terça-feira, 16 de julho de 2019

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 330 - Por Luiz Domingues

Conforme o combinado previamente, reagrupamo-nos para realizarmos enfim o último show da Patrulha do Espaço, em 2019.

Mantivemos apenas contato protocolar ao final de fevereiro de 2019, para combinar a logística que adotaríamos para esse esforço final e dessa maneira, ficou acertado que encontrar-nos-íamos na cidade de Curitiba no dia 28 de fevereiro de 2019. Rolando Castello Junior e Marta Benévolo já estavam hospedados na capital paranaense, há alguns dias. Eu, Luiz Domingues e Rodrigo Hid voamos para Curitiba, na manhã desse dia citado, uma quinta-feira e chegamos com tranquilidade ao hotel em que hospedar-nos-íamos, no bairro do Batel, por volta de onze horas da manhã. 

Esteve marcado um ensaio para nós, no estúdio Old Black, localizado no mesmo bairro e como nos meses de dezembro e janeiro e ao longo de fevereiro inteiro, nenhuma sugestão de música diferente fora feita para prepararmos, fomos ao ensaio com a certeza de que o repertório base desse show, constituir-se-ia do básico que tínhamos feito nos show anteriores dessa turnê final.

Eu, Luiz Domingues, em meio ao ensaio da Patrulha do Espaço no estúdio Old Black de Curitiba, em 28 de fevereiro de 2019. Click, acervo e cortesia de Marta Benévolo

Chegamos tranquilamente ao estúdio Old Black e fomos bem recepcionados pelo seu gestor, o simpático músico, Renato Ximú. Ensaiamos o repertório base, deixamos algum material disponível para um possível pedido de "bis" para a plateia e recebemos a visita de amigos. 

O proprietário do estúdio, que também é curador de grandes espaços para shows na cidade, alguns músicos e entre eles, o jovem, Beppe Fumagalli que de uma forma entusiasmada falou-nos sobre a sua banda, chamada, "Newholly", influenciada pelo Rock Bubblegum sessentista em 100%, segundo ele. Trocamos contato e ele prontificou-se a enviar-me o seu material para que eu ouvisse com calma em São Paulo, assim que voltasse.

Mais flagrantes da Patrulha do Espaço a ensaiar no estúdio Old Black, de Curitiba-PR, em 28 de fevereiro de 2019. Clicks (1 e 2), acervo e cortesia: Marta Benévolo. Click 3: Renato Ximú

Já anoitecia, quando o ensaio encerrara-se e apesar da conversa agradável ali estabelecida, com pessoas importantes da cena paranaense, estávamos cansados, portanto, voltar para o hotel tornou-se uma necessidade premente. 

E assim o fizemos, quando pudemos então recuperar as forças e estarmos prontos para uma pequena viagem, mediante percurso rodoviário, para a cidade de São Bento do Sul, em Santa Catarina, onde ficaríamos hospedados, a visar o show no Festival Psicodália, a realizar-se na cidade vizinha de Rio Negrinho-SC.

Dessa forma, na manhã do dia 1º de março de 2019, a van contratada para levar-nos, estacionou na porta do nosso hotel em Curitiba. Alguns minutos depois, eis que o casal amigo, ultra solícito e simpático, formado por Cristiano e Lorena Costa, chegou. Eles viajariam conosco e certamente que Cristiano seria um misto de roadie e road manager nessa empreitada. 

Além do mais, haveria por suprir a banda com farto material fotográfico e com imagens, o que seria muito enriquecedor para nós, sem contar com a simpatia do casal, sempre encantadora.

Flagrante da banda a viajar de Curitiba, para São Bento do Sul e Rio Negrinho, ambas em Santa Catarina. 1º de março de 2019. Alojados no primeiro banco: Cristiano e Lorena Costa, no segundo banco: Rolando Castello Junior e Marta Benévolo e no terceiro banco: eu, Luiz Domingues e Rodrigo Hid. Click (selfie), acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa 

Foi uma viagem muito tranquila, chegamos bem em São Bento do Sul-SC e assim que fizemos o check-in no hotel, tivemos tempo de sobra para explorarmos o entorno, com direito a uma visita feita em uma padaria próxima e compras em um supermercado. 

A nossa partida para o local do show, distante cerca de quinze Km dali, estava marcada para às 23 horas. O nosso soundcheck estava marcado para a meia noite e o show, para as duas e meia da manhã, logo após o término do show da Elza Soares, que realizar-se-ia em um outro palco. Enfim, foi o tempo suficiente para o descanso, nos arrumarmos e ainda esperar por um bom tempo para partirmos, enfim.

Assim, saímos na hora combinada e mediante uma viagem rápida, chegamos ao local do festival, uma imensa área semi rural, quando impressionei-me pelo seu tamanho e boa organização, aparentemente. 

