Kim Kehl a preparar o seu som para o momento de gravação do solo da canção, "Andando na Praia", no estúdio Prismathias de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2018. Click, acervo e cortesia: Danilo Gomes Santos
Começamos os trabalhos preliminares de captura de timbres dos instrumentos básicos da banda. Eu e Kim gravamos na mesma sala e à nossa frente, víamos por um vidro grande a sala em que o Carlinhos tocava e na outra ao lado, também separado por vidro, a sala da técnica, com Danilo Gomes Santos a operar, sob os olhares atentos do seu jovem assistente, Malcolm-X Bezerra Góes.
Aliás, em conversa informal, o próprio Malcolm contou-nos que o seu nome fora escolhido pelo seu pai, por este ter sido um grande fã do ativista norte-americano, Malcolm X.
Kim Kehl a usar seu smartphone enquanto Danilo Gomes Santos trabalhava na mesa de gravação. Os Kurandeiros a gravar o single: "Andando na Praia", no estúdio Prismathias de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2018. Click: Luiz Domingues
O plano de gravação foi o clássico com a base a ser gravada ao vivo, como um ensaio gravado. No entanto, já nos testes preliminares, eu notei que o técnico, Danilo, além de demonstrar um bom conhecimento, conhecia o seu estúdio na palma da mão, pois apesar deste ser composto por salas minimalistas no tocante ao espaço físico disponível, ele sabia extrair o máximo de suas possibilidades acústicas naturais.
Ora, que bom ouvir o som de uma bateria com um corpo sonoro in natura, mediante robustez nos graves dos tambores e sobretudo o bumbo, além do chimbau e pratos a soar sem aquele excessivo agudo que abusa do sinal dos twitters e agride os tímpanos mais sensíveis.
Logo nas primeiras amostras de equalização que ele fez com o Carlinhos, eu já gostei de ouvir aquele som encorpado, com jeito de gravação de Rock, Soul e MPB dos anos setenta.
Foi com esse baixo, um Tajima, cópia de Fender Precision clássico, que gravei a canção: "Andando na Praia", d'Os Kurandeiros. Estúdio Prismathias de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2018. Click: Luiz Domingues
Eu e Kim tocamos na mesma sala e sem separação acústica alguma entre os nossos respectivos amplificadores, mas o Danilo mostrou-nos que a sua metodologia era muito boa nesse sentido e simplesmente não houve vazamento de um instrumento na gravação do outro.
Mediante algumas poucas tomadas, nós gravamos a base com relativa calma e ficamos muito entusiasmados com a "rough mix" que o Danilo executou ali, só para ouvirmos cada performance sob o modo solo e posterior audição com a base inteiramente pronta.
Animados com o resultado sonoro da captura inicial e com o Danilo a se colocar bem disposto a prosseguir, o Kim gravou o seu solo e alguns contrasolos a seguir.
Após a adição do pedal Fuzz, sem nenhuma parcimônia e a soar super sessentista, estava claro para nós que a feição psicodélica da canção estava assegurada e mesmo com a bateria do Carlinhos e o meu arranjo pessoal de baixo a manter a pegada jazzística anterior da composição, quando de seu arranjo inicial, praticamente, mesmo por que o compasso em 6/8 induziu-nos a isso e certamente que a carga psicodélica proposta pelo Kim nas modificações feitas em seu arranjo, assegurou tal prerrogativa.
Danilo Gomes Santos, o competente técnico e proprietário do Estúdio Prismathias de São Paulo. Click (selfie), acervo e cortesia de Danilo Gomes Santos.
O Kim gravou com muita rapidez. Em menos de uma hora, solo e contrasolo estiveram anexados à canção e houve até margem para inserir ideias de última hora que ocorrem-lhe ali no calor da gravação. Feito isso, imediatamente ele foi enfrentar o microfone e a voz principal e uma segunda via em dobro, foi também gravada.
Agrupamo-nos na sala da técnica, cerca de quarenta minutos depois para ouvir a mixagem inicial com tudo gravado, só para apreciamos muito a captura inicial. Danilo ao mostrar-se não só muito competente mas criativo, enquanto ouvíamos, já foi a experimentar vários "plug-ins" interessantes com compressão e efeitos que só enriqueceriam esse áudio.
Luiz Domingues a posar orgulhosamente ante o painel instalado na sala de espera do Estúdio Prismathias de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2018. Acervo de Luiz Domingues. Click: Kim Kehl
E a canção estava a soar tão agradável, que foi unânime a opinião de que tal resultado, artístico e técnico pelo áudio, superara as nossas mais otimistas expectativas. Diante dessa pequena euforia ali instaurada, o Danilo reforçou a ideia de que deveríamos comunicarmo-nos nos dias subsequentes pelo grupo criado dentro da rede social, Whatsapp e que opinaríamos sobre o processo da mixagem e posterior, masterização.
Saímos do estúdio Prismathias, muito felizes por tudo. A gentil oferta do Danilo, por si só já fora maravilhosa, mas naquele domingo, dia 18 de fevereiro, o desenrolar dos acontecimentos em gradual crescente, fizera com que subisse ainda mais alto o nosso conceito sobre a sua pessoa e competência técnica, a gerar assim um sentimento que veio à baila: a constatação de que muitas vezes gravar em um estúdio luxuoso não significa que o resultado será obtido automaticamente no mesmo padrão. Muito pelo contrário, muitas vezes é decepcionante e por uma série de fatores.
