quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Sem Limão Não Há Limonada - Por Luiz Domingues

Waclaw foi um menino que desde pequeno mostrou habilidade para lidar com a madeira, ao construir os seus próprios brinquedos, ainda que de forma rudimentar, sem técnica alguma e a usar artefatos improvisados como ferramentas. 

Para reforçar a ideia de que esse talento nato a apontar uma vocação tão natural, fora totalmente espontâneo, corroborou o fato de que Waclaw não era filho, neto ou sobrinho de algum marceneiro, carpinteiro e tampouco algum artesão que o influenciara e pelo contrário, ele simplesmente costumava pegar pequenos tocos de madeira que achava em sua casa e com eles fazia carrinhos, caminhões e outros brinquedos rústicos é bem verdade, mas fidedignos em seu formato e com eles brincava.

Bem, por sua origem pobre em um vilarejo do interior da Polônia, se pode afirmar que esse talento garantiu que ele tivesse brinquedos na tenra infância, pois o seu pai não reuniria mesmo recursos para comprar brinquedos em lojas, portanto, veio a calhar.

Daí em diante, o óbvio aconteceu, ou seja, à medida que cresceu, ele se aperfeiçoou, mesmo que de forma intuitiva, visto não ter condições para fazer um curso profissionalizante. No entanto, já adolescente, a sorte surgiu quando um marceneiro que era famoso no vilarejo vizinho, lhe ofereceu uma oportunidade, ao lhe convidar para ser o seu aprendiz. Ora, a chance da vida para o menino humilde, ele mal pode acreditar que teria essa chance, mas uma segunda informação que recebeu do velho marceneiro, o desconcertou.

Ocorreu que esse mestre marceneiro o convidou, no entanto com uma condição: que o jovem aprendiz usasse apenas as suas próprias ferramentas na oficina, pois estaria terminantemente proibido que usasse qualquer ferramenta que fosse dele, o marceneiro veterano. De fato, a se pensar nesse senhor, a sua fama de ser apegado às suas ferramentas era notória em toda a região, e nem mesmo os seus filhos ele permitia que chegassem perto de tais artefatos.

Waclaw foi da euforia ao desespero em questão de segundos, visto que nunca tivera uma ferramenta profissional para trabalhar e até aquele ponto, só usava artefatos improvisados e até mesmo improváveis para exercer a sua marcenaria tão rudimentar.

Extremamente preocupado com a possibilidade concreta de perder a grande oportunidade de sua vida, visto não ter recursos para comprar as ferramentas básicas, ele chorou, ao se sentir humilhado pela vida. Cabisbaixo, o jovem foi para a sua casa desiludido e ao comunicar a situação aos seus pais, se pôs a lamuriar.

Foi quando a sua mãe lhe disse que a única saída seria apelar para o seu avô e tios que detinham uma melhor condição de vida. Uma pequena convulsão familiar se instaurou no entanto, pois fazer contato com a família da matriarca, era considerada um tabu, visto que para se casar, ela brigara com o seu próprio pai e irmãos e em represália, por não gostarem do seu noivo, estes juraram jamais visitá-la e que se considerasse doravante como persona non grata da família.

Entretanto, ela se provou resoluta, ao pensar na felicidade do seu filho e assim, lançou a ideia, que de pronto foi rechaçada pelo marido e pelo próprio filho, que nem conhecia o seu avô e tios.

Não foi de pronto, pois essa discussão durou por horas, a alternar momentos de nervosismo, choro e troca de acusações. No entanto, eis que diante da total impossibilidade de haver outro meio plausível para se resolver a questão da aquisição das ferramentas, eis que o pai orgulhoso se conformou e o filho aceitou enfim a proposta da sua mãe.

Dessa forma, ela o instruiu a escrever quatro cartas, uma para o avô e três para os seus tios a explicar-lhes a situação e lhes pedir recursos, compartilhados entre os quatro, para que ele pudesse comprar as ferramentas que necessitava para se colocar como aprendiz do marceneiro.

O avô e dois de seus tios, nem responderam a humilde missiva do menino e apenas um dos tios se dignou a lhe enviar um bilhete sucinto com os seguintes dizeres: "Rapaz: se esforce mais obter algum progresso na sua vida, pois eu achei muita petulância da sua parte me fazer tal pedido".

Bem, resignado com a falta de recursos para obter uma oportunidade mínima de aprendizado, Waclaw fez o que esteve ao seu alcance, como todo menino pobre ao redor do mundo e continuou a trabalhar de forma intuitiva, mediante ferramentas improvisadas e inadequadas para exercer o seu ofício e mesmo com o seu talento bruto, ele jamais conseguiu uma projeção profissional que o alçasse a uma situação melhor e assim sobreviveu como um marceneiro sem meios para executar grandes trabalhos, mas apenas a preparar pequenas peças rústicas e certamente sob baixa remuneração. 

Pois é, apenas contar com o talento nato, vocação e vontade não basta para se conseguir um lugar ao sol neste mundo. Sem recursos mínimos iniciais, ninguém sai do lugar.

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