Eis que o domingo, dia 19 de maio de 2019, chegou, e desta feita a minha participação com a banda de Lincoln "The Uncle" Baraccat, teve um elemento diferente, no sentido de que no mesmo evento, a Feira de Artes da Vila Pompeia, marcou-me também por uma apresentação da minha banda, Kim Kehl & Os Kurandeiros.
Portanto, foi intenso realizar um show com Os Kurandeiros em um palco e horário diferente e pouco tempo depois, estar em outro quadrante do bairro para apresentar-me com outra banda. Foi corrido, certamente, mas prazeroso, pois mesmo extenuado pela apresentação dos Kurandeiros, eu estive feliz por também atuar com o Lincoln Baraccat e o seu grupo, "Uncle & Friends".
Já ali nos bastidores, a temperatura caíra bastante no avançar da tarde e início da noite, mas o calor no palco e arredores, esteve sensacional. Assim que eu cheguei, vi que a banda de Zé Brasil estava a apresentar-se e o público respondia entusiasmado. Logo a seguir, subiu ao palco a boa banda, "Fórmula Rock", que também deu um belo recado, mediante uma seleção de clássicos internacionais e nacionais setentistas, escolhidos a dedo e muito bem executados.
Alguns flagrantes do espetáculo. Uncle
& Friends na Feira da Vila Pompeia em São Paulo, no dia 19 de maio
de 2019. Click, acervo e cortesia: Dih Baraccat
Um impasse inicial foi gerado, quando por força das circunstâncias, o palco sob proporções diminutas deixou que a dúvida pairasse a questionar se a ideia original em tocar-se com duas baterias, prosperaria. De fato, não apenas pela sua extensão e profundidade limitada, mas sobretudo pela falta de estrutura do equipamento terceirizado, a dar conta de providenciar uma adequada microfonação de duas baterias.
Portanto, foi gasto um certo tempo em torno de tal elucubração. Chegou-se em um ponto, onde o baterista, Carlinhos Machado já estava resolvido a abrir mão de tocar, mas não para deixar de participar, visto que prontificara-se a tocar percussão e a cooperar nos backing vocals, pois estava acostumado a cantar e bem, em nossas apresentações dos Kurandeiros.
Todavia, eis que sob um rompante, decidiu-se que sim, as duas baterias seriam montadas conforme o planejamento inicial. Isso deu-se graças à boa vontade que os técnicos terceirizados tiveram para conosco, para resolver tal pendência. Algo raro, pois técnicos geralmente não são simpáticos e ainda mais em festivais, onde nessa altura do dia, por trabalharem desde as primeiras horas da manhã para montar tudo e após operar o som de inúmeros artistas desde o meio dia, praticamente, naturalmente que estariam devidamente esgotados. Não anotei o nome desses rapazes, e arrependo-me por não ter lembrado desse pormenor, pois caberia um enaltecimento à sua boa vontade em colaborar, algo muito raro no meio artístico e quando acontece, é algo que precisa ser elogiado.
Eis acima, alguns instantes do show. Uncle
& Friends na Feira da Vila Pompeia em São Paulo, no dia 19 de maio
de 2019. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro
Nessa altura, todos os participantes desse simpático grupo de colegas fraternos, reunidos para dar suporte à arte do amigo, Lincoln Baraccat, já estavam a postos nos bastidores. O público, apesar do frio que chegou junto com o rápido entardecer, aumentou significativamente, mesmo com a Feira já a apresentar os sinais de seu encerramento, com alguns expositores a guardar o seu material, o que foi em contraste, bastante animador para nós que subiríamos ao palco, a seguir.
Apesar da boa vontade dos rapazes do som, o início da apresentação foi um tanto quanto sofrida, no sentido em que os monitores teimaram em falhar. E na contrapartida, ao tocarmos com três guitarras, duas baterias e um baixo, evidentemente que a massa sonora por nós produzida, fora acentuada. Para amenizar, todos estabeleceram esforços em observar a máxima dinâmica e assim, o espetáculo conduziu-se em seu início, com essa dificuldade sonora.
Eis acima, alguns momentos do show. Uncle
& Friends na Feira da Vila Pompeia em São Paulo, no dia 19 de maio
de 2019. Click, acervo e cortesia: João Pirovic
Eis que o som melhorou um pouco, quando em uma pausa, o técnico finalmente pode detectar e anular uma microfonia que atazanava-nos. Seguimos em frente com uma melhoria sonora amena. No entanto, apesar da insalubridade técnica, a performance estava sensacional. O público estava a apreciar de uma forma muito entusiasmada, a reverberar bem a energia que produzíamos ali em cima.
Caio Durazzo e Roy Carlini estavam infernais em seus solos, a colorir, sob estratégico revezamento, as boas canções do Lincoln. E mais um dado, achei incrível a sincronicidade em que tocaram, Carlinhos Machado e Rick Vecchione. Em alguns momentos, pareceu que ambos houveram ensaiados juntos, tamanha a massa em perfeita sintonia que estabeleceram. Ambos não furtaram-se a fazer viradas e mesmo assim, não houve falhas rítmicas e tampouco frases emboladas. Pelo contrário, houve momentos sob intensa criatividade.
