quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 92 - Por Luiz Domingues

O Xando Zupo sugeriu que fizéssemos uma releitura de algum clássico do Rock ou da MPB, para incluirmos nos shows e a se incluir tal versão no novo álbum. 

A sua argumentação foi de que seria algo notável a se realizar em termos de tal empreitada, para fornecer um verniz diferente ao disco etc. O Rodrigo pareceu gostar da ideia logo de início e o Ivan mostrou-se neutro, mas a pender para o "sim", mais acentuadamente.

Eu confesso que não gostei da ideia em princípio, pois tenho a tendência de não achar necessário para um artista, escorar-se em outro para galgar um degrau na carreira. 

Não tenho dúvida de que as releituras cometidas pelos Beatles, Rolling Stones, The Who, Led Zeppelin e Cream (só para citar poucos exemplos), em seus primeiros álbuns, são interessantes, mas eu gosto muito mais do material próprio que criaram, não tenho nenhuma dúvida, também. 

Não posicionei-me contra de forma irredutível, pois não sou nenhum chato e/ou xiita, que cria casos dentro de uma banda para fazer valer uma opinião, mas se dependesse de meu posicionamento natural, jamais tal proposta seria feita, sequer.

Com a tendência de 3/4 da banda gostarem da ideia, é claro que a ideia vingou e daí em diante, passou-se à "fase B", com as inevitáveis listas de sugestões para se chegar a um veredicto. 

Logo descartou-se alguma canção internacional, pois foi consenso que seria muito mais interessante lidar com algum material proveniente da MPB. Entre tantas obras que gostamos da MPB, é nas décadas de 1960 e 1970 que residiam as nossas predileções naturais, e daí, pensar no "Clube da Esquina" pareceu-nos algo muito natural. 

Mas também poderia ser óbvio demais gravar alguma canção daquele álbum ou mesmo pensarmos em músicas do Lô Borges, Beto Guedes, Milton Nascimento e outras estrelas desse movimento artístico.

Então, o Xando sugeriu alguma ideia diferente, igualmente setentista e com um pé no Rock, também. Foi no caso, uma canção do disco do Sérgio Sampaio, mas não a clássica: "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua", como seria óbvio. 

Se tratou de uma canção chamada: "Filme de Terror". Com letra acintosamente calcada em metáforas a provocar a ditadura em voga (o disco é de 1972, mas talvez o Sampaio a tenha composta em 1970, 1971, ou até antes), mostra-se perfeita para fazer o elo com um outro tipo de horror, não o da ditadura, mas o de uma sociedade com medo de facções criminosas organizadas, como se revelara o panorama da metade da primeira década do século XXI.

Um dos "malditos" da MPB setentista, o grande Sérgio Sampaio

Em termos musicais, a música apresentava uma estrutura harmônica quase ao estilo do Hard-Rock, com uma bela melodia e no arranjo original, não havia peso, mas uma pegada Rocker setentista que era insinuada, principalmente por um fraseado tercinado, executado pelo guitarrista que o acompanhara na gravação do LP. 

Bem, quando começamos a criar o nosso arranjo, eu mesmo preservei essa ideia no baixo, mas com muito mais peso e pegada Rocker, a usar o estilo do John Entwistle como referência e isso ficou tão marcante, que anos depois, um rapaz postou comentário no YouTube, em uma das inúmeras versões vivo que essa música tem exposta nesse portal, a dizer que havíamos "roubado acintosamente" algumas músicas do "Rush", e as citou no mesmo texto.

De fato, há uma semelhança, mas foi o tal negócio: eu segui a orientação do arranjo original ao gravar as frases tercinadas feitas pela guitarra, como escuta-se no disco do Sampaio ("Eu Quero é Botar meu Bloco na Rua", de 1972), e tenho pouca ou nenhuma influência do "Rush" na minha formação musical. 

Quando faço uma tercina, a referência para a minha memória afetiva é sempre o John Entwistle (The Who), e não o Geddy Lee (Rush). Nada contra o Rush, tampouco o Geddy Lee, absolutamente. 

"Fly By Night" e "Caress of Steel", dois discos do Rush, lançados  nos anos 1970, que tenho em meu acervo pessoal

Até acho bom o trabalho do Rush e tenho dois discos dessa banda na minha estante, mas não é nem de longe, uma influência importante na minha formação musical, portanto, nesse caso, tratou-se de uma coincidência e convenhamos, que eu saiba, o Geddy Lee não entrou com protocolo no INPI para patentear a tercina...

O áudio de "Filme de Terror", do disco:  
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ikraNlVWsT0

Assim nasceu a ideia de termos a música: "Filme de Terror" presente em nosso repertório.

Continua...

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