Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
Sobre a capa do álbum, o Kim Kehl foi ágil e ao acionar os serviços de seu primo, José Eduardo Rendeiro (pai do guitarrista, Phill Rendeiro), um experiente ilustrador e com tal iniciativa garantiu que as artes de capa, contracapa e label do novo disco ficassem prontas em tempo recorde e melhor ainda, sob total aprovação dos membros da banda.
A ideia primordial foi que a ilustração principal contivesse referências às músicas do disco e assim, garantisse uma amálgama a representar o mote central em torno da "Cidade Fantasma", título de uma canção e nome do álbum. A metáfora ficou clara sobre a situação pandêmica mundial deflagrada ao final de 2019, a gerar morte e medo sob uma primeira instância e com consequências análogas tais como a crise econômica, falta de perspectiva social e assim a se refletir em termos de depressão como um substrato a mais para se potencializar a apreensão generalizada.
No meu caso em particular, não foi a primeira vez em que um trabalho meu tenha usado desse expediente de gerar através de ilustrações de uma capa, a ideia representativa das canções presentes em um álbum. No caso do "Pedra", por exemplo, os discos "Pedra II" e "Fuzuê" trabalharam com tal predisposição. Antes mesmo disso, eu já pensava nesse tipo de ilustração em um possível disco do Sidharta, nos idos de 1998 e cheguei a montar um protótipo nesse sentido, para mostrar aos companheiros desse trabalho nessa época citada.
E agora em 2021, não fui eu quem dei a ideia, mas esta partiu do Kim Kehl em relação ao novo disco d'Os Kurandeiros e claro que eu simpatizei de imediato, simplesmente por ser um apreciador desse tipo de resolução visual para uma capa de disco, embora fosse sabedor de que esta não fosse uma ideia nada original. Entretanto, a despeito de ser um suposto clichê do campo gráfico para compor capas de discos, eu sempre gostei e vou gostar de usar tal recurso, pelo fator da representatividade expressa visualmente das músicas que compõe um álbum.
Bem, sobre a ilustração da capa, a ideia foi trabalhar com uma abordagem noturna da cidade de São Paulo, mediante a presença de alguns ícones arquitetônicos da cidade, mas em conversa particular que eu tive com o Kim, eu lhe disse que no caso da música que dá título ao disco em si, "Cidade Fantasma", eu enxergava a história contida em sua letra, como um castelo fantasmagórico ao estilo dos filmes clássicos de horror, a denotar decadência e morbidez. Eis então que ele levou a ideia para o José Eduardo Rendeiro que foi criativo a sintetizar tal ideia com a criação de um castelo ao estilo medieval, mas neste caso como se fosse algo etéreo, a dar a ideia de ser de fato algo fantasmagórico, mas apenas por estar plasmado, digamos assim, em uma outra dimensão, no entanto, sem a morbidez dos filmes de terror. Dessa forma, está mais para "Shangrila" no Tibet, do que para o castelo de Drácula, na Transilvânia/Romênia, pensemos dessa forma.
Nesse sentido, passa a ideia da desolação pandêmica a gerar a sensação de uma "Cidade Fantasma" colocada à frente da cidade de "São Paulo", forçosamente por conta das circunstâncias. Há a referência à música "Gasolina", com uma bomba de combustível colocada em uma avenida e um grupo de motoqueiros a rodaram em grupo, que denota a letra da canção: "Noite de Sábado" e certamente que a atmosfera onírica generalizada, traz a ideia da "Viagem Muito Louca".
Mais um detalhe interessante, a silhueta recortada dos componentes da banda reunidos, foi colocada ao fundo, na porta do castelo, de forma centralizada, a demarcar a nossa presença física no cenário e ao alto, em letras garrafais, há o título do disco e o logotipo da banda ao lado.
Predomina o tom cinza, para realçar o prateado das letras que marcam o título do disco e há pequenos detalhes de roxo na paisagem e amarelo nas luminárias do castelo e da ponte estaiada, além do vermelho da bomba de gasolina. O logotipo da banda também se destaca pelo uso dos tons vermelho e amarelo.
Na contracapa, há a foto da banda, que fora recortada como silhueta para compor a capa, mas desta feita com nitidez e com uma sucinta ficha técnica. Tal foto fora clicada por ocasião de um show de praça pública que a banda realizou ao final de 2019, sob o click de Lara Pap. Neste caso predomina o cinza como tonalidade base, a conter pequenos detalhes com o amarelo a sugerir a iluminação de edificações da cidade de São Paulo, ao fundo e de forma bem discreta e neste caso a denotar a cidade a viver tempos difíceis.
