quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 100 - Por Luiz Domingues

Em relação à canção: "Projeções", essa foi mais uma canção que o Rodrigo trouxe pronta de sua casa. Se em "Meu Mundo é Seu" a proposta foi a da evocação da MPB antiga, talvez a beber no samba-canção baiano de Dorival Caymmi, por exemplo, "Projeções" continha um outro direcionamento. 

Uma canção Folk, com forte influência da música de raiz caipira do interior de Minas Gerais e São Paulo, coisa de violeiro do interior, eminentemente rural etc. 

Não sou um musicólogo, mas tenho um pouco de noção dessa matéria, portanto, bastou ouvir as primeiras audições dessa música em estado bruto, apresentada pelo Rodrigo ao violão para a banda, para que na minha percepção disparasse a ideia de haver uma conexão com o Folk europeu, também.

E se for analisar por esse prisma, certamente o pesquisador vai estabelecer a conexão, igualmente e passa por uma série de fatores, entre os quais, o fato histórico de que a raiz da música portuguesa e da espanhola, idem, mantém forte influência da música árabe, pelos séculos de domínio mouro na península Ibérica. 

E por conseguinte, a música árabe de uma maneira generalizada, contém raízes na música indiana, portanto, quando se ouve música de raiz de violeiros, todas essas percepções vem à tona.

"Gryphon", uma banda britânica Folk-Prog da pesada, nos anos setenta
 
Então, na hora de se pensar em um arranjo para a banda, de minha parte e do Rodrigo, ficou evidente que tal pegada "Folk" remetera ao Prog-Rock setentista. E assim procedemos, ao buscarmos a sonoridade caipira de um violão de doze cordas conduzido pelo Rodrigo com maestria e assim, o baixo Rickenbacker buscou a sonoridade clássica do Prog-Rock setentista e a introdução de uma parte "C" em que o solo do Xando, cheio de efeitos de delay, claramente trouxe um sabor "Steve Howe" à canção.

Mais um outro elemento muito positivo que foi incorporado e foi ideia do Rodrigo, deu-se com a adição dos backing vocals com uma certa intenção de se evocar a sonoridade da música indiana, e assim incorporar os chamados "comas", ou seja, a metade da metade de um tom ocidental comum, portanto, a imprimir-se o exotismo sonoro. 

E para reforçar tal conceito, na concepção final de estúdio, foi acrescido o efeito de um flanger, para reforçar o exotismo indiano que entrou na música tal como uma pitada de "curry" na receita final. 

Outro dado notável, foi a inclusão de uma delicada intervenção de cítara, executada pelo Diogo Oliveira, um artista incrível que transborda talento por todos os poros. 

Não obstante o fato de ter feito a capa e o Gibi HQ que envolve a sua concepção de lay-out, por ser um grande músico, também, abrilhantou a obra a tocar cítara em "Projeções". 

No quesito da letra, o Rodrigo também já a tinha pronta desde casa. A temática espiritualista é leve, não panfletária e pode dar margem à uma interpretação não religiosa, portanto, é bastante feliz ao meu ver.

Ao ir além, acho que há momentos de brilhantismo, com alguns versos que são muitíssimos inspirados e dignos de nota como verdadeiros aforismos, tamanha a sua força. Ao vivo, a tocamos muitas vezes, e com sucesso, sempre. 

O áudio de "Projeções", do disco:
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=8nIGYz1Nink

Continua...

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