quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 41 - Por Luiz Domingues

Após essa catarse pela via de um blues sessentista, o clima voltava ao presente (anos 1980), com uma música do tecladista, João Lucas. Tratava-se de um Rock oitentista, com certa modernidade "New Wave", e cujo tema da letra foi uma crítica aberta aos políticos, e sua sanha pelo poder. Nessa música, o Pituco Freitas retomava o vocal, enquanto o Laert voltava aos bastidores para livrar-se do visual de Joe Cocker, com o qual atuara na canção anterior. A letra da música, "Deve ser Bom", era explícita, sem sutilezas e até hoje não sei como foi aprovada pela censura.
Talvez por estarmos nos estertores da ditadura, pois se fosse um pouco antes, certamente que a "Dona Solange", teria passado a famosa tesoura, ou simplesmente a vetado. O seu som, era bem embasado harmonicamente, mas com o arranjo a satirizar a New Wave do início dos anos oitenta. Eu costumava tocar como o baixista do Duran Duran, ao exagerar na dança New Wave, para satirizar aquele modismo todo.
A seguir, a letra de "Deve ser Bom":

Deve ser Bom (João Lucas)

O meu sonho maior é ser político, bem famoso
E desfrutar de tudo o que vier
Do modo que o Brasil ainda raquítico, comatoso,
A ordem é um salva-se quem-puder

No ato, eu emprego toda a família e os amigos
Garanto o futuro dessa gente
Isso sem sonhar c'a maravilha, não consigo,
Que é um dia ser o presidente

Tudo isso sem falar em outras mordomias e salários,
Que não menciono agora por prudência
Trabalhar, dar duro mesmo, nem um só dia, é pra otário
E ainda ser chamado de excelência

Deve ser bom processar jornalista
E se fingir caluniado
Deve ser bom taxar de comunista
Quem não for mesmo um aliado

Deve ser bom um carro oficial
Levando a gente passear
Deve ser bom a foto no jornal
Com "um porção" de militar

A seguir, uma vinheta de áudio, com três piadas curtas, dava-nos o tempo de sair do palco para trocar a vestimenta. Na verdade era só para acrescentar um ridículo paletó, com um corte "futurista" e cor de abóbora...

Voltávamos ao palco para a música seguinte que nos levava direto à Jovem Guarda dos anos sessenta...

Continua...

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