Estávamos um pouco cansados, pois fizéramos um show na noite anterior e fora de São Paulo, portanto a enfrentarmos a logística de uma viagem de ida e volta ao interior, mas por outro lado, estávamos nessa rotina desde o final de 2001, portanto não foi uma novidade termos poucas horas de sono para sanar o cansaço.
Chegamos ao estabelecimento da zona leste e o equipamento de PA contratado já estava todo montado e o técnico, estava a realizar os seus testes de afinação do stereo, portanto, já estava bem adiantado o processo técnico da operação do áudio.
Os mandatários da casa nos trataram bem, mas mal disfarçavam a sua incredulidade sobre o sucesso do evento, e isso foi um sinal de desdém para conosco. Claro que com uma quase "torcida" negativa dessas, o ambiente não foi dos mais favoráveis. No entanto, nós compensamos tal fator com a animação em torno do lançamento em si, e de fato, esse disco fora sofrido para ser produzido, conforme eu já revelei em capítulos anteriores.
Não posso deixar de observar... mesmo a anunciar que lançaríamos um disco chamado: ".ComPacto" através do release que enviamos ao seu veículo e como agravante, ficar claro se tratar do show de lançamento do referido álbum, de onde o jornalista que assinou com as iniciais "DO", tirou a ideia de que lançaríamos o disco "Chronophagia?"
A nossa equipe também esteve bastante motivada e o Luiz "Barata" se mostrara empolgado por estarmos a lançar o disco em uma casa onde ele mantinha muita afinidade pessoal e por isso, a sua alegria contrabalançava o pessimismo quase desdenhoso da parte dos dirigentes da casa.
Teríamos convidados especiais nessa noite. A ótima cantora, Alexandra "Joplin", que havia gravado participação no álbum "Chronophagia", cantaria nas duas músicas em que a sua voz ficou marcada para a posteridade: "Sunshine", e "Terra de Mutantes".
Ele estava eufórico por ter sido convidado e aquilo foi mais que uma homenagem à um ex-membro tão importante na história da banda, e nem mesmo uma lisonja pessoal a um grande músico que deixou a sua enorme marca na história do Rock brasileiro, mas foi uma justa oportunidade para reerguer a sua carreira, que estava prejudicada há anos pelo fato dele enfrentar problemas de saúde muito graves.
Com um histórico de internações, debilidade e tratamento longo, Dudu enfrentava um momento difícil de sua vida. Ele tentava voltar à cena, e naquele momento articulava uma nova banda e que teria jovens músicos de muita qualidade na formação, caso de Junior Muelas (que havia deixado o "Hare", e mudara-se para São Paulo), e dois jovens também vindo do interior, da cidade de Porto Ferreira, que Muelas conhecera, Wagner Siqueira e Ricardo Dezotti.
Sob uma resolução tomada no camarim, resolvemos tocar primeiro e deixar as bandas cover tocarem depois. Não tínhamos o pudor de assim alguém pensar que abriríamos as bandas cover e na prática, ao tocarmos antes, atenderíamos o nosso público que ali compareceria para ver o show de lançamento do novo disco e quem estivesse ali pela "balada", poderia se deliciar com a jukebox humana a se arrastar pela madrugada. E nada contra os músicos das bandas cover. Nos confraternizamos com eles, e tais rapazes demonstraram respeito pela nossa banda e proposta artística autoral. Tratavam-se de duas bandas, uma delas a fazer tributo ao "Whitesnake", e a outra, ao "Motorhead".
Encerrado o soundcheck, dispersamos, com cada um a se dirigir para a sua casa para fazer um descanso e preparação estratégica.
Quando eu voltei, acompanhado do Rodrigo e do Samuel, nosso roadie, fui bastante contrariado pelo responsável pelo estacionamento do estabelecimento. Simplesmente a vaga prometida para os carros dos músicos da banda fora abolida à nossa revelia e nessa abordagem, o rapaz queria me cobrar, sendo que o estacionamento era gigantesco e três ou quatro vagas não trariam nenhum problema para eles.
Diante da intransigência do atendente do estacionamento que era jovem, parecia ser frequentador do salão, mas absolutamente mal-educado e petulante, achei indigno pagar a taxa cobrada e assim, pedi aos meus acompanhantes que descessem e a acionar a marcha ré do veículo, fui a deixar o acesso do estacionamento, quando ainda tive que ouvir as afirmações irônicas do desbocado energúmeno, a dar conta que se eu parasse nas ruas do entorno, fatalmente perderia o meu carro... certamente que haveria esse risco, e não duvidaria que ele próprio avisasse os seus "parceiros" de malandragem sobre o meu bólido à sua mercê.
Enfim, foi mais um aborrecimento e denotara mais uma vez que a escolha do tal salão não houvera sido confortável para os nossos propósitos.
Bem, o lado bom foi que ao contrariar o pessimismo dos donos do estabelecimento, um bom público compareceu. Não se tratou de uma multidão impressionante. Mas cerca de quatrocentas pessoas, poderia ser computado como um sucesso, não restava dúvida.
O show foi muito bom, pois estávamos motivados, bem ensaiados e focados para lançar bem o disco novo. Houve também a motivação pelos convidados muito queridos e a animação do público, além da boa qualidade do áudio no palco e no PA
O público respondeu com sinergia. Teve vários momentos de picos de euforia e comoção quando Dudu Chermont subiu ao palco e tocou conosco.
Uma equipe de filmagem amadora estava presente. Foi um acordo de patrocínio firmado através do Luiz "Barata", com uma pequena produtora que também mantinha uma escola de música no bairro do Tatuapé.
Eu nunca assisti a filmagem inteira, mas o pouco que foi postado no YouTube a posteriori, revela-se uma filmagem muito pobre, sem recursos. E assim foi o lançamento do disco ".ComPacto", no dia 29 de março de 2003, diante de quatrocentas pessoas aproximadamente, no salão "Led Slay", no Tatuapé, zona leste de São Paulo.
O próximo compromisso de palco, só teríamos em abril, mas nesse ínterim, a batalha pela divulgação do novo disco, estava só a começar.
"Columbia" com Dudu Chermont e Alexandra "Joplin", como convidados:
https://www.youtube.com/watch?v=t2o-IL-AxzU
Continua...
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