Não sei se os demais companheiros notaram tais sutilezas em meio à massa sonora e adrenalina generalizada, porém, como eu sou baixista e trabalho sempre em sincronia com os bateristas, eu apreciei muito as levadas que eles estabeleceram, inclusive com a chance para que eu pudesse reforçar diversas nuances rítmicas em sintonia com ambos, e isso sempre enriquece e o som de qualquer banda, sem dúvida alguma. No caso do Uncle & Friends, que simplesmente não ensaia, foi um luxo e tanto, em minha opinião.
Momentos mágicos do show. Uncle
& Friends na Feira da Vila Pompeia em São Paulo, no dia 19 de maio
de 2019. Click, acervo e cortesia: Dih Baraccat (1 & 2) e Harmann Molina (3)
Eis que a cantora superb, Amanda Semerjion foi chamada ao palco e deu um show a parte. A sua interpretação foi estabelecida mediante um movimento crescente impressionante. O início ameno e doce, mudou paulatinamente a cada giro da harmonia e sob intensa entrega emocional, ela soltou a voz de uma forma muito marcante, reforçada por uma performance gestual forte, ou seja, Etta James. Aretha Franklin e Janis Joplin devem ter incorporado ao mesmo tempo em Amanda, para deixar o público extasiado. Luiz Carlini viu a performance esfuziante de sua nora, bem perto do palco e Lincoln não perdeu tempo para convidá-lo a participar. Que prazer tocar com esse mestre mais uma vez, sem dúvida alguma.
Eis que seguimos a tocar com a perspectiva boa em notarmos uma excepcional acolhida do público presente. Nessa altura, a multidão à nossa frente, se mostrava impressionante a denotar que a vibração estava a melhor possível.
Chegamos ao último número então, o sucesso de Lincoln Baraccat, "Bolinha de Gude". O comunicador, Rogério Utrila, que tradicionalmente gosta de cantar essa canção junto ao Lincoln e a tocar um cowbell, subiu ao palco e cumpriu a tradição. Final apoteótico, após uma longa Jam mediante revezamento de solos entre Caio e Roy, quando encerramos, o público mostrou-se em estado de grande euforia.
Apesar do avançado do horário e a noite já em curso, eis que um forte pedido de bis irrompeu naquele quadrante do bairro da Vila Pompeia e sob uma rápida sugestão feita pelo guitarrista, Roy Carlini, executamos a canção: "Rock'n' Roll" do Led Zeppelin, com uma volúpia tremenda. Ao final, houve mais pedidos para que prosseguíssemos, no entanto, decidimos encerrar, ao adotar-se uma atitude mais prudente, certamente, a preservar o bom astral com o qual esse show foi realizado. Recebemos muitos amigos nos bastidores e gostamos muito dessa apresentação, não apenas pela reação muito eloquente da parte do público, mas sobretudo, pelo fato de que apesar das dificuldades técnicas, a energia ali produzida, fora imensa.
Tive o prazer de conversar com o técnico, e lhe agradeci pelo esforço hercúleo que ele tivera para amenizar ao máximo as dificuldades e tal rapaz lamentou muito não ter podido fazer um soundcheck melhor e afirmou que esse tipo de som que nós ali produzimos, seria passível de um capricho a mais em sua mixagem ao vivo. Quem sabe em uma próxima oportunidade, ele consiga trabalhar mais confortavelmente com essa banda ou com outra em que eu estiver a tocar? Tomara que sim, gostei da sua boa vontade e educação para lidar com os músicos, devo ressaltar, fato raro entre técnicos de áudio em geral.
E assim foi a minha terceira participação na banda, "Uncle & Friends", um trabalho avulso feito sem ensaios, mas cercado por músicos da melhor categoria. Gostei muito de ter acompanhado o grande "uncle", Lincoln Baraccat, mais uma vez, além dos excepcionais guitarristas, Caio Durazzo e Roy Carlini e desta vez ao homenagearmos o grande, Franklin Paolillo, baterista recorrente para esse trabalho, mas que na ocasião, estava a convalescer, acometido por uma enfermidade grave que enfrentara subitamente ao final de 2018, e para tanto, com dois bateristas muito amigos dele, Carlinhos Machado e Rick Vecchione. Além da voz privilegiada de Amanda Semerjion e a presença surpresa do monstro, Luiz Carlini. Em suma, foi um prazer estar em meio aos "friends".
Uncle & Friends a agradecer o público. Da esquerda para a direita: Roy Carlini, Rick Vecchione, Carlinhos Machado, Caio Durazzo, Luiz Domingues, Lincoln "The Uncle" Baraccat e Amanda Semerjion. Uncle & Friends na Feira da Vila Pompeia em São Paulo, no dia 19 de maio de 2019. Click, acervo e cortesia: Marcos Vinicius Troyan Streithorst
Bem, essa história acaba aqui, mas por enquanto, visto que tal banda sazonal pode produzir algo no futuro, em qualquer instante novamente. Portanto, possivelmente...
Continua...