O label do disco tem a predominar o preto como cor base e sugere o velho formato de um disco de vinil. Contém o logotipo padrão do tom do nome do disco e da silhueta dos componentes da banda.
Fechada a etapa da mixagem do novo álbum, trocamos diversas mensagens no grupo de Whatsapp da banda em conjunto com o técnico e proprietário do estúdio Prismathias, Danilo Gomes Santos, sobre o processo posterior e definitivo da masterização. Provas do áudio em tal processo, nos foram mostradas e mediante pequenas modificações e neste caso, bem sutis, o consenso sobre a finalização do trabalho foi firmado entre as partes e com todos absolutamente satisfeitos com o resultado final obtido.
Paralelamente, a discussão sobre a capa, ordem das músicas no álbum e sobretudo sobre o lay-out da capa, tomou a pauta do dia para a nossa banda.
Kim Kehl em ação com Os Kurandeiros em 2020. Click, acervo e cortesia: Marcos Kishi
Então, o Kim sugeriu preliminarmente o título: "São Paulo", a fazer menção a uma das músicas desse álbum, mas em conversa reservada que travamos, ponderei com ele que achava tal título um tanto quanto dispersivo e além do mais, relembrei que outras tantas bandas já haviam explorado o mote com canções, casos conhecidos como o do grupo Punk-Rock, "365" e o do grupo de música satírica, "Premeditando o Breque", entre outros casos similares. Ele entendeu o meu ponto de vista e alguns dias depois veio com outra ideia: "Cidades & Máquinas", também a fazer menção a outras músicas do disco.
Sinceramente, eu achei melhor que a ideia anterior, mas não me empolguei em demasia e nem mesmo o próprio Kim, que alegou não estar convicto dessa escolha e que pensaria em uma alternativa melhor.
Eis que finalmente, ele sugeriu o uso de um nome de canção e eu creio que ficou melhor, ao propor o título: "Cidade Fantasma"
Por coincidência, eu havia participado de uma filmagem no mesmo teatro e dentro do mesmo esquema de produção promovido pela Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, dois meses antes, quando toquei com a minha ex-banda, Patrulha do Espaço, durante a festa de premiação da revista Dynamite para os melhores do ano e assim, conhecia todos os protocolos, incluso os sanitários em relação à testagem obrigatória para a Covid-19.
E assim, exatamente como eu experimentara em junho, veio à baila a máxima de que se alguém da banda ou dos convidados, testasse positivo para a doença, o que ocorreria, efetivamente? Cancelamento sumário da produção? Ora, essa possibilidade em meio a uma produção que envolvera sete músicos, quatro cantores, um ator e dois roadies foi concreta, não restou dúvida.
Fui o primeiro a chegar e testar. Autorizado a entrar no complexo do teatro mediante o resultado negativo em relação a estar infectado e nesta altura, já com duas doses de vacinas a agirem no meu organismo, foi óbvio que eu fiquei aliviado. E a cada companheiro que chegava ao camarim, a brincadeira se tornou inevitável: -"se você está aqui é por que testou negativo"... ainda bem, não é?
Matéria publicada no portal on line do jornal "O Estado de São Paulo", através do Blog "Sarau, Luau e o Escambau" do jornalista, Arnaldo Afonso, a repercutir o espetáculo
No camarim da banda em específico, a roda de conversas foi agradabilíssima por mais de duas horas, enquanto aguardávamos a nossa vez de realizar o soundcheck. Na primeira foto, Kim Kehl está de pé a olhar o seu telefone celular, Michel Machado sorri e Mateus Schanoski anotava apontamentos sobre a harmonia de algumas canções que tocaria. Na segunda, Carlinhos Machado comanda a "selfie" e da esquerda para a direita, Mateus Schanoski, Phill Rendeiro, eu (Luiz Domingues) e a produtora d'Os Kurandeiros, Lara Pap.Show 50 Anos do LP Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de 2021). Clicks, acervo e cortesia: Carlinhos Machado
Esperamos por um bom tempo (cerca de duas horas e meia), pois o cronograma estava bem atrasado e a produção ainda estava a concluir o soundcheck da filmagem anterior, neste caso a apresentar o astro da MPB, Zeca Baleiro e sua banda, portanto, daí a se filmar o seu show e realizar uma entrevista com tal artista, deu tempo para conversarmos muito no camarim. Quando subimos enfim ao palco, a montagem do nosso palco foi relativamente rápida e o soundcheck bem eficiente.
