional que o alçasse a uma situação melhor e assim sobreviveu como um marceneiro sem meios para executar grandes trabalhos, mas apenas a preparar pequenas peças rústicas e certamente sob baixa remuneração. 

Pois é, apenas contar com o talento nato, vocação e vontade não basta para se conseguir um lugar ao sol neste mundo. Sem recursos mínimos iniciais, ninguém sai do lugar.