Show iniciado com muita energia, eu vi um ótimo público e de uma maneira geral, bastante interativo, ainda que alguns grupos dispersos existiram aos flancos e ao fundo, em pequeno número, ainda bem e a caracterizar algo natural, na medida em que nem dinossauros com status de Mega Stars em âmbito mundial, conseguem monopolizar toda a atenção em shows realizados em arenas e/ou estádios de futebol, visto que, sinal dos tempos, nem mesmo os que consideram-se "Rockers" na atualidade, são 100 % focados no espírito de um show de Rock, propriamente dito.
Contudo, eu não posso reclamar, tal parcela dispersa e mais interessada em andar e procurar por bebidas pelos quiosques, foi mínima.
Logo no início, ainda a tocarmos a primeira música do show, "Meus 26 Anos", eu vi uma bandeira a ser agitada no meio da multidão, com a estampa do símbolo Hippie e eis que vislumbrei enfim alguma conexão com alguma tradição anacrônica e perdida no tempo e no espaço, mas infelizmente se tratara de uma uma manifestação isolada e não a simbolizar uma comunhão de ideais, como teria sido normal em qualquer festival realizado entre 1967 e 1972, pelo menos.
Entretanto, tudo bem, a resignação por estarmos em um outro tempo, na verdade já estava assimilada há muito tempo, portanto, não frustrei-me de forma alguma e o meu ânimo prosseguiu, sem dúvida.
Alguns momentos do show. Patrulha do Espaço no Festival Psicodália, em Rio Negrinho-SC, no dia 1º de março de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Cristiano Rocha Affonso da Costa
O som esteve agradável no monitor e no "side fill", com a banda a apresentar energia e estávamos respaldados por um público que respondia bem, ou seja, dessa forma o show foi bom.
Talvez pudesse ter sido melhor se o repertório fosse um pouco mais ameno e não tanto calcado em trabalhos mais pesados da banda em anos não chronophágicos, digamos assim, porém, respeitamos a escolha do membro fundador e decano, em torno dessa opção e assim procedeu-se.
Mais flagrantes do show. Patrulha do Espaço no Festival Psicodália, em Rio Negrinho-SC, no dia 1º de março de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Herman Silvani
Um tema do dito álbum preto, de 1980, "Simples Toque", deu margem a uma boa jam em torno do Blues-Rock clássico e creio que fomos felizes no improviso, visto que arrancamos gritos da plateia, em sinal de regozijo e foi o elemento Rocker para coroar uma noitada muito boa.
Mais uma vez, temas clássicos do repertório e centrados no campo das baladas, brilharam. "Berro" e "Arrepiado", geraram comoção. E no caso de "Berro", houve uma fala muito bonita da parte do Rolando Castello Junior a evocar a memória do grande, Ivo Rodrigues, o seu compositor e como é bem sabido, a fama de Ivo nos estados do sul do Brasil é enorme, dada a sua carreira construída em duas bandas seminais do Paraná: "A Chave" e "Blindagem".
De fato, muitos aplausos e assovios foram ouvidos, assim que Rolando exaltou a memória do saudoso, Ivo e isso certamente contribuiu para gerar uma comoção, a culminar em uma ovação, assim que executamos a canção: "Berro".
Mais algumas fotos para elucidar esta narrativa. Patrulha do Espaço no Festival Psicodália em Rio Negrinho / SC, no dia 1º de março de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Liza Bueno
Outros temas clássicos do repertório da banda, soaram muito bem. Lembro-me que uma canção densa como: "Cão Vadio", por exemplo, soou coesa, como se estivéssemos ultra ensaiados e não fora o caso, pois fizéramos um único ensaio apronto e sem muito requinte, no dia anterior.
Creio que prevaleceu o entrosamento adquirido na estrada, apesar de terem havido poucos shows nessa turnê, ou seja, creio que a experiência individual de cada componente tratou por fornecer uma amálgama extra para que a banda soasse bem, mesmo com pouca continuidade ao vivo e tampouco, ensaios.
Mais momentos da banda em seu último Concerto de Rock. Patrulha do Espaço no Festival Psicodália em Rio Negrinho-SC, no dia 1º de março de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Lorena Costa
"Columbia" fechou o espetáculo e deu para notar o coro da plateia a cantar junto, o que foi bonito, certamente. Saímos do palco sob uma reação muito efusiva do público e houve um pedido veemente para a realização de um "bis".
