Já com o segundo álbum em mãos, o nosso próximo compromisso ocorreu novamente no interior de São Paulo e sob uma ação pouco usual na vida do Pedra, infelizmente.
No dia seguinte a nossa banda faria o show de lançamento do novo álbum em São Paulo, capital. Digo que foi uma grande pena mesmo, que uma banda a conter um trabalho tão virtuoso a exibir, tivesse tão poucas oportunidades de estabelecer uma agenda sustentável e dessa forma, contar com dois shows seguidos em cidades diferentes foi uma exceção e jamais a regra em nossa trajetória, como merecíamos e queríamos, certamente.
Bem,
conjecturas em forma de lamentos à parte, lá fomos nós para Piracicaba-SP
em 17 de julho de 2008, para apresentarmo-nos na unidade do Sesc
daquela cidade super pujante e bem aprumada.
Eu preciso retroagir um pouco, no entanto, pois existe uma pequena história pregressa para explicar o por que de termos conseguido um show no Sesc de Piracicaba, se ainda não havíamos tocado em nenhuma unidade dessa rede sociocultural na nossa própria cidade, São Paulo.
Ocorre que o meu primo, Emmanuel Barreto, havia morado uns tempos nessa cidade, de 2007 até o o início de 2008, quando esteve empregado em um estúdio de gravação e ensaios, ali recentemente estabelecido. Tal estúdio era de propriedade de uma amigo dele, que eu conhecia também e que fora dono de um estúdio em São Paulo, ao final dos anos noventa, onde a minha banda, Sidharta, chegou a ensaiar e posteriormente, a Patrulha do Espaço, também fez os seus primeiros ensaios da nossa formação, por volta de abril de 1999.
O estúdio chamava-se "Alquimia" e ficava localizado no
bairro da Aclimação, na zona sul de São Paulo e o nome do rapaz era,
Claudio, apelidado como: "Formiga", e que aliás era um bom guitarrista.
Enfim, ao estabelecer contatos com a cena musical da cidade, o Emmanuel conheceu muita gente e logo foi apresentado a uma produtora do Sesc Piracicaba e então começou a trabalhar por uma data para o Pedra.
Esse trâmite não foi nada fácil, no entanto, pois não éramos famosos no patamar do mainstream e de nada adiantou argumentar que "éramos bons", "éramos uma banda de Rock com elementos de MPB e Black Music, e não Heavy Metal" (como geralmente os leigos enxergam o Rock, a generalizá-lo como um barulho perpetrado por e para gente da faixa infantojuvenil), etc.
A se mostrar difícil na negociação, finalmente a mulher agendou-nos, mas ela não colocou-nos a menor esperança de que arregimentássemos um público mínimo, não escalou-nos no teatro como queríamos, mas em um palco "lounge", da lanchonete da instalação.
Não é
nenhum demérito tocar em um ambiente assim nas unidades do Sesc em geral,
pois a infraestrutura de palco e equipamento é de primeira qualidade,
hajam vistos os shows que ocorrem normalmente na Chopperia do Sesc Pompeia
ou na "Comedoria" do Sesc Belenzinho, ambas com estrutura melhor que
muito teatro por aí.
Fomos para Piracicaba no dia do show e com bastante tranquilidade. Viagem rápida (188 Km de São Paulo, apenas), estrada excelente e astral interno ótimo por que tivemos dois shows para fazer nessa semana, portanto, a motivação foi total.
A unidade do Sesc é muito bonita, localizada em um belo bairro residencial daquela cidade e próxima ao seu charmoso e famoso rio, o rio Piracicaba, cantado em prosa e verso, e cenário de vários esportes ligados à canoagem, pela sua forte correnteza natural.
Passamos
por uma banca de jornais a caminho e ficamos contentes por constatar mos
que havíamos sido retratados em vários jornais impressos locais, com boas
matérias.
A tal produtora mostrou-se surpresa com isso e nessa altura já devia estar a mensurar a realidade que não éramos uma banda de Pop-Rock iniciante, mas tínhamos substância, história e resultados já registrados para contar e claro que o nosso show deveria transcorrer nas dependências do bom teatro da unidade, mas, paciência.
