quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Carências - Por Telma Jábali Barretto

 
Paradoxal, contraditório e, às vezes, surpreendentes são as carências que detectamos num mundo em que os caminhos para comunicação são abundantes e, em tempo real, onde quanto mais convivemos, observamos e aprendemos... Aliás, talvez aí mesmo esteja a resposta: a facilidade, acessibilidade a tantas formas de contato simplesmente revelam, desmascaram e as nomeiam seus vários formatos.

Muitos alertas atualmente existem para que o extremo de exposição não propicie, inclusive, perigos para a própria privacidade e segurança, mas...literalmente questionamos: quem está atento a isso quando, se no inverso, uma necessidade absurda de existir para o outro, seja um especial outro, ou, mais delicado ainda, qualquer outro que faça eco ao que se dividir, simplesmente expor ou exibir ?!... O que se esconde de fato atrás desse comportamento senão uma escancarada ou velada, subliminar carência ?!... E, sobre isso gostaríamos de convidar para uma reflexão !
Muitas são elas não ?!...e não falamos aqui só das materiais ou afetivas. Para nos sentir existindo, parece que precisamos cavar, inventar motivos para que alguém me enxergue...e, nisso, temos visto muita originalidade. E a que vem ?

Quando partilhamos algo, em qualquer forma de grupo social, virtual ou presencial, informamos, acrescemos ou esclarecemos ou ali só puramente mostramos, de’monstramos’ aquilo que nos importa trazer ? Um bem material e de qualquer importância, um sonho realizado, a chegada a algo pacientemente construído, adquirido, semeado e florescido e, tal expor a que ou a quem, quantos beneficiará, proporcionará, tanto objetiva quanto subjetivamente, num alavancar, estimular, de verdade, espalhando, reverberando ganhos ? 
Porque se não for assim, qualquer fala no compartilhar visa suprir nossa extrema carência de ocupar um espaço no olhar do outro, na escuta de meu feito, de que tipo, tamanho seja, ainda que nada, nada mesmo inspire, ensine ou encante no meu próximo, que à sua maneira, numa mesma sintonia talvez retorne, replique, responda percebendo quão similar são as trocas, configurando um tecer de falatório, blábláblá que retroalimenta barulho continuado, mantenedor do apaziguado piloto automático, num enganoso sentimento de que oferecemos, quando, no fundo, bem mais embaixo, só fazemos manter o público que aplaude, é aplaudido igual, mantendo eco, criando luzes sobre o palco montado para exibição fugaz.

Quanto de silêncio é preciso para florescer e como florescer, se, a todo tempo, estamos pré-ocupados e mobilizados em expor, contar os rotineiros, triviais, corriqueiros feitos ?
Quanto energia gastamos, produtora de seguido ruído dentro e fora de nós, exportando e importando desnecessários (e como mensurar o necessário para cada um?!...) imagens, falas e fatos?

Quanto a aprender sobre o bom uso dessa facilidade e liberdade de comunicação com um maduro filtro capaz de expandir conhecimento, propiciar melhora na qualidade de vida, abrir horizontes e acessar novas fronteiras, multiplicadora de ganhos para todos, levando aos crescimentos definidores de satisfação interna, material ou espiritual, e,  não aprisionadores, ainda mais, num enredo viciado de brilhos artificiais, pouco reveladores do real sentido a vida !

Assim, concluímos buscando coerência com o teor do ‘discurso’ trazido,  perguntando-nos, no mais íntimo da própria consciência: a quem imagina possa ter servido tal reflexão, além de a si mesma ?
Essa, sabemos, talvez devesse ser sempre a prévia pergunta, antes mesmo de ousar quebrar o sagrado silêncio que é ouro, como diz o próprio ditado, onde reina absoluta abundância !!! 

 
Telma Jábali Barretto é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Engenheira Civil, é também uma experiente astróloga; consultora para harmonização de ambientes e instrutora de Suddha Raja Yoga.

Nesta crônica, fala-nos sobre a questão das carências múltiplas com as quais os seres humanos lidam, mas sobretudo, analisando o dispêndio de energia mal canalizada, muitas vezes no afã de resolver-se cada pendência. 

4 comentários:

  1. Ansiedade (correndo para o futuro) ou depressão (olhando para ocorrências do passado como um fardo)... Tudo em volta é só espelho de nós!... Abraço

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  2. Sim...entre memórias, culpas e expectativas, deixamos escoar o agora, presente, que pouco absorvido, pouco assimilado, pouco resulta em qualidade, experiência que frutifica.
    Gratidão pelo retorno!_/\_

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  3. Como este texto faz eco a atualidade do homem atual, quantas Fedora Abdalas, existem por aí, divulgando qualquer assunto, sem filtro nenhum, um monte de bobagens, e o quanto seria: "Melhor calar-se, que dizer algo que valha mais que o Silêncio"!

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  4. Muitos são os tipos de silêncio também: omisso, covarde, cúmplice e, muitas vezes uma necessária fala, mas difícil de ser exercida, por trazer algum embate esclarecedor, necessário somos desafiados.
    Importante que se tenha contínuo critério do quando falar e quando calar e...aí nosso desafio dos dias atuais, porque a todo e qualquer agora, podemos falar, opinar...mas o quanto acreceremos com uma ou outra atitude?!
    Abraco e gratidão pelo contribuição! Na mas tê!

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