A banda em ação com Felipe Cordeiro a cantar. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de
2021). Click, acervo e cortesia: Lara Pap
A produção visual ficou multicolorida a apresentar uma profusão de painéis de "led" a disparar imagens montadas em torno da capa do LP "Grã-Ordem da Sociedade Kavernista Apresenta: Sessão das Dez", mas também a denotar um certo ar carnavalesco, talvez no afã de sugerir um sentido tropicalista ao disco que homenageamos. Nesse sentido, se essa foi realmente a intenção da produção, eu reconheço a sua boa vontade, mas certamente que tal evocação não se coadunou totalmente com o espírito da obra, embora eu reconheça que haja uma certa proximidade com tal estética surgida pouco tempo antes desse LP ter sido lançado em 1971, bem entendido, no âmbito da MPB sessentista que o precedeu.
Bem, a ideia foi filmar cada canção separadamente, entretanto, com a inserção das vinhetas existente no álbum, que foram disparadas em regime de "sampler" pelo tecladista, Mateus Schanoski, certos hiatos que deveriam ter sido inibidos na edição do vídeo, ficaram presentes quando vimos a exibição, mas tudo bem, foram lapsos aceitáveis da produção.
Apenas a primeira vinheta do disco, a famosa música circense, foi feita ao vivo pela banda e foi bem executada, com energia a fornecer um bom impacto inicial.
A banda em ação com Felipe Cordeiro. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de
2021). Click, acervo e cortesia: Lara Pap
E lá fomos nós em frente, com "Êta Vida", esta inclusive, uma música que Os Kurandeiros estavam acostumados a tocar com o Edy em shows anteriores em que o acompanhamos e desta feita, com o Felipe Cordeiro a contribuir com a sua guitarra e todos os convidados a cantarem com o Edy, portanto, a música ficou bem encorpada.
Aliás, a banda estava com o instrumental muito recheado, haja vista que além do Mateus Schanoski aos teclados e Michel Machado à percussão, o nosso segundo guitarrista, Phill Rendeiro tocou violão o tempo todo e essa base sedimentou muito bem todas as brasilidades observadas nessas canções e assim permitiu que o Kim Kehl pudesse atuar mais livre a pontuar com contrasolos e detalhes.
No meu caso em específico, fazia anos que eu não tocava temas fora do universo do Rock, Blues e Soul, mas creio que me readaptei a tocar ritmos nordestinos, sambas, boleros e afins, ao me lembrar do meu tempo como componente do Língua de Trapo, em que cada música apresentava uma estética musical completamente distinta uma da outra.
Edy Star em destaque, com Carlinhos Machado ao fundo. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de
2021). Click, acervo e cortesia: Lara Pap
Seguimos com a seresta: "Sessão das Dez" outra canção que estávamos acostumados a tocar com o Edy, embora sob um arranjo alternativo, a evocar o bolero latino-americano/hispânico bem tradicional.
Em "Eu Vou Botar pra Ferver", o convidado, Felipe Cordeiro, brilhou bastante em sua interpretação vocal e na condução da sua "guitarrada". Gostei muito de tocar essa música com esse molho nortista muito especial e ainda mais ao ter ficado ao lado do Michel Machado, cuja atuação à percussão é sempre muito boa e quando tocamos juntos, de certa forma eu me sentia a tocar com o Santana nos anos sessenta.
Com a luz púrpura a predominar. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de
"Quero Ir" foi uma outra canção que Os Kurandeiros estavam acostumados a executar para o Edy Star cantar e neste caso, mediante uma roupagem em torno do reggae, e assim, a canção soou muito bem.
Com Sebastião Reis a brilhar solo. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de
2021). Click, acervo e cortesia: Lara Pap
Veio a seguir: "Eu Acho Graça" e o Sebastião Reis a interpretou com desenvoltura. Também gostei muito do balanço que imprimimos, surpreendente ao sabermos que a nossa banda Os Kurandeiros, era/é Rocker em essência.