Montamos o "backline" e ficamos contentes por verificarmos que o técnico de som se mostrou extremamente simpático e competente. Rápido e eficiente, deixou-nos com um ótimo som de monitor do palco e um confortável som no PA ao se considerar que foi uma situação diferente no sentido de se apresentar em um lounge de lanchonete ao invés de um teatro.
Ele contou-nos várias histórias de artistas que havia sonorizado no teatro, algumas hilárias e outras revoltantes, ante o estrelismo de certos colegas afetados.
Soundcheck feito com muita tranquilidade, fomos descansar e esperar a hora de tocarmos.
Havia um horário, é claro, mas pelas circunstâncias, não necessariamente as pessoas apareceriam ali para ver-nos. Por ser uma lanchonete, o entra e sai foi frenético e tivemos a total consciência de que poderíamos enfrentar todo tipo de situação adversa ali.
Contudo, esse rapaz que chamava-se Danilo, disse-nos para ficarmos tranquilos, pois a possibilidade de haver hostilidade ali seria impossível. O máximo que poderia acontecer seria uma debandada, se o som não os agradasse e outro ponto, palmas e manifestações positivas como gritos e assovios eram raros. A cada término de música, a tendência seria o silêncio. Tudo bem, estávamos avisados.
Quando
chegou a hora de tocarmos, o lounge detinha aproximadamente cem pessoas
ali presentes. Começamos a tocar e a cada final de canção, houveram poucas palmas e a
maioria das pessoas permanecera em silêncio. Muitos nem olhavam para nós, a ignorar-nos
retumbantemente.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=3rjmyu-dM_o
Um rapaz
que sentou-se bem na frente, na primeira mesa, tomava café e lia um
jornal. Se tratou de um jornal local e deu para ver nitidamente quando ele estava
a ler a página do caderno cultural onde havia uma longa reportagem sobre
nós, com direito a uma grande foto da banda em destaque.
Nem assim
ele levantou a cabeça por um minuto sequer, por curiosidade tola que
fosse, para checar se os sujeitos da foto éramos nós em cima do palco,
a tocar... hilário! Finalmente após acabar de ler o jornal inteiro,
esse rapaz levantou-se e partiu sem olhar para nós! Para ele, entre nós e uma "Jukebox", não havia diferença alguma.
Fomos a tocar, sem importarmo-nos com essas reações estranhas e quando o show acabou, o técnico disse-nos que fora um sucesso, pois apesar do quase silêncio nas mesas, haviam gostado, pois ao contrário, teria ocorrido uma debandada em massa logo na primeira música, fato costumeiro ali.
Em uma mesa havia um casal e uma moça, que foram uns dos poucos que aplaudiam e sorriam para nós, ao verem o show com atenção. Eles abordaram-nos e compraram os dois discos da banda. Haviam gostado e acho que tornaram-se fãs doravante.
Na van, ao voltarmos para a casa, o motorista do veículo, que foi uma indicação do Rodrigo, havia mostrado-se a sério, como um senhor reservado, na viagem de ida. No entanto, na viagem de volta, mais ambientado conosco, ele começou a contar "causos" que envolveram clientes malucos que atendera em ocasiões passadas.
Uma das histórias que contou-nos é impublicável aqui e nem vem ao caso especificar, mas digo que foi uma das mais hilárias que eu já ouvi e gerou uma epidemia de gargalhadas que deixou-nos com os respectivos abdomens a doer, de tanto que rimos.
Aos membros da banda que lerem este trecho da minha narrativa e a equipe técnica que acompanhou-nos nessa viagem (principalmente o Samuel Wagner, roadie, que quase teve um colapso de tanto que riu), eu deixo apenas uma dica interna para lembrarem-se: foi a história da "cumbuca".
No dia seguinte, o compromisso foi nobre: lançamento do álbum Pedra II, no Centro Cultural São Paulo.
Em
Piracicaba tocamos no dia 17 de julho de 2008, na unidade do Sesc
Piracicaba, com cem pessoas na estranha plateia e pelo visto, só com
três a prestarem atenção no nosso trabalho.
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