Voltamos para executarmos a música: "Deus Devorador" e novamente recebemos o carinho do público em termos de agradecimento enfático. Ótimo, missão cumprida no Festival e para a carreira da banda, chegara o momento para recolher-se ao hangar, desta feita, definitivamente.
E sobre tal epílogo, não houve o menor esboço de comoção entre nós, componentes da última jornada, pois mesmo sem conversarmos abertamente sobre tal fato, creio que o sentimento implícito falou por si só, ou seja, houve um sentimento generalizado de se valorizar a sensação do dever cumprido, ao não permitir nenhuma margem para algum tipo de tristeza.
Na primeira foto, durante o soundcheck, o bom amigo, Cristiano Rocha Affonso da Costa e eu, Luiz Domingues. Foto 2: a banda reunida no camarim, momentos antes do espetáculo. Foto 3: no pós-show, da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), o amigo Herman Silvani (Epopeia), Rolando Castello Junior, a amiga, Liza Bueno (Epopeia), Marta Benévolo e Rodrigo Hid. Patrulha
do Espaço no Festival Psicodália em Rio Negrinho-SC, no dia 1º de
março de 2019. Clicks: 1 (Selfie) e 2: acervo e cortesia: Cristiano Rocha Affonso da Costa. Foto 3: Acervo e cortesia: Liza Bueno. Click: desconhecido
No camarim, nos momentos antes e pós-show, o ambiente foi agradabilíssimo. Além de várias pessoas ligadas à produção, que vieram saudar-nos com reverência, recebemos ao final, o casal amigo, formado por Herman Silvani e Liza Bueno, ambos componentes da boa banda de Chapecó-SC, "Epopeia". Não os via desde 2004, quando da passagem da Patrulha do Espaço pela cidade deles e nos últimos estertores da nossa formação chronophágica e por isso, foi um grande prazer contar com a simpatia e apoio de ambos, além da boa conversa, naturalmente.
Já passava das cinco da manhã quando evadimo-nos do ambiente rural do festival e alcançamos a estrada que encaminhou-nos para a cidade vizinha, de São Bento do Sul-SC. Pelo avançado da hora, cogitei seriamente a hipótese de aguardar alguns minutos e descer ao saguão do hotel para tomar o café da manhã.
Em outra época, tal prática de minha parte, exercida continuamente durante as turnês da Patrulha do Espaço, em que participei, era corriqueira, porém neste momento de 2019, à beira da vida sexagenária, percebi que o cansaço não permitiria tal arroubo de minha parte e assim, sucumbi ao sono, sem lamentos e pelo contrário, a obter alívio.
No dia seguinte ao show, 2 de março de 2019, na porta do hotel em São Bento do Sul-SC. Foto 1: Rodrigo Hid e o grande Tom Zé, no corredor do hotel. Foto 2: eu, Luiz Domingues a bordo de um espetacular Opala, modelo SS, ano 1973! Foto 3: eu (Luiz Domingues) e Cristiano Rocha Affonso da Costa, com o opulento Opala como cenário. Foto 4: Cristiano Rocha Affonso da Costa e eu (Luiz Domingues). Patrulha
do Espaço no Festival Psicodália em Rio Negrinho-SC, no dia 1º de
março de 2019. Foto 1: Acervo e cortesia: Rodrigo Hid. Click: desconhecido. Fotos 2, 3 & 4: Acervo e cortesia: Cristiano Rocha Affonso da Costa. Clicks: Lorena Bindo da Costa
O nosso amigo, Cristiano Rocha Affonso da Costa, é um sujeito multifacetado em termos culturais. Já sabíamos disso, há tempos, mas eis que ele revelou-nos mais uma faceta sua, ao contar-nos que era também um colecionador de carros antigos.,
Mostrou-nos então, fotos de seus bólidos, sensacionais e contou-nos sobre ter participado de vários encontros promovidos por colecionadores. Imediatamente a conversa evoluiu, quando ele lembrou-se, ainda no sábado, dia 1º, que um amigo seu, frequentador de tais encontros, era morador de São Bento do Sul-SC, e assim, ele imediatamente mandou uma mensagem ao seu amigo, para que ele fosse ao hotel onde estávamos hospedados e mostrasse-nos o seu carro vintage.
