sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos - 50 Anos do LP Sessão das Dez (Edy Star + Os Kurandeiros + Convidados) - Parte 1 - Capítulo 108 - Por Luiz Domingues

Ao final de julho de 2021, o guitarrista Kim Kehl recebeu a sondagem da parte do cantor Edy Star, ao lhe indagar se haveria a possibilidade da nossa banda, Os Kurandeiros, ser a banda base para um espetáculo grandioso, com a sua presença na condução geral e mediante outros convidados, com o intuito de se tocar na íntegra o LP "Grã-Ordem da Sociedade Kavernista Apresenta Sessão das Dez" em uma "live" produzida no palco do Teatro Sérgio Cardoso de São Paulo.

Em primeiro lugar, a efeméride se mostrou óbvia no sentido da comemoração dos cinquenta anos do lançamento de tal álbum histórico (1971-2021). Para quem não sabe, alerto que se trata de um disco conceitual, em que quatro personalidades fantásticas do Rock e da MPB setentistas se uniram para se expressarem em meio à doze canções e algumas vinhetas louquíssimas, ao misturar o Rock com serestas, sambas, xotes, carnaval, Soul Music, circo e muita loucura em tom de experimentalismo e deboche, bem ao gosto do dito "desbunde setentista". 

Na linha de baixo: Edy Star, Miriam Batucada e Raul Seixas. Em cima, Sérgio Sampaio. Os Kavernistas em foto promocional do álbum em 1971

E ao citar os artistas que fizeram parte dessa obra, fica claro ao leitor que porventura não o conheça, qual o grau de qualidade artística que ele contém. Falo sobre: Edy Star, Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada. Desses quatro, apenas o Edy Star estava vivo em 2021 e assim, a ideia primordial foi convidar três artistas que interpretassem as canções que os demais que já não viviam entre nós e que o disco fosse executado exatamente na sua ordem primordial, inclusive com a presença das vinhetas experimentais entre as faixas.

A produção desse espetáculo correu por conta da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, com vários apoiadores de produção cultural, como "Cultura em Casa on Line", grupo "Amigos da Arte", grupo "Virada Cultural de SP" e diversas prefeituras de municípios do estado de São Paulo, a se promoverem diversas "viradas" culturais simultâneas e todas sob o sistema on line por conta da pandemia que ainda assolava o Brasil e o mundo em 2021.

O encarte do LP "Grã-Ordem da Sociedade Kavernista Apresenta Sessão das Dez"

Muito bem, convite aceito por todos os membros da nossa banda, Os Kurandeiros, eu já me animei com a produção em si, mas também por ser um álbum que sempre admirei, desde os anos setenta e no caso, ficou claro em minha concepção de que eu deveria registrar esta história em minha autobiografia como um trabalho avulso e não como mais um capítulo escrito pelos Kurandeiros, pois ao contrário da turnê que a nossa banda fez com o Edy Star em 2018-2019 ("Toca Raul"), desta feita por ter sido um espetáculo inteiramente temático e com a presença de convidados, naturalmente que tal característica o revestiu de uma maneira peculiar, bem diferente daquela turnê que foi feita em tom de parceria e que inclusive contava com música do nosso próprio repertório no bojo.

Dessa forma, nos imbuímos todos da preparação individual das canções e marcamos um ensaio interno da nossa banda, sem a participação do Edy e tampouco dos convidados, apenas para sanarmos dúvidas generalizadas sobre a harmonia e detalhes de arranjos das canções e vinhetas. Nos encontramos no estúdio "Mandioka", o famoso "basement" do Kim Kehl, no dia 1º de agosto de 2021 e ficamos bem confiantes ao tocarmos juntos e verificarmos que todos haviam se preparado bem e o trabalho soou muito bem para uma primeira abordagem e principalmente ao ter em conta que a nossa vocação primordial em torno do Rock e do Blues, deixara em dúvida se tocaríamos temas com motivações tão distantes das nossas raízes, tais como o xote, samba, temas carnavalescos, baião, seresta, MPB da velha guarda, música circense, enfim, um universo bem distante de nós por natureza intrínseca, no entanto, ficamos felizes por verificarmos que estávamos a soar de um uma forma fidedigna em torno de tais temas.

Em princípio a produção sinalizara que a filmagem seria realizada no dia 10, ou seja, a se comprovar como um tempo exíguo se pensássemos que os ensaios com o Edy e os cantores poderiam nos apresentar dificuldades como a inadequação com tonalidades, algo muito comum para cantores e que sempre gera um transtorno e tanto aos músicos. Mas logo veio a informação de que a filmagem fora remarcada para o dia 17 e assim, ficamos mais tranquilos sobre a possibilidade de dois ou três ensaios gerais serem marcados para nos garantir uma maior segurança, mesmo que mudanças bruscas fossem propostas para se mudar estrutura das canções.

Continua...

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