segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 265 - Por Luiz Domingues

Uma nova viagem ao sul se aproximou. Estávamos em novembro de 2003, e mais uma vez teríamos como destino o belo estado de Santa Catarina.
Na viagem de ida, tudo correu bem, até quase na divisa entre os estados de São Paulo e Paraná. Ao chegarmos próximo ao município de Registro-SP, ainda em território paulista, é obrigatório passar pela ponte sobre o rio Ribeira e de fato, aquela região do estado de São Paulo é denominada "Vale do Ribeira", por caracterizar as cidades que se beneficiam desse rio.

Ninguém notou, a não ser eu mesmo e Luiz "Barata", que viajávamos próximos ao nosso motorista, que um barulho estranho havia irrompido na parte da frente do ônibus e o "Seu" Walter soltou um grito fortuito por reflexo.
Como os demais membros da nossa comitiva riam em conversas animadas que estavam a travar na parte traseira do carro, não notaram que algo ruim estava a acontecer, mas nós (eu e Luiz Barata), notamos ao nos levantamos para verificar o que ocorrera.

Com expressão assustada, o "Seu" Walter mal conseguiu balbuciar uma palavra inteligível, mas segurava a direção do ônibus com enorme força física.
O ônibus se pôs a diminuir a sua velocidade e quando a ponte, que era relativamente longa, foi ultrapassada, saiu lentamente pela direita, e pasmem, foi a rastejar até tocar em uma árvore às margens de um posto de gasolina. Atônitos, não entendemos por que ele não havia manobrado o carro para adentrar o posto e pelo contrário a deixá-lo assim bater levemente em uma árvore frondosa, quando finalmente parou. Foi quando os demais se espantaram e também sem entender a manobra, aparentemente sem sentido, quiseram saber o que ocorrera.
Ora, a barra de direção havia quebrado e a solução encontrada para que não sofrêssemos um acidente grave, fora deixar o carro perder velocidade e manter a direção reta, até que chegasse um acostamento após a travessia da ponte e no braço, ele tentasse levá-lo para a direita, para pararmos em segurança.

Se houvesse algum buraco ou desvio de qualquer natureza em nossa frente, o acidente seria inevitável, pois naquela velocidade e sem a possibilidade de se manobrar, teríamos colidido, fatalmente. Isso sem contar que poderíamos ter caído no rio e "guard-rail" algum seguraria aquele bólido enorme.

O "seu" Walter era prático ao extremo e sem tempo para se recompor do susto, foi buscar uma solução e por sorte, naquele posto havia uma oficina mecânica, com peças disponíveis etc.

Claro, ficou caro o serviço pelas circunstâncias da estrada e assim ficamos mais uma vez à mercê dessa sempre clássica exploração da parte de sujeitos que agem como aranhas a esperarem as moscas grudarem nas suas teias...

Mas com o intrépido "seu" Walter por perto, tudo se amenizara, pois na "conversa de boleia" que estabelecia com esses tipos, o preço extorsivo caia absurdamente e ele mesmo se metia a ajudar a instalar a peça em questão e tudo se ajeitava. 

Seguimos viagem e quando passamos um pouco da altura de Balneário Camboriú, houve um posto da polícia rodoviária federal e o guarda de plantão nos mandou parar.
Documentação em ordem e itens básicos de segurança, também, não tememos nada. Todavia, se tratou de um sujeito muito mal-humorado e que estava particularmente perturbado naquele dia.

Ao querer verificar minúcias, esse senhor ameaçou prender o carro, por considerar os nossos pneus irregulares. De fato, eles estavam velhos, mas todos ainda com riscas e na chamada "meia vida", segundo o "seu" Walter nos dizia, não seria motivo para multas, e muito menos ameaça de apreensão.

Todavia, o sujeito estava imbuído da vontade de nos aborrecer e custou para o "seu" Walter o convencer a nos liberar. Mesmo assim, foi com um tom ameaçador que ele nos disse que se nos visse passar ali novamente, prenderia o ônibus, e pouco se importava se éramos uma banda e tínhamos compromissos e transportávamos instrumentos e equipamentos. E falou em tom de escárnio, pois nessa altura, ele já sabia que íamos para Florianópolis, e no dia seguinte teríamos compromisso em Balneário Camboriú, portanto, passaríamos no outro lado da pista, e curiosamente, ainda mais perto da sua cabine policial.
Com pelo menos três horas de atraso devido ao acontecido em Registro-SP, mais a parada policial em Balneário Camboriú-SC, quando chegamos na porta do estabelecimento onde tocaríamos em Florianópolis, nos encontramos com Helena T., vocalista do Tutti-Frutti na época, que nos aguardava no local. 

Preocupada com o nosso atraso de quase três horas, lhe contamos o que havia ocorrido na estrada e ela teve uma crise de choro e foi quando acredito que só nesse ponto nos demos conta de que havíamos passado por um grande perigo de fato. Para corroborar a tese, Daniel "Kid", nosso roadie, veio a correr em nossa direção e nos comunicou que o "seu" Walter estava a passar por uma crise de choro dentro do ônibus.
Fomos ver o que estava a acontecer e aos prantos, ele nos disse que aquilo que passamos fora grave e que ele temeu que o ônibus se desgovernasse sobre a ponte em Registro e que se caíssemos no rio, teria sido mediante risco de morte certo para todos.

Incrível, mas ele não falou nada no momento da ocorrência, nem enquanto consertava a peça, tampouco no restante da viagem inteira, mas só quando estacionou o carro em nosso destino final, cerca de quinhentos kilometros adiante, se deu ao luxo de extravasar a sua emoção.

Ficamos consternados com essa cena e ao mesmo tempo agradecidos pela sua ação heroica que preservou a nossa integridade física e a de nosso patrimônio, por ele ter segurado firmemente as suas emoções, ao só extravasar quando sentiu ter cumprido o seu dever, ao nos entregar são e salvos em nosso destino final. Foi uma lição de vida impressionante, sem dúvida alguma. 

O primeiro show dessa micro turnê seria no Drakkar, um bar bem Rock'n' Roll onde já havíamos nos apresentado anteriormente.

Continua...

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