Chegamos ao endereço onde funcionava o estúdio em questão dessa produtora, por volta das 23 horas, com a antecedência pedida pela produção do programa. Ficava localizado em uma travessa da Avenida Washington Luiz, no caminho para o autódromo de Interlagos.
Tratava-se de uma mansão outrora residencial, muito ampla e bonita, onde na parte de baixo da casa, estava montado o estúdio/palco do programa da Syang, e na parte de cima, funcionava um outro estúdio, onde filmavam o programa das moças sensuais e a sua gincana infame, conforme eu citei anteriormente.
Quando chegamos à sala de maquiagem, encontramos com o guitarrista Sergio Dias, que estava a se preparar também e ele estava acompanhado da sua simpática esposa, Lourdes, que eu conhecia também desde 2001, conforme já narrei em capítulos anteriores.
Simpáticos, ficaram a conversar conosco, bastante amigavelmente. Nessa altura, Sergio ainda centrava os seus esforços em sua carreira solo, e as sua participação no programa foi só com conversa, ao falar de suas ações naquele momento em termos de carreira solo e na prática, os Mutantes só anunciariam uma "volta" em 2006, de fato.
Quando já estávamos a nos preparar no estúdio, a fazer um rápido soundcheck com o técnico de áudio da TV, uma produtora nos informou que Syang sempre gostava de iniciar o programa a tocar com a banda convidada, e que diante dessa premissa, que nós sugeríssemos alguma música para ela tocar conosco, preferencialmente uma música do Rock internacional, conhecida de todos.
Sabedores que o seu apelido "Syang" é uma homenagem ao seu grande ídolo, o guitarrista escocês/australiano, Angus Young, do AC/DC ("Sy", de Simone e "Yang", como corruptela de "Young"), sugerimos que tocássemos qualquer música do AC/DC.
Passados cinco minutos, a produtora voltou a nos abordar e nos comunicou que a Syang estava cansada de tocar sempre AC/DC toda a noite, e gostaria de tocar: "God Save the Queen", do famigerado "Sex Pistols.
Não teve jeito, ela cismou e quis por que quis tocar essa peça perpetrada dessa banda que abriu os portais do inferno e decretou a morte do Rock, mas, claro, são poucas as pessoas neste planeta que sabem dessa particularidade, e ali não foi o momento para fazer nenhum discurso sobre o assunto, por isso, lá estive eu a tocar a peça gravada por músicos de estúdio, pois os membros dessa bandinha infame se orgulhavam de não saber tocar.
Bem, além da Patrulha do Espaço como atração musical, e o Sergio Dias como entrevistado, três atrizes que divulgavam a sua peça teatral em cartaz, estiveram presentes, também.
Quando o programa começou, nos caracteres ficava a passar o tempo todo observações feitas por telespectadores.
Lamentavelmente, apesar de ser um talk-show cultural, sob uma primeira instância, as observações que líamos ali foram em 99% dirigidas à pessoa da Syang, em tom de gracejos, cantadas, elogios baratos ao seu corpo etc.
De fato ela era (é) linda, e tinha (tem), porte de "coelhinha da Playboy", mas era lamentável que ninguém prestasse atenção nas bandas que ali tocavam e falavam de seus trabalhos, tampouco os demais entrevistados, todos geralmente ligados à arte & cultura.
Dos pouquíssimos comentários que vieram a nos mencionarem, só lemos bobagens perpetradas por verdadeiros incautos que não faziam nem ideia de quem éramos, a falar observações rasas do tipo: "Da hora o som da banda"...
Bem, a despeito disso tudo, nós demos o nosso recado e saímos contentes dali, fora a diversão que foi aquela aventura maluca em uma madrugada gelada do inverno paulistano.
Sobre o som, acho que ela saiu bem razoável e sempre foi um terror equalizar banda de Rock em estúdio de TV, ao vivo. Quem mais sofreu ali foi o Junior, pois a proposta ali era a que ele usasse uma bateria eletrônica, e claro que um baterista do nível dele, ao se deparar com alguma coisa desse patamar, que mais assemelhava-se à um brinquedo, causou-lhe constrangimentos e irritação.
Lembro-me de que logo no início, o pedal do bumbo dessa "coisa" falhou e uma ginástica teve que ser feita para adaptar um pedal tradicional, para fazê-lo funcionar naquela estranha realidade. Não teve jeito e por sorte o Junior levara a sua bateria tradicional, meio que já a prever uma pane, e o bumbo normal foi adaptado ao restante do brinquedinho. Ele tentou persuadir o técnico antes de que a bateria tradicional soaria melhor, mas o rapaz insistiu no conceito de que estava acostumado a lidar com a eletrônica e paciência, a preguiça triunfou, moleques de cinco anos de idade também são super aptos na pilotagem de Joysticks.
Fora isso, o som saiu a contento, apesar desse simulacro de bateria e amplificação fraca disponibilizada para os três homens das cordas. Ao ver a filmagem já disponibilizada no YouTube, acho que ficou até que razoável.
Tocamos as seguintes músicas ali ao vivo: "Rock Com Roll", "Vou Rolar", "One Nighter", "Ser", "São Paulo City" e "Olho Animal". Obviamente que optamos por músicas mais no limiar do Hard-Rock, com duas guitarras e sem pensar em teclados, para facilitar toda a logística.
Tocamos em um canto, como se fosse uma sala de estar, acomodados em "puffs", para dar uma aura informal ao Talk-Show.
A Syang levava jeito para a função, e ao não usar de trejeitos para se valer de "Rocker", tampouco a sensualizar para explorar a sua beleza, conduziu o programa com bastante dignidade, ao estilo de uma Talk-Show tradicional.
Naturalmente que a produção deve ter filtrado comentários impublicáveis, mas mesmo assim, ela driblava os telespectadores mais ousados com os seus gracejos de insinuação sensual, com uma certa desenvoltura, mas ali no calor do estúdio, ficou nítido que isso a aborrecia muito, pois fora do foco da câmera ela reclamava acintosamente da situação. Recado dado, falamos dos shows no CCSP, do novo disco, e foi isso o que importou.
Ao final, na informalidade pós-programa, a Syang nos disse que havia ficado impressionada quando nos viu a chegarmos ao estúdio, com aquela aparência de banda setentista, a parecer o "Black Sabbath", nas palavras dela...
https://www.youtube.com/watch?v=dyKsRHsGYvI
Continua...
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