quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 120 - Por Luiz Domingues

O que ocorreu, foi que assim que o Barbieri lançou o vídeoclip no YouTube, antes mesmo de iniciar os seus esforços de divulgação entre os seus contatos, uma explosão viral começou a ocorrer.

Demoramos algum tempo para entender o que ocorria, pois foi algo muito fora da nossa realidade, como artistas que militavam no underground da música, apenas. 

Foi em um dia de ensaio e a banda estava a demarcar uma pausa, a tomarmos um café na sala de estar da residência do Xando, quando ele foi ao estúdio para dar uma olhada no monitor de computador que ficava ali e voltou abismado para dizer-nos que havia alguma coisa errada, pois o nosso vídeo novo entrara a pouco minutos no ar, e já passava de mil e quinhentas 1500 visualizações!

Desacostumados a termos um tipo de reconhecimento viral nesses termos, ficamos todos atônitos e ele mesmo, Xando, por ser o mais acostumado a lidar com a Internet, desde meados dos anos noventa, contemporizou a situação para evitar que especulássemos algo fora da nossa realidade, ao tentar emitir explicações sobre "bugs" de internet e que provavelmente essa contagem não estava certa, e que logo o YouTube corrigiria tal anomalia, ao corrigir, portanto, o número mais compatível com a nossa projeção dentro do mundo underground da música. 

Mas quando voltamos ao ensaio, o número não parava de crescer vertiginosamente e já passava de duas mil visualizações, sob uma questão de meia hora.

Foi quando o Xando viu e passou-nos a informação que não foi erro não e que o vídeo entrara na capa de indicações do YouTube, portanto estava a "viralizar" naturalmente, daí essa escalada astronômica! 

No mesmo momento, Barbieri estava enlouquecido em Londres, ligadíssimo no fenômeno e eufórico, mandava-nos mensagens a todo instante a comentar sobre os números e já havia usado tal acontecimento para realçar os seus esforços pessoais de divulgação.

No dia seguinte, já passava de dezoito mil visualizações e não parava de crescer, a suscitar comentários, a maioria positivos, para falar sobre a nossa música e nossa banda e da parte de pessoas completamente alheias ao nosso espectro artístico e dessa maneira, foi uma acréscimo de popularidade inacreditável para uma banda como a nossa. 

E por incrível que pareça, apesar de estarmos a sermos expostos e submetidos à avaliação de pessoas que nunca haviam ouvido falar de nós e que nem mantinham familiaridade com o Rock sequer, a quantidade de comentários positivos foi gigantesca e absolutamente surpreendente para nós.

No bojo desses comentários, houveram Rockers também e lembro-me de um rapaz oriundo do Peru, que era seguidor de Vintage Rock e que teceu um longo elogio à banda, a se mostrar surpreso com a qualidade de nossa música e sobretudo pelos signos setentistas claramente expressos em nossa obra. 

Ora, a usar de um dito popular: "esteve melhor que a encomenda", e digo mais, muitíssimo melhor!

Só lembro-me de um comentário negativo, o que foi inacreditável pela mega exposição para pessoas de todo tipo de cultura musical. Esse rapaz maldoso disse, laconicamente: -"Imagens = Bom, Música = Bosta"...

Nesse caso, mais pareceu um típico "troll" de Internet, logicamente alguém desocupado e nem ficamos chateados, logicamente. 

Com o passar dos dias, o número não parou de aumentar. Foi uma sensação incrível que experimentamos, algo inédito para o tipo de artista que éramos, sempre à margem dos grandes movimentos de exposição midiática. 

Em três dias, já passava de cinquenta mil visualizações e não dera mostras que iria estancar. Nesse ínterim, a imprensa especializada, mais próxima de nós, notou o barulho e começou a soltar notas falando sobre o fenômeno, e claro que ficamos muito contentes com esse resultado inesperado.

Da parte do Barbieri, a animação foi total e ele falou-nos que chegaríamos a cem mil visualizações em pouco tempo e que assim que isso ocorresse, ele começaria a travar contatos com gravadoras britânicas, para que tentasse algo para nós e aí, Barbieri começou a articular uma turnê europeia, e de fato, ele tinha contatos não só em Londres mas outras cidades inglesas e de outros países europeus. 

Segundo disse-nos, seria algo realista, é claro, na base de apresentações em pequenas casas e eventuais festivais, mas que assim que passasse das cem mil visualizações, ficaria mais fácil para ele alinhavar tudo. 

Bem, tudo isso foi muito inesperado para nós. Os nossos planos foram simples: queríamos lançar o novo disco, fazer o máximo de shows possíveis em São Paulo, talvez alguma apresentação em alguma cidade interiorana e no máximo tentar algo no Rio de Janeiro, mas ir para a Europa, assim embalados por um repentino sucesso viral de internet, estava a ser algo muito inusitado. 

Não deu outra resolução, mais alguns dias e estávamos quase a bater na casa dos cem mil visitantes e isso foi uma cifra astronômica para uma banda do nosso patamar.

Então, Barbieri já estava a planejar tudo sobre a nossa ida e assim nós ficamos incumbidos de deixarmos a documentação pessoal de cada um de nós, em dia, a atualizarmos passaportes. 

De nossa parte, imbuído da vontade de ajudar, o iluminador Wagner Molina também mantinha muitos contatos na mídia e no show business. Ele prontificou-se a ajudar-nos e marcou comigo uma ida à rádio Gazeta FM, emissora em que ele tinha amigos e mediante esse mote do estouro do clip no YouTube, mais o lançamento do novo álbum, Molina quis forjar uma música nossa na programação da referida emissora, e sem ter que pagar "jabá", apenas a usar o fenômeno do estouro do clip e o seu prestígio pessoal. 