Salvo um pequeno vacilo da produtora encarregada de cuidar de nossa comitiva, que deveria ter embarcado conosco em nossa van, assim que chegamos à portaria e a nos conduzir com maior segurança ao bastidor do nosso palco, mas que por não fazê-lo, deixou-nos momentaneamente à deriva, eis que mediante o apoio de outros funcionários do festival, chegamos com relativa rapidez. 

Instalados no camarim, fomos muito bem recebidos pelos produtores designados para atender-nos e logo, o acesso ao palco foi liberado para fazermos a preparação e um soundcheck muito tranquilo, com a cortina cênica fechada e com toda a atenção do grande público voltada para o palco adicional, onde o show da veterana estrela da MPB, Elza Soares, já estava para iniciar-se. 

Assim que Elza começou o seu show, fomos autorizados a iniciar a nossa preparação. Bem assistidos pelos técnicos do PA/monitor/iluminação, ali disponíveis para atender-nos, foi tudo a contento.

O amigo, Jardel, que fora roadie em nosso show na cidade de Ponta Grossa-PR, cerca de um ano antes, esteve presente e junto ao Cristiano, auxiliou-nos na montagem. 

Uma fato desagradável ocorreu, mas não fora culpa deles, técnicos, exatamente. Ocorreu que havia um único praticável disponível para usarmos na bateria e como o Rolando usa costumeiramente, dois bumbos, seriam precisos dois, para o seu Kit ficar bem instalado. 

O motivo de haver só um praticável para nós usarmos, foi bizarro. O que aconteceu, foi que a produção da Elza Soares havia solicitado uma enorme quantidade de praticáveis e assim, estavam a usar no outro palco, uma quantidade absurda, em torno de vinte e sete praticáveis e por isso, houvera sido reservado apenas um para o nosso show, o que descumpriu o nosso rider técnico enviado previamente, pois é lógico que os produtores locais estiveram avisados sobre o kit de bateria ser grande. 

Enfim, a produção da Elza Soares deve ter pressionado e assim, não tivemos outra solução a não ser montar a bateria no nível do piso. De certa forma, também seria charmoso, pois atuaríamos como bandas de Rock sessentistas que não costumavam suspender a bateria no palco, então, tudo bem.

Flagrantes da apresentação do show, que ficou dividida entre o personagem, Cris Rock, que fora o nosso convidado,e uma Drag Queen, hostess do festival. Patrulha do Espaço no Festival psicodália, em Rio Negrinho-SC, no dia 1º de março de 2019. Click, acervo e cortesia: Herman Silvani (foto 1) e Liza Bueno (foto 2)

Apesar da hospitalidade, eu observei os detalhes e a tão propagada aura "hippie" desse festival, não estava assim bem delineada, em minha percepção. 

Talvez por eu não ter andado pelo campo como um todo e ter ficado somente naquele bastidor e no palco onde tocamos, e por ser no período noturno, eu não senti uma atmosfera contracultural, vintage ou retrô, ali naquele ambiente e pelo contrário, a impressão que eu observei foi outra, como se nas entrelinhas, fosse mais um festival alternativo, quiçá sob orientação "indie", em que alguns sinais contraculturais fossem misturados com ícones modernos e em certos aspectos, a estabelecer equívocos de avaliação da parte de seus seguidores. 

Por exemplo, fomos interpelados por um "Drag Queen", que pediu-nos a permissão para ser o mestre (ou maestrina, como queira), de cerimônias a apresentar-nos. Aceitamos, sem preconceito, mas ao mesmo tempo, o que teria a ver com um show de Rock, exatamente?

Então, eis que o personagem, Cris Rock, que faria a nossa apresentação por nossa vontade, teve que dividir as atenções iniciais com este/esta senhor/senhorita. Tudo bem, a apresentação do Cris Rock foi o que esperávamos a motivar o público, mas a Drag Queen, apesar de não desapontar, mesmo por que devia estar acostumada com performances, realmente pareceu-me deslocada do contexto, primeiro por não fazer a menor ideia de quem fôssemos nós e segundo, por confundir o clima de uma plateia de show de Rock com uma festa gay, com a qual ela devia estar habituada a animar. 

Por exemplo, ao insistir em chamar as pessoas da plateia como: "senhoras", não considerou a hipótese que tal expectativa em enxergar o mundo apenas pelo prisma feminino, foi exclusivamente sua e que, sem nenhum preconceito de nossa parte, mas apenas a constatar, isso destoou do espírito Rocker que ali deveria ser observado, sem subterfúgios. 

Ainda bem que o Cris Rock aliviou essa estranheza e o público entendeu melhor a sua manifestação, muito mais condizente para conosco. 

As cortinas fecharam-se novamente após esse prelúdio discursivo e cerca de poucos segundos depois, ao som de nossos primeiros acordes, com a canção, "Meus 26 Anos", abriram-se e mediante a explosão de luz, um show de Rock iniciou-se, enfim...

Continua...

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