Um telefonema veio da parte de um produtor do Centro Cultural São Paulo, e este convidou-nos a ocupar uma data naquele espaço, em outubro de 2007 e ao aproveitar o ensejo, nós reativamos a ideia de um show com caráter "happening", como havíamos feito em fevereiro do mesmo ano.
Animamo-nos, é claro, mas desta vez, além do tempo ter sido mais escasso para uma produção mais caprichada, não haveria a participação de uma segunda banda. Como o "Parabelum" que participara na ocasião anterior, não existia mais, resolvemos não convidar nenhum outro artista, a ater-nos ao nosso próprio espetáculo apenas, como atração musical, e a dar um espaço um pouco maior para a trupe de teatro e quiçá para Diogo Oliveira, o grande artista plástico poder extravasar o seu talento performático, ao vivo.
E assim fomos ao Centro Cultural São Paulo, para mais uma experiência de happening compartilhada com artistas de outras áreas.
Foi o dia 5 de outubro de 2007 e uma lembrança inicial boa que eu tenho desse show, foi o fato de ter ajudado o grande Diogo Oliveira a instalar algumas peças de pano que ele desenhara especialmente para esse espetáculo, para servir-nos como cenário.
Se tratou de uma instalação simples, composta de alguns "panôs", se visto separadamente, enquanto peças isoladas, mas o efeito que gerou-se, quando reunidos, foi extraordinário.
Fiquei muito entusiasmado por estar a ajudá-lo nesse momento, mas também por essa movimentação remeter-me subjetivamente aos valores culturais que norteiam-me como artista, desde os primórdios.
Apesar do Pedra ter sutilmente algumas sonoridades setentistas em muitos aspectos, nunca foi uma banda que colocasse-se ao lado de tais ideais e pelo contrário, tal espectro causava um desconforto interno, pois abertamente o Xando não compactuava com valores contraculturais.
A sua visão do Rock e o contexto em que ele insere-se, chega a ser antagônica à minha e isso sempre gerou um certo mal-estar quando situações que colocavam o Pedra nessas circunstâncias, apareciam.
Claro que eu respeitava o posicionamento dele nessas questões, mas discordava de inúmeras colocações dele nesse sentido.
Nesses termos, democraticamente eu respeitava certos posicionamentos tomados para a banda, mas alguns pontos começaram a ficarem incômodos para a minha percepção pessoal.
Resiliente por natureza, claro que fui a relevar muita coisa, pois a banda tinha que ser maior que tudo naquele instante. Contudo, questionamentos sobre visual (foi falado sobre o uso de cabelos longos e figurinos retrô que eu e Rodrigo normalmente usávamos), e outros detalhes que pudessem remeter ao "passado proscrito" dos críticos obcecados pelo assunto, começaram a vir à baila.
Esse tipo de discussão era salutar para uma banda que ainda lutava com esperanças de chegar, talvez não ao mainstream, mas em um patamar médio da música. Disso eu não discordava e não reclamava obtusamente, mas haviam outras tantas coisas a considerar-se, antes de trazer-se à baila questões dessa monta, que pareceu-me inútil, portanto, mesmo ao se considerar qualquer esforço para recorrer ao marketing, a tentar chegar em um degrau acima.
Enfim, ninguém é perfeito e nessa altura dos a contecimentos, com quarenta e oito anos de idade e digamos, já fora de idade para pleitear um lugar ao sol no mundo mainstream, somado à experiência de trinta e dois anos de militância na música, eu não achei errado pensar em detalhes assim, desde que fôssemos jovens o suficiente para estarmos abertos a estabelecer sacrifícios estéticos e amplos, portanto com real eficácia absolutamente improvável.
Mas não foi o caso, não só pela idade cronológica que eu já tinha naquela época, mas pelo fato de não enxergar tais sacrifícios como garantia de absolutamente nada e com a possibilidade de tais esforços não levarem-nos à lugar algum.