Esse senhor, chamado, Rubens Koffke, não pôde ir imediatamente, mas assim que acordamos no dia posterior, eis que ele veio ao nosso encontro para mostrar-nos o seu impecável, Opala (modelo SS, ano 1973). Acompanhado de sua esposa, igualmente muito simpática, o senhor Rubens, deu-nos uma aula sobre a restauração do seu carro, ao explicar com detalhes sobre muitas peças & acessórios e claro, foi generoso ao permitir que fotografássemos o seu tesouro, amplamente.
Antes desse encontro agradável ocorrer na entrada do hotel, outro momento prazeroso ocorrera em seus corredores. Eu passava pelo corredor no andar onde estava hospedado, quando subitamente um hóspede abriu a porta de seu quarto e encarou-me. Ainda a usar pijamas e com aquele semblante típico de quem acabou de levantar-se da cama, eis que encontro a figura de Tom Zé, um artista histórico e seminal da história da MPB.
A minha reação foi espontânea ao cumprimentá-lo com muita deferência e a sua resposta foi nobre em fazer questão de não apenas responder verbalmente com gentileza, quanto saiu no corredor e abraçou-me como a um amigo. Pois é, em um meio onde a soberba grassa, os realmente grandes são humildes por natureza.
Cumprimentei alguns membros da sua banda que circulavam pelos corredores, igualmente, todos muito simpáticos. Rodrigo teve a ideia que eu não tive naquele instante, pois minutos depois, também encontrou-se com o grande, Tom Zé e tratou por registrar o encontro com uma foto.
Bem saímos de São Bento do Sul-SC e por ser uma viagem curta, por volta das quatorze horas, já estávamos em Curitiba. Despedimo-nos do casal simpatia, Cristiano e Lorena da Costa e tivemos que aguardar um bom tempo para deslocarmo-nos ao aeroporto Afonso Pena e uma vez ali, aguardamos mais tempo ainda para embarcarmos para São Paulo.
A comitiva de Pepeu Gomes passou por nós. O monstruoso baixista, Didi Gomes, cumprimentou-me e duvido que ele saiba quem eu sou, mas gostei de sua atitude simpática em tom de coleguismo, muito provavelmente apenas por deduzir que éramos companheiros de profissão, ao ver-me a carregar um "bag" com um baixo nas costas e obviamente pela minha aparência "Freak", a moda antiga.
Mais alguns minutos, e o guitarrista superb, Pepeu Gomes, passou acompanhado de uma moça, que deduzi que fosse a sua namorada na ocasião, mas ele não fitou-me, pois eu já estava sentado, a aguardar a chamada para o embarque na aeronave e o Rodrigo Hid estava longe, pois fora comer alguma coisa em uma lanchonete do saguão onde estávamos.
A viagem que fizemos foi um tanto quanto temerosa, pois assim que o voo começou, percebemos que estávamos sob a ação da chuva e houveram alguns minutos sob turbulência, deveras incisiva por sinal e assim que a cidade de São Paulo tornou-se visível pelas janelas da aeronave, os raios & trovões mostraram-se assustadores, mas aterrissamos em segurança, ainda bem.
No avião, muitas pessoas viajaram semi fantasiadas a denotar que estavam prontas para ingressarem nos blocos paulistanos e assim que entramos no carro da "Uber", o motorista contou-nos várias histórias tristes que presenciara por conta dos tais blocos carnavalescos e então, lembramo-nos que estávamos em pleno carnaval, pois nem pensáramos nisso até então.
A banda despede-se do público e da sua carreira. Da esquerda para a direita: Rodrigo Hid, Rolando Castello Junior, Marta Benévolo e Luiz Domingues. Patrulha
do Espaço no Festival Psicodália em Rio Negrinho-SC, no dia 1º de
março de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Cristiano Rocha Affonso da Costa
Bem, missão cumprida, último show da Patrulha do Espaço, marcado pelo êxito e a conter uma certeza, essa minha história com a banda apresentará prolongamento, visto que eu já sabia, através dos irmãos Schevano e do próprio, Rolando Castello Junior, que muito material já havia sido decupado, fruto das tantas gravações decorrentes dessa série de shows que fizéramos desde 2018 e assim, no mínimo um (mas muito provavelmente mais que isso), álbum ao vivo, seria lançado em um futuro próximo, talvez em 2019, ainda.
Isso sem contar com a possibilidade de futuras coletâneas e/ou antologias. Portanto, mais capítulos serão escritos, certamente, para repercutir um momento póstumo, que promete boas novidades.
Portanto, possivelmente continua...
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