segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Almas Perturbadas - Por Luiz Domingues

Em um país carente, ante a necessidade de lutar para se alimentar e ter um abrigo mínimo para dormir, se proteger do frio, da violência social e poder ter acesso às condições sanitárias mais básicas, ter acesso à educação é um luxo. Tal realidade é de uma obviedade tão grande que chega a ser um disparate que não se considere tais condições adversas para a maioria das pessoas que sofrem para buscar uma melhor condição de vida na sociedade, mas sim, a insensibilidade existe e é muito maior do que possamos imaginar, da parte dos que tem uma condição melhor e que, pasmem, desprezem as pessoas carentes em geral, como se tal falta de recursos para ascender socialmente, fosse um castigo justo, por uma culpa invisível que elas carreguem pelo simples fato de terem nascidas pobres.

Foi assim então que um grupo de amigos melhor situados na escala social, teve acesso a uma gravação de um recado por um rapaz humilde, direcionado para o seu patrão e cuja prosódia absolutamente equivocada se tornou um objeto de escárnio imediato a alimentar a soberba desses rapazes.

Nessa gravação, o rapaz humilde falou sobre alguns materiais e ferramentas que precisava para executar um serviço de jardinagem e ao se empolgar na mensagem, muito provavelmente influenciado por motivações religiosas, tentou fazer uma exaltação aos vegetais em geral, como um exemplo da magnitude da criação do Deus em que acreditava e assim, a sua completa falta de recursos linguísticos, aliada ao fator inoportuno do seu improviso, o levou a desferir um discurso patético, é bem verdade.

Entretanto, esses rapazes soberbos que tiveram acesso à gravação, nem o conheciam e pior, impiedosamente relevaram sobre a intimidade invadida e sequer levaram em conta a condição educacional parca do rapaz em questão e não se furtaram à prática odiosa de disponibilizarem tal gravação para inúmeras pessoas da comunidade e pior, fomentar a discussão sobre ser tal gravação, um hilário exemplo de uma pessoa imbecilizada a tentar declamar um poema de cunho religioso a apontar para a dislexia completa.

Tais rapazes ouviam a gravação exaustivamente e gargalhavam escandalosamente a cada palavra pronunciada de forma equivocada pelo pobre rapaz, sem esboçarem nenhum sinal de piedade, mas apenas a se regozijarem com o discurso mal proferido e certamente muito constrangedor. 

O rapaz que cometeu tal discurso tão equivocado, poderia estudar, melhorar o seu entendimento da gramática, poderia também fazer um tratamento com fonoaudiologia e melhorar a sua dicção, além de buscar amparo na psicologia para se expressar com menos timidez e mais segurança.

Todavia, os rapazes que tanto se divertiram com a falta de habilidade do orador, dificilmente poderiam melhorar a curto prazo, pois a deformidade da alma é bem mais difícil para ser corrigida. 

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