O próximo trabalho avulso que tive, foi apenas um
socorro prestado à uma banda formada por amigos meus, mas rendeu uma
boa história. O "Firebox" era uma banda peso-pesado da cena do Heavy-Metal, ao final dos anos oitenta. Nesse grupo, tocava o meu amigo, Paulo Thomaz, baterista que fora membro do
Centúrias, anteriormente. A formação ainda continha dois guitarristas, Marcelo e Michel, e o
baixista era o Luis Mariutti, então ainda desconhecido, antes de tocar
no Angra.
Foi em outubro de 1990, que recebi um telefonema do Paulão
Thomaz, para convidar-me a suprir uma lacuna para eles. A situação foi a
seguinte : eles tinham um compromisso inadiável a cumprir, e o baixista,
Luis Mariutti, ficara doente, e a obedecer rdens médicas, teria que ficar em
repouso absoluto por duas semanas, no mínimo.
O Paulo sabia que aquela
opção sonora deles, não era a minha, de forma alguma, mas
emergencialmente, arriscou ligar-me. Apesar de eu estar lotado com
ensaios, mediante outros projetos, conforme descrevi aqui anteriormente, além das minhas aulas, eu aceitei pela amizade. Então, encaixamos dois ensaios
nesse ínterim, com o Michel Perrie a auxiliar-me bastante no sentido em
esclarecer dúvidas sobre a harmonia das músicas. Confesso que apesar de
toda a camaradagem, e boa vontade dos amigos, o som era por demais
estranho em meu entender. Eles o definiam como "Thrash-Metal", e qualquer coisa
minimamente mais pesada que o Hard-Rock, já machucava os meus ouvidos.
Pareceu-me um som embolado, em minha ignorante visão desse universo. Talvez no ponto
de vista de quem aprecia o gênero, soasse melódico, mas em minha visão, era uma
autêntica serra elétrica. O Michel era um guitarrista excelente.
Professor graduado em escolas famosas da França e dos Estados Unidos,
era mesmo um virtuose. Lembro-me dele em sua banda anterior (Jaguar), bem
mais amena, sonoramente a falar, e ali, podia mensurar bem o quanto ele
era bom. A despeito dos rapazes ter sido extremamente gentis, eu achava
incompreensível eles apreciarem aquele trabalho, praticamente sem melodia,
agressivo e embolado. Bem, fomos então fazer o show na casa "Blue
Note", na Av. São Gabriel, no Itaim-Bibi, zona sul de São Paulo, uma
casa tradicionalmente acolhedora de bandas de Blues e Jazz, o que
tornou aquele show ainda mais bizarro pelas circunstâncias adversas. O show foi bom, para os padrões
desse universo do Metal extremo. Eu errei um pouco, admito, mas todos
foram extremamente gentis comigo, ao relevar a minha falta de traquejo ,
dentro daquele mundo.
Um fato curioso aconteceu : meu amigo, Nilton Cesar,
o popular "Cachorrão", vocalista do Centúrias, esteve presente
nesse show, e quem o conhece pessoalmente, sabe que é um humorista em
potencial, com uma capacidade incrível em satirizar; usar o sarcasmo;
humor negro, e todo o repertório de humor possível. Ao perceber a minha expressão facial a denotar perplexidade, por ver o público a debater-se, enquanto tocávamos, gritou :
-"calma, não é briga, estão apenas a divertir-se"...
Cerca de duzentas pessoas estiveram presentes no "Blue Note", com uma banda "Metallica" Cover programada para fazer o encerramento do show, pois tocaram depois de nós (ainda bem !). Isso ocorreu no dia 31 de outubro de 1990, e sim, foi uma festa de Halloween. Tinha muita gente fantasiada de uma forma macabra, e chamava a atenção, um sujeito vestido como "diabo", que pareceu estar alucinado.
Pensava que no
inferno tinha só enxofre, mas esse rapaz estava transtornado fora por outra
substância... e claro, foi uma oportunidade perfeita para o Nilton "Cachorrão"
Cesar, que teve elementos de sobra para elaborar suas piadas, sempre
muito hilariantes, e sob total improviso.
Foi prazeroso ter ajudado os amigos, mas senti-me realmente um estranho
no ninho, naquela noite. O Firebox durou um pouco mais de tempo depois
disso. Ainda na primeira metade dos anos 1990, o Paulão Thomaz estaria
a fundar uma nova banda, denominada, "Cheap Tequilla", bem mais centrada no Rock'n'
Roll tradicional, com flertes com o Southern Rock. O Michel era um dos
mais requisitados professores de guitarra de São Paulo, e tempos depois,
soube que voltou à França (ele é de fato, francês).
O Luis ficou famoso
no mundo do Metal, como baixista do Angra, e o outro guitarrista,
Marcelo, que era bem jovem, e ex-aluno do Michel, enveredou
também para o mundo didático da música, ao tornar-se um bom professor de
guitarra. Essa foi a minha curtíssima história com o Firebox !
Legal :)
ResponderExcluirBacana que curtiu essa passagem, Mak.
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