Na contrapartida, o Prismathias em sua simplicidade pelas instalações, mostrou-se muito eficaz na sua atribuição, portanto, Danilo angariou mais que a nossa gratidão pela empreitada ali realizada, mas certamente a certeza de que o nosso esforço para indicar seu trabalho e seu estúdio para amigos músicos de várias vertentes, seria uma constante, doravante.
Despedimo-nos dos simpáticos Danilo e Malcolm-X e já no carro, a caminho de casa, eu estava a oferecer carona para Kim Kehl e ele sugeriu a imediata gravação de teclados, a chamar o Kurandeiro nem sempre presente, mas considerado por todos como membro oficial, Nelson Ferraresso e quiçá a inclusão de alguma percussão.
Confesso que na hora, achei que sugerir isso ao Danilo seria excessivo pelas circunstâncias de seu oferecimento para uma gravação rápida, sob fácil resolução técnica, mas recondidamente, eu sabia também que a ideia de inserir teclados, seria uma quase necessidade artística para enriquecer a obra. Argumentei sobre tais aspectos com o Kim, mas ele garantiu-me que isso não causaria nenhum desconforto com o nosso simpático anfitrião.
Danilo Gomes Santos, técnico e Nelson Ferraresso aos teclados. 2ª sessão de gravação do single "Andando na Praia", dos Kurandeiros, no estúdio Prismathias de São Paulo. 4 de março de 2018. Click: Kim Kehl
Então, no dia 4 de março de 2018, eu e Carlinhos não pudemos comparecer, mas o Kim levou consigo o Nelson Ferraresso e o nosso amigo, o grande percussionista, Marco "Pepito" Soledade, que já houvera participado com brilhantismo, na gravação de nosso EP, lançado em 2016, este denominado: "Seja Feliz".
Sugerimos ao Nelson que ele buscasse a sonoridade do órgão Farfisa, ou mesmo do "Vox", duas marca de teclados muito usadas por bandas de Rock nos anos sessenta e portanto a conter aquela sonoridade psicodélica típica daquela década.
No entanto, antes de ouvir o nosso apelo por tal timbre, ele já havia elaborado arranjos e pensado em termos de órgão Hammond a fugir um pouco da nossa ideia original, mas certamente que haveria de ser muito bom, igualmente.
Bingo... quando ele gravou, a sonoridade do Hammond, mais a ver com o final dos anos sessenta e sobretudo a marcar intensamente a primeira metade dos anos setenta, tratou por mudar um pouco a meta inicial.
Ainda assim a soar psicodélica, pelo arranjo geral e principalmente pelo uso & abuso do pedal Fuzz na guitarra, com a inclusão do Hammond, eis que o elemento Prog-Rock também inseriu-se.
Tudo bem... além de também adorar essa escola e essa sonoridade, quando ouvi o arranjo executado pelo Nelson, achei que ficou excelente e se perdeu um pouco aquela ideia original em soar como uma banda sessentista como o The Doors e dúzias de outras similares daquela década, ganhou na verdade, ares setentistas maravilhosos e ainda teve mais um fator.
Danilo Gomes Santos (na mesa de gravação) e Nelson Ferraresso (aos teclados. 2ª sessão de gravação do single "Andando na Praia" d'Os Kurandeiros. Estúdio Prismathias de São Paulo, 4 de março de 2018. Click: Kim Kehl
Nelson acrescentou muitos detalhes com sintetizador Mini Moog e dessa forma, quando ouvi o resultado, pensei na hora que tais detalhes levaram-nos a soar como a espetacular banda italiana de Rock Progressivo, o Le Orme, que particularmente eu admiro muito.
E a percussão do Pepito, foi simples, ao fazer uso de um "Egg" e do Carrilhão, tão somente. Ele optou pela economia no seu arranjo e foi feliz na sua escolha, visto que o som estava muito encorpado de uma maneira geral e de fato, eu concordei com a sua decisão, pois realmente instrumentos mais pesados como Congas e Timbales, não caberiam ali.
O excelente percussionista, Marco "Pepito" Soledade, a gravar sua participação super especial na canção "Andando na Praia", dos Kurandeiros. Estúdio Prismathias de São Paulo em 4 de março de 2018. Click : Kim Kehl
E assim, ocorreram as duas sessões de gravação da música: "Andando na Praia", com otimização total do tempo, graças à competência do técnico e proprietário do estúdio Prismathias, Danilo Gomes Santos e empenho d'Os Kurandeiros nessa produção.
Dali em diante, viriam as audições para chegar-se a um consenso geral sobre a mixagem e masterização, em conversas virtuais, a culminar em sua finalização, ao início de maio de 2018. No entanto, março foi um mês intenso para Os Kurandeiros, pela agenda de shows, a lembrar-nos o nosso pico excelente, ocorrido no ano interior, 2017.
Da esquerda para a direita: Danilo Gomes Santos (técnico e proprietário do estúdio Prismathias), o tecladista, Nelson Ferraresso, o percussionista, Marco "Pepito" Soledade e Kim Kehl. Gravação do single: "Andando na Praia" dos Kurandeiros. 4 de março de 2018. Click (selfie): Kim Kehl
Continua...