Não só eram questionáveis ao extremo tais argumentos, como o mundo da música encontrava-se em profunda convulsão, portanto, qualquer medida a ser tomada, se revelara temerária, pois ninguém, nem mesmo os maiorais do mainstream, saberiam dizer exatamente o que estava a acontecer e principalmente, quando terminaria tal terremoto.
De volta
ao cenário, a despeito de suas lindas
evocações psicodélicas e sessentistas, isso não representava exatamente o
que seria o Pedra, quase na mesma proporção que o aparato psicodélico que
deu suporte ao lançamento do CD "Lift Off", do Pitbulls on Crack em 1996,
teve como evocação visual, mas na verdade, destoara do espírito real
da banda.
Sem uma outra banda para dividir a noite conosco, o nosso show ocupou mais espaço e a intervenção teatral do "Comédia de Gaveta" também teve mais espaço para encenar as suas sketchs.
Contudo, dada a ocasião ter surgido repentinamente, o grupo teatral também estava desprevenido e desfalcado de vários atores, portanto, as três meninas que atuaram, tiveram que criar sketchs diferentes, com uma produção mais leve. Deu tudo certo, foi uma apresentação bonita das atrizes (Lu Vitalliano, Ana Paula Dias e Lucia Capuchinque).
Quanto ao Diogo, a sua atuação ao vivo, a criar pinturas de puro improviso e criatividade, foram magníficas, mais uma vez.
https://www.youtube.com/watch?v=ekQjGq2oIB4
Fizemos um bom show, também, ao podermos tocar mais músicas, mediante um set mais avantajado, eu diria, e entre elas, várias canções novas, já como peças do CD Pedra II que estava a ser gravado. Tudo isso ocorreu no dia 5 de outubro de 2007.
Nossa performance de "Nossos Dias", nesse show do CCSP em 5 de outubro de 2007 :
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=AW29QaVrei8
Não
tivemos tempo hábil para empreender uma divulgação conveniente. Apesar de nessa
época, o Orkut já estar solidificado como maior rede social da internet no Brasil e
a se constituir da maior plataforma para divulgação virtual, não conseguimos
mobilizar um grande público. Apenas oitenta pessoas passaram pela bilheteria.
"Rock'n Não", nesse mesmo show do CCSP de outubro de 2007:
https://www.youtube.com/watch?v=qLIfQVSfnsc
Uma pena, pois o espetáculo que oferecemos foi de muita qualidade, com três modalidades artísticas a interagirem simultaneamente, sob um espírito de "happening" que há muito tempo não existia mais na praça.
Mesmo por que, ao se considerar que o ingresso cobrado foi de um valor popular e quase simbólico, aliado ao fato de que o CCSP é super bem localizado na cidade de São Paulo, com uma estação de Metrô acoplada, inclusive, realmente foi um espetáculo que merecia ter tido uma audiência maior. 5 de outubro de 2007, Centro Cultural São Paulo, com cerca de oitenta pessoas na plateia.
"Filme de Terror" no CCSP em outubro de 2007:
https://www.youtube.com/watch?v=r7Q9qhWZjAE
E naquela época, na Rede Social Orkut, ainda não estava sedimentada a choradeira típica e irritante que existe hoje em dia nas diferentes redes sociais mais modernas, quando observamos uma espécie de triste modismo, com as pessoas a lamentarem não ter comparecido a um show, mesmo que houvessem afirmado categoricamente que compareceriam, previamente.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=FQeYoztLJjc
"Sou Mais Feliz no CCSP em outubro de 2007
https://www.youtube.com/watch?v=L1Skba6JTHc
Isso é muito irritante para quem estava circunscrito ao underground da música, como nós, e esforçava-se muito para ter enfim uma oportunidade de apresentar-se ao vivo, a produzir com dificuldades um show e a amargar uma baixa frequência, para no dia seguinte ter que aguentar esse velado deboche das pessoas. Quase desanimava. Eu digo quase, por que éramos muito teimosos e a tenacidade mantinha-nos na luta, mas se dependesse desses chorões da internet...
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