domingo, 6 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 251 - Por Luiz Domingues

Após um hiato de quase seis meses, só quebrado por shows avulsos, estivemos de volta à rotina de uma turnê mais longa. A maratona a bordo do ônibus, com horas e horas de viagens cansativas, mas gratificantes pelo contato com o público, compensavam qualquer sacrifício. Desta feita, mesclaríamos apresentações em lugares onde já havíamos visitado anteriormente, com lugares totalmente novos.  

O primeiro destino foi a capital de Santa Catarina, Florianópolis, onde tocaríamos em uma casa noturna com ares sofisticados, chamada: "Matisse".  

A viagem foi boa até Curitiba, onde paramos para atender uma reivindicação do Rolando Castello Junior que ali teve um compromisso de ordem pessoal. Foi estratégico para ele cumprir o seu apontamento e também para nós que pudemos darmos uma boa esticada nas pernas e relaxar sob uma boa sombra, visto que apesar de estarmos no início de maio, o sol estava de rachar na estrada.

Reiniciamos a viagem e fomos direto para Florianópolis com bastante tranquilidade, para nos hospedarmos em um hotel a poucos metros do mar, na praia da Joaquina. 

Fiquei muito impressionado com as dunas de areia a se mostrarem intensamente brancas e fofas que se formam até duzentos metros do mar, e que culminam em se tornar uma atração turística tão procurada quanto a praia. 

Ali, nos três dias em que nos hospedamos, observamos dezenas de turistas a brincar de "esquiar" sobre as dunas altíssimas e claro, com a maioria formada por argentinos, uma tradição em Florianópolis.  

A praia também se mostrou belíssima, é claro. Com muitos decks bem equipados para atrair turistas, mas também com belezas naturais preservadas, impressionou pela beleza e bom cuidado do poder público em preservá-la. 

A casa onde faríamos o primeiro show, era um bar frequentado pela intelectualidade da cidade. Com esse nome, "Matisse", claro que era decorado com motivações das artes plásticas etc. e tal.

Houve um pormenor sobre essa casa. O dono era extremamente educado e solícito, mas deixara claro desde o início da contratação da banda, que mesmo sabedor de que tínhamos uma volúpia Rocker acentuada, ali não poderíamos tocar com o nosso volume habitual.
Nesse caso, combinamos de fazer um show semi-acústico, artifício que não era uma novidade para nós, por termos feito shows nessas condições anteriormente. 

Então, nos preparamos nesse sentido e nessa altura, para fazer jus à sua incrível capacidade de aprender diversos instrumentos, o Marcello havia recém adquirido um saxofone, e já estava a emitir os seus primeiros solos convincentes. Portanto, já nesse show ele apresentou mais essa possibilidade sonora para a banda. 

Uma outra novidade, foi que acrescentamos uma música ao repertório, proveniente do segundo álbum da Patrulha do Espaço, pós-Arnaldo, chamada: "Berro", canção que a nossa banda não tocava desde 1982, em seus shows. Todos gostávamos muito dessa música que ostenta uma melodia muito bonita. 

Por uma semelhança harmônica em sua parte final, com uma canção do Led Zeppelin, fizemos uma junção, e ao final de "Berro" introduzimos o refrão da canção: "Your Time is Gonna Come", para causar comoção, tanto pela emenda inusitada, quanto pela menção à música do Led Zeppelin em si.

O show foi muito bom, com um público mais adulto em predominância e que aprovou a sonoridade semi-acústica que imprimimos e para nós, foi tudo agradável, do tratamento que recebemos da equipe de produção da casa ao equipamento, e claro, a reação do público que nos chamou a atenção. 

Uma particularidade engraçada, foi que o proprietário do estabelecimento ficou o show inteiro com um medidor de decibéis em mãos, e o trato conosco fora mesmo feito no sentido de se manter um padrão de volume baixo e linear. Aconteceu no dia 2 de maio de 2003, no Café Matisse de Florianópolis, com cerca de sessenta pessoas presentes na plateia.

Quando voltamos para o hotel, ainda era madrugada e o convite para ficar um pouco na praia foi automático. Completamente vazia, foi um espetáculo aproveitar o seu ruído inerente sob o luar e as estrelas, confortavelmente instalado em uma poltrona do deck público. 

Até o "Seu" Walter aproveitou esse momento e ao caminhar na areia, foi até um longínquo rochedo, onde travou conversa com dois ou três pescadores que ali estavam a trabalhar. E voltou com um "presente", ao carregar consigo alguns peixes em uma cumbuca bem cheia que ganhou dos pescadores. Para que aceitou o presente, nunca soubemos, pois certamente que não os prepararia e como os conservaria, foi uma incógnita, pois de pronto o desaconselhemos a pensar no frigobar do quarto do hotel! 

No dia seguinte, teríamos mais um show em Florianópolis, e de novo em uma casa noturna, mas ao contrário da noite anterior, tratou-se de uma ambiente mais Rock'n' Roll e assim nós pudemos usar e abusar da eletricidade e soltar a mão, sem limitações.

Continua...

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