sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 114 - Por Luiz Domingues

Portanto, o próprio Rodrigo tomou a dianteira e começou a pesquisar na internet sobre esse mundo dos festivais independentes e iniciou a mandar material da banda para as respectivas produções de tais festivais e que eram muitos em realidade, espalhados pelo país inteiro.

Nesses termos, um festival que respondeu-nos de forma bem rápida e solicitamente, foi o "Grito Rock". Tratava-se de um festival sui generis, pois ao contrário da estrutura tradicional de um festival com local e palco único, esse tal "Grito Rock" se revelava como uma somatória de pequenas produções espalhadas por várias cidades e cada uma a produzir-se como podia, porém a usar uma única bandeira e assim a conceder uma aura de grandiosidade para um festival que na verdade, detinha uma estrutura bem simples. 

Dessa forma, fomos escalados para participarmos do festival, a tocarmos em um mini centro cultural localizado na cidade de São Caetano do Sul, na região do ABC paulista.

Chamava-se: "Cidadão do Mundo", um misto de "Ong", com "coletivo cultural" e casa noturna. Na prática era um bar com uma estrutura modesta, preparado apenas para pequenas apresentações musicais e eventuais outros eventos como saraus, exposições, palestras, workshop etc.

Enquanto casa de shows, era bem simples, mas reunia condições mínimas, iguais ou até melhores que muitas casas noturnas por onde tocamos anteriormente. O palco se mostrava pequeno, mas com criatividade e paciência, seria possível acomodar uma banda como o Pedra, mediante as suas necessidades logísticas básicas de equipamento. 

Som de PA e sistema de iluminação bem reduzidos mas já havíamos tocado em situações mais precárias e como dizia a Rita Lee, a ironizar as condições inóspitas com as quais os Rockers tupiniquins atuavam costumeiramente: "Orra meu"...

Bem, não ganharíamos cachê, mas ao participarmos desse primeiro festival poderia precipitar a abertura de algumas portas no futuro e de fato, ao contrário da maioria das produções de festivais independentes, em que as pessoas responsáveis eram extremamente arrogantes e desdenhosas, a terem a soberba como modus operandi, o pessoal dessa unidade do "Grito Rock" no "Cidadão do Mundo", foi muito simpático e deu-nos a esperança de que seria bom participarmos.

Foi um show típico de "investimento de carreira", em que o artista é convencido a participar gratuitamente para poder pleitear no futuro o surgimento de melhores oportunidades advindas. 

Eu conhecia essa conversa desde que iniciei a minha carreira, praticamente, e salvo alguma honrosa exceção, não tenho conhecimento que tal prática dos meandros do show business alavanque oportunidades concretas para qualquer artista. 

Sendo realista, comparo esse tipo de abordagem que fazem para artistas sedentos por oportunidades, como certas empresas que só contratam estagiários para trabalharem, mediante uma predisposição de se iludir o aspirante e pagar-lhe salário irrisório, ou simbólico, em prol de si própria, com as tais oportunidades anunciadas, nunca a chegarem de fato. 

Eu sempre fui crítico dessa predisposição de certos empresários em convidarem artistas a apresentarem-se gratuitamente em troca dessa ilusão fugaz de um suposto "investimento de carreira" e naquele momento, com quarenta e sete para quarenta e oito anos de idade, e trinta e dois de carreira, eu achava ainda mais ridículo pensar nesses termos.

Continua...

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