Contudo, ao sermos realistas, sabíamos que necessitávamos de verdade de uma revolução por completo no panorama da difusão cultural mainstream para termos espaço, e isso se revelou utópico em um país como o Brasil e naquela época, a mísera fresta que havia à nossa frente como pedaço desse quinhão, estava amarrada com um nicho de bandas da cena "emocore", formada por moleques, muitos deles ainda adolescentes ou recém-saídos dessa fase da vida, e controlados por empresários sanguessugas que haviam construído um pequeno império, estruturado como uma autêntica linha de produção de fábrica.
Foi algo monstruoso, eu sei mas esses pequenos "Frankensteins" estavam a fabricarem bandas de tais características em seus castelos fantasmagóricos para lançá-las em série, todas enlatadas no mercado, devidamente amarradas com emissoras de Rádio FM, dispostas a fomentar tal cena fraquíssima, com a qualidade artística abaixo do aceitável e nesses termos, ao verificarmos tais bandas em ação, chegava a dar saudade daquelas bandas mainstream dos anos 1980, que considerávamos fracas demais, mas na comparação estas surgidas nos anos 2000, eram terrivelmente piores.
Diante de uma cena minúscula, por que o mainstream já estava dominado em 99 % pelas duplas sertanejas, o axé da Bahia, o crescente "Funk" dos morros do Rio etc.
Portanto, o estrangulamento foi total para artistas de fora do mainstream, e pior ainda, por termos sido outsiders em nosso próprio nicho, por sermos considerados "dinossauros" dentro do Rock.
Bem, desde que sonhamos com toda a ideologia retrô ainda nos anos noventa, e ao vivermos os primórdios do projeto Sidharta, sabíamos que seria uma luta inglória, mas as conquistas que tivemos e aí graças à Patrulha do Espaço, que foi de peito aberto no sentido dessa estética e queimou a borracha do pneu na estrada, de fato, tivemos muitas alegrias, e os leitores mais atentos hão de se recordar de que lhes contei inúmeras vitórias incríveis que tivemos entre 1999 e 2003.
Todavia, a despeito do prazer intelectual e subjetivo que tivemos nessas conquistas, a realidade do cotidiano se revelara massacrante quando a sobrevivência era posta em cheque, e na ponta do lápis, bancar a manutenção de um ônibus velho cheio de problemas, pagar funcionários, bancar a produção de discos e material promocional da banda e inúmeras despesas decorrentes de outros fatores, atormenta-nos.
Como consequência natural, o desgaste interno na banda foi a se acentuar e o clima deteriorou-se, com cada componente a perder a paciência com os demais, por irritarem-se com posicionamentos contrários em várias questões, notadamente no âmbito gerencial, e isso foi a subtrair a energia, paulatinamente.
Sendo assim, mesmo por ser um disco sensacional e certamente gravado sob um clima muito positivo proporcionado por nossos amigos de São José do Rio Preto-SP, o fato é que não estávamos 100 % bem, uns com os outros, e se o áudio desse novo disco ficara sensacional na captura, em comparação com os álbuns anteriores, o clima dentro da banda não era nem 30% igual à empolgação com a qual graváramos o CD "Chronophagia".
Eu estava fatigado nessa época e começara a ganhar força dentro de minha mente, a ideia de aposentar-me da música.
Me senti sem forças, envelhecido (estava com quarenta e três anos e meio em janeiro de 2004), e absolutamente descrente de que uma banda como a Patrulha do Espaço, com aquela sonoridade e proposta estética, pudesse ter esperanças de manter-se em um patamar digno de sobrevivência, que seria o de se inserir no universo do circuito Sesc/Senac, um verdadeiro porto seguro para qualquer artista basear e gerenciar a sua carreira.
Se fôssemos uma banda norte-americana ou europeia, tranquilamente que poderíamos esticar a carreira ad infinitum em um patamar super digno, a lançarmos trabalhos novos regularmente e a fazermos shows de qualidade artística, com a infra-estrutura que a nossa banda merecia e os fãs, igualmente.
Todavia, apesar de termos feito muitos shows em unidades do Sesc por São Paulo e cidades interioranas entre 2001 e 2003, não serviu como aquele "investimento de carreira" que achávamos que seria, portanto, cada show, mesmo sendo bom (e todos foram, sem dúvida), não nos deram o passaporte para gozar das benesses dessa instituição, de forma definitiva, como é o caso de muitos artistas medianos que conhecemos e "'vivem" desse circuito seguro, há décadas, e nem vou revelar os seus nomes para não comprometê-los, mas quem frequenta o Sesc, sabe de quem falo, pois estão sempre agendados e anunciados na programação das unidades, a utilizar uma estratégia de rodízio gerencial e logístico, bem rotineiro.
Enfim, creio que se mesmo que ficássemos confinados ao circuito de pequenas casas noturnas e a fazermos exaustivas turnês, como fizemos entre 2001 e 2003, acho que ficaríamos mais firmes em termos de animação pelo trabalho, mas com a queda de agenda em meados de 2003, se tornara duro manter o ânimo.
Bem, explicado o panorama, digo que 2004 começou com o nosso tanque de combustível mais baixo, mas alguns fatos novos ainda aconteceriam no primeiro semestre e as relatarei, certamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário