Com instalações bem montadas e equipamento de última linha de gravação, detinha estrutura para gravar um álbum com qualidade, e melhor, ficava sediado na zona quase rural de São José do Rio Preto, em uma espécie de chácara, aonde haveria a possibilidade de hospedar bandas de fora da cidade, e assim se estabelecer um regime de gravação em tempo integral.
Foto do Chateau "H'érouville, badalado estúdio nos arredores de Paris, onde Elton John gravou o LP "Honky Chateau", de 1972
Bem, eu nunca houvera gravado um disco assim, nos moldes em que tantas bandas internacionais que eu apreciava, haviam gravado, em estúdios montados em ambientes paradisíacos, em meio ao campo, castelos medievais ou localidades praianas desertas, oriundas de países exóticos do Caribe ou da extrema Ásia. Não chegaríamos nem perto disso, mas seria algo similar, se acertássemos o negócio, para permanecermos entre dez e quinze dias hospedados em uma chácara interiorana e afastada do ambiente urbano da cidade, concentrados em gravar um disco inteiro.
Outro estúdio mítico, o Musicland, de Munique, Alemanha, onde o Led Zeppelin, Queen, e Rolling Stones gravaram álbuns, entre tantos outros artistas
Seria uma experiência muito próxima das que ouvíamos dizer de bandas clássicas que apreciávamos, e claro que seria muito produtivo para nós. Então, antes um pouco de irmos excursionar por Santa Catarina, o Junior nos comunicou que houvera feito um acordo com tal estúdio e que teríamos que decidir se aceitávamos gravar, mas houve um empecilho.
Desde que entráramos no ano de 2003, o nosso empenho foi o de lançar o CD ".ComPacto", e apesar da agenda de 2003, não ter tido o mesmo ímpeto de 2002, não esteve nos planos imediatos parar para pensar em músicas novas e ensaios para burilar um novo material.
Portanto, a perspectiva de gravar nesse estúdio/chácara foi maravilhosa, mas nós não tínhamos material inédito para gravar de imediato.
Dessa forma, Marcello e Rodrigo afirmaram que detinham consigo algumas ideias novas em termos de riffs e que poderíamos marcar ensaios, a aproveitarmos o hiato de shows até dezembro e assim verificarmos se conseguiríamos sob um tempo curto, relativamente, desenvolver tais ideias preliminares, para transformá-las em músicas estruturadas, preparar arranjos e definir letras a tempo de assumirmos a tarefa de gravar.
Ao contrário do CD "Chronophagia", que continha uma base em que eu, Luiz, Rodrigo e Marcello havíamos preparado com calma no projeto Sidharta entre 1997 e 1999, e que acrescidas de algum material feito em conjunto já como Patrulha do Espaço, e também o CD ".ComPacto", que demorou uma eternidade para ser lançado, mas teve um tempo de criação relativamente curto, neste caso, não tínhamos nada novo em mãos, a não ser ideias muito preliminares e vindas de ações individuais de criação da parte do Rodrigo e do Marcello e mesmo assim, que nunca havíamos escutado em conjunto.
Na verdade, só uma única ideia que era do Marcello, nós estávamos cientes e a começarmos a desenvolver coletivamente, pois tratava-se de um riff que ele nos mostrara em algum soundcheck de show, e que costumávamos então brincar livremente como Jam, e que culminamos em desenvolver na estrada e que incorporou ao set list dos shows, mas que não pensávamos em gravar em um novo disco tão cedo. Foi o riff do que veio a se tornar a canção: "Universo Conspirante".
Mas como sempre ocorreu na história da Patrulha do Espaço e muito por conta do senso de oportunismo do Rolando Castello Junior, as coisas aconteciam muitas vezes de forma fortuita e por atuar forçosamente no underground, a banda nunca pode se dar ao luxo de recusar oportunidades, desde o tempo do Arnaldo Baptista nos anos setenta, e assim, a sua história construiu-se por movimentos estratégicos abruptos.
Bem, não estou a reclamar, pelo contrário, apesar da situação nova que se apresentara de forma inesperada, gravar um disco novo foi uma perspectiva muito boa que surgiu.
Marcamos ensaios então, em um estúdio localizado no bairro da Saúde, zona sudeste de São Paulo, exatamente em uma rua próxima à rua do Cursino e Avenida Bosque da Saúde. Chamava-se: "Outro Estúdio" e tratava-se de uma residência muito ampla, situada em uma zona residencial de casas de alto padrão, e portanto, um ponto daquele bairro muito bom para se viver.
O dono era um rapaz chamado, Eduardo, que morava ali e montara um bom estúdio de ensaio em uma área não habitada da sua residência. Já havíamos ensaiado ali em 2002, algumas vezes, e em 2003, os ensaios para o show Tributo à Keith Moon, que o Junior organizou em outubro próximo passado, houveram sido ali, também.
Marcamos ensaios que foram realizados antes e depois da viagem à Santa Catarina (foram treze no total), e aí, os riffs propostos pelo Marcello e Rodrigo foram apresentados à banda e daí, começaram a tomar forma, para se tornarem músicas de fato, com a consequente preparação de arranjos que foram elaborados para todas as novas canções.
O material apresentado se mostrou com muita qualidade, sem sombra de dúvida, e mais se coadunavam com o espírito do "Chronophagia", do que o do ".ComPacto", com muitas incursões ao Prog-Rock setentista, e influência sessentista, via Beatles, principalmente.
Como tudo fora muito abrupto, o montante se concentrou nessas ideias que os dois disponibilizaram à banda, e não houve muita troca entre os quatro. Eu por exemplo, tinha comigo apenas uma ideia de balada, mas que não prosperou ali, tendo sido aproveitada dois anos depois, através de uma outra banda na qual eu faria parte, o "Pedra", que viria a se chamar: "Amanhã de Sonho".
Mesmo assim, saliento que não posso reclamar, pois apesar do caráter emergencial com que tudo foi preparado, tais canções que fechamos, eram ótimas.
Entre essas canções novas, o Junior teve a ideia de regravar uma música inédita da própria Patrulha do Espaço em seus primórdios, de autoria do Arnaldo Baptista e que não entrou no repertório do primeiro LP da banda, o "Elo Perdido", de 1977. Chamava-se "Sr. Empresário", um Rock'n' Roll bem visceral, com estrutura tradicional e quadrada harmonicamente a falar, mas com uma letra cheia de deboche e cinismo, típica da criação do Arnaldo, e bem no estilo das letras de seu LP solo, "Loki", de 1975.
O Rolando Castello Junior ponderou que teríamos que falar com a Lucinha, esposa do Arnaldo e que gerenciava a carreira dele, além, de procurar a Warner Chappell, que detém os direitos de edição da canção, e certamente teríamos que pagar uma taxa para poder inclui-la no nosso novo CD, mas que pensaríamos nessa burocracia a posteriori, e que deveríamos aproveitar o estúdio, e gravá-la.
Então foi assim, que ensaiamos durante uma semana nessa sala de ensaios, e fechamos o estúdio de gravação em São José do Rio Preto-SP para gravarmos a partir da segunda semana de dezembro de 2003.
Pela pressa desmesurada, foi em tese, uma sandice total, mas como se dizia nos anos setenta, "loucura pouca é bobagem"...
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