"Chorinho Inconsequente" é de fato um chorinho e esse estilo musical é muito específico em sua sonoridade, portanto, a adaptação para uma banda de Rock elétrica poder executá-la é muito difícil. Sem flauta, violão de sete cordas, bandolim e clarinete, instrumentos típicos dessa escola musical, ficamos preocupados sobre como ela soaria, entretanto, o nosso arranjo ficou convincente e a Renata "Tata" Martinelli a interpretou com tanta graça que foi realmente um primor.
Edy Star em destaque, com a minha presença (Luiz Domingues), ao fundo. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de
2021). Click, acervo e cortesia: Fátima Costa
Renata "Tata" Martinelli em destaque e na parte abaixo do quadro, o tradutor de libras que foi inserido a posteriori na edição do vídeo. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Ed Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de
2021). Click, acervo e cortesia: Fátima Costa
"Soul Tabarôa" é um xote acelerado e que o Michel Machado a conduziu na bateria, com o Carlinhos a contribuir na percussão. A interpretação da Renata foi magnífica e eu mais uma vez gostei muito de sentir o balanço da banda, que foi muito forte nessa performance.
Uma panorâmica da banda com os quatro cantores na frente. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de
2021). Click, acervo e cortesia: Lara Pap
"Todo Mundo Está Feliz" é um tema Soul Music e que faz todo o sentido para aquele contexto de 1971, quando tal escola da Black Music norte-americana estava em alta voga no imaginário Pop radiofônico da ocasião no Brasil. Tema belíssimo, com letra super alto astral, contaminou à todos pelo balanço e embalo. Essa foi cantada pelo Edy com apoio dos demais convidados.
A próxima canção foi "Aos Trancos e Barrancos", um samba bem tradicional e pasmem, soamos muito bem ao levar em conta que somos Rockers, incluso o Sebastião Reis que também me disse nunca ter tido familiaridade com o gênero, ainda no decorrer do ensaio. Eu o tranquilizei, pois nós também não éramos fluentes nessa linguagem. Para a nossa felicidade, ao final da execução deu tudo certo e nós ficamos todos muito satisfeitos.
"Eu Não Quero Dizer Nada" é mais um tema com proximidade com a Soul Music e o R'n'B, em tese. O Edy fez uma interpretação emocionante, com apoio da Renata, esta sob uma voz agudíssima e linda.
Eu, Luiz Domingues em destaque, com o percussionista Michel Machado ao fundo e o tradutor de libras em formato reduzido, artificialmente inserido no vídeo. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de
2021). Click, acervo e cortesia: Wilton Rentero
"Dr Paxeco" fecha o disco, e assim também encerrou o espetáculo e neste caso se trata do único Rock propriamente dito, com feição típica do Raul Seixas em sua concepção, presente neste LP.
Um ator (Vince Vinnus), interpretou o personagem do "Dr. Paxeco" a perpetrar uma performance durante a vinheta e esta foi feita ao vivo, a se tratar de uma linha de baixo bem simples a dar vazão para uma locução teatralizada como sketch. Ao final, tal ator participou novamente de uma performance conclusiva, quando a capa do álbum foi rasgada, jogada em um vaso sanitário e a clássica vinheta da descarga foi disparada, para completar o escárnio performático que esse disco sugere em sua concepção.
Mais uma panorâmica da banda e os cantores no palco. Show 50 Anos do LP
Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados). Teatro Sérgio
Cardoso, filmagem em 17 de agosto de 2021 (no ar em 21 de agosto de
2021). Click, acervo e cortesia: Lara Pap
Para apresentar a banda, uma versão a conter apenas o refrão de "Todo Mundo Está Feliz" foi acrescentada, e o Edy o usou para apresentar à todos, incluso os músicos da banda.
Quando encerramos, a euforia gerada no teatro foi tamanha que o diretor geral do espetáculo, aos berros, sentado na plateia, disse ter se emocionado e assim, deu o tom positivo para que fôssemos embora do teatro com a sensação boa do dever cumprido.
Eis o vídeo do show completo, direto do canal do Edy Star.
O link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=OUfpTT-vLzI&t=56s
A produtora Janaína nos disse que muitas pessoas ligadas a algumas secretarias municipais de cultura já haviam manifestado interesse em contratar tal espetáculo para as suas respectivas cidades, já na perspectiva da flexibilização cultural pós-pandemia e assim, se abriu a possibilidade de uma, quiçá outras repetições desse show. E se pudesse acontecer com a mesma turma envolvida, eu adoraria certamente.
E a versão do mesmo show disponibilizada através do canal d'Os Kurandeiros
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=O1DG6_0Gi2w
E assim foi a minha participação, ao lado da minha banda, Os Kurandeiros a acompanhar Edy Star, acrescidos de Mateus Schanoski e Michel Machado e com os convidados especiais, Felipe Cordeiro, Renata "Tata" Martinelli & Sebastião Reis, ao executarmos na íntegra o LP "Grã-Ordem da Sociedade Kavernista Apresenta Sessão das Dez".
Filmamos no palco do Teatro Sérgio Cardoso de São Paulo em 17 de agosto de 2021 e foi ao ar a representar a "Virada on line" do município de Itapevi-SP, no dia 21 de agosto de 2021.
Foi quando fomos surpreendidos pela produção, pois estávamos a considerar que mediante o adiamento da filmagem, por conseguinte, haveria um tempo elástico para a marcação de ensaios gerais, mas eis que foi sinalizada a data de 5 de agosto para um primeiro ensaio geral e ainda bem, da parte da banda estávamos com 90% do espetáculo (pelo menos), bem resolvido na parte instrumental.
Dessa forma, foi marcado no estúdio "Mad" da Rua Guaicurus, na Vila Romana (Lapa), na zona oeste de São Paulo, quando nos reunimos então nesse dia marcado e a nossa banda esteve em peso com o quinteto para dar suporte ao Edy e seus convidados. Na verdade, tais escolhas em relação aos artistas convidados não fora uma atribuição direta do Edy, mas da produção do espetáculo e assim, foram sugeridas as personas de Felipe Cordeiro, Sebastião Reis e uma cantora chamada: Lu.
O guitarrista, cantor e compositor, Felipe Cordeiro. Fonte: Internet/divulgação
Felipe Cordeiro já era um artista bem conhecido da cena MPB vanguardista, famoso por unir a MPB com a música dita "Techno-brega", experimentalismo e sonoridades Folk das mais diversas matizes oriundas da região norte do país, notadamente o estado do Pará, sua terra natal. Filho do famoso guitarrista e maestro, Manoel Cordeiro, ele foi parceiro musical de seu pai desde a infância e em termos de carreira solo, já possuía três álbuns e participado de turnês pela Europa, portanto, a se revelar muito experiente e talentoso.
O compositor, cantor e multi-instrumentista, Sebastião Reis. Fonte: Internet/divulgação
Sobre Sebastião Reis, eu sabia que ele era filho do famoso compositor, cantor e multi-instrumentista, Nando Reis (este, ex-baixista e cantor dos Titãs), e que a despeito dos trabalhos que mantinha com o seu pai e irmão, possuía também a sua própria banda, no entanto, eu não conhecia tal sonoridade que ele produzia normalmente em sua carreira.
E finalmente sobre a cantora que interpretaria as canções defendidas por Miriam Batucada no álbum (Lu), segundo a produtora do evento, Janaína, que a sugerira, esta seria uma artista com forte identificação com a arte circense, a trabalhar na função do "Clown" clássico e que em termos musicais era uma fã declarada da Miriam Batucada, portanto, bem talhada para interpretar tal saudosa Kavernista.
Uma boa matéria foi publicada nesse ínterim, na versão on line da revista Veja, a repercutir o espetáculo. Veja o Link abaixo
Muito bem, o ensaio aconteceu então no dia 5, mas o Sebastião já tinha outros compromissos agendados e não pode participar. Felipe Cordeiro no entanto esteve presente e muito simpático, logo se enturmou conosco ao demonstrar os seus dotes em torno da chamada "guitarrada" uma forma de se tocar bem específica em torno de diversos ritmos nortistas, de uma forma muito particular e assim, veio a calhar a sua performance para ornar com solo a canção: "Eu Vou Botar pra Ferver", cuja sonoridade nordestina em torno do frevo pernambucano, não é a mesma especialidade sua, mas tirante as diferenças regionais estilísticas, ornou muito bem e assim enriqueceu a nossa instrumentação.
A ótima cantora e Kurandeira honorária, Renata "Tata" Martinelli. Foto: Alexandre Padial
Já a cantora, Lu, se esforçou para comparecer ao estúdio, mas segundo ela mesmo afirmou, fora avisada em cima da hora sobre o convite e assim, preferiu declinar do convite em torno da sua participação. Rápido, Edy ligou imediatamente para a nossa amiga em comum, Renata "Tata" Martinelli e ela aceitou o convite, mesmo com o tempo exíguo para a preparação mais apurada e se prontificou a participar dos dois ensaios posteriores.
E assim foi, em 13 de agosto, uma sexta-feira, em que nos encontramos novamente para um ensaio geral, desta feita com a Renata, Felipe Cordeiro e um novo tecladista, visto que nesse ínterim, o tecladista d'Os Kurandeiros, Nelson Ferraresso foi surpreendido com um revés familiar e teve que deixar a produção de uma forma abrupta. Portanto, nesse dia, já recebemos a persona do muito competente, Mateus Schanoski para suprir os teclados. Sebastião Reis não pode participar desse ensaio, mas ficou acertada a sua presença no posterior, marcado para o dia 15 em outro estúdio, ali mesmo no bairro da Vila Romana, este chamado: Villa das Artes.
"Per un amico", disco incrível lançado em 1972 pela Premiata Forneria Marconi (PFM), uma banda italiana de Rock Progressivo poderosa, que eu adoro desde a década de setenta
Em 15 de agosto, um domingo, ensaiamos enfim com o Sebastião Reis e nós estabelecemos amizade instantânea quando ele me revelou que amava sonoridades 1960 & 1970 dentro do Rock, Folk e MPB e rapidamente sacou o seu telefone celular do bolso e me mostrou o que viera a escutar no seu carro a caminho do ensaio: o LP "Per Un Amico", da maravilhosa (meraviglioso!), Premiata Forneria Marconi, uma das mais emblemáticas bandas do Rock Progressivo italiano dos anos setenta. O que dizer, depois dessa revelação a não ser: siamo noi?
Na primeira foto, da esquerda para a direita: Felipe Cordeiro, Edy Star, Renata "Tata" Martinelli e Sebastião Reis. Na segunda foto, Carlinhos Machado, Kim Kehl, Renata "Tata" Martinelli, Sebastião Reis, eu (Luiz Domingues), Phill Rendeiro e Michel Machado. Sentados, na frente: Mateus Schanoski e Edy Star. Ensaio de 16 de agosto de 2021 no estúdio Villa das Artes na Vila Pompeia, em São Paulo. Acervo e cortesia: Edy Star. Click: Janaína
E no dia seguinte, 16 de agosto, realizamos mais um ensaio bom, desta feita (e finalmente) com todos os artistas participantes, a contar com o ótimo percussionista, Michel Machado, cuja convivência com Os Kurandeiros através de muitos shows que cumprimos juntos com Edy Star em ocasiões passadas, sempre fora muito prazerosa para nós.
E feito tal apronto, nos colocamos à disposição da produção do evento, para cumprirmos a filmagem marcada para o dia seguinte, 17 de agosto de 2021.
O roteiro do espetáculo distribuído aos seus participantes
Ao final de julho de 2021, o guitarrista Kim Kehl recebeu a sondagem da parte do cantor Edy Star, ao lhe indagar se haveria a possibilidade da nossa banda, Os Kurandeiros, ser a banda base para um espetáculo grandioso, com a sua presença na condução geral e mediante outros convidados, com o intuito de se tocar na íntegra o LP "Grã-Ordem da Sociedade Kavernista Apresenta Sessão das Dez" em uma "live" produzida no palco do Teatro Sérgio Cardoso de São Paulo.
Em primeiro lugar, a efeméride se mostrou óbvia no sentido da comemoração dos cinquenta anos do lançamento de tal álbum histórico (1971-2021). Para quem não sabe, alerto que se trata de um disco conceitual, em que quatro personalidades fantásticas do Rock e da MPB setentistas se uniram para se expressarem em meio à doze canções e algumas vinhetas louquíssimas, ao misturar o Rock com serestas, sambas, xotes, carnaval, Soul Music, circo e muita loucura em tom de experimentalismo e deboche, bem ao gosto do dito "desbunde setentista".
Na linha de baixo: Edy Star, Miriam Batucada e Raul Seixas. Em cima, Sérgio Sampaio. Os Kavernistas em foto promocional do álbum em 1971
E ao citar os artistas que fizeram parte dessa obra, fica claro ao leitor que porventura não o conheça, qual o grau de qualidade artística que ele contém. Falo sobre: Edy Star, Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada. Desses quatro, apenas o Edy Star estava vivo em 2021 e assim, a ideia primordial foi convidar três artistas que interpretassem as canções que os demais que já não viviam entre nós e que o disco fosse executado exatamente na sua ordem primordial, inclusive com a presença das vinhetas experimentais entre as faixas.