Claro, ele perguntou-nos se aceitaríamos cumprirmos um ou mais shows gratuitamente para a emissora sob uma permuta e nós aceitamos a troca, que mesmo sendo uma espécie de jabá velado, se fosse cumprido a posteriori, ou seja, na base da máxima: "primeiro executem a nossa música maciçamente, depois cumprimos os tais shows", haveria de ser um pouco menos aviltante à nossa dignidade.

Fui com ele para tal encontro com os dirigentes da referida emissora, mas na hora de conversar com os seus maiorais, Molina pediu-me para eu ficar de fora da sala de reuniões. 

Clima pesado, deu para sentir no ar. Uma mulher que fazia parte dessa cúpula ficou e observar-me de uma forma pouco amistosa e foi além, pois impetuosamente falou-me que quando viu-me, achou que eu fosse o "empresário" da banda, e não o artista em questão. 

Ora, foi uma maneira grotesca de afirmar que julgava-me "inadequado" principalmente pela idade, naquela altura para completar quarenta e oito anos de idade, portanto a aparentar uma maturidade que deixara-a perplexa em seus parâmetros pessoais em termos do que é o show business e sobretudo pelos conceitos de gestão de carreira que artistas do mundo popularesco seguem a risca, com personal stylist & gestores de carreira acostumados a fazer com que boias frias transformem-se em galãzinhos padronizados, da noite para o dia, uma regra que sobrepuja a música e a arte em muitos anos luz, nesse planeta agrícola de onde vivem.

Ali eu já perdi qualquer ilusão que o estouro do clip ou mesmo a intervenção do Molina resolveria a questão. Emissora fechada no mundo popularesco por ofício e vocação, a Gazeta FM não tocar-nos-ia nem que pagássemos o dobro do jabá que costumavam cobrar de duplas sertanejas, pagodeiros, e artistas da cena do "Axé Music" e "Forró", o seu padrão de atuação como rádio popularesca. 

Isso por que não foi só uma questão de dinheiro, mas de princípios traçados por marqueteiros e formadores de opinião.  

Nesses mesmos dias em que o nosso vídeo tornara-se um fenômeno no YouTube, estávamos agendados para participar de um programa de internet, muito mais próximo da nossa realidade underground. 

Tratava-se de um programa chamado: "Loucuras do Alexandrelli", um talk-show conduzido pelo rapaz em questão, com produção de Celia Coev (que conhecemos nesse dia e hoje é uma amiga muito ativa nesse mundo de programas de TV de Internet), para uma emissora virtual chamada: "Just TV". 

Fomos ao programa embalados pelo sucesso que o vídeo de "Longe do Chão" estava a fazer e a entrevista foi boa, com direito a algumas músicas tocadas ao vivo e "mezzo" acústicas, inclusive eu mesmo atuei a usar o baixo semi-acústico que pertencia ao saudoso baixista Renê Seabra, que emprestara-me na ocasião.

Figura louca, que parecia ser um misto de Cazuza com Sérgio Malandro, o Alexandrelli conduzia o seu programa de forma histriônica, mas devo dizer que divertimo-nos muito com toda aquela loucura da parte dele. 

Rapidamente também, levamos uma cópia do clip de "Longe do Chão" para o programa que a banda "Irmandade do Som" produzia para a Rede NGT, e uma cópia também para a programação geral dessa emissora.  

Ali na NGT nós tocávamos a nossa música com muitas exibições, desde 2006 e os nossos clips ddas canções: "O Dito Popular" e "Sou Mais Feliz" eram sucesso na grade da emissora e no programa citado em específico. 

Eu e Rodrigo representamos o Pedra apenas com uma entrevista, sem intervenção a tocarmos ao vivo, em conversa conduzida pela vocalista e dançarina da banda, Cris "Boka de Morango". 

Infelizmente não tenho cópia desse vídeo, assim como o do "Loucuras do Alexandrelli". Com clip a explodir no YouTube, shows agendados e mais o disco novo a sair do forno, deu-nos a sensação de que finalmente estávamos a recuperarmos o embalo perdido no final de 2006, com o ano de 2007, tendo sido muito difícil para nós.

O Clip de "Longe do Chão", produzido por Antonio Celso Barbieri em 2008, a contar com a animação: "Android 207", do artista canadense, Paul Wittington:

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=tyFjiBlphNo


E nesse embalo, o Barbieri sinalizou com um segundo lançamento de vídeoclip, exatamente para tentar aproveitar o sucesso do "Clip do Robot", como fora apelidado o vídeo de "Longe do Chão", ao fazer alusão ao seu personagem principal, o "Android  207". 

Abro parêntese para explicar que o clip de "Longe do Chão" fora uma animação e tratara-se de um robot em miniatura, com uma aparência um tanto quanto macabra/fantasmagórica, sob uma situação de experiência sensorial/cognitiva, a ser observado em situações de dificuldades ante obstáculos, ao tentar achar uma saída dentro de um intrincado labirinto. 

E de fato, ele mostrou-nos rapidamente o novo clip, que promoveria a canção: "Projeções", desta feita a fazer uso de uma animação mais simples, porém muito singela, a utilizar as ilustrações da capa do novo álbum, Pedra II, de autoria de Diogo Oliveira e com a sua devida autorização, logicamente. 

Estava tudo pronto para lançarmos o segundo clip do novo disco quando...

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário