Sobre a capa do álbum, o Kim Kehl foi ágil e ao acionar os serviços de seu primo, José Eduardo Rendeiro (pai do guitarrista, Phill Rendeiro), um experiente ilustrador e com tal iniciativa garantiu que as artes de capa, contracapa e label do novo disco ficassem prontas em tempo recorde e melhor ainda, sob total aprovação dos membros da banda.
A ideia primordial foi que a ilustração principal contivesse referências às músicas do disco e assim, garantisse uma amálgama a representar o mote central em torno da "Cidade Fantasma", título de uma canção e nome do álbum. A metáfora ficou clara sobre a situação pandêmica mundial deflagrada ao final de 2019, a gerar morte e medo sob uma primeira instância e com consequências análogas tais como a crise econômica, falta de perspectiva social e assim a se refletir em termos de depressão como um substrato a mais para se potencializar a apreensão generalizada.
No meu caso em particular, não foi a primeira vez em que um trabalho meu tenha usado desse expediente de gerar através de ilustrações de uma capa, a ideia representativa das canções presentes em um álbum. No caso do "Pedra", por exemplo, os discos "Pedra II" e "Fuzuê" trabalharam com tal predisposição. Antes mesmo disso, eu já pensava nesse tipo de ilustração em um possível disco do Sidharta, nos idos de 1998 e cheguei a montar um protótipo nesse sentido, para mostrar aos companheiros desse trabalho nessa época citada.
E agora em 2021, não fui eu quem dei a ideia, mas esta partiu do Kim Kehl em relação ao novo disco d'Os Kurandeiros e claro que eu simpatizei de imediato, simplesmente por ser um apreciador desse tipo de resolução visual para uma capa de disco, embora fosse sabedor de que esta não fosse uma ideia nada original. Entretanto, a despeito de ser um suposto clichê do campo gráfico para compor capas de discos, eu sempre gostei e vou gostar de usar tal recurso, pelo fator da representatividade expressa visualmente das músicas que compõe um álbum.
Bem, sobre a ilustração da capa, a ideia foi trabalhar com uma abordagem noturna da cidade de São Paulo, mediante a presença de alguns ícones arquitetônicos da cidade, mas em conversa particular que eu tive com o Kim, eu lhe disse que no caso da música que dá título ao disco em si, "Cidade Fantasma", eu enxergava a história contida em sua letra, como um castelo fantasmagórico ao estilo dos filmes clássicos de horror, a denotar decadência e morbidez. Eis então que ele levou a ideia para o José Eduardo Rendeiro que foi criativo a sintetizar tal ideia com a criação de um castelo ao estilo medieval, mas neste caso como se fosse algo etéreo, a dar a ideia de ser de fato algo fantasmagórico, mas apenas por estar plasmado, digamos assim, em uma outra dimensão, no entanto, sem a morbidez dos filmes de terror. Dessa forma, está mais para "Shangrila" no Tibet, do que para o castelo de Drácula, na Transilvânia/Romênia, pensemos dessa forma.
Nesse sentido, passa a ideia da desolação pandêmica a gerar a sensação de uma "Cidade Fantasma" colocada à frente da cidade de "São Paulo", forçosamente por conta das circunstâncias. Há a referência à música "Gasolina", com uma bomba de combustível colocada em uma avenida e um grupo de motoqueiros a rodaram em grupo, que denota a letra da canção: "Noite de Sábado" e certamente que a atmosfera onírica generalizada, traz a ideia da "Viagem Muito Louca".
Mais um detalhe interessante, a silhueta recortada dos componentes da banda reunidos, foi colocada ao fundo, na porta do castelo, de forma centralizada, a demarcar a nossa presença física no cenário e ao alto, em letras garrafais, há o título do disco e o logotipo da banda ao lado.
Predomina o tom cinza, para realçar o prateado das letras que marcam o título do disco e há pequenos detalhes de roxo na paisagem e amarelo nas luminárias do castelo e da ponte estaiada, além do vermelho da bomba de gasolina. O logotipo da banda também se destaca pelo uso dos tons vermelho e amarelo.
Na contracapa, há a foto da banda, que fora recortada como silhueta para compor a capa, mas desta feita com nitidez e com uma sucinta ficha técnica. Tal foto fora clicada por ocasião de um show de praça pública que a banda realizou ao final de 2019, sob o click de Lara Pap. Neste caso predomina o cinza como tonalidade base, a conter pequenos detalhes com o amarelo a sugerir a iluminação de edificações da cidade de São Paulo, ao fundo e de forma bem discreta e neste caso a denotar a cidade a viver tempos difíceis.
O label do disco tem a predominar o preto como cor base e sugere o velho formato de um disco de vinil. Contém o logotipo padrão do tom do nome do disco e da silhueta dos componentes da banda.
Continua...
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