A produção desse espetáculo correu por conta da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, com vários apoiadores de produção cultural, como "Cultura em Casa on Line", grupo "Amigos da Arte", grupo "Virada Cultural de SP" e diversas prefeituras de municípios do estado de São Paulo, a se promoverem diversas "viradas" culturais simultâneas e todas sob o sistema on line por conta da pandemia que ainda assolava o Brasil e o mundo em 2021.
O encarte do LP "Grã-Ordem da Sociedade Kavernista Apresenta Sessão das Dez"
Muito bem, convite aceito por todos os membros da nossa banda, Os Kurandeiros, eu já me animei com a produção em si, mas também por ser um álbum que sempre admirei, desde os anos setenta e no caso, ficou claro em minha concepção de que eu deveria registrar esta história em minha autobiografia como um trabalho avulso e não como mais um capítulo escrito pelos Kurandeiros, pois ao contrário da turnê que a nossa banda fez com o Edy Star em 2018-2019 ("Toca Raul"), desta feita por ter sido um espetáculo inteiramente temático e com a presença de convidados, naturalmente que tal característica o revestiu de uma maneira peculiar, bem diferente daquela turnê que foi feita em tom de parceria e que inclusive contava com música do nosso próprio repertório no bojo.
Dessa forma, nos imbuímos todos da preparação individual das canções e marcamos um ensaio interno da nossa banda, sem a participação do Edy e tampouco dos convidados, apenas para sanarmos dúvidas generalizadas sobre a harmonia e detalhes de arranjos das canções e vinhetas. Nos encontramos no estúdio "Mandioka", o famoso "basement" do Kim Kehl, no dia 1º de agosto de 2021 e ficamos bem confiantes ao tocarmos juntos e verificarmos que todos haviam se preparado bem e o trabalho soou muito bem para uma primeira abordagem e principalmente ao ter em conta que a nossa vocação primordial em torno do Rock e do Blues, deixara em dúvida se tocaríamos temas com motivações tão distantes das nossas raízes, tais como o xote, samba, temas carnavalescos, baião, seresta, MPB da velha guarda, música circense, enfim, um universo bem distante de nós por natureza intrínseca, no entanto, ficamos felizes por verificarmos que estávamos a soar de um uma forma fidedigna em torno de tais temas.
Em princípio a produção sinalizara que a filmagem seria realizada no dia 10, ou seja, a se comprovar como um tempo exíguo se pensássemos que os ensaios com o Edy e os cantores poderiam nos apresentar dificuldades como a inadequação com tonalidades, algo muito comum para cantores e que sempre gera um transtorno e tanto aos músicos. Mas logo veio a informação de que a filmagem fora remarcada para o dia 17 e assim, ficamos mais tranquilos sobre a possibilidade de dois ou três ensaios gerais serem marcados para nos garantir uma maior segurança, mesmo que mudanças bruscas fossem propostas para se mudar estrutura das canções.
Pintura de parede a conter a inspiradora lembrança do guitarrista Jimi Hendrix, na recepção do estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, em que o Boca do Céu ensaiou nos dias 18 e 25 de julho de 2021. Acervo: Luiz Domingues
Eis que conseguimos manter uma regularidade bastante saudável de ensaios, algo que de certa forma nos levou de volta aos anos setenta, quando a nossa banda manteve uma periodicidade sustentável em seus esforços primordiais.
Dessa forma, visitamos no dia 18 de julho de 2021, o estúdio Lumen, localizado na Avenida Lins de Vasconcelos, bem na parte mais alta, perto da estação Vila Mariana do Metrô, a mantermos a ideia do revezamento que havíamos estabelecido como uma meta a privilegiar endereços próximos de cada um de nós, a cada vez.
No primeiro plano, encoberto, eu mesmo (Luiz Domingues) a comandar a "selfie" e ao fundo, Wilton Rentero na preparação da sua guitarra. Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo em 18 de julho de 2021. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues
Avançamos com músicas diferentes e ficamos felizes com tal perspectiva, ao reforçarmos as músicas que já estávamos a trabalhar em ensaios anteriores.
No caso, o Osvaldo sugeriu um riff interessante para ser incorporado à canção: "Centro de Loucos", com uma abordagem ao estilo Blues-Rock que possibilitou ao Wilton, ter tido a ideia de criar uma intervenção com slide, que ficou bem interessante e valorizou a nossa velha música. E eu pude sugerir uma parte B, com uma estrutura harmônica adicional, dentro de um quadrado bem tradicional, mas o suficiente para que incrementássemos a parte B, visto que a nossa memória recuava apenas no sentido de nos lembramos da parte A, composta em 1976.
Confraternização após o final do ensaio, na porta do estúdio. Da esquerda para a direita: Wilton Retamero, Osvaldo Vicino e eu (Luiz Domingues). Ensaio
do Boca do Céu no estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São
Paulo em 18 de julho de 2021. Click (selfie) e acervo: Wilton Retamero
De comum acordo, resolvemos desrespeitar o rodízio anteriormente proposto e dessa forma, marcamos mais um ensaio no mesmo estúdio Lumen da Vila Mariana, na semana subsequente. Portanto, no dia 25 de julho de 2021, nos encontramos no mesmo espaço e avançamos, desta feita a reforçarmos as músicas que já estávamos a trabalhar, no caso: "Serena", "O Mundo de Hoje", "Mina de Escola" e "Centro de Loucos".
No primeiro plano, a minha presença, ainda que encoberto, a comandar a "selfie", e ao fundo, Osvaldo Vicino (à esquerda) e Wilton Rentero (à direita). Ensaio
do Boca do Céu no estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São
Paulo em 25 de julho de 2021. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues
E também pudemos nesse dia, começar a trabalhar em mais uma canção, neste caso, a balada, "O que Resta é a Canção", portanto, a ideia do avanço foi muito comemorada por nós três (eu, Luiz, Osvaldo e Wilton), que estivemos empenhados nesse momento inicial do resgate do material, pois ficou nítida a ideia do progresso, ao restabelecermos os esforços de 1976 & 1977.
Fachada do estúdio Lumen. Ensaio
do Boca do Céu no estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São
Paulo em 25 de julho de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues
Ficamos então felizes pela produtividade alcançada e animados com a perspectiva de mais canções resgatadas nos próximos ensaios.
Para quem valoriza e respeita cada agora, ressignificar quase chega a
ser pleonasmo. De qualquer forma, aventuremo-nos... e para quem busca
saber, estar nos eternos agora, dar uma nova dimensão e olhar as coisas,
fatos, sempre será bem-vindo... convidativo.
Percebemos, no contínuo, quantos modismos são alimentados e se, há
tempos, era algo mais setorizado, vemos abranger várias e muitas áreas
afetadas hoje que envolvem bem mais costumes, linguagens, alimentação do
corpo a alma recebendo suas influências que movem, movem, movem e
quanto.
Vivemos numa interconexão bem maior com grande facilidade e amplitude na
comunicação e, se bênção de um acerta perspectiva, de outro lado quanto
tais essas mesmas influências surgem e com fluidez se espalham, levando
a mais pessoas e lugares todo tipo de ondas, fluxos e refluxos e de que
maneira harmoniosa ou não, lufadas são expandidas.
Nossa percepção, em
mais esse significativo agora, presenciado e com interesse para que seja
digerido, buscando assimilar, sentir e dimensionar dando a importância
daquilo que, para nós, mereça de fato tal espaço... ... ... não seguindo
somente a maré, o curso que, de fora para dentro, nos alcance, mas,
observando como e qual impacto possa aqui merecer atenção.
O próprio verbo ressignificar passa por seus momentos de glória, apogeu e
moda e que valor terá para cada um de nós?!... Quanto, verdadeiramente,
somos capazes de nova dimensão, abrindo horizontes, permitindo
oxigenar, criar ares que reciclem posições, dando margens a outras
visões, saindo do mesmo viciado, cativo lugar da arquibancada?!...
Às
vezes, se pudermos permitir, ousar e confiar no processo da Vida com
menos controle e mais entrega ao inusitado, talvez, quem sabe...?!...
naveguemos em mares, oceanos jamais sonhados, vislumbrados e... que seja
abençoado, reverenciado e festejado a esse tal agora conquistado e que
deixe sua marca, tatuado na alma validando tão bendita aventura,
ventura!!!
Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira civil, é também uma experiente astróloga, consultora para a harmonização de ambientes e instrutora de Suddha Raja Yoga. Neste reflexão, ele nos fala sobre a questão da ressignificação como uma oportunidade de reavaliação da